segunda-feira, 6 de janeiro de 2025

África em 2025: os desafios para a paz no continente

Baixo sucesso das tropas de manutenção da paz levam continente a buscar novas abordagens contra conflitos, enquanto violência e instabilidade ainda assolam a região.Nos últimos anos, países africanos acumularam casos de golpes de Estado, como Mali, Chade, Sudão, Burkina Faso e Guiné, além de tentativas de derrubar governos na República Centro-Africana, Etiópia e Guiné-Bissau.

O conflito e a instabilidade crescentes levam a uma nova volatilidade no continente, que tem 9 das 10 crises mais negligenciadas do mundo, e uma consequente demanda por novas alternativas políticas para a África.

A paz é o produto de dinâmicas locais, nacionais e regionais, mas parece cada vez mais desafiador consolidar estes interesses divergentes, dizem os observadores políticos.

"É evidente que as ferramentas tradicionais — operações de paz, alerta precoce, mediação de conflitos — não estão funcionando", diz Jakkie Cilliers, presidente do Instituto de Estudos de Segurança (ISS), da África do Sul.

Em novembro, por exemplo, Senegal e Chade anunciaram a saída do exército francês de seus territórios. Nesta quarta-feira (1/01) foi a vez da Costa do Marfim fazer o mesmo, seguindo o caminho de países de onde a França foi obrigada a tirar suas tropas, como Mali, Burkina Faso e Niger.

·      Fracasso da mediação de conflitos

Enquanto os governos buscam preservar sua integridade territorial a todo custo, os atores internacionais frequentemente priorizam uma visão humanitária focada na defesa das minorias, de acordo com pesquisa do instituto sul-africano ISS.

Essas abordagens diferentes podem levar a desacordos sobre como resolver os conflitos. O exemplo mais recente de mediação fracassada foi o cancelamento inesperado, em meados de dezembro, das negociações de paz entre a República Democrática do Congo e Ruanda.

A reunião havia gerado esperanças de um fim para a crise de décadas entre o exército congolês e o grupo rebelde M23, que supostamente tem o apoio de Ruanda, no leste da República Democrática do Congo, mas as partes não chegaram a um acordo.

No Sudão, a mediação de conflitos também teve pouco sucesso. O país enfrenta um dos períodos mais desafiadores de sua história moderna, com a crise em andamento entre as Forças Armadas Sudanesas (FAS) e as Forças de Apoio Rápido (FAR). A guerra civil, que começou em abril de 2023, devastou comunidades, deslocou milhões de pessoas e agravou uma crise humanitária que já era grave.

·      'A paz tradicional não está funcionando'

De acordo com o ISS, o extremismo violento também se espalhou devido à marginalização política e econômica de algumas comunidades, às dificuldades na transição para a democracia e à falha dos governos em modernizar os setores de defesa e segurança.

"A paz tradicional obviamente não está funcionando", disse Cilliers à DW.

Isso abriu a oportunidade para grupos mercenários como o Wagner, da Rússia, chegarem ao continente. A África é o palco de uma rivalidade global, não apenas entre os EUA, China e Europa, mas também com novos atores, como os Emirados Árabes Unidos e a Turquia.

As respostas a essa situação complexa são inadequadas, de acordo com Cilliers. A incapacidade de agir rapidamente após um alerta precoce também é exacerbada pelos Estados africanos, que resistem à interferência em seus assuntos internos, disse o especialista.

Muitos grupos rebeldes têm agendas políticas pouco claras, difíceis de traduzir em acordos de paz. De acordo com Hannah Tetteh, ex-enviada especial da ONU para o Chifre da África e ex-ministra das Relações Exteriores de Gana, é por isso que a União Africana (UA) deveria liderar os esforços no continente.

·        Reforma da UA é necessária

A UA e as Nações Unidas não conseguiram trabalhar de forma eficiente em sua colaboração com organizações regionais, disse Tetteh em uma entrevista recente ao International Crisis Group, devido às lacunas nessas relações. Soluções africanas para problemas africanos significariam reestruturar e melhorar a UA para cumprir sua tarefa, ela defende.

