Leonardo Attuch:
Num mundo de Bolsonaros, Mileis e Marçais, Gusttavo Lima não pode ser
subestimado
A candidatura
presidencial de Gusttavo Lima, ainda sem partido, à presidência da República em
2026 não deve ser subestimada. O sertanejo, que é uma peça relevante no projeto
de dominação ideológica da elite agrária brasileira, e também parte de esquemas
de desvios de recursos por parte da direita, com shows superfaturados em
cidades pequenas pagos com emendas parlamentares, não se lançaria candidato sem
nenhum tipo de retaguarda política.
Se Gusttavo Lima,
que nasceu Nivaldo Batista Lima, na cidade de Presidente Olegário, em Minas Gerais,
fez este movimento, isso ocorreu porque há poderosos e bilionários interessados
neste movimento. Não por acaso, em sua primeira
manifestação política,
Gusttavo se colocou como: (1) o pobre que subiu na vida, (2) o empreendedor que
sabe gerenciar seus negócios, (3) o empresário que prega desburocratização e,
portanto, é contra o estado, e – last but not least – (4) o representante do
agronegócio, que “pagaria impostos demais", sem receber as devidas
benfeitorias. Ou seja: o sertanejo já tem um discurso político articulado,
conectado aos interesses agropecuários e financistas, que hoje dão as cartas no
País.
O sertanejo, que se
tornou famoso com o refrão “tchê-tchererê-tchetchê" é um sintoma da
decadência cultural brasileira, mas é inegavelmente popular. Toca nas rádios do
interior e atrai multidões em seus shows. E figuras populares têm sido
escolhidas a dedo por bilionários num mundo em que partidos oligárquicos têm
cada vez mais dificuldade para controlar os rumos da política. Não por acaso,
há muitos anos, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, a Globo e os
bilionários que ambos representam passaram a desenhar o projeto de uma
candidatura do apresentador Luciano Huck, tão-somente porque ele seria
supostamente popular. Hoje, quando se vê a decadência de partidos como o PSDB e
a ascensão de políticos como o senador Cleitinho (Republicanos-MG), fica claro
que não há mais filtros na política e qualquer invasão bárbara é possível.
No mundo de hoje, é
só olhar para o cenário sul-americano para não subestimar a candidatura de
Gusttavo Lima. Basta lembrar que Jair Bolsonaro, o mais desclassificado de
todos os deputados federais brasileiros, foi eleito presidente em 2018. Ou que
o ex-coach Pablo Marçal surgiu do nada e quase se elegeu prefeito de São Paulo,
a maior cidade do País. Ou ainda que a Argentina, bem aqui ao lado, é governada
por Javier Milei, um completo idiota, que é exaltado pelas burguesias locais e
internacionais.
Aliás, este é um
ponto importante. Aos bilionários, interessa alimentar o descrédito na política
e transformar a democracia liberal em entretenimento. Com líderes circenses, um
parlamento alinhado e um Judiciário fiel aos princípios neoliberais, a
dominação avança com maior facilidade. Para que Gusttavo Lima se torne além de
eleitoralmente um nome também politicamente viável, basta encontrar um Paulo
Guedes pelo caminho, um Malafaia, uma Damares ou uma Michelle, para que se
forme uma nova aliança agro-evangélico-rentista contra o projeto de
desenvolvimento nacional representado pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva
e sua frente ampla.
Portanto, não
subestimem Gusttavo Lima. A história já deu provas suficientes de que tudo
sempre pode piorar e de que o poço sempre pode ser mais fundo. A democracia
liberal oferece ao público nomes ignóbeis para que os bilionários se tornem
ainda mais bilionários. E bilionários não devem ser subestimados.
¨ Gusttavo Lima presidente: Entenda a estratégia (boa) da
bizarra candidatura. Por Henrique Rodrigues
Uma notícia bizarra
surpreendeu o Brasil na quinta-feira, 2 de janeiro de 2025. O cantor Gusttavo
Lima, que até pouco tempo atrás estava enrolado numa investigação sobre lavagem
de dinheiro e envolvimento com empresas de apostas digitais ilegais, lançou seu nome
como candidato à Presidência da República em 2026.
