Unidade da PM-SP posta vídeo de policiais com
braço em riste e uma cruz em chamas
O perfil oficial do 9º Batalhão de Ações
Especiais de Polícia (9º Baep), unidade especializada da Polícia Militar
paulista (PM-SP) com atuação em São José do Rio Preto (SP), publicou um vídeo
no Instagram em que policiais aparecem posicionados em frente a uma cruz em
chamas. Dois dos agentes aparecem, ainda, com o braço em riste — no que sugere
uma saudação nazista.
A cena publicada, que exibe também um
corredor de velas e viaturas ao fundo e uma trilha sonora dramática, não
especifica o local em que foi gravado o vídeo. Além disso, a baixa luminosidade
não permite identificar quem são as pessoas presentes. Ficam visíveis, no
entanto, duas bandeiras com o brasão do 9º Baep.
Um perfil do Comando de Policiamento do
Interior 5 (CPI-5) republicou a postagem e o perfil do tenente-coronel José
Thomaz Costa Junior, comandante do 9º Baep, estava marcado na publicação.
A Ponte questionou a Secretaria da Segurança
Pública de São Paulo (SSP-SP) sobre quem eram as pessoas do vídeo, se o
registro havia sido feito durante o horário de expediente delas e quais foram
as circunstâncias da gravação. Perguntou também se entendia que o braço em
riste e a cruz em chamas podem sem compreendidos, respectivamente, como
alusivos à saudação romana usada por neonazistas e à cerimônia de queima de
cruzes criada pela Ku Klux Klan e repetida por supremacistas brancos. Após o
pedido de informações feito pela reportagem, a publicação foi tirada do ar.
Em resposta, a SSP-SP afirmou que o caso é
investigado. “A Polícia Militar é uma instituição legalista e repudia toda e
qualquer manifestação de intolerância. Assim que tomou conhecimento das
imagens, a Corporação instaurou um procedimento para investigar as
circunstâncias relativas ao caso. A Corporação não compactua com desvios de
conduta e reforça que qualquer manifestação que contrarie seus valores e
princípios será rigorosamente apurada e os envolvidos responsabilizados”,
escreveu, em nota.
O Baep é uma unidade especializada criada
ainda pela gestão João Doria (PSDB), em 2019, para atuar como uma espécie de
“Rota do interior”, com foco em ações ostensivas — atualmente, a unidade também
já está presente na capital. A Rota é conhecida por ser a unidade policial que
mais mata no estado.
No caso do 9º Baep, a Ponte já mostrou que
ele esteve envolvido na morte de dois jovens injustamente acusados de roubo em
São José do Rio Preto. No último dia 27 de março, quatro agentes da unidade
acabaram absolvidos em um Tribunal do Júri ao serem julgados pelo episódio.
• Cruz
em chamas: chefe de unidade da PM nega ‘ritual’ ou ‘conotação ideológica’
O tenente-coronel José Thomaz Costa Júnior,
comandante da unidade do Batalhão de Ações Especiais de Polícia (9º Baep),
unidade filmada em uma cerimônia com uma cruz em chamas e policiais com o braço
em riste, afirmou que aquilo se tratava de uma celebração dos policiais
recém-chegados ao Baep.
José Thomaz negou que os agentes tenham
colocado fogo na cruz em alusão a algum ritual. Segundo ele, a ação era para
iluminar o objeto, simbolizando “o renascimento do guerreiro”. O argumento foi
dado em entrevista ao jornal DHoje Interior, publicada nesta quarta-feira
(16/4) [veja abaixo], após a repercussão negativa do vídeo publicado no perfil
oficial do 9º Baep no Instagram — que sugeria uma menção à prática do grupo
supremacista branco norte-americano Ku Klux Klan.
Nas imagens, policiais aparecem posicionados
em frente a uma cruz em chamas. Dois dos agentes aparecem, ainda, com o braço
em riste — de forma semelhante a uma saudação nazista [veja acima]. E a conta
do tenente-coronel na rede social aparecia marcada no vídeo.
Segundo José Thomaz, a cerimônia marcou a
entrega de braçais, item que integra o fardamento e identifica o policial e sua
qualificação. “A cerimônia tem alguns aspectos de simbolismo, representa a
dificuldade que o policial percorre nesse período e a gente dá bastante ênfase
na vitória, na conquista”, afirmou. O comandante do 9º Baep disse que esse tipo
de cerimônia é comum entre as tropas.
Sobre a suposta saudação nazista, José Thomaz
se defendeu dizendo que os agentes faziam um gesto com o braço estendido na
posição de 45 graus “como qualquer juramento que todas as profissões realizam”.
“Obviamente, nós não tínhamos nenhuma
intenção de que isso tivesse qualquer interpretação ou conotação ideológica no
nosso pessoal. São 100% cristãos, aqui nós temos no BAEP policiais de todas as
etnias, de todos os credos, mas todos cristãos”, disse José Thomaz. O material
foi produzido durante o horário de trabalho dos agentes e, segundo o tenente,
foi gravado à noite — o que não é comum — porque a equipe “vitoriosa” pertence
ao pelotão noturno.