A UA passa por um processo de reforma, mas ele está incompleto, disse Tetteh. "Seu departamento de paz e segurança e o escritório de assuntos políticos foram fundidos, mas estão sobrecarregados e não têm pessoal suficiente para realizar o trabalho."

De acordo com o banco de dados de acordos de paz da ONU, 42% de todos os tratados do tipo foram celebrados na África. Isso inclui os tratados de descolonização e os acordos regionais.

Embora muitos acordos não tenham conseguido lançar as bases para uma paz duradoura, houve alguns exemplos importantes, disse Alex Vines, diretor do Programa África do think tank Chatham House, à DW.

·        Estados fracos mais responsivos à pressão

Os processos de paz africanos são tão diversos quanto suas crises e conflitos. "Portanto, em vez de seguir um único modelo, eles são impulsionados pela política e pela circunstância, moldados por coalizões ad-hoc mais frequentemente do que por aderirem a estruturas formais de resolução de conflitos", disse Vines à DW. "Isso torna os esforços mais difíceis e cruciais."

A mediação de alto nível africana tem sido fundamental para alcançar a paz em vários casos, como no Quênia e, recentemente, na Etiópia e na Somália, mediada pela Turquia.

Mas há limites para o que a mediação pode alcançar, disse Vines. Estados menores e fracos são mais responsivos à pressão de seus vizinhos maiores, enquanto os países mais importantes da África atraem maior atenção internacional, ajudando a impulsionar a paz.

"São os estados do meio-termo onde os acordos têm sido mais difíceis de alcançar. São grandes o suficiente para resistir à região, mas não suficientemente importantes para engajar o mundo", disse Vines.

O sucesso a longo prazo depende de apoiar a paz muito depois que as armas se calaram, ressaltou ele. "Processos que terminaram com a violência podem não estar preparados para realizar as reformas políticas e sociais de longo prazo que são necessárias."

¨         Analista aponta paz e segurança entre os principais desafios do continente africano

O analista político Osvaldo Mboco considera fundamental que os Estados africanos criem condições económicas e sociais, para se conseguir reter os talentos e fazer com que os africanos estudem em África, com qualidade, e desenvolvam as suas capacidades no Continente. Falando em entrevista ao jornal OPAÍS, Osvaldo Mboco lamentou o facto de muitos africanos, sobretudo jovens, não encontrarem as melhores condições de vida nos seus próprios países, facto que os força a emigrar para outros continentes.

O jovem analista lembrou que a África apresenta a população mais jovem do mundo, mas considera que é, ao mesmo tempo, a menos escolarizada, alegando haver um fraco investimento no ensino e investigação no próprio continente africano, sublinhando que toda e qualquer Nação para se desenvolver precisa de fazer uma aposta na educação e na investigação.

Apontou a falta de condições de vida e a insegurança que o próprio continente regista, como os principais factores que fazem com que muitos africanos procurem emigrar. Disse que movimentos migratórios acontecem um pouco por todo o continente, movido por conflitos civis, perseguições políticas, étnicas e religiosas, e também por falta de condições de vida. “Essa falta de condições de vida é o elemento chave da fuga de cé- rebros para a Europa e para outros continentes. Quando um quadro sai ou emigra, é uma força de trabalho que vai para projectar e desenvolver economias de outros Estados. A África precisa dos seus filhos e quadros, para ajudar no seu desenvolvimento e crescimento”, referenciou.

<><> Inconstitucionalidade

No que respeita à questão política, afirmou que têm sido regista- das, ao nível do continente, mudanças inconstitucionais opera- das por via de golpes de Estado. Apontou também o surgimento de uma democracia ainda em fase embrionária, a politização do sistema judicial e outros poderes. Ainda no leque dos desafios do continente “berço”, considerou a questão da liberdade de expressão, que ainda não é uma realidade em muitos países, uma realidade que garanta a liberdade de expressão dos próprios cidadãos.

