Mídia britânica lista quais são as 'enormes
lacunas' na defesa da OTAN em eventual guerra na Europa
O conflito na Ucrânia
e a iminente eleição presidencial dos Estados Unidos dominaram a cúpula da OTAN
em Washington neste mês, mas, nos bastidores, os planejadores da aliança
militar têm se concentrado em avaliar o enorme custo que terá para consertar as
defesas precárias da Europa, escreve a Reuters.
Em 2023, os líderes da
Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN) concordaram com planos para
alavancar a maior revisão feita em três décadas de suas capacidades de defesa.
Nos bastidores, autoridades têm se debruçado sobre os requisitos mínimos de
defesa para atingir esses planos, que foram enviados aos governos nacionais nas
últimas semanas.
A agência britânica
conta que entrevistou 12 autoridades militares e civis na Europa sobre os
planos confidenciais, que descreveram seis áreas que a aliança de 32 nações
identificou como as mais urgentes a serem abordadas por sua precariedade.
Alguns dos pontos
elencados pelos entrevistados foram escassez de defesas aéreas e mísseis de
longo alcance, número de tropas, munição, problemas logísticos e falta de
comunicações digitais seguras no campo de batalha.
A OTAN está em seu
estágio de alerta mais alto desde a Guerra Fria, com suas autoridades mais
pessimistas, incluindo o ministro da Defesa alemão, Boris Pistorius, alertando
que um ataque russo em suas fronteiras pode acontecer dentro de cinco anos,
escreve a agência.
A Reuters relatou que
os planejadores da aliança acreditam que serão necessárias entre 35 e 50
brigadas extras para resistir a um ataque russo. Uma brigada engloba de 3 mil a
7 mil tropas, o que significaria algo entre 105 mil e 350 mil soldados.
Berlim precisará
quadruplicar suas defesas aéreas — não apenas o número de baterias Patriot, mas
também sistemas de menor alcance — para proteger bases, portos e mais de 100
mil soldados que devem cruzar o país em direção ao flanco oriental em caso de
tensões severas ou uma guerra, disse uma fonte de segurança à Reuters.
Isso significa, por
exemplo, que a Alemanha precisaria de três a cinco brigadas extras ou de 20 mil
a 30 mil tropas de combate adicionais, disse a fonte.
A Alemanha tinha 36
unidades de defesa aérea Patriot quando era o Estado da linha de frente da OTAN
durante a Guerra Fria e mesmo assim dependia do apoio dos aliados. Hoje, as
forças alemãs estão reduzidas a nove unidades Patriot, após doar três para a Ucrânia.
O custo será considerável. Berlim acaba de encomendar quatro unidades Patriot a
um preço de € 1,35 bilhão (R$ 8,26 bilhões).
No entanto, o governo
alemão está planejando reduzir pela metade sua ajuda militar para a Ucrânia em
2025. Berlim, em vez disso, espera que Kiev consiga atender à maior parte de
suas necessidades militares com os US$ 50 bilhões (R$ 251 bilhões) em empréstimos
dos rendimentos de ativos russos congelados.
Na terça-feira (23), o
Kremlin classificou novamente como "roubo" o plano da União Europeia
(UE) de usar os juros obtidos com ativos russos congelados, afirmando que
tomará medidas legais contra qualquer pessoa envolvida na decisão.
Ao mesmo tempo, os
planejadores de logística da aliança estão trabalhando arduamente para
descobrir como transportar alimentos, combustível e água para as tropas ao
longo de uma linha de suprimentos, disse um alto funcionário da OTAN, com um
segundo funcionário ressaltando que um fluxo reverso de soldados feridos e
prisioneiros de guerra também terá de ser organizado.
"Eles estão
desenvolvendo os mapas em detalhes granulares com os aliados", disse a
autoridade, certificando-se, por exemplo, de que as pontes sejam resistentes o
suficiente para suportar cargas militares pesadas.
