segunda-feira, 21 de abril de 2025

João Filho: Tarcísio e Derrite abrem portas de São Paulo para milícias e matanças da PM inspiradas na Ku Klux Klan

Engana-se quem acha que a Polícia Militar de São Paulo está descontrolada. Na verdade, ela está sob o controle ideológico do bolsonarismo. O secretário de Segurança Pública do estado, Guilherme Derrite, e o governador Tarcísio de Freitas, do Republicanos, são avalistas e entusiastas da barbárie reacionária que tomou conta da corporação. 

Isso não significa que antes da gestão Tarcísio a Polícia Militar era formada por anjos legalistas, longe disso. A violência desmedida e criminosa, principalmente contra pobres e pretos, é uma marca histórica das polícias militares de todo o Brasil.

Mas a ascensão do bolsonarismo elevou a coisa para um outro patamar. Hoje, os policiais militares agem incentivados pelo caldo cultural do bolsonarismo, que trouxe um verniz de legitimidade ao fetiche por armas e matança de pobres. 

Nesta semana, o Batalhão de Ações Especiais da Polícia, BAEP, da cidade de São José do Rio Preto publicou nas redes sociais um vídeo em que policiais militares aparecem diante de uma cruz em chamas e fazem a saudação romana — símbolos que remetem à iconografia do nazismo e do grupo supremacista Ku Klux Klan. 

Não se trata de novidade. A incitação e apologia à violência e à prática de crimes faz parte da história dos treinamentos dos batalhões de elite da PM. Cantos, lemas e gritos de guerra pregando a violência sempre foram comuns nas polícias militares.

Depois da repercussão, o vídeo foi apagado, e a Secretaria de Segurança Pública emitiu uma nota afirmando que “repudia toda e qualquer manifestação de intolerância” e que o caso será “rigorosamente apurado e os envolvidos responsabilizados”. 

Claro que se trata de conversa para boi dormir. Já conhecemos o modus operandi do bolsonarismo. Quantas vezes o bolsonarismo usou de forma clara e direta a estética nazista e depois se fez de louco, alegando ser tudo uma grande coincidência?

Lembremos do então secretário de cultura de Jair Bolsonaro, Roberto Alvim, que não só abusou da estética nazista em um pronunciamento gravado em vídeo, como copiou trechos exatos de um discurso de Joseph Goebbels, ministro da propaganda de Adolf Hitler. 

Lembremos também de como a própria Ku Klux Klan admitiu a semelhança ideológica de Bolsonaro com o grupo supremacista: “Ele soa como nós”, disse David Duke, que é o principal e mais conhecido líder da história da Ku Klux Klan. Segundo ele, Bolsonaro “se parece com qualquer homem branco nos EUA, em Portugal, Espanha ou Alemanha e França. E ele está falando sobre o desastre demográfico que existe no Brasil e a enorme criminalidade que existe ali, como por exemplo nos bairros negros do Rio de Janeiro”. Não há coincidências aqui. A afinidade ideológica é óbvia e inegável.

Não é exagero dizer que as polícias militares hoje são instituições bolsonaristas. Há inúmeros relatos de perseguição a policiais não bolsonaristas. Nas eleições de 2022 em São Paulo, soldados foram pressionados por seus superiores a votar em Bolsonaro e Tarcísio. 

Também não é coincidência a enxurrada de candidatos bolsonaristas oriundos das fileiras das polícias militares. Nas últimas eleições municipais, dos 14 candidatos a prefeito pelo PL, partido de Bolsonaro, 4 eram policiais

A ideologia de extrema direita está tão impregnada nas mentes e corações dos integrantes da corporação que não importa tanto se o governador que a comanda seja ou não bolsonarista. A PM da Bahia, por exemplo, governada por políticos do PT desde 2007, é hoje a que mais mata no país. 

Aqui é preciso dizer: governadores petistas pouco ou nada fizeram para estancar a bolsonarização da instituição no estado. A Polícia Militar baiana segue matando de forma indiscriminada, principalmente pretos e pobres. Já está naturalizada na sociedade brasileira a ideia falaciosa de que a matança torna a sociedade mais segura — isso faz com que até mesmo políticos progressistas façam vista grossa visando ganhos eleitorais. 

Por outro lado, quando há o endosso amplo, geral e irrestrito de um governador bolsonarista, o guarda da esquina tende a ficar ainda mais indomável e violento.

Os bolsonaristas que comandam a Segurança em São Paulo — o governador Tarcísio e o secretário Derrite — são os principais fiadores da selvageria descontrolada que tomou conta da polícia no estado. Dados do Ministério Público mostram que as mortes por policiais tiveram um aumento de quase 100% nos dois primeiros anos da gestão Tarcísio. Trata-se de um projeto claro e definido. 

