Quem é Emundo González, o candidato que
pode acabar com governo Maduro na Venezuela
Poucos conheciam Edmundo González Urrutia quando
ele se registrou em março como candidato às eleições presidenciais da Venezuela, a serem realizadas
neste domingo (28/7).
O diplomata aposentado
de 74 anos, de perfil discreto e fala pontuada, nunca havia ocupado cargos
públicos e nem mesmo era amplamente conhecido nos círculos da oposição.
No entanto, desde que
foi escolhido como candidato de consenso da coalizão de oposição, a Plataforma
Unitária Democrática (PUD), ele tem obtido larga vantagem sobre o presidente em
exercício, Nicolás Maduro, nas
pesquisas de opinião.
A poucos dias do
pleito, González está 30 pontos percentuais à frente de Maduro, segundo as
principais sondagens.
Sua vitória
representaria o fim do regime chavista que governa a Venezuela desde 1999 —
Maduro, que tenta se eleger pela terceira vez como presidente, está no cargo há
11 anos.
Antes dele, Hugo
Chávez (1954-2013) ocupou a presidência do país de 1999 a 2013.
·
De diplomata
aposentado a candidato da oposição
González começou sua
carreira diplomática como assistente do embaixador da Venezuela nos EUA no
final da década de 1970. Ele participou de missões na Bélgica e em El Salvador,
e serviu como embaixador na Argélia.
Seu último cargo foi
como embaixador na Argentina durante os primeiros anos da presidência de Hugo
Chávez.
Mais recentemente,
González trabalhou como consultor de relações internacionais e escreveu um
livro sobre a história da Venezuela durante a Segunda Guerra Mundial.
Mas a entrada na
corrida presidencial mudou a rotina desse avô de quatro netos e apreciador de
beisebol, do Real Madrid, de churrascos e aves — como muitos moradores de
Caracas, ele alimentava as guacamayas (araras) com sementes de
girassol na varanda de seu apartamento todas as manhãs.
Grande parte de sua
popularidade se deve a María Corina Machado, ex-deputada e engenheira
industrial, que se autodenomina "liberal" e venceu as primárias de
oposição em outubro com 93% dos votos.
O governo de Maduro
declarou as primárias ilegais e abriu investigações criminais contra alguns de
seus organizadores.
Desde então, foram
emitidos mandados de prisão contra vários apoiadores de Machado, e alguns
membros de sua equipe foram detidos.
Machado foi impedida
de ocupar cargos públicos, e a Suprema Corte, dominada por aliados de Maduro,
confirmou essa decisão.
O tribunal alegou que
Machado apoiava as sanções dos EUA, estaria envolvida em corrupção e causado
perdas financeiras para os ativos estrangeiros da Venezuela, incluindo a
refinaria de petróleo Citgo, com sede nos EUA, e a empresa de produtos químicos
Monomeros, que opera na Colômbia.
Impossibilitada de
concorrer, Machado escolheu a acadêmica Corina Yoris, de 80 anos, como
substituta.
No entanto, Yoris
também não pôde registrar sua candidatura devido a problemas no sistema online
de registro de candidaturas do Conselho Nacional Eleitoral (CNE), que a
oposição atribui ao governo.
González tornou-se
então o surpreendente "candidato provisório" da oposição.
Durante as três
semanas seguintes, ele foi referido como um "substituto", e
esperava-se que seria substituído por um candidato mais conhecido.
Até que, um dia antes
do prazo para mudar os nomes na cédula presidencial, o PUD anunciou que
manteria o ex-diplomata como candidato.
Mas, em vez de
colocá-lo em destaque, a coalizão de oposição manteve González em segundo
plano, enquanto Machado cruzava o país pedindo às pessoas que votassem nele.
Embora possa parecer
uma estratégia incomum na maioria dos países, na Venezuela, onde ativistas da
oposição são perseguidos e, em alguns casos, presos, foi considerada uma
precaução sábia por muitos.
Segundo o grupo não
governamental Foro Penal, 72 integrantes da campanha da oposição foram presos
desde 4 de julho, quando a campanha eleitoral começou oficialmente.
