quarta-feira, 24 de julho de 2024

Parkinson poderia ser descoberto antes de sintomas aparecerem

Um novo estudo pode representar importante avanço no combate ao mal de Parkinson. Pesquisadores identificaram uma série de marcadores sanguíneos que revelam a presença da doença até sete anos antes da maioria dos sintomas se apresentarem. A pesquisa foi publicada na Nature Communications.

Conforme o Science Alert, se os resultados puderem ser replicados em populações maiores, um simples exame de sangue poderá ser desenvolvido para identificar os que estão em risco.

Com cerca de dez milhões de pessoas afetadas pelo mal de Parkinson em todo o mundo, existe necessidade urgente de desenvolver melhores tratamentos e estratégias preventivas. Uma das razões pelas quais isto se revelou um desafio é a incapacidade atual de identificar pessoas em risco de ter Parkinson suficientemente cedo para testar estratégias de mitigação da doença.

Foi então que Jenny Hällqvist, bioquímica da Universidade de Londres (Inglaterra), junto a seus colegas, usaram modelos de aprendizado de máquina (Machine Learning) para encontrar oito proteínas em nosso sangue que mudam à medida que a doença de Parkinson progride.

Quando uma pessoa comum é diagnosticada com Parkinson, ela já perdeu mais de 60% das células produtoras de dopamina em parte do cérebro, conhecida como substância negra.

Antes que essa degeneração nervosa comece a causar sintomas físicos, porém, há um estágio pré-motor com impactos mais sutis. Isso inclui distúrbios de humor e interrupções no sono, chamados de transtorno comportamental do sono REM.

<><> Testes observando o sono das cobaias mostraram resultados

•        Os cientistas compararam o sangue de 99 pessoas com Parkinson recentemente diagnosticado;

•        Destas, 72 pessoas tinham o transtorno comportamental do sono REM. Os pesquisadores identificaram 23 biomarcadores potenciais;

•        Eles, então, restringiram esses candidatos a combinação mais confiável de marcadores sanguíneos com a ajuda do modelo de aprendizado de máquina;

•        Combinados, os oito biomarcadores permitiram aos pesquisadores prever quais pacientes com transtornos comportamentais do sono REM desenvolveriam Parkinson com quase 80% de precisão – muito antes de começarem a apresentar sintomas físicos visíveis.

Os biomarcadores identificados pelos pesquisadores são proteínas envolvidas na inflamação, na coagulação do sangue e nas vias bioquímicas do desenvolvimento celular. Alguns deles aumentaram juntamente com a gravidade dos sintomas e reduziram o desempenho cognitivo.

Dois dos biomarcadores, HSPA5 e HSPA1L, sinalizam que o órgão celular produtor de proteínas, chamado retículo endoplasmático, está em condição de estresse. Foi demonstrado, anteriormente, que a proteína α-sinucleína mal dobrada – característica bem conhecida do Parkinson – estressa o retículo endoplasmático.

“Essa combinação poderosa de múltiplos biomarcadores bem selecionados com bioinformática de aprendizado de máquina de última geração nos permitiu usar painel de oito biomarcadores que poderiam distinguir o mal de Parkinson inicial de controles saudáveis”, concluem Hällqvist e sua equipe.

Testes com líquido cefalorraquidiano detectam sinais de Parkinson precocemente, mas precisam de procedimento invasivo que não é facilmente acessível. Por outro lado, o estudo abre a possibilidade de que um simples exame de sangue proporcione a mais pessoas acesso ao diagnóstico precoce e permitiria monitoramento repetido a longo prazo.

Embora várias pesquisas anteriores tenham tentado fazer com que exames de sangue, esfregaços de pele ou exames oftalmológicos pudessem detectar o mal de Parkinson em seus estágios iniciais, até agora, nenhum conseguiu entrar na prática clínica.

Um procedimento como esses seria extremamente útil para pesquisadores que trabalham no desenvolvimento de tratamentos preventivos, na esperança de retardar a progressão do Parkinson em pacientes muito antes que a doença neurodegenerativa avance no paciente.

 

•        Tratamento famoso para Parkinson pode provocar perda de identidade? Entenda

Imagine você se submeter a um tratamento para ajudar nos sintomas de Parkinson e, de repente, começar a notar alterações na sua personalidade. Foi isso que percebeu a paciente Natasha Clark, de 51 anos, que convive com a doença há 17 anos.

Após receber o implante de estimulação cerebral, em 2016, a australiana observou uma melhora inicial nos sintomas da doença. Porém, apesar dos benefícios, Natasha começou a sentir uma perda de identidade e mudanças de personalidade, sintomas que acompanham outros pacientes submetidos ao mesmo procedimento, segundo a Folha de S. Paulo.

