segunda-feira, 21 de abril de 2025

Adolescentes sentem pressão escolar, mas desafios variam por gênero

Se você sente que seu adolescente é um mistério, novos dados podem ajudar a entender melhor o mundo deles. Embora meninos e meninas adolescentes enfrentem muitas das mesmas questões, incluindo pressão escolar e preocupações com saúde mental, eles podem precisar de diferentes tipos de apoio, de acordo com uma pesquisa do Pew Research Center publicada na quinta-feira (13).

“Um de nossos principais objetivos com a pesquisa era tentar entender os desafios que os adolescentes estão enfrentando atualmente, e especificamente como eles estão vivenciando a escola, e se essas experiências diferem por gênero”, diz Kim Parker, diretora de pesquisa de tendências sociais do Pew.

“Temos feito muito trabalho este ano sobre homens e masculinidade, e parte dessa conversa envolve o que está acontecendo com meninos e meninas.”

A pesquisa foi realizada entre 18 de setembro e 10 de outubro com 1.391 adolescentes de 13 a 17 anos. Embora os dados mostrassem diferenças entre eles — como meninas relatando mais pressão para se encaixar socialmente e ter boa aparência, enquanto meninos disseram que sentiam que deveriam ser fortes e bons em esportes com mais frequência — muitas de suas perspectivas eram semelhantes.

Tanto meninas quanto meninos disseram que era muito importante encontrar uma carreira que gostem, ganhar dinheiro e cultivar amizades no futuro, segundo os dados.

“Somos propensos a estereotipar negativamente os adolescentes como superficiais em seus interesses, e esses resultados são um excelente lembrete de que os adolescentes levam a sério o trabalho escolar que estão fazendo agora, e estão olhando para suas carreiras”, diz a psicóloga Lisa Damour, autora de “A Vida Emocional dos Adolescentes: Criando Adolescentes Conectados, Capazes e Compassivos”. Ela não participou do relatório.

•        A pressão para executar

Meninos e meninas adolescentes igualmente relataram que sentiam pressão para tirar boas notas, segundo os dados. E para aqueles que não viam como uma divisão equilibrada, tanto meninas quanto meninos adolescentes percebiam as meninas como tendo melhores notas e sendo favorecidas pelos professores, mostrou o relatório.

O que eles percebem corresponde aos dados existentes que mostram que as meninas, em média, tendem a tirar notas melhores que os meninos, disse Damour.

Mas as notas não são um jogo de soma zero — o sucesso das meninas na escola não significa necessariamente que os meninos se saiam pior, diz Annie Maheux, professora assistente de psicologia e neurociência da Universidade da Carolina do Norte em Chapel Hill.

A disparidade pode ser um sinal de que algo no ensino não está funcionando tão bem para os meninos como deveria, observou Maheux, que não participou da pesquisa.

“As escolas são organizadas de uma maneira que as crianças que ficam quietas e são menos impulsivas se saem bem, e sabemos que há uma grande diferença no desenvolvimento cerebral no início da adolescência, e que a parte do cérebro usada para controle e pensamento crítico se desenvolve mais tarde nos meninos do que nas meninas”, disse Michelle Icard, educadora parental e palestrante.

“Estamos ensinando para metade do público e precisamos ampliar a maneira como abordamos a educação”, disse Icard, que não estava envolvido no relatório.

Mais atividades e estilos de ensino que incorporem aprendizagem prática, por exemplo, podem ajudar os adolescentes a terem um melhor desempenho acadêmico, diz Icard, autor de “ Quatorze palestras aos quatorze anos: as conversas essenciais que você precisa ter com seus filhos antes que eles comecem o ensino médio ”.

•        Apoio em amizades

Há boas e más notícias quando se trata do que os adolescentes disseram sobre suas amizades. Apenas 2% dos adolescentes disseram que não tinham amigos, segundo o relatório Pew. E embora esse número idealmente devesse ser zero, é menor do que o esperado e parece positivo, segundo Icard.

As amizades são especialmente importantes na adolescência, ela acrescentou.

“Os adolescentes estão em uma idade em que é menos provável que eles recorram a um adulto para obter apoio. Eles naturalmente vão procurar seus pares antes de procurar um adulto, e os pares podem ser ótimos recepcionistas para adultos quando necessário”, afirma Icard. “Mas se você não tem alguém que diga: ‘Ei, esse é um problema sobre o qual você deve conversar com um adulto’, então isso pode ser perigoso.”

Embora a maioria dos meninos tenha relatado ter um amigo próximo com quem podiam contar para apoio, o número foi menor (85%) em comparação com o das meninas (95%) que disseram que podiam recorrer a um amigo para apoio, mostraram os dados.

