segunda-feira, 21 de abril de 2025

Febre do Oropouche: entenda o que é e como se prevenir

A febre Oropouche é uma doença causada por um arbovírus do gênero Orthobunyavirus, identificado pela primeira vez no Brasil em 1960, a partir da amostra de sangue de um bicho-preguiça capturado durante a construção da rodovia Belém-Brasília. Desde então, casos isolados e surtos foram relatados no país, sobretudo na região amazônica, considerada endêmica.

O Ministério da Saúde monitora o cenário epidemiológico do Oropouche em todo o Brasil. Em 2024, foram confirmados 13.782 casos no país e em 2025 já são mais de 2.790 casos.

Os sintomas da doença são parecidos com os da dengue e incluem dor de cabeça intensa, dor muscular, náusea e diarreia.

A transmissão do Oropouche é feita principalmente pelo inseto Culicoides paraensis (mais popularmente conhecido como maruim ou mosquito-pólvora). Depois de picar uma pessoa ou animal infectado, o vírus permanece no inseto por alguns dias. Quando o inseto pica uma pessoa saudável, pode transmitir o vírus.

Existem dois tipos de ciclos de transmissão da doença: no ciclo silvestre, bichos-preguiça e primatas não-humanos (e possivelmente aves silvestres e roedores) atuam como hospedeiros. Há registros de isolamento do vírus em outras espécies de insetos, como Coquillettidia venezuelensis e Aedes serratus.

Já no ciclo urbano, os humanos são os principais hospedeiros. Nesse cenário, além do inseto Culicoides paraenses, o mosquito Culex quinquefasciatus, popularmente conhecido como pernilongo e comumente encontrado em ambientes urbanos, também pode transmitir o vírus.

Dado o aumento de casos em 2024, com ocorrência de óbitos e a identificação de casos de transmissão vertical (da mãe para o feto) a Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS) reitera a importância de se implementarem medidas preventivas, especialmente para gestantes. Entre elas:

•        Utilizar mosquiteiros de malha fina em portas e janelas, com orifícios menores que 1 milímetro, para evitar a entrada de vetores.

•        Usar roupas de mangas compridas e calças compridas, especialmente em casas onde houver uma ou mais pessoas doentes.

•        Aplicar repelentes de insetos que contenham DEET nas áreas expostas da pele.

•        Em situações de surto, evitar atividades ao ar livre durante o amanhecer e o anoitecer, quando a atividade dos vetores é maior.

•        Buscar atendimento médico em caso de qualquer sintoma suspeito.

Confira abaixo as respostas às dúvidas mais recorrentes e saiba como se prevenir.

1. Como o vírus Oropouche é transmitido?

A transmissão do vírus é vetorial, feita principalmente pelo inseto Culicoides paraensis (maruim). Depois de picar uma pessoa ou animal infectado, o inseto pode transmitir o vírus para uma pessoa suscetível.

2. O vírus pode ser transmitido de pessoa para pessoa?

Não. A transmissão é feita pela picada do inseto infectado.

3. Quais são os sintomas da doença?

Os sintomas são parecidos com os da dengue e de outras arboviroses: febre de início súbito, cefaleia prolongada e intensa (dor de cabeça), mialgia (dor muscular) e artralgia (dor articular). Outros sintomas como tontura, dor retro-ocular, calafrios, fotofobia, náuseas e vômitos também são relatados. Casos com manifestações hemorrágicas (petéquias, epistaxe, gengivorragia) e acometimento do sistema nervoso (ex., meningite asséptica, meningoencefalite, disautonomia) podem ocorrer. Nesse sentido, é importante que a vigilância em saúde seja capaz de identificar casos dessas doenças por meio da investigação dos aspectos clínicos, epidemiológicos e laboratoriais, e orientar as ações de prevenção e controle.

4. Qual é o tempo de duração dos sintomas?

Os primeiros sintomas aparecem entre 3 e 8 dias após a picada do inseto. Os sintomas duram de 2 a 7 dias, e o vírus permanece no sangue da pessoa infectada por 2 a 5 dias após o início dos primeiros sintomas. Parte dos pacientes (estudos relatam até 60%) pode apresentar recidiva, com a manifestação de sintomas após 1 a 2 semanas a partir das manifestações iniciais.

5. O que fazer se tiver suspeita de Oropouche?

Os sintomas de Oropouche podem ser confundidos com os de outras arboviroses e doenças febris agudas. Por isso, no início dos sintomas, procure imediatamente a unidade de saúde mais próxima. É importante permanecer em repouso, com acompanhamento médico e tratamento dos sintomas.

6. Há tratamento para o Oropouche?

Não há tratamento específico disponível. Os medicamentos prescritos podem auxiliar no alívio dos sintomas, como analgésicos para as dores e antitérmicos para controlar a febre, mas não atuam na causa da doença. Ao iniciar os sintomas, o paciente deve procurar imediatamente um serviço médico disponível no SUS.