Outra fonte de
planejamento militar esboçou um cenário em que forças inimigas poderiam ter
como alvo a base aérea dos EUA em Ramstein, no sudoeste da Alemanha, ou portos
do mar do Norte, como Bremerhaven, por onde as forças da OTAN viajariam a
caminho da Polônia.
"Como eu protejo
essas massas para que elas não se tornem alvos valiosos?", disse a fonte.
"Caso contrário, eles serão os primeiros e os últimos norte-americanos a
se deslocarem para cá."
Enquanto dezenas de
milhares de tropas da OTAN e da União Soviética se enfrentaram diretamente ao
longo da fronteira interna da Alemanha durante a Guerra Fria, a mobilização de
tropas agora levará mais tempo, já que a linha de frente de qualquer conflito
provavelmente estará mais a leste — até 60 dias, incluindo o tempo para obter
uma decisão política, de acordo com o primeiro planejador militar.
A Europa, escreve a
Reuters, não tem capacidade ferroviária suficiente para transportar tanques, e
as bitolas ferroviárias variam entre a Alemanha e os antigos Estados Bálticos
soviéticos, o que significa que armas e equipamentos teriam de ser carregados
em trens diferentes.
O primeiro oficial de
planejamento da OTAN também disse que as defesas cibernéticas precisam ser
fortalecidas para proteger de um ataque de hackers que poderia afetar possíveis
implantações, por exemplo, na Polônia, o que poderia bloquear desvios ferroviários
e interromper os movimentos de tropas para o leste.
·
EUA e prioridade do Indo-Pacífico x OTAN
Além de todos os
pontos elencados anteriormente, os planejadores fizeram fortes considerações
sobre a disputa presidencial nos Estados Unidos, a qual levantou o espectro de
que o poder preeminente da OTAN pode ser liderado por um homem crítico da
aliança – o ex-presidente Donald Trump – que acusou os parceiros europeus de
tirar vantagem do apoio militar dos EUA.
"Precisamos
reconhecer que, para [os Estados Unidos da] América, qualquer, qualquer que
seja o resultado da eleição presidencial, a prioridade mudará cada vez mais
para o Indo-Pacífico, de modo que as nações europeias na OTAN devem fazer mais
do trabalho pesado", disse o secretário de Estado para a Defesa, John
Healey, à margem da cúpula.
Em resposta às
perguntas da Reuters, um funcionário da OTAN disse que os líderes da aliança
concordaram em Washington que, em muitos casos, gastos além de 2% do PIB seriam
necessários para remediar déficits. Ele observou que 23 membros agora atendem
ao requisito mínimo de 2%, ou o excedem.
"Independentemente
do resultado das eleições nos EUA, os aliados europeus precisarão continuar a
aumentar suas capacidades de defesa, prontidão das forças e estoques de
munição", disse o funcionário à mídia.
Os EUA são de longe o
maior contribuinte para as operações da OTAN. De acordo com estimativas
publicadas em junho, Washington gastará US$ 967,7 bilhões (R$ 5,45 trilhões) em
defesa em 2024, cerca de dez vezes mais que a Alemanha, o segundo maior país
gastador, com US$ 97,7 bilhões (R$ 551 bilhões).
As despesas militares
totais da OTAN para 2024 são estimadas em US$ 1,47 trilhão (R$ 8,31 trilhões).
·
Motivação russa
A Rússia começou sua
operação na Ucrânia em fevereiro de 2022. A ação foi fortemente condenada pelos
EUA e pela Europa, e fez com que Moscou recebesse uma série de sanções e ações
hostis por partes de diversos líderes ocidentais.
No entanto, é preciso
voltar ao passado e entender que muito o que motivou a Rússia a realizar a
operação é por ter assistido, sistematicamente, a expansão da aliança militar
perto de suas fronteiras.
No dia 12 de março
deste ano, se marcou o 25º aniversário do início da ampliação da OTAN para o
Leste Europeu, ocorrida em 1999. Movimento esse que, até agora, não parou.