Antes de se tornar secretário, Derrite era um policial militar que dizia que não ter pelo menos três mortes no currículo seria motivo de vergonha para qualquer policial. Foi essa postura que o fez ser escolhido por Tarcísio. Derrite foi o responsável pela Operação Verão, que resultou na morte de 56 pessoas, sendo a operação com o maior número de assassinatos desde o massacre do Carandiru, em 1992. 

Muitas das vítimas foram executadas sem trocar tiros com os policiais. Toda essa carnificina não resultou em mais segurança para a população. Os crimes de estupro, latrocínio e furto aumentaram em 2025 no estado, assim como o número de vítimas mortas em assalto na capital. 

A gestão Tarcísio-Derrite reverteu uma tendência de queda no número de mortes por policiais que vinha acontecendo ano após ano desde 2021. Em 2024, a PM matou 65% a mais do que em 2023, segundo um relatório do Ministério Público de São Paulo. Para alegria da Ku Klux Klan, a maioria das vítimas (64%) é composta por pretos e pardos. 

Os dados mostram que, sob o governo Tarcísio, a polícia mata um adolescente a cada nove dias — a maioria deles (68%) também é composta por pretos e pardos. “Vocês soam como nós”, diria o líder da Ku Klux Klan para Tarcísio e Derrite. 

É curioso notar como essa polícia que se orgulha em “matar bandidos” é a mesma que tem relações cada vez mais íntimas com o crime organizado, mais especificamente com o Primeiro Comando da Capital, o PCC, como temos visto com frequência no noticiário. O salvo conduto para matar conferido pelo governador aos policiais militares está resultando em um processo de milicialização em São Paulo. 

<><> “A matança de pretos e pobres é tratada como mero efeito colateral”

Para o jornalista e doutor em Ciências Políticas da USP Bruno Paes Manso, o descontrole das polícias, aliado ao discurso de guerra, é a semente dos grupos paramilitares. Foi assim no Rio de Janeiro. 

Antes de começar a gestão bolsonarista da Segurança em São Paulo, Paes Manso previu o que aconteceria em São Paulo: “O descontrole policial, caso ocorra, coloca inclusive o risco de associação [com o PCC]. Não estou dizendo que vai acontecer, mas o discurso de fragilização dos controles policiais, que estamos conhecendo melhor com o bolsonarismo, pode estimular parcerias, sociedades. A partir do momento em que se dá carta branca para os policiais serem violentos e usarem os uniformes e as armas com legitimidade para fazer a guerra, eles podem querer dinheiro com isso, enriquecer assim. É um risco presente em todos os estados e, com o PCC, é uma possibilidade de parceria, de participar dos mesmos esquemas, de garantir cobertura, como já aconteceu com diversos policiais ligados ao crime”. 

A gestão bolsonarista da segurança pública em São Paulo pavimentou o caminho para a formação de milícias e a associação com o PCC. Perceba como o ritual de estética nazista do BAEP não representa um ponto fora da curva na gestão Tarcísio-Derrite. Ele faz parte do pacote de ideologias de extrema direita que estão incrustadas na Polícia Militar. 

A matança de pretos e pobres é tratada como mero efeito colateral, enquanto o ritual inspirado na Ku Klux Klan é só uma infeliz coincidência. Mesmo com todo esse descalabro na segurança em São Paulo, onde a polícia mata mais e a população continua a ver a criminalidade crescer, Tarcísio foi eleito pelas elites como o seu candidato à presidência da República. 

E assim segue a marcha bolsonarista na segurança pública em São Paulo: fechada com o bolsonarismo, inspirada na Ku Klux Klan e cada vez mais próxima do PCC.

¨      Deputado bolsonarista emprega piloto acusado de atuar para o tráfico. Por Thalys Alcântara

O deputado federal Euclydes Pettersen, do Republicanos de Minas Gerais, contratou para o seu gabinete no Congresso Nacional um piloto de avião acusado de atuar para o tráfico de drogas ligado ao Primeiro Comando da Capital, o PCC.

Carlos Bertozzo, de 33 anos, foi investigado pela Polícia Federal e denunciado pelo Ministério Público Federal, o MPF, por fazer parte de uma organização criminosa que transportava cocaína da Bolívia para o Brasil.

Cabo eleitoral do ex-presidente Jair Bolsonaro e membro da apelidada ‘bancada do garimpo’, Pettersen contratou Bertozzo oficialmente para o cargo de secretário parlamentar em maio de 2023, no início de seu segundo mandato na Câmara. À época, o currículo do novo assessor já incluía uma passagem pela prisão. 

Bertozzo foi preso preventivamente em fevereiro de 2020, sob a acusação de tráfico e associação para o tráfico transnacional de drogas. Ele conseguiu o direito de responder ao processo em liberdade em abril de 2022. De acordo com relatórios da PF, ele pilotava para dois traficantes investigados nas operações Voo Baixo e Narcos.