“Precisamos tentar perder a mitologia de que os meninos não fazem relacionamentos próximos”, disse Damour. “Precisamos levar muito a sério o fato de que continuamos a socializar os meninos para sentirem que emoções vulneráveis são inaceitáveis. E enquanto continuarmos fazendo isso, teremos meninos e homens adultos que não desfrutam do forte apoio social que merecem.”

•        Diferentes expressões de saúde mental

Havia uma diferença na forma como adolescentes meninos e meninas percebiam suas dificuldades: ambos disseram que as meninas eram mais propensas a experimentar ansiedade e depressão, e os meninos mais propensos a lutar contra abuso de substâncias, brigas e perturbações em sala de aula, segundo os dados.

Mas essas descobertas não significam que um grupo está experimentando problemas de saúde mental e o outro está apenas enfrentando uma questão comportamental, diz Damour.

“Sob o aspecto da saúde mental, devemos incluir a constatação de que os meninos são mais propensos a se envolver em brigas físicas”, ela disse. “Um dos nossos entendimentos bem estabelecidos como clínicos é que quando as meninas estão em angústia, elas foram socializadas para se retraírem –– são mais propensas a experimentar ansiedade e depressão. Quando os meninos estão em angústia, são mais propensos a agir de forma disruptiva e se meterem em problemas.”

Embora ações disciplinares possam ser apropriadas quando um adolescente está abusando de substâncias ou agindo de forma inadequada, é importante que tal punição seja combinada com um entendimento de que o comportamento vem do sofrimento, que também precisa ser tratado, disse Damour.

“Quando vemos raiva em um adolescente, pensamos ‘Bem, isso não é depressão’, mas pode ser. Ou se você vê um menino agindo de forma imprudente, você pode pensar ‘Oh, ele é um aventureiro'”, acrescentou Icard. “Esse comportamento é um reflexo de se sentir desconectado das outras pessoas. Então, eu não presumiria que os meninos se sentem menos ansiosos e menos deprimidos.”

•        Desafios online: médicos alertam pais sobre riscos e principais cuidados

Recentemente, a morte de duas crianças relacionadas à desafios online chamaram a atenção de pais e da sociedade médica. No último domingo (13), Sarah Raíssa Pereira, de 8 anos, morreu no Distrito Federal após inalar o aerossol de um desodorante. Em 2022, um garoto de 10 anos faleceu em Belo Horizonte também devido ao “desafio do desodorante“.

Diante dos casos, a Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP) emitiu um alerta sobre os riscos à integridade física e emocional das crianças e dos adolescentes por trás dos desafios disseminados em redes sociais.

Segundo dados do Instituto DimiCuida, pelo menos 56 crianças e adolescentes de 7 a 18 anos morreram ou tiveram ferimentos graves entre 2014 e 2025 ao participar de jogos ou desafios online. Entre os comportamentos de risco mais comuns estão práticas de sufocamento, asfixia, apneia e autoagressão.

<><> Como os pais e a sociedade podem proteger as crianças?

O Grupo de Trabalho Saúde na Era Digital da SBP recomenda que o tema seja abordado por médicos, especialmente os pediatras, durante as consultas, sob o alerta dos riscos relacionados aos desafios online.

No documento “#Menos Jogos Perigosos #Mais Saúde“, a sociedade orienta que os pais e cuidadores devem estar presentes na rotina dos filhos, supervisionando atividades online, estabelecendo regras sobre segurança, privacidade e bloqueio de mensagens inapropriadas, violentas ou discriminatórias que podem causar danos físicos ou mentais.

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As recomendações pedem, também, atenção e conscientização sobre o tema de educadores escolares, psicólogos e profissionais da área de saúde mental, que trabalham com crianças e adolescentes em diferentes comunidades e circunstâncias. O objetivo é que toda a sociedade esteja atenta não só aos riscos, mas também prepara para que possa atuar de forma preventiva.

Os especialistas também orientam que crianças e adolescentes aprendam sobre regras de segurança e sobre como manter o respeito com colegas nas escolas e no ambiente digital. Além disso, eles recomendam treinamento em habilidades de comunicação emocional e social para compreensão e prevenção dos riscos comportamentais na internet.

Outro ponto de destaque é a importância de denunciar conteúdos com teor inapropriado e desafios que possam levar a riscos físico e mental, para que possam ser bloqueados e excluídos da internet tão logo sejam postados.

Segundo a coordenadora do GT Saúde na Era Digital da SBP, Evelyn Eisenstein, os desafios podem colocar em risco a vida ou a integridade física ou psicológica, além de ocasionar danos irreversíveis.

“Os desafios perigosos na internet correspondem à instigação e à prática de comportamentos, que são considerados como de autoagressão e muitas vezes revestidos de uma falsa impressão de ‘inofensivos’ ou ‘brincadeiras’ e que são divulgados e ampliados com rapidez em imagens e vídeos, também como jogos online, em diferentes plataformas”, afirma.

 

Fonte: CNN Brasil

 

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