Um vídeo e uma nota sobre o caso foram
publicados no perfil do 9º Baep. O texto busca reforçar a versão de que as
imagens mostram apenas uma cerimônia de entrega do braçal. “A Polícia Militar
esclarece que não houve qualquer intenção de fazer alusão a ideologias e cultos
ou manifestações de cunho político, religioso ou racial”, afirma o texto.
No vídeo o comandante repete as explicações
dadas na entrevista. José Thomaz também diz que as imagens foram deletadas por
causa da repercussão, “que não desejávamos”.
Nesta quinta (16/4), a Ponte divulgou um novo
vídeo do ocorrido, no qual um agente que aparenta ser recém-integrado ao 9º
Baep faz um juramento com o braço em riste. Ele fala em honrar a corporação e a
sociedade paulista até mesmo com a própria vida, caso isso seja necessário.
<><> Ouvidoria pede afastamento
dos PMs
A Ouvidoria das Polícias pediu à Corregedoria
informações sobre o afastamento dos policiais envolvidos e, caso não tenha sido
feito, requereu essa ação. “Quando a polícia adota práticas bárbaras e
criminosas, é urgente que se revisem seus procedimentos e atos de comando. A
sociedade clama por uma segurança cidadã, que respeite seus direitos
fundamentais, e não tolera mais este retrocesso civilizatório que agride o
patrimônio, a história, a vida”, escreveu o órgão, em nota.
Já o Ministério Público do Estado de São
Paulo (MP-SP) instaurou nesta quarta-feira (16) uma investigação para apurar a
veiculação do vídeo. A apuração será feita pela promotoria de Justiça de São
José do Rio Preto, no interior de São Paulo.
• Batalhão
da PM que fez cerimônia com cruz em chamas já havia feito treino com ‘favela’
como inimigo
O batalhão da Polícia Militar paulista
(PM-SP) filmado em uma cerimônia com uma cruz em chamas e policiais com o braço
em riste, cujas imagens foram divulgadas pela Ponte na terça-feira (15/4), já
havia sido alvo de críticas em 2019 ao protagonizar um treinamento no qual
combatia um inimigo em meio a tapumes com a inscrição “favela”.
As imagens do treinamento haviam sido
divulgadas também pelas redes sociais do próprio 9º Batalhão de Ações Especiais
de Polícia (9º Baep), unidade especializada da PM-SP com atuação em São José do
Rio Preto (SP). À época, elas ganharam maior projeção após terem sido
repercutidas pela Ponte. Especialistas ouvidos naquela ocasião avaliaram que o
treino parecia propor a criminalização da pobreza, reforçando um imaginário
entre os policiais de que o crime estaria apenas em comunidades, onde poderiam
atuar ostensivamente.
“Eles entram dentro da favela assim mesmo,
como se fosse um inimigo. É assim que tratam as periferias. Não é o mesmo
tratamento dado aos bairros ricos”, disse Débora Maria da Silva, fundadora do
Movimento Mães de Maio, para a Ponte à época.
Já para Samira Bueno, diretora-executiva do
Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP), a imagem evidenciava uma visão
preconceituosa da polícia paulista. “Reforça a estética que vem sendo muito
empregada no Rio, da polícia chegar atirando nessas comunidades pobres. A PM de
SP está se perdendo e começou a mimetizar a PMERJ no que ela tem de pior”,
afirmou ela.
Ainda à época, em contato com a Ponte, a
PM-SP não explicou por qual razão a inscrição “favela” constava nos tapumes,
limitando-se a descrever o treinamento que havia sido empregado aos policiais
do 9º Baep. “A Polícia Militar esclarece que o treinamento de Tiro Defensivo na
Preservação da Vida — ‘Método Giraldi’, aplicado pela Polícia Militar, ensina
ao policial militar quando se deve atirar e quando não. A simulação objetiva
justamente mostrar ao aluno que não se atira em quaisquer circunstâncias, mas
somente quando há injusta agressão”, respondeu, em nota, a corporação.
<><> Vídeo com iconografia
supremacista
O 9º Baep voltou à receber atenção nesta
quarta-feira (15/4) ao publicar, sem contextualização alguma e com uma trilha
sonora ao fundo, um vídeo em sua conta no Instagram no qual policiais apareciam
posicionados em frente a uma cruz em chamas. A cruz em chamas era uma das
marcas da organização supremacista branca norte-americana Ku Klux Klan. Dois
dos policiais, ainda, faziam um gesto com o braço em riste — que remete à
saudação nazista.
A cena exibia também um corredor de velas e
viaturas ao fundo, sem especificação do local em que o vídeo havia sido
gravado. Além disso, a baixa luminosidade não permitia identificar quem eram as
pessoas presentes. Ficavam visíveis, no entanto, duas bandeiras com o brasão do
9º Baep. Um perfil do Comando de Policiamento do Interior 5 (CPI-5) republicou
a postagem e a conta do tenente-coronel José Thomaz Costa Junior, comandante do
9º Baep, estava marcada na publicação.