Nesta quarta-feira
(24), o conselheiro do Kremlin para assuntos navais, Nikolai Patrushev, disse
que Washington e seus aliados da OTAN "estão aumentando sua presença
militar perto de águas russas", acrescentando que Moscou deve
"fortalecer a sua Marinha para enfrentar as ameaças crescentes".
¨ Um único tiro da Rússia contra tanques Abrams os nocauteia, diz
Rostec
Um projétil de alta
precisão russo é capaz de eliminar imediatamente da ação um avançado tanque
Abrams norte-americano, avaliou a corporação estatal russa.
Os tanques Abrams dos
EUA fornecidos às tropas ucranianas não atendem aos requisitos de defesa
atuais. Um único projétil de alta precisão é capaz de colocá-los fora de
serviço, anunciou nesta quarta-feira (24) a corporação estatal russa Rostec.
"Os Abrams
entregues às Forças Armadas da Ucrânia, para dizer mais, não atendem aos
requisitos de defesa atuais. Isso se aplica aos tetos das torres e dos cascos,
bem como às projeções laterais e de popa", detalhou a empresa.
"Assim, um único
golpe de um Krasnopol preciso e potente garante que o tanque de batalha
principal dos EUA será nocauteado. Isso é o que observamos regularmente no
decorrer das operações de combate."
O Krasnopol foi
desenvolvido pelo consórcio Vysokotochnye Kompleksy (Sistemas de Alta Precisão,
em tradução livre), que faz parte da Rostec. A precisão da munição é garantida
pelo ajuste do feixe de laser refletido do alvo. Os lemes aerodinâmicos, por sua
vez, são responsáveis pela correção da trajetória durante a aproximação ao
alvo. O desvio da linha de visão é mínimo, independentemente do alcance e de
outros fatores.
Os veículos blindados
americanos, incluindo os Abrams, são constantemente destruídos pelas tropas
russas com esses projéteis, lembrou a Rostec.
¨ Comandante-chefe da Ucrânia reconhece superioridade aérea russa
e questiona a eficácia do F-16
O comandante-chefe
ucraniano, Aleksandr Syrsky, se queixou da superioridade aérea russa e admitiu
que havia limites para o que os caças F-16, há muito prometidos, poderiam
alcançar no campo de batalha, informou a mídia britânica nesta quarta-feira
(24).
Syrsky disse em
entrevista ao The Guardian que a Rússia tinha "aviação superior" e
defesas antiaéreas "muito fortes". Por causa disto, a Ucrânia foi
forçada a depender mais de veículos aéreos não tripulados (VANT).
O general explicou que
os caças F-16 só poderiam ser usados a 40 quilômetros ou mais longe da linha de
frente devido ao risco de serem abatidos.
No dia 10 de julho, o
secretário de Estado dos EUA, Antony Blinken, disse que o primeiro lote de
caças F-16 seria entregue à Ucrânia no verão (Hemisfério Norte). O ministro das
Relações Exteriores da Rússia, Sergei Lavrov, alertou os Estados Unidos e seus
aliados da Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN) que Moscou via a
presença de caças F-16 com capacidade nuclear na Ucrânia como uma ameaça
nuclear.
Syrsky também disse
que a mobilização era necessária para criar as reservas necessárias e exigiu
que aqueles que evitavam o alistamento obrigatório se juntassem aos militares
para "cumprir o seu dever constitucional".
A lei marcial foi
introduzida na Ucrânia em 24 de fevereiro de 2022. No dia seguinte, o então
presidente ucraniano, hoje sem mandato, Vladimir Zelensky assinou um decreto
sobre a mobilização geral. A lei marcial e a mobilização foram prorrogadas
repetidamente desde então. Segundo a lei marcial, homens em idades entre 18 e
60 anos estão proibidos de deixar a Ucrânia.
¨ Kremlin diz que sinal de Kiev para negociações de paz 'está em
linha com Moscou'
A Ucrânia está pronta
para negociações com a Rússia, disse o ministro das Relações Exteriores da
Ucrânia, Dmitry Kuleba, durante conversas com o ministro das Relações
Exteriores da China, Wang Yi, nesta quarta-feira (24).