O histórico não foi problema para o deputado bolsonarista. Atualmente, Bertozzo recebe um salário bruto de R$ 18,7 mil – o equivalente a mais de 12 vezes o salário mínimo. Em março do ano passado, Bertozzo foi promovido para a função SP25, uma das mais altas na hierarquia dos cargos em comissão do Congresso, que vão de SP01 a SP28.

Quando foi preso por tráfico, em 2020, Bertozzo morava em Governador Valadares, Minas Gerais, mesma cidade de Pettersen. Piloto e deputado aparentam ter uma boa relação nas redes sociais. Pettersen fez um comentário amigável em uma foto publicada por Bertozzo no Instagram em novembro de 2023: “Eh trem que voa”, escreveu.

Segundo a Polícia Federal, anotações sobre o comércio de cocaína apreendidas na operação Voo Baixo indicam que Bertozzo transportou mais de  uma tonelada de cocaína em voos para Biritiba Mirim e Campinas, em São Paulo. 

Já um relatório da inteligência da Polícia Militar do Amazonas, citado pela PF, diz que o piloto, que hoje trabalha no Congresso, tinha a função de coletar fardos de entorpecentes em uma pista clandestina de Novo Aripuanã, no Amazonas, e levar o produto para São Paulo, Rio de Janeiro e Manaus, no Amazonas.

Procurado pelo Intercept Brasil, Pettersen defendeu que a contratação de Bertozzo foi realizada com base em sua experiência e competência. O deputado pontuou que o processo contra o piloto por trabalhar para o tráfico ainda não foi concluído e ele tem o direito de exercer sua profissão enquanto busca provar sua inocência.

“Caso venha a ocorrer um julgamento definitivo, seja com absolvição ou não, enquanto a justiça permitir que ele continue trabalhando, minha postura como deputado será sempre pautada pelo princípio de oferecer oportunidades a todos, inclusive àqueles que, porventura, tenham cometido erros e desejam se reinserir na sociedade de maneira digna”, destacou Pettersen.

Já a defesa de Carlos Bertozzo afirmou, sem dar detalhes, que houve um “reconhecimento parcial” da absolvição do piloto em primeira instância e que o processo seguirá para o grau de recurso. Como o processo segue em sigilo, a reportagem pediu mais informações sobre a sentença para o advogado, mas não houve retorno.

<><> Conexão Brasília-Minas Gerais-Amazônia

Em suas redes sociais, Bertozzo não expõe sua função no Congresso. No último dia 28 de fevereiro, ele publicou um vídeo pilotando um Piper Aircraft da Mahogany Imobiliária, empresa com sede em Manaus de propriedade do deputado Pettersen, que também tem habilitação de piloto e possui duas aeronaves.

O cargo de secretário parlamentar ocupado por Bertozzo exige cumprir 40 horas semanais e tem a atribuição de prestar serviços de secretaria, assistência e assessoramento direto do gabinete do parlamentar. Mas, na prática, ele atua como piloto de Pettersen. O parlamentar argumentou que seria economicamente mais vantajoso se deslocar por meio de voos particulares do que em viagens comerciais. 

O regramento da Câmara sobre as funções do secretário parlamentar, de 1997, enumera uma série de atribuições básicas desse servidor, que vão de “serviços datilográficos” a “condução de veículo de propriedade do parlamentar”. Em julgamento de um caso análogo em novembro de 2011, o ministro do STF Dias Toffoli defendeu que o “veículo” mencionado no regramento da Câmara pode se referir a aeronave ou avião. 

No entanto, dados disponibilizados pela Câmara dos Deputados indicam que, além de pagar o salário do piloto e o combustível da aeronave, o deputado acumula gastos elevados com bilhetes aéreos de companhias comerciais.

Foram R$ 154,3 mil gastos com 175 passagens aéreas entre junho de 2023 e fevereiro deste ano, mesmo período em que a Câmara arcou com outros R$ 258,3 mil em salários de Bertozzo por ele fazer parte do gabinete do deputado. Além disso, Pettersen gastou outros R$ 102,6 mil em combustível para suas próprias aeronaves.

Os destinos dos voos de Pettersen incluem diversas cidades que não são parte de Minas Gerais, estado pelo qual foi eleito. O deputado fez voos pagos pela Câmara para quatro cidades que integram a Amazônia Legal, incluindo idas para Manaus, capital do Amazonas, onde ele é dono da empresa Magohany Imobiliária.

Questionado sobre os valores, Pettersen disse que a contratação de um piloto não elimina todos os gastos com passagens aéreas, pois o avião passa por manutenções periódicas e nem sempre é viável o pouso com o veículo próprio. 

