quinta-feira, 25 de julho de 2024

Mídia britânica lista quais são as 'enormes lacunas' na defesa da OTAN em eventual guerra na Europa

O conflito na Ucrânia e a iminente eleição presidencial dos Estados Unidos dominaram a cúpula da OTAN em Washington neste mês, mas, nos bastidores, os planejadores da aliança militar têm se concentrado em avaliar o enorme custo que terá para consertar as defesas precárias da Europa, escreve a Reuters.

Em 2023, os líderes da Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN) concordaram com planos para alavancar a maior revisão feita em três décadas de suas capacidades de defesa. Nos bastidores, autoridades têm se debruçado sobre os requisitos mínimos de defesa para atingir esses planos, que foram enviados aos governos nacionais nas últimas semanas.

A agência britânica conta que entrevistou 12 autoridades militares e civis na Europa sobre os planos confidenciais, que descreveram seis áreas que a aliança de 32 nações identificou como as mais urgentes a serem abordadas por sua precariedade.

Alguns dos pontos elencados pelos entrevistados foram escassez de defesas aéreas e mísseis de longo alcance, número de tropas, munição, problemas logísticos e falta de comunicações digitais seguras no campo de batalha.

A OTAN está em seu estágio de alerta mais alto desde a Guerra Fria, com suas autoridades mais pessimistas, incluindo o ministro da Defesa alemão, Boris Pistorius, alertando que um ataque russo em suas fronteiras pode acontecer dentro de cinco anos, escreve a agência.

A Reuters relatou que os planejadores da aliança acreditam que serão necessárias entre 35 e 50 brigadas extras para resistir a um ataque russo. Uma brigada engloba de 3 mil a 7 mil tropas, o que significaria algo entre 105 mil e 350 mil soldados.

Berlim precisará quadruplicar suas defesas aéreas — não apenas o número de baterias Patriot, mas também sistemas de menor alcance — para proteger bases, portos e mais de 100 mil soldados que devem cruzar o país em direção ao flanco oriental em caso de tensões severas ou uma guerra, disse uma fonte de segurança à Reuters.

Isso significa, por exemplo, que a Alemanha precisaria de três a cinco brigadas extras ou de 20 mil a 30 mil tropas de combate adicionais, disse a fonte.

A Alemanha tinha 36 unidades de defesa aérea Patriot quando era o Estado da linha de frente da OTAN durante a Guerra Fria e mesmo assim dependia do apoio dos aliados. Hoje, as forças alemãs estão reduzidas a nove unidades Patriot, após doar três para a Ucrânia. O custo será considerável. Berlim acaba de encomendar quatro unidades Patriot a um preço de € 1,35 bilhão (R$ 8,26 bilhões).

No entanto, o governo alemão está planejando reduzir pela metade sua ajuda militar para a Ucrânia em 2025. Berlim, em vez disso, espera que Kiev consiga atender à maior parte de suas necessidades militares com os US$ 50 bilhões (R$ 251 bilhões) em empréstimos dos rendimentos de ativos russos congelados.

Na terça-feira (23), o Kremlin classificou novamente como "roubo" o plano da União Europeia (UE) de usar os juros obtidos com ativos russos congelados, afirmando que tomará medidas legais contra qualquer pessoa envolvida na decisão.

Ao mesmo tempo, os planejadores de logística da aliança estão trabalhando arduamente para descobrir como transportar alimentos, combustível e água para as tropas ao longo de uma linha de suprimentos, disse um alto funcionário da OTAN, com um segundo funcionário ressaltando que um fluxo reverso de soldados feridos e prisioneiros de guerra também terá de ser organizado.

"Eles estão desenvolvendo os mapas em detalhes granulares com os aliados", disse a autoridade, certificando-se, por exemplo, de que as pontes sejam resistentes o suficiente para suportar cargas militares pesadas.

Outra fonte de planejamento militar esboçou um cenário em que forças inimigas poderiam ter como alvo a base aérea dos EUA em Ramstein, no sudoeste da Alemanha, ou portos do mar do Norte, como Bremerhaven, por onde as forças da OTAN viajariam a caminho da Polônia.

"Como eu protejo essas massas para que elas não se tornem alvos valiosos?", disse a fonte. "Caso contrário, eles serão os primeiros e os últimos norte-americanos a se deslocarem para cá."

Enquanto dezenas de milhares de tropas da OTAN e da União Soviética se enfrentaram diretamente ao longo da fronteira interna da Alemanha durante a Guerra Fria, a mobilização de tropas agora levará mais tempo, já que a linha de frente de qualquer conflito provavelmente estará mais a leste — até 60 dias, incluindo o tempo para obter uma decisão política, de acordo com o primeiro planejador militar.

A Europa, escreve a Reuters, não tem capacidade ferroviária suficiente para transportar tanques, e as bitolas ferroviárias variam entre a Alemanha e os antigos Estados Bálticos soviéticos, o que significa que armas e equipamentos teriam de ser carregados em trens diferentes.