7. Qual remédio posso tomar para tratar a doença?

Não se automedique. Em caso de sintomas, procure imediatamente a unidade de saúde mais próxima de sua residência.

8. Existe vacina contra o Oropouche?

Até o momento, não há vacina disponível.

9. Como é feito o diagnóstico?

O diagnóstico do Oropouche é feito por avaliação clínica (sinais e sintomas compatíveis com a doença), laboratorial (resultado positivo para Oropouche) e epidemiológica (ocorrência de outros casos no mesmo local ou histórico de deslocamento do paciente para local com outros casos já identificados).

10. Quais são as medidas de prevenção do Oropouche?

As recomendações são:

•        Proteger áreas expostas do corpo com calças e camisas de mangas compridas, meias e sapatos fechados;

•        Evitar, se possível, a exposição aos maruins. O vetor tem atividade durante o dia, mas os momentos de maior atividade são ao amanhecer e no final tarde;

•        Usar telas de malha fina nas janelas ou mosquiteiros, com gramatura inferior a 1,5mm, que não permita a passagem do vetor;

•        Não há, até o momento, comprovação da eficácia do uso de repelentes contra o maruim. Porém, sua utilização é recomendada, principalmente para proteção contra outros mosquitos, como, por exemplo, Culex spp (pernilongo), Aedes aegypti, etc;

•        Até o momento, se desconhece a efetividade de inseticidas para controle do maruim, desta forma, a medida mais efetiva é o manejo ambiental, manter o peridomicílio limpo e o solo livre do acúmulo de material orgânico, principalmente folhas e frutos de plantações como bananeiras, cacaueiros, cafezais, etc;

•        Gestantes, se possível, não devem se ocupar da limpeza dos quintais ou de quaisquer outras atividades que apresentem risco de exposição ao vetor;

•        Há demonstração da presença do vírus Oropouche em urina e sêmen, mas ainda não está esclarecido o potencial de transmissão do vírus por esses meios. Assim, recomenda-se o uso de preservativos.

11. Em caso de infecção durante a gravidez, o vírus pode ser transmitido para o bebê?

Sim. Há casos confirmados de transmissão do vírus Oropouche da mãe gestante para o feto, mas ainda não é possível estabelecer a frequência com que isso ocorre.

12. Em caso de infecção durante a gravidez, o vírus pode afetar o bebê?

Sim. O Brasil foi o primeiro país do mundo a confirmar casos de transmissão vertical (da mãe para o feto) associados à infecção pelo vírus Oropouche. Os casos evoluíram para óbito fetal e anomalias congênitas. Mas ainda não é possível estabelecer a frequência com que isso ocorre.

13. Como é feito o atendimento para casos suspeitos da doença?

Atualmente, não se dispõe de vacinas nem de medicamentos antivirais específicos para prevenir ou tratar a infecção por Oropouche. A abordagem de tratamento é paliativa, com foco no alívio da dor e da febre, reidratação e redução de náuseas e vômitos. Todos os casos suspeitos devem ser testados laboratorialmente para detecção do vírus.

14. Existe um tempo de sintoma para a realização do teste?

Sim. Até o quinto dia do início dos sintomas.

15. Existe alguma recomendação específica para grávidas?

Toda gestante que apresentar febre ou sintomas compatíveis com Oropouche e outras arboviroses deverá ser acompanhada e monitorada durante todo o pré-natal.

16. Repelentes também podem ser utilizados como prevenção?

Sim.

17. O uso de telas de proteção nas casas ajuda na prevenção contra a doença?

Sim. Telas de malha fina em janelas e portas diminuem a possibilidade de contato com o inseto transmissor do vírus.

18. Quais são as sequelas do Oropouche?

Na maioria dos pacientes, a evolução do Oropouche é benigna e sem sequelas.

19. Existe algum comprometimento neurológico como sequela da doença?

Sim. Casos com acometimento do sistema nervoso (ex., meningite asséptica, meningoencefalite, disautonomia) podem ocorrer.

20. Oropouche mata?

Sim, o Brasil registrou os primeiros óbitos relacionados à infecção pelo vírus Oropouche. O Ministério da Saúde está conduzindo pesquisas sobre a evolução da doença.

21. Como controlar o avanço da doença?

O Ministério da Saúde está realizando pesquisas sobre ferramentas de controle do vetor. Por enquanto, a melhor forma de controlar a doença é por meio de medidas de proteção individual e coletiva.

22. Quais as ações efetivas do Ministério da Saúde para combater a doença?

Após ampliar a testagem de Oropouche para todo o país, o Ministério da Saúde intensificou a vigilância da doença. Estados e municípios foram orientados para a busca ativa de casos da doença e o manejo dos casos confirmados, sobretudo em gestantes.