·
'Reconciliação'
Apesar desses ataques,
o tom e a retórica de González têm sido calmos e comedidos, em sintonia com seu
passado como embaixador.
"Nunca imaginei
que estaria nesta posição," disse ele à BBC News Mundo, sobre se tornar o
candidato de unidade da oposição.
Em uma mudança em
relação às disputas internas que prejudicaram a oposição venezuelana no
passado, ele tem aparecido lado a lado com María Corina Machado, a quem
continua a se referir como "a líder da oposição".
Ele também adotou um
tom conciliatório ao se dirigir àqueles que apoiam Maduro, prometendo
"reconciliação" caso vença no domingo.
"Queremos que
aqueles que apoiam o governo — que é um número cada vez menor de pessoas —
ouçam nosso chamado para a união de todos os venezuelanos", disse ele à
BBC News Mundo, serviço de notícias em espanhol da BBC, em junho.
É uma mensagem que ele
tem repetido vez após vez. "Chega de gritos e insultos, é hora de nos
unirmos," disse em uma reunião uma semana antes das eleições.
Seu tom conciliatório
em um país que viu divisões entre apoiadores do governo e da oposição se
aprofundarem nos últimos 11 anos contrasta marcadamente com o de seu rival, o
presidente Maduro, que advertiu sobre um "banho de sangue, em uma guerra
civil fratricida" se González vencer.
Membros do alto
escalão do governo Maduro têm dito que González não é "um pobre
velhinho".
Segundo eles, o
candidato da oposição "faz parte de um plano perverso para prejudicar
nosso povo".
Apesar dos ataques
pessoais, González tem defendido que dialogar com aqueles que estão do outro
lado da divisão política é a única forma de promover uma "reconciliação
nacional".
Quando questionado
sobre os temores de manipulação dos resultados eleitorais — a reeleição de
Maduro em 2018 não foi considerada nem livre nem justa — González disse que
está esperançoso de que a oposição vencerá com uma margem tão grande que
tornará sua vitória difícil de contestar.
"Eles tentaram
espalhar medo da mudança, querem que você tenha medo de se expressar no
domingo, mas o que eles não estão contando é com a coragem do povo
venezuelano," disse ele recentemente.
Com o apoio de
Machado, González espera mobilizar os venezuelanos neste domingo com suas
promessas de revitalizar a economia por meio da privatização de setores
estratégicos, como a indústria petrolífera, e trazer de volta os milhões de
venezuelanos que emigraram desde 2013.
Dois de seus netos
agora vivem na Espanha, entre os mais de sete milhões de venezuelanos que
fugiram do país nos últimos anos.
¨ O curioso (e pouco conhecido) “Centrão” europeu. Por Flávio
Aguiar
Existe um “Centrão” na
Europa? Existe, embora com um sentido diferente do brasileiro. No nosso país a
palavra designa um grupo enorme de parlamentares no Congresso Nacional que,
entra governo, sai governo, fisiologicamente negociam apoios, favores, verbas e
orçamentos em proveito próprio.
O que existe na Europa
é um agrupamento de partidos e blocos designados na mídia como centro-direita,
centro e centro-esquerda, que, de eleição em eleição, domina o cenário político
em diferentes combinações e coalizões. Fazem parte dele partidos considerados
conservadores, como o Renaissance de Emanuel Macron na França ou a União
Democrata Cristã na Alemanha, liberais, como o FDP (de Freie Demokratische
Partei) na Alemanha, os partidos social-democratas ou até alguns socialistas.
Governam de acordo com uma cartilha liberal na economia, cultuam uma
austeridade fiscal ao lado de programas sociais mais ou menos moderados,
manifestam preocupações ambientais, ao lado de um protecionismo agrário em
alguns casos, guardam uma fidelidade à Otan e mais recentemente manifestam uma
vigorosa hostilidade à Rússia, apoiando vigorosamente o governo de Kiev na
guerra contra Moscou.
Este bloco central da
política europeia sofreu alguns abalos, sobretudo na França e na Alemanha.