Apontou também a questão ligada a uma governação mais inclusiva, participativa, em que os Estados devem criar instrumentos e métodos para que a população participe muito mais na vida política do Estado, não simplesmente em época eleitoral, mas naquilo que são também as grandes decisões estruturais, por via de instrumentos como consultas públicas, referendos ou qualquer outro instrumento que permita uma maior participação e articulação entre o povo e quem governa.

<><> Economia

Do ponto de vista económico, mencionou a fragilidade industrial que os países africanos apresentam, defendendo uma maior aposta nas infra-estruturas de apoio ao comércio, nomeadamente as estradas, aeroportos, portos e todas as estruturas determinantes para que o comércio e a economia dos Esta- dos circulem. “Temos ainda aqui um grande problema que tem a ver com o comércio intra-africano, que é um comércio incipiente. É um comércio em que, maioritariamente, os Estados praticam com terceiros Estados, daí que a zona de comércio livre continental, que é ambiciosa do ponto de vista do programa, mas que se torna opaca ou irrealizável face à própria instabilidade ou fraca capa- cidade de produção”, sublinhou. Defendeu para o sector social, o empoderamento da juventude, a sua formação, dar às mulheres as mesmas possibilidades de escolaridade que são dadas aos homens, quer também ao nível de empregos, e maior aposta nos sectores da educação e saúde no continente, que considerou ser dos piores a nível do mundo.

<><> 60 anos da união africana

No que respeita às políticas da própria União Africana, Osvaldo Mboco entende que a mesma se tem mostrado, do ponto de vis- ta prático, incapaz de dar respostas aos vários problemas que têm estado a assolar o continente africano. “Remete-nos aqui a uma reflexão para o papel da União Africana, dos blocos regionais e económicos. É preciso prestar maior atenção para aqueles que são os novos desafios, que são a defesa da integridade territorial, face aos novos riscos e ameaças à soberania dos Estados. E quando me refiro aos novos riscos e a ameaças à soberania dos Estados, estou aqui a dizer, necessariamente, a questão do terrorismo que desestabiliza o continente. Os crimes cibernéticos que têm estado a criar prejuízos nas empresas estratégicas dos Estados com as informações que são roubadas entre outros”, salientou.

<><> Soluções

Para a busca de soluções, referiu que os Estados devem procurar soluções africanas para os problemas africanos e olhar para a questão ligada à solidariedade entre os povos. O 25 de Maio é considerado o Dia de África. Trata-se de uma celebração anual do dinamismo do continente africano que surgiu com o aniversário da fundação da Organização da Unidade Africana (OUA), actual União Africana, que completa, hoje, 60 anos de existência.

¨         Angola apresenta na ONU Relatório Nacional sobre Situação dos Direitos Humanos

A secretária de Estado para as Relações Exteriores, embaixadora Esmeralda Mendonça, manteve reunião, na última segunda-feira, 30, com a secretária de Estado para os Direitos Humanos e Cidadania, Antónia Yaba, para concertar estratégias da participação de Angola na 48.ª Sessão do Grupo de Trabalho da Revisão Periódica Universal (RPU) do Conselho de Direitos Humanos das Nações Unidas.

O encontro, realizado na sede da diplomacia angolana, centrou-se na definição das acções inter-institucionais para assegurar uma participação efectiva e estruturada de Angola na sessão prevista para Janeiro de 2025, em Genebra, Suíça.

Angola vai apresentar o seu Relatório Nacional sobre a Situação dos Direitos Humanos, honrando o compromisso com o Conselho de direitos humanos da ONU.

A reunião desta segunda-feira abordou questões organizativas e reforçou a coordenação entre os sectores envolvidos, garantindo uma abordagem integrada e representativa.