O vídeo foi tirado do ar assim que a Ponte
questionou as autoridades sobre seu significado.
A Ponte solicitou informações à Secretaria da
Segurança Pública de São Paulo (SSP-SP) sobre quem eram as pessoas do vídeo, se
o registro havia sido feito durante o horário de expediente delas e quais as
circunstâncias da gravação. Perguntou também se a SSP-SP entendia que o braço
em riste e a cruz em chamas poderiam sem compreendidos, respectivamente, como
alusivos à saudação romana usada por neonazistas e à cerimônia de queima de
cruzes criada pela Ku Klux Klan.
Em resposta, a SSP-SP afirmou que o caso é
investigado. “A Polícia Militar é uma instituição legalista e repudia toda e
qualquer manifestação de intolerância. Assim que tomou conhecimento das
imagens, a Corporação instaurou um procedimento para investigar as
circunstâncias relativas ao caso. A Corporação não compactua com desvios de
conduta e reforça que qualquer manifestação que contrarie seus valores e
princípios será rigorosamente apurada e os envolvidos responsabilizados”,
escreveu, em nota.
• PM
jura ‘sacrifício da própria vida’ em cerimônia
Já nesta quinta (16/4), a Ponte divulgou um
novo vídeo do ocorrido, no qual um agente que aparenta ser recém-integrado ao
9º Baep faz um juramento também o braço em riste. Ele fala em honrar a
corporação e a sociedade paulista até mesmo com a própria vida, caso isso seja
necessário.
O evento aparenta se tratar de uma solenidade
de entrega de braçal — quando militares encerram um estágio operacional e são
efetivamente incorporados à unidade. Esse tipo de solenidade em geral é feita
nos batalhões e à luz do dia, com juramentos perante as bandeiras do estado e
do Brasil. A PM-SP não esclareceu as circunstâncias da cerimônia até aqui.
<><> Batalhão é ‘Rota do
interior’
O Baep é uma unidade especializada criada
pela gestão João Doria (PSDB), em 2019, para atuar como uma espécie de “Rota do
interior”, com foco em ações ostensivas — atualmente, a unidade também já está
presente na capital. A Rota é conhecida por ser a unidade policial que mais
mata no estado.
No caso do 9º Baep, a Ponte já mostrou que
ele esteve envolvido na morte a tiros de dois jovens negros injustamente
acusados de roubo em São José do Rio Preto. Havia imagens de câmeras de
segurança que mostravam as duas vítimas já rendidas antes de serem baleadas. Em
27 de março, contudo, quatro agentes da unidade acabaram absolvidos em um
Tribunal do Júri ao serem julgados pelo episódio.
Novo vídeo obtido pela Ponte mostra policial
aparentemente recém-integrado ao 9º Baep com braço em riste durante juramento.
Ele fala em honrar a corporação e a sociedade paulista até mesmo com a própria
vida caso necessário
A cerimônia da Polícia Militar paulista
(PM-SP) que teve policiais filmados com o braço em riste e em frente a uma cruz
em chamas teve também um juramento. Em um novo vídeo obtido pela Ponte, um
agente que aparenta ser recém-integrado ao 9º Batalhão de Ações Especiais de
Polícia (9º Baep), unidade especializada com atuação em São José do Rio Preto
(SP), fala em honrar a corporação e a sociedade paulista até mesmo com a
própria vida caso isso seja necessário.
“Incorporando-me ao 9º Batalhão de Ações
Especiais de Polícia, prometo honrar esse brasão como símbolo da dignidade,
moralidade, legalidade e lealdade, pela defesa da sociedade paulista, pelas
tradições do Baep e da Polícia Militar do Estado de São Paulo, se preciso, com
o sacrifício da própria vida”, diz o policial militar, também com o braço em
riste enquanto faz o juramento.
O evento aparenta se tratar de uma solenidade
de entrega de braçal, quando militares encerram um estágio operacional e são
efetivamente incorporados à unidade. É comum que esse tipo de solenidade seja
feita em batalhões e à luz do dia, com juramentos perante as bandeiras do
estado e do Brasil. A PM-SP não esclareceu as circunstâncias da cerimônia até
aqui.
<><> Perfil oficial de batalhão
publicou primeiro vídeo
A cerimônia da PM-SP veio a público após um
perfil oficial do 9º Baep publicar, sem qualquer contextualização e uma trilha
de fundo, um primeiro vídeo no Instagram em que policiais aparecem posicionados
em frente a uma cruz em chamas. Dois dos agentes aparecem, ainda, com o braço
em riste.
Um perfil do Comando de Policiamento do
Interior 5 (CPI-5) republicou a postagem e a conta do tenente-coronel José
Thomaz Costa Junior, comandante do 9º Baep, estava marcada na publicação.
Fonte: Ponte Jornalismo

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