Adolescentes
sentem pressão escolar, mas desafios variam por gênero
Se você
sente que seu adolescente é um mistério, novos dados podem ajudar a entender
melhor o mundo deles. Embora meninos e meninas adolescentes enfrentem muitas
das mesmas questões, incluindo pressão escolar e preocupações com saúde mental,
eles podem precisar de diferentes tipos de apoio, de acordo com uma pesquisa do
Pew Research Center publicada na quinta-feira (13).
“Um de
nossos principais objetivos com a pesquisa era tentar entender os desafios que
os adolescentes estão enfrentando atualmente, e especificamente como eles estão
vivenciando a escola, e se essas experiências diferem por gênero”, diz Kim
Parker, diretora de pesquisa de tendências sociais do Pew.
“Temos
feito muito trabalho este ano sobre homens e masculinidade, e parte dessa
conversa envolve o que está acontecendo com meninos e meninas.”
A
pesquisa foi realizada entre 18 de setembro e 10 de outubro com 1.391
adolescentes de 13 a 17 anos. Embora os dados mostrassem diferenças entre eles
— como meninas relatando mais pressão para se encaixar socialmente e ter boa
aparência, enquanto meninos disseram que sentiam que deveriam ser fortes e bons
em esportes com mais frequência — muitas de suas perspectivas eram semelhantes.
Tanto
meninas quanto meninos disseram que era muito importante encontrar uma carreira
que gostem, ganhar dinheiro e cultivar amizades no futuro, segundo os dados.
“Somos
propensos a estereotipar negativamente os adolescentes como superficiais em
seus interesses, e esses resultados são um excelente lembrete de que os
adolescentes levam a sério o trabalho escolar que estão fazendo agora, e estão
olhando para suas carreiras”, diz a psicóloga Lisa Damour, autora de “A Vida
Emocional dos Adolescentes: Criando Adolescentes Conectados, Capazes e
Compassivos”. Ela não participou do relatório.
• A pressão para executar
Meninos
e meninas adolescentes igualmente relataram que sentiam pressão para tirar boas
notas, segundo os dados. E para aqueles que não viam como uma divisão
equilibrada, tanto meninas quanto meninos adolescentes percebiam as meninas
como tendo melhores notas e sendo favorecidas pelos professores, mostrou o
relatório.
O que
eles percebem corresponde aos dados existentes que mostram que as meninas, em
média, tendem a tirar notas melhores que os meninos, disse Damour.
Mas as
notas não são um jogo de soma zero — o sucesso das meninas na escola não
significa necessariamente que os meninos se saiam pior, diz Annie Maheux,
professora assistente de psicologia e neurociência da Universidade da Carolina
do Norte em Chapel Hill.
A
disparidade pode ser um sinal de que algo no ensino não está funcionando tão
bem para os meninos como deveria, observou Maheux, que não participou da
pesquisa.
“As
escolas são organizadas de uma maneira que as crianças que ficam quietas e são
menos impulsivas se saem bem, e sabemos que há uma grande diferença no
desenvolvimento cerebral no início da adolescência, e que a parte do cérebro
usada para controle e pensamento crítico se desenvolve mais tarde nos meninos
do que nas meninas”, disse Michelle Icard, educadora parental e palestrante.
“Estamos
ensinando para metade do público e precisamos ampliar a maneira como abordamos
a educação”, disse Icard, que não estava envolvido no relatório.
Mais
atividades e estilos de ensino que incorporem aprendizagem prática, por
exemplo, podem ajudar os adolescentes a terem um melhor desempenho acadêmico,
diz Icard, autor de “ Quatorze palestras aos quatorze anos: as conversas
essenciais que você precisa ter com seus filhos antes que eles comecem o ensino
médio ”.
• Apoio em amizades
Há boas
e más notícias quando se trata do que os adolescentes disseram sobre suas
amizades. Apenas 2% dos adolescentes disseram que não tinham amigos, segundo o
relatório Pew. E embora esse número idealmente devesse ser zero, é menor do que
o esperado e parece positivo, segundo Icard.
As
amizades são especialmente importantes na adolescência, ela acrescentou.
“Os
adolescentes estão em uma idade em que é menos provável que eles recorram a um
adulto para obter apoio. Eles naturalmente vão procurar seus pares antes de
procurar um adulto, e os pares podem ser ótimos recepcionistas para adultos
quando necessário”, afirma Icard. “Mas se você não tem alguém que diga: ‘Ei,
esse é um problema sobre o qual você deve conversar com um adulto’, então isso
pode ser perigoso.”
Embora
a maioria dos meninos tenha relatado ter um amigo próximo com quem podiam
contar para apoio, o número foi menor (85%) em comparação com o das meninas
(95%) que disseram que podiam recorrer a um amigo para apoio, mostraram os
dados.
“Precisamos
tentar perder a mitologia de que os meninos não fazem relacionamentos
próximos”, disse Damour. “Precisamos levar muito a sério o fato de que
continuamos a socializar os meninos para sentirem que emoções vulneráveis são
inaceitáveis. E enquanto continuarmos fazendo isso, teremos meninos e homens
adultos que não desfrutam do forte apoio social que merecem.”