Esteve também presente no encontro a embaixadora Sara Silva, directora dos Assuntos Multilaterais do Ministério das Relações Exteriores, que contribuiu para o alinhamento das estratégias nacionais.

<><> Sobre a Revisão Periódica Universal

A RPU é um mecanismo criado em 2006 para avaliar, regularmente, a situação dos direitos humanos nos 193 Estados-membros da ONU.

Baseia-se em obrigações internacionais e compromissos voluntários, promovendo a melhoria contínua das condições de direitos humanos no mundo.

As sessões, realizadas a cada quatro anos e meio, reúnem o Grupo de Trabalho da RPU, composto por 47 membros do Conselho de Direitos Humanos.

Este processo utiliza três fontes principais de informação: o relatório nacional do Estado avaliado, contribuições de especialistas independentes e organizações da sociedade civil.

O diálogo interactivo entre o Estado avaliado e outros Estados-membros resulta em recomendações que, ao serem aceites, tornam-se compromissos vinculativos para o país.

A participação de Angola nesta sessão reforça o compromisso nacional com a promoção dos direitos humanos, alinhandose às melhores práticas internacionais.

¨      Costa do Marfim anuncia retirada dos militares franceses 

O presidente da Costa do Marfim, Alassane Ouattara, anunciou a saída do Exército francês de seu país durante seu discurso de Ano-Novo na noite de terça-feira (31). Os militares da França devem sair do país já em janeiro.

Segundo Ouattara, a base militar francesa do 43º Batalhão de Infantaria de Fuzileiros Navais (MAB) em Port-Bouë, distrito de Abidjan, será transferida para as Forças Armadas da Costa do Marfim. Aproximadamente mil soldados estão posicionados no 43º MAB.

"Podemos nos orgulhar de nosso Exército, cuja modernização agora é efetiva. É dentro dessa estrutura que decidimos a retirada planejada e coordenada das forças francesas da Costa do Marfim."

A base também será renomeada em homenagem ao general Ouattara Thomas d'Aquin, o primeiro chefe do Estado-maior do Exército marfinense, acrescentou o presidente.

Três países do Sahel demandaram a retirada dos militares da França em 2024: Mali, Burkina Faso e Níger. Os três países formaram no último ano a Confederação da Aliança dos Estados do Sahel, um bloco geopolítico que visa estabelecer uma alternativa de integração regional à Comunidade Econômica dos Estados da África Ocidental (CEDEAO), cujos membros alegam sofrer influência estrangeira.

Senegal e Chade também anunciaram e estão em processo de retirada das tropas francesas de seus territórios.

Refinaria Warri, da Nigéria, retoma operações após uma década de paralisação

A Nigéria anunciou a retomada parcial das operações em sua refinaria de petróleo Warri, após quase uma década de inatividade. A refinaria de 125 mil barris por dia (bpd), fechada em 2015 devido ao mau estado e à escassez de petróleo bruto, está atualmente operando com 60% da capacidade, conforme autoridades do governo.

Isso marca um passo significativo nos esforços contínuos do governo para reavivar suas refinarias estatais, cuja disfunção tem atormentado a nação, forçando o maior produtor de petróleo da África a depender fortemente de importações de combustível.

"Esta planta está funcionando. Não completamos 100%", disse Mele Kyari, chefe da estatal Nigerian National Petroleum Corporation (NNPC), confirmando o reinício parcial durante uma visita recente à planta.

Enquanto o governo pretende restaurar totalmente todas as quatro refinarias estatais, incluindo a planta de Kaduna de 110 mil bpd e outras unidades no delta do Níger este ano, o retorno parcial da refinaria Warri segue a recente reativação da refinaria Port Harcourt de 60 mil bpd.

No início deste ano, uma refinaria privada de 650 mil bpd, construída pelo bilionário nigeriano Aliko Dangote, foi aberta em Lago, adicionando mais capacidade ao setor de refino do país da África Ocidental.

                

Fonte: DW Brasil/O País/Sputnik Brasil

 

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