A pasta tem realizado ainda visitas técnicas de apoio aos locais com identificação de casos, além da realização de seminários com pesquisadores e trabalhadores do SUS para compartilhamento e discussão dos avanços sobre a vigilância do Oropouche. Além disso, são conduzidas pesquisas sobre o vetor, sobre a doença e sobre ferramentas de controle do Oropouche. E promovidas capacitações para profissionais de saúde e de vigilância.

Todos esses trabalhos estão sendo conduzidos pela Centro de Operações de Emergências – Dengue e Arboviroses, que monitora, para além da dengue, a situação de Oropouche, os Chikungunya,Zika e Febre Amarela. A pasta trabalha ainda, em um plano nacional de enfrentamento às arboviroses, construído de forma coletiva.

•        Pesquisa mostra influência de eventos climáticos em surto de oropouche

Os eventos climáticos são os principais responsáveis pela explosão de casos de febre oropouche, de acordo com estudo publicado na revista científica The Lancet, que analisou dados de seis países da América Latina, incluindo o Brasil.

“O risco de infecção provavelmente evoluirá de forma dinâmica nas próximas décadas, com potencial para surtos futuros em grande escala”, alertam os pesquisadores do estudo.

No nosso país, a doença era considerada endêmica da Região Amazônica, com poucos casos isolados em outros locais. Mas, desde 2023, o número de registros vem aumentando, com diagnósticos inéditos em diversos estados. De 833 infecções confirmadas naquele ano, houve um salto para 13.721 em 2024, com pelo menos quatro mortes. Neste ano, até o dia 15 de abril, o Ministério da Saúde confirmou 7.756 casos e uma morte está em investigação.

A febre oropouche é uma arbovirose, causada pelo vírus Orthobunyavirus oropoucheense. Esse antígeno é transmitido pelo mosquito Culicoides paraensis, popularmente conhecido como maruim, que vive em áreas vegetais úmidas e quentes.

Os sintomas são semelhantes aos da dengue:

•        Dor de cabeça intensa;

•        Dor muscular;

•        Febre.

<><> Doença subnotificada

O estudo multidisciplinar analisou mais de 9,4 mil amostras de sangue colhidas, em 2021 e 2022, de pessoas saudáveis e febris, a partir de métodos in vitro, sorológicos, moleculares e genômicos. Os pesquisadores também produziram uma modelagem espacial combinando esses dados com os casos da doença registrados em toda a América Latina.

A taxa média de detecção de anticorpos IgG (que comprovam que a pessoa já foi infectada pelo vírus em algum momento da vida) foi de 6,3%, passando de 10% em regiões da Amazônia. Amostras positivas foram encontradas em indivíduos de 57% das localidades selecionadas.

Para os pesquisadores, isso aponta que a febre oropouche tem sido subdiagnosticada. Além disso, a identificação desses anticorpos em amostras colhidas durante surtos de dengue pode indicar que pessoas com oropouche receberam diagnóstico de dengue, considerando também a semelhança de sintomas entre as doenças.

Já os modelos espaço-temporais mostraram que as variáveis climáticas, como as mudanças de padrão da temperatura e da chuva, foram os principais fatores de influência para a disseminação da oropouche, contribuindo com 60%. Por isso, os pesquisadores acreditam que eventos climáticos extremos, como o El Niño, provavelmente tiveram um papel fundamental no surto iniciado em 2023.

O artigo explica que mudanças nas condições climáticas podem favorecer o aumento da transmissão do vírus que causa a febre oropouche ao elevar as populações de maruins, favorecer a transmissão das fêmeas de maruins para seus filhotes ou intensificar a replicação viral em mais animais.

<><> Regiões de maior risco

O mapa resultante desses modelos mostra que o risco de aumento da transmissão é maior nas regiões costeiras do país, especialmente do Espírito Santo ao Rio Grande do Norte, e também em uma faixa que vai de Minas Gerais ao Mato Grosso, além de toda a região Amazônica. “Nas regiões com risco estimado elevado de transmissão do OROV [vírus da febre do oropouche], onde ainda não foram reportados casos, o aumento da vigilância é crucial para compreender e responder de forma eficaz aos surtos atuais e futuros”, recomendam os pesquisadores.

O estudo também defende que testes diagnósticos para oropouche devem ser priorizados, e as estratégias de controle vetorial, com as que são utilizadas para diminuir a proliferação do Aedes aegypti, devem ser adaptadas para incluir os maruins. Além disso, estimulam mais estudos sobre a doença e para o desenvolvimento de uma vacina.

 

Fonte: Gov.BR/CNN Brasil

 

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