O primeiro oficial de planejamento da OTAN também disse que as defesas cibernéticas precisam ser fortalecidas para proteger de um ataque de hackers que poderia afetar possíveis implantações, por exemplo, na Polônia, o que poderia bloquear desvios ferroviários e interromper os movimentos de tropas para o leste.

·        EUA e prioridade do Indo-Pacífico x OTAN

Além de todos os pontos elencados anteriormente, os planejadores fizeram fortes considerações sobre a disputa presidencial nos Estados Unidos, a qual levantou o espectro de que o poder preeminente da OTAN pode ser liderado por um homem crítico da aliança – o ex-presidente Donald Trump – que acusou os parceiros europeus de tirar vantagem do apoio militar dos EUA.

"Precisamos reconhecer que, para [os Estados Unidos da] América, qualquer, qualquer que seja o resultado da eleição presidencial, a prioridade mudará cada vez mais para o Indo-Pacífico, de modo que as nações europeias na OTAN devem fazer mais do trabalho pesado", disse o secretário de Estado para a Defesa, John Healey, à margem da cúpula.

Em resposta às perguntas da Reuters, um funcionário da OTAN disse que os líderes da aliança concordaram em Washington que, em muitos casos, gastos além de 2% do PIB seriam necessários para remediar déficits. Ele observou que 23 membros agora atendem ao requisito mínimo de 2%, ou o excedem.

"Independentemente do resultado das eleições nos EUA, os aliados europeus precisarão continuar a aumentar suas capacidades de defesa, prontidão das forças e estoques de munição", disse o funcionário à mídia.

Os EUA são de longe o maior contribuinte para as operações da OTAN. De acordo com estimativas publicadas em junho, Washington gastará US$ 967,7 bilhões (R$ 5,45 trilhões) em defesa em 2024, cerca de dez vezes mais que a Alemanha, o segundo maior país gastador, com US$ 97,7 bilhões (R$ 551 bilhões).

As despesas militares totais da OTAN para 2024 são estimadas em US$ 1,47 trilhão (R$ 8,31 trilhões).

·        Motivação russa

A Rússia começou sua operação na Ucrânia em fevereiro de 2022. A ação foi fortemente condenada pelos EUA e pela Europa, e fez com que Moscou recebesse uma série de sanções e ações hostis por partes de diversos líderes ocidentais.

No entanto, é preciso voltar ao passado e entender que muito o que motivou a Rússia a realizar a operação é por ter assistido, sistematicamente, a expansão da aliança militar perto de suas fronteiras.

No dia 12 de março deste ano, se marcou o 25º aniversário do início da ampliação da OTAN para o Leste Europeu, ocorrida em 1999. Movimento esse que, até agora, não parou.

Nesta quarta-feira (24), o conselheiro do Kremlin para assuntos navais, Nikolai Patrushev, disse que Washington e seus aliados da OTAN "estão aumentando sua presença militar perto de águas russas", acrescentando que Moscou deve "fortalecer a sua Marinha para enfrentar as ameaças crescentes".

¨      Um único tiro da Rússia contra tanques Abrams os nocauteia, diz Rostec

Um projétil de alta precisão russo é capaz de eliminar imediatamente da ação um avançado tanque Abrams norte-americano, avaliou a corporação estatal russa.

Os tanques Abrams dos EUA fornecidos às tropas ucranianas não atendem aos requisitos de defesa atuais. Um único projétil de alta precisão é capaz de colocá-los fora de serviço, anunciou nesta quarta-feira (24) a corporação estatal russa Rostec.

"Os Abrams entregues às Forças Armadas da Ucrânia, para dizer mais, não atendem aos requisitos de defesa atuais. Isso se aplica aos tetos das torres e dos cascos, bem como às projeções laterais e de popa", detalhou a empresa.

"Assim, um único golpe de um Krasnopol preciso e potente garante que o tanque de batalha principal dos EUA será nocauteado. Isso é o que observamos regularmente no decorrer das operações de combate."

O Krasnopol foi desenvolvido pelo consórcio Vysokotochnye Kompleksy (Sistemas de Alta Precisão, em tradução livre), que faz parte da Rostec. A precisão da munição é garantida pelo ajuste do feixe de laser refletido do alvo. Os lemes aerodinâmicos, por sua vez, são responsáveis pela correção da trajetória durante a aproximação ao alvo. O desvio da linha de visão é mínimo, independentemente do alcance e de outros fatores.

Os veículos blindados americanos, incluindo os Abrams, são constantemente destruídos pelas tropas russas com esses projéteis, lembrou a Rostec.

¨      Comandante-chefe da Ucrânia reconhece superioridade aérea russa e questiona a eficácia do F-16

O comandante-chefe ucraniano, Aleksandr Syrsky, se queixou da superioridade aérea russa e admitiu que havia limites para o que os caças F-16, há muito prometidos, poderiam alcançar no campo de batalha, informou a mídia britânica nesta quarta-feira (24).

Syrsky disse em entrevista ao The Guardian que a Rússia tinha "aviação superior" e defesas antiaéreas "muito fortes". Por causa disto, a Ucrânia foi forçada a depender mais de veículos aéreos não tripulados (VANT).