<><> Se você tem pressa

•        O implante de estimulação cerebral profunda dá pequenas descargas elétricas para regular a atividade do cérebro com o foco de diminuir ou cessar sintomas de doenças.

•        Entre os benefícios do tratamento está uma melhora imediata nos sintomas e o aumento da expectativa de vida.

•        Apesar de aliviar os sintomas do Parkinson, o implante de estimulação cerebral pode provocar alterações de personalidade.

•        Muitos pacientes enfrentam dificuldades em adaptar-se à “normalidade”, com alterações comportamentais que podem persistir.

<><> Efeitos colaterais são relatados há pelo menos 10 anos

Frederic Gilbert, professor associado da Escola de Humanidades da Universidade da Tasmânia, na Austrália, é um dos especialistas que estuda relatos de mudança de personalidade e despersonalização em pacientes que passaram por implantes de estimulação cerebral profunda.

Gilbert publicou seu primeiro artigo sobre o tema em 2012. Cinco anos depois, documentou 17 casos de pacientes que tiveram esse efeito colateral preocupante. Segundo o cientista, entre os benefícios do tratamento está uma melhora imediata nos sintomas e o aumento da expectativa de vida.

Paralelamente, em 2023, outro grupo de pesquisadores relatou que muitos especialistas estão cientes dessa consequência, apesar de reconhecerem a eficácia do tratamento em controlar doenças neurológicas.

<><> Implante pode não ser o problema

Gilbert e sua equipe também estão investigando a origem desses efeitos adversos. Uma hipótese é que os próprios transtornos neurodegenerativos, como o Parkinson, podem estar por trás das mudanças de personalidade – que ficam mascaradas pelos sintomas físicos da doença, como tremores constantes.

Outra possibilidade considerada é o “fardo da normalidade”. Após conviverem anos com a doença, os pacientes que se submetem à estimulação cerebral profunda melhoram. No entanto, enfrentam dificuldades ao retornar à “normalidade”.

No entanto, essas são apenas hipóteses para explicar por que isso acontece após a colocação do implante. Por enquanto, o ponto principal é entender se a estimulação cerebral realmente causa essas desordens comportamentais ou se são uma manifestação da progressão da doença.

 

•        Apagar ‘memórias ruins’ pode evitar um efeito colateral do tratamento do Parkinson

Quem nunca quis apagar uma memória ruim do cérebro? Aposto que alguns sentimentos negativos poderiam simplesmente deixar de existir. No caso de uma nova descoberta, não é uma emoção que é evitada, mas sim um efeito colateral do tratamento do Parkinson.

Embora promissor, um medicamento para aliviar a gravidade da doença pode, ao longo do tempo, provocar tremores indesejados. Pesquisadores da Universidade do Alabama em Birmingham (UAB) descobriram que bloquear a formação de “memórias ruins” é uma solução para prevenir esse problema.

  <><> Como apagar memórias pode evitar efeitos colaterais do tratamento do Parkinson?

•        O L-DOPA é um medicamento para tratar o Parkinson que pode levar a discinesia, uma condição em que a pessoa afetada não consegue controlar certos movimentos e sofre com espasmos e tremores.

•        A equipe de pesquisa queria entender por que isso acontecia para encontrar uma forma de prevenir o efeito.

•        Durante investigações com ratos de laboratório, os pesquisadores encontraram uma atividade intensa em uma área do cérebro responsável pelo controle motor.

•        Neurônios específicos, chamados D1-MSNs, estavam sendo ativados pelo L-DOPA e formando novas conexões, um processo muito semelhante à formação de memórias.

•        Um gene expresso por esses neurônios produziu uma proteína chamada Activina A. Ao bloqueá-la, a discinesia também parou de surgir nos animais.

•        Ou seja, ao bloquear o mecanismo por trás da formação de memória motora, os cientistas conseguiram evitar o aparecimento do efeito colateral.

<><> É preciso confirmar os resultados em humanos

A neurologista Karen Jaunarajs explica que, de acordo com o artigo da UAB, quando pacientes usam L-DOPA, o cérebro parece criar uma “memória” dos movimentos, o que causa efeitos colaterais, como movimentos involuntários. Ela e sua equipe conseguiram interromper esse problema em camundongos ao bloquear a proteína específica, o que ajudou a evitar esses sintomas.

Em essência, ao proibir o funcionamento da Activina A, fomos capazes de interromper o desenvolvimento de sintomas de discinesia nos modelos de camundongos, apagando efetivamente a memória do cérebro sobre a resposta motora ao L-DOPA.

Embora esses resultados sejam promissores, eles ainda precisam ser confirmados em humanos. Se isso funcionar, pode permitir que os pacientes usem L-DOPA por mais tempo sem os efeitos colaterais indesejados.

A pesquisa foi publicada no Journal of Neuroscience.

 

Fonte: Olhar Digital

 

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