• Diferentes expressões de saúde mental
Havia
uma diferença na forma como adolescentes meninos e meninas percebiam suas
dificuldades: ambos disseram que as meninas eram mais propensas a experimentar
ansiedade e depressão, e os meninos mais propensos a lutar contra abuso de
substâncias, brigas e perturbações em sala de aula, segundo os dados.
Mas
essas descobertas não significam que um grupo está experimentando problemas de
saúde mental e o outro está apenas enfrentando uma questão comportamental, diz
Damour.
“Sob o
aspecto da saúde mental, devemos incluir a constatação de que os meninos são
mais propensos a se envolver em brigas físicas”, ela disse. “Um dos nossos
entendimentos bem estabelecidos como clínicos é que quando as meninas estão em
angústia, elas foram socializadas para se retraírem –– são mais propensas a
experimentar ansiedade e depressão. Quando os meninos estão em angústia, são
mais propensos a agir de forma disruptiva e se meterem em problemas.”
Embora
ações disciplinares possam ser apropriadas quando um adolescente está abusando
de substâncias ou agindo de forma inadequada, é importante que tal punição seja
combinada com um entendimento de que o comportamento vem do sofrimento, que
também precisa ser tratado, disse Damour.
“Quando
vemos raiva em um adolescente, pensamos ‘Bem, isso não é depressão’, mas pode
ser. Ou se você vê um menino agindo de forma imprudente, você pode pensar ‘Oh,
ele é um aventureiro'”, acrescentou Icard. “Esse comportamento é um reflexo de
se sentir desconectado das outras pessoas. Então, eu não presumiria que os
meninos se sentem menos ansiosos e menos deprimidos.”
• Desafios online: médicos alertam pais
sobre riscos e principais cuidados
Recentemente,
a morte de duas crianças relacionadas à desafios online chamaram a atenção de
pais e da sociedade médica. No último domingo (13), Sarah Raíssa Pereira, de 8
anos, morreu no Distrito Federal após inalar o aerossol de um desodorante. Em
2022, um garoto de 10 anos faleceu em Belo Horizonte também devido ao “desafio
do desodorante“.
Diante
dos casos, a Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP) emitiu um alerta sobre os
riscos à integridade física e emocional das crianças e dos adolescentes por
trás dos desafios disseminados em redes sociais.
Segundo
dados do Instituto DimiCuida, pelo menos 56 crianças e adolescentes de 7 a 18
anos morreram ou tiveram ferimentos graves entre 2014 e 2025 ao participar de
jogos ou desafios online. Entre os comportamentos de risco mais comuns estão
práticas de sufocamento, asfixia, apneia e autoagressão.
<><>
Como os pais e a sociedade podem proteger as crianças?
O Grupo
de Trabalho Saúde na Era Digital da SBP recomenda que o tema seja abordado por
médicos, especialmente os pediatras, durante as consultas, sob o alerta dos
riscos relacionados aos desafios online.
No
documento “#Menos Jogos Perigosos #Mais Saúde“, a sociedade orienta que os pais
e cuidadores devem estar presentes na rotina dos filhos, supervisionando
atividades online, estabelecendo regras sobre segurança, privacidade e bloqueio
de mensagens inapropriadas, violentas ou discriminatórias que podem causar
danos físicos ou mentais.
Play
Video
As
recomendações pedem, também, atenção e conscientização sobre o tema de
educadores escolares, psicólogos e profissionais da área de saúde mental, que
trabalham com crianças e adolescentes em diferentes comunidades e
circunstâncias. O objetivo é que toda a sociedade esteja atenta não só aos
riscos, mas também prepara para que possa atuar de forma preventiva.
Os
especialistas também orientam que crianças e adolescentes aprendam sobre regras
de segurança e sobre como manter o respeito com colegas nas escolas e no
ambiente digital. Além disso, eles recomendam treinamento em habilidades de
comunicação emocional e social para compreensão e prevenção dos riscos
comportamentais na internet.
Outro
ponto de destaque é a importância de denunciar conteúdos com teor inapropriado
e desafios que possam levar a riscos físico e mental, para que possam ser
bloqueados e excluídos da internet tão logo sejam postados.
Segundo
a coordenadora do GT Saúde na Era Digital da SBP, Evelyn Eisenstein, os
desafios podem colocar em risco a vida ou a integridade física ou psicológica,
além de ocasionar danos irreversíveis.
“Os
desafios perigosos na internet correspondem à instigação e à prática de
comportamentos, que são considerados como de autoagressão e muitas vezes
revestidos de uma falsa impressão de ‘inofensivos’ ou ‘brincadeiras’ e que são
divulgados e ampliados com rapidez em imagens e vídeos, também como jogos
online, em diferentes plataformas”, afirma.
Fonte:
CNN Brasil

Nenhum comentário:
Postar um comentário