Na França o partido do
presidente Emmanuel Macron amargou uma derrota contundente para a extrema
direita de Marine Le Pen na eleição para o Parlamento Europeu em junho passado,
coisa que fez o chefe do executivo dissolver a Assembleia Nacional, chamando novas
eleições. Nestas seu partido demonstrou alguma recuperação, mas ficou em
segundo lugar diante da Nova Frente Popular dos partidos de esquerda, que desta
vez atraíram o Partido Socialista. Na Alemanha sucedeu algo semelhante, com o
Partido Social Democrata do chanceler Olaf Scholz sendo superado pelo
Alternative für Deutschland, de extrema direita, embora o partido mais votado,
na realidade, tenha sido a tradicional e conservadora União Democrata Cristã.
Grande parte da mídia apontou o crescimento da extrema direita como o fato mais
marcante daquelas eleições.
Ao mesmo tempo o
costume da rotatividade na presidência no Conselho Europeu, órgão que reúne os
chefes de Estado da União Europeia, fez que ela coubesse agora ao húngaro
Viktor Orbán, de extrema direita. Este provocou alguns abalos sísmicos na
União, fazendo visitas inesperadas a Vladimir Putin (embora precedida por uma
ida a Kiev), à China e a Donald Trump nos Estados Unidos. Aquelas balizas
consensuais dos blocos dominantes no continente pareciam correr o risco de
desmoronar.
Mas a reação do que
estou chamando metaforicamente de “Centrão europeu” não tardou, capitaneada por
partidos da direita ou centro-direita convencional. Na semana passada ela
propiciou duas vitórias importantes para este grande bloco que, apesar dos
pesares, continua hegemônico na União Europeia.
A primeira vitória
veio com a eleição de Yaël Braun-Pivet para a presidência da Assembleia
Nacional francesa. Do mesmo partido do presidente Emmanuel Macron, com 220
votos ela derrotou o comunista André Chassaigne, da Nova Frente Popular, e
Sebastien Chenu, do Rassemblement National de Marine Le Pen, que tiveram,
respectivamente, 207 e 141 votos. O partido de Macron conseguiu fazer uma
aliança com os conservadores do Les Republicains, preocupados estes em impedir
a ascensão das esquerdas ao governo.
A segunda vitória veio
com a reeleição, no Parlamento Europeu, de Úrsula von der Leyen, da União
Democrata Cristã alemã, para a presidência da Comissão Europeia, órgão
executivo da União.
Inicialmente a
política alemã ensaiou uma aproximação com a primeira-ministra italiana,
Georgia Meloni, de um dos blocos de extrema direita no Parlamento Europeu. A
iniciativa pegou mal. O chanceler alemão, Olaf Scholz, ameaçou retirar seu
apoio a ela, caso a aproximação com Meloni prosseguisse. Úrsula von der Leyen
recuou, e passou a procurar os outros blocos, considerados “democráticos”,
incluindo os Verdes, ao lado dos socialistas e social-democratas e os liberais.
Conseguiu um apoio
maciço, se reelegendo com 401 votos favoráveis, bem mais do que os 383 votos
que obteve quando de sua primeira eleição, em 2019. Desta vez houve 284 votos
contrários a ela. Houve ainda 22 votos nulos ou em branco. Tem, portanto, mais
cinco anos como presidenta da Comissão Europeia.
Entretanto deve-se
assinalar que o cenário político da União Europeia está passando por rearranjos
significativos. Viktor Orbán está rearticulando a extrema direita no Parlamento
Europeu, demonstrando a pretensão de se tornar uma liderança europeia e mundial.
Na França, depois da
derrota na disputa pela presidência da Assembleia Nacional, o bloco de
esquerda, a Nova Frente Popular, reagiu e na eleição subsequente, para a Mesa
Diretora, conseguiu 12 dos 21 postos em disputa.
Ou seja, tanto von der
Leyen quanto Emmanuel Macron terão de agir com muita cautela e habilidade para
continuar seus mandatos com sucesso.
Fonte: BBC News/Outras
Palavras
Nenhum comentário:
Postar um comentário