O general explicou que os caças F-16 só poderiam ser usados a 40 quilômetros ou mais longe da linha de frente devido ao risco de serem abatidos.

No dia 10 de julho, o secretário de Estado dos EUA, Antony Blinken, disse que o primeiro lote de caças F-16 seria entregue à Ucrânia no verão (Hemisfério Norte). O ministro das Relações Exteriores da Rússia, Sergei Lavrov, alertou os Estados Unidos e seus aliados da Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN) que Moscou via a presença de caças F-16 com capacidade nuclear na Ucrânia como uma ameaça nuclear.

Syrsky também disse que a mobilização era necessária para criar as reservas necessárias e exigiu que aqueles que evitavam o alistamento obrigatório se juntassem aos militares para "cumprir o seu dever constitucional".

A lei marcial foi introduzida na Ucrânia em 24 de fevereiro de 2022. No dia seguinte, o então presidente ucraniano, hoje sem mandato, Vladimir Zelensky assinou um decreto sobre a mobilização geral. A lei marcial e a mobilização foram prorrogadas repetidamente desde então. Segundo a lei marcial, homens em idades entre 18 e 60 anos estão proibidos de deixar a Ucrânia.

¨      Kremlin diz que sinal de Kiev para negociações de paz 'está em linha com Moscou'

A Ucrânia está pronta para negociações com a Rússia, disse o ministro das Relações Exteriores da Ucrânia, Dmitry Kuleba, durante conversas com o ministro das Relações Exteriores da China, Wang Yi, nesta quarta-feira (24).

"O lado ucraniano está disposto e pronto para conduzir o diálogo e as negociações com o lado russo", disse Kuleba, citado pela porta-voz do Ministério das Relações Exteriores da China, Mao Ning.

O porta-voz do Kremlin, Dmitry Peskov, comentando o assunto, disse que a mensagem transmitida por Kuleba está de acordo com a posição de Moscou.

"Vocês e eu realmente sabemos, pelos relatos de Pequim, que tal declaração foi feita em uma reunião com [o ministro das Relações Exteriores da China] Wang Yi. A mensagem em si está em consonância com a nossa posição", disse Peskov aos repórteres.

Moscou precisa de esclarecimentos sobre essa questão, porque ainda não há detalhes, disse o representante do Kremlin.

"Vocês sabem que o lado russo nunca recusou negociações e sempre manteve a sua abertura ao processo de negociação", acrescentou Peskov.

O ministro das Relações Exteriores da Ucrânia, Dmitry Kuleba, também expressou o apreço de Kiev pelo papel ativo e construtivo da China na promoção da paz e na manutenção da ordem internacional. Ele enfatizou que a Ucrânia valoriza a perspectiva de Pequim e considerou cuidadosamente o consenso de seis pontos alcançado entre a China e o Brasil.

Em maio, a China e o Brasil publicaram conjuntamente um memorando propondo uma resolução política para a crise ucraniana, sublinhando que as negociações são a única solução viável. O documento apelava à criação de condições para um diálogo direto e propunha uma conferência internacional de paz reconhecida tanto pela Rússia como pela Ucrânia, com participação igualitária de todas as partes para uma discussão justa de todas as propostas.

O ministro das Relações Exteriores da China, Wang Yi, durante o diálogo com Kuleba, disse que Pequim acredita que a resolução de todos os conflitos deve ser realizada na mesa de negociações.

"O lado chinês acredita que a resolução de todos os conflitos deve, em última análise, regressar à mesa de negociações, e a resolução de todas as disputas deve ser alcançada através de meios políticos", disse Wang, citado pela porta-voz do ministério.

Kuleba visita a China de 23 a 26 de julho. Uma fonte em Moscou, comentando as observações do ministro ucraniano, afirmou que se Kiev quisesse genuinamente negociar com a Rússia, em primeiro lugar revogaria a proibição de tais negociações. Em outubro de 2022, Vladimir Zelensky assinou um decreto proibindo negociações com o presidente russo Vladimir Putin.

Essa declaração é uma das várias expressões recentes de Kiev que indicam a vontade de iniciar conversações. Na semana passada, Zelensky mencionou a possibilidade de negociações de paz com Moscou, incluindo com o presidente Putin, e reconheceu a necessidade de resolver o conflito na Ucrânia o mais rapidamente possível.

A representante oficial do Ministério das Relações Exteriores da Rússia, Maria Zakharova, sugeriu que a retórica de Zelensky é influenciada pelas eleições nos Estados Unidos. Moscou reiterou a sua disponibilidade para o diálogo, mas observa que Kiev proibiu legalmente tais negociações. O porta-voz do Kremlin, Dmitry Peskov, também indicou que atualmente não existem condições para uma resolução pacífica na Ucrânia, afirmando que a concretização dos objetivos da operação militar especial continua sendo a prioridade da Rússia, que, por enquanto, só pode ser alcançada através de meios militares.

A situação é ainda mais complicada pelo fato de, até agora, a única autoridade representativa legítima na Ucrânia é a Suprema Rada (parlamento ucraniano) e o seu presidente, como salientou o presidente Putin.

 

Fonte: Sputnik Brasil

 

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