“Qualquer levantamento feito sobre esse período mostrará que os valores não são apenas compatíveis, mas que, em muitos casos, a economia com o avião próprio se torna evidente”, declarou, em nota.

A assessoria do deputado também defendeu que a função de piloto se enquadra na de secretário parlamentar, pois ele é responsável pela logística de deslocamentos do deputado e pelo planejamento de agendas aéreas.

Pettersen tirou uma licença da Câmara no dia 26 de fevereiro de 2025 para se dedicar à pré-candidatura ao Senado por Minas Gerais nas eleições de 2026 – os parlamentares podem tirar até quatro meses de licença não remunerada do cargo. Apesar da licença do deputado, o piloto foi mantido pela suplente que assumiu temporariamente o mandato, a deputada Kátia Dias, do Republicanos.

<><> Pouso clandestino e garimpo 

O piloto – e atual secretário parlamentar – Carlos Bertozzo entrou na mira da PF inicialmente por uma situação que esbarra na questão do garimpo dentro da Amazônia Legal. Em janeiro de 2019, ele foi detido pela Polícia Militar em Japurá, no interior do Amazonas, carregando 300 litros de gasolina em um bimotor Beech Aircraft 95-B55, após realizar um pouso clandestino em uma pista da região. 

“O transporte de combustível dentro de aeronaves é muito comum por pilotos que se arriscam em transportar drogas. Como utilizam com frequência pistas clandestinas, escondidas em fazendas e outros locais de difícil acesso, precisam correr esse tipo de risco para executar a missão criminosa”, escreveu a PF em relatório sobre o caso.

Além da grande quantidade de combustível, o piloto foi considerado suspeito porque estava voando sem autorização ou plano de voo e por não ter informado sua origem. Em seu depoimento para a polícia, Bertozzo disse que a aeronave havia sido alugada para um garimpeiro de Novo Aripuanã. 

Ele também afirmou no depoimento que pousou na cidade amazonense acompanhado de um mecânico chamado Pedro, que não foi localizado na ocasião, e a mando de uma pessoa chamada Guilherme. Segundo denúncia do MPF de 2020, o piloto “estranhamente disse que não conhecia Pedro nem Guilherme”. Para o MPF, houve inconsistências e falta de esclarecimentos em sua versão.

Essa mesma aeronave flagrada com o combustível foi apreendida quatro meses depois com mais de 970 kg de cocaína em Biritiba Mirim – Bertozzo não era o piloto nesta ocasião.

O processo relacionado ao caso específico em Japurá tramita no Tribunal de Justiça do Amazonas e está em sigilo. O piloto chegou a ser indiciado pela Polícia Civil do Amazonas por atentado contra a segurança do transporte aéreo, mas houve um acordo de não persecução penal oferecido em junho do ano passado. Detalhes do acordo estão em sigilo.

“Por se tratar de procedimento que tramita sob segredo de justiça e sendo extemporâneo o episódio injusto, no mínimo, causa estranheza a tentativa de reaquecer um fato jurídico ainda sem definição técnica emitida pelo Poder Judiciário”, escreveu a defesa de Bertozzo, em nota.

O Ministério Público Federal de São Paulo, responsável pela operação Voo Baixo, informou que a parte do processo relativa ao piloto foi transferida para a Justiça Federal de Santa Catarina, que julga os denunciados da Operação Narcos, após pedido da defesa.

<><> Pettersen: bolsonarista e pró-garimpo

Estudos do Fórum Brasileiro de Segurança Pública sobre violência na Amazônia têm indicado o uso do minério de ouro para lavar dinheiro proveniente do tráfico de drogas. A presença de facções criminosas nos garimpos é uma realidade e já tem até um nome próprio desde 2021: “narcogarimpo”.

Um levantamento da Carta Capital e do De Olho Nos Ruralistas, de fevereiro de 2023, classificou o deputado Pettersen como um integrante da Bancada do Garimpo, grupo de parlamentares que atuam para facilitar a mineração. 

Em março de 2022, Pettersen votou a favor da urgência do PL 191/20, que flexibiliza normas de mineração em terras indígenas e em áreas de conservação. Além disso, ele é a favor do Marco Temporal e da desregulamentação de agrotóxicos. 

No primeiro ano do governo Bolsonaro, em 2019, Pettersen chegou a se reunir com José Altino Machado, considerado o “rei do garimpo” na Amazônia, junto ao então vice-presidente Hamilton Mourão, atual senador do Rio Grande do Sul pelo Republicanos.

Pettersen apoiou Bolsonaro no segundo turno das eleições em 2022 e publicou montagens com vídeos ao lado dele. Inclusive, participou de uma motociata sentado na garupa do ex-candidato a vice, general Braga Netto, que atualmente está preso e foi denunciado pela Procuradoria-Geral da República por tentativa de golpe de estado.

 

Fonte: The Intercept

 

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