"O lado ucraniano
está disposto e pronto para conduzir o diálogo e as negociações com o lado
russo", disse Kuleba, citado pela porta-voz do Ministério das Relações
Exteriores da China, Mao Ning.
O porta-voz do
Kremlin, Dmitry Peskov, comentando o assunto, disse que a mensagem transmitida
por Kuleba está de acordo com a posição de Moscou.
"Vocês e eu
realmente sabemos, pelos relatos de Pequim, que tal declaração foi feita em uma
reunião com [o ministro das Relações Exteriores da China] Wang Yi. A mensagem
em si está em consonância com a nossa posição", disse Peskov aos repórteres.
Moscou precisa de
esclarecimentos sobre essa questão, porque ainda não há detalhes, disse o
representante do Kremlin.
"Vocês sabem que
o lado russo nunca recusou negociações e sempre manteve a sua abertura ao
processo de negociação", acrescentou Peskov.
O ministro das
Relações Exteriores da Ucrânia, Dmitry Kuleba, também expressou o apreço de
Kiev pelo papel ativo e construtivo da China na promoção da paz e na manutenção
da ordem internacional. Ele enfatizou que a Ucrânia valoriza a perspectiva de
Pequim e considerou cuidadosamente o consenso de seis pontos alcançado entre a
China e o Brasil.
Em maio, a China e o
Brasil publicaram conjuntamente um memorando propondo uma resolução política
para a crise ucraniana, sublinhando que as negociações são a única solução
viável. O documento apelava à criação de condições para um diálogo direto e
propunha uma conferência internacional de paz reconhecida tanto pela Rússia
como pela Ucrânia, com participação igualitária de todas as partes para uma
discussão justa de todas as propostas.
O ministro das
Relações Exteriores da China, Wang Yi, durante o diálogo com Kuleba, disse que
Pequim acredita que a resolução de todos os conflitos deve ser realizada na
mesa de negociações.
"O lado chinês
acredita que a resolução de todos os conflitos deve, em última análise,
regressar à mesa de negociações, e a resolução de todas as disputas deve ser
alcançada através de meios políticos", disse Wang, citado pela porta-voz
do ministério.
Kuleba visita a China
de 23 a 26 de julho. Uma fonte em Moscou, comentando as observações do ministro
ucraniano, afirmou que se Kiev quisesse genuinamente negociar com a Rússia, em
primeiro lugar revogaria a proibição de tais negociações. Em outubro de 2022,
Vladimir Zelensky assinou um decreto proibindo negociações com o presidente
russo Vladimir Putin.
Essa declaração é uma
das várias expressões recentes de Kiev que indicam a vontade de iniciar
conversações. Na semana passada, Zelensky mencionou a possibilidade de
negociações de paz com Moscou, incluindo com o presidente Putin, e reconheceu a
necessidade de resolver o conflito na Ucrânia o mais rapidamente possível.
A representante
oficial do Ministério das Relações Exteriores da Rússia, Maria Zakharova,
sugeriu que a retórica de Zelensky é influenciada pelas eleições nos Estados
Unidos. Moscou reiterou a sua disponibilidade para o diálogo, mas observa que
Kiev proibiu legalmente tais negociações. O porta-voz do Kremlin, Dmitry
Peskov, também indicou que atualmente não existem condições para uma resolução
pacífica na Ucrânia, afirmando que a concretização dos objetivos da operação
militar especial continua sendo a prioridade da Rússia, que, por enquanto, só
pode ser alcançada através de meios militares.
A situação é ainda
mais complicada pelo fato de, até agora, a única autoridade representativa
legítima na Ucrânia é a Suprema Rada (parlamento ucraniano) e o seu presidente,
como salientou o presidente Putin.
Fonte: Sputnik Brasil
Nenhum comentário:
Postar um comentário