Os primeiros
minutos após o anúncio foram de piadas intermináveis. Na sequência, vieram a
incredulidade e as críticas, já que boa parte do eleitorado minimamente
consciente sabe da “capacidade” que o brasileiro tem de eleger figuras
patéticas e toscas para cargos públicos, como o próprio Jair Bolsonaro (PL), um
irrelevante deputado federal que ganhou a vida falando impropérios e coisas
repugnantes e que foi parar no Palácio do Planalto após uma superexposição na
mídia e nas redes por conta de sua personalidade patética e risível.
Só que a tal
ambição de Gusttavo Lima não é exatamente mais uma dessas bizarrices. Pelo
contrário, é uma manobra muito bem articulada e calculada que integra uma
estratégia maior vinda do cerne da política profissional.
A chave para o
lançamento de seu nome como candidato a presidente está num outro político,
esse sim acostumado ao poder e extremamente experiente: o governador goiano
Ronaldo Caiado (União Brasil).
Caiado tem como
sonho máximo ser presidente da República, já disse isso abertamente e até
lançou seu nome de antemão, no fim do ano passado, mesmo faltando ainda dois
anos para o pleito. O chefe do Executivo de Goiás mantém uma relação de
intimidade e fidelidade com o sertanejo que é sucesso em todo Brasil, e para
comprovar isso é só relembrarmos que o político tomou um voo e
atravessou meio mundo para ir comemorar o aniversário de Lima num iate
bilionário nas águas azuis do Mar Mediterrâneo, na costa da Grécia, no último verão
europeu, sem esconder a agenda e posando com o artista, todo sorridente.
Ao saber do anúncio
de que Gusttavo Lima seria candidato ao Planalto, feito nesta tarde, Caiado,
que por uma questão lógica seria seu adversário, disse apenas “vejo com
normalidade”. Parte da imprensa interpretou, no calor da coisa, como uma
atitude de desdém, ou ainda de indiferença. Mas é preciso entender que, na
verdade, os dois estão no mesmo barco, e não é o iate de bilhões que navegou
pelas ilhas gregas.
Para boa parte dos
analistas e de quem convive com os intestinos da política nacional, há aí um
claríssimo plano, em que pese a dificuldade em saber exatamente como seriam os
pormenores dessa empreitada. Três possibilidades reais são analisadas e
esperadas dessa “união”.
Caiado, que de fato
quer ser presidente, tem hoje um problema que quase todos os caciques estaduais
de fora do eixo Rio-São Paulo enfrentam: nacionalizar seu nome e se tornar
competitivo, sendo reconhecido e angariando eleitores por todo o imenso Brasil.
Ele não seria o primeiro a sofrer com isso na ambição de se lançar candidato à
Presidência.
Na primeira
hipótese, Gusttavo Lima manteria sua candidatura, arranjando uma legenda que o
abrigue, e fazendo “campanha” de maneira informal durante todo o ano, nos shows
e nas redes. O cantor tem uma grande penetração em todo o país e nas mais
diversas camadas sociais, sobretudo nas mais populares. Facilmente conseguiria
atrair muitos simpatizantes e tornaria seu nome relativamente competitivo. Aí,
com a aproximação da eleição, ele começaria a mostrar-se relutante e sutilmente
traria Caiado como uma opção viável, como o homem que representa os seus
valores e suas ideias, mas com uma grande bagagem no universo político,
substituindo-o.
A segunda opção
seria de fato manter uma “campanha”, arranjar muitos votos e seguir espalhando
seu nome para todo o Brasil, aproveitando-se de sua grande fama. Mais próximo
da eleição, Caiado surgiria como o candidato cabeça de chapa e o sertanejo
seria seu vice, trazendo muitos votos.
Por último, uma
outra possibilidade seria a de carregar o nome de Goiás na política pelos
quatro cantos do Brasil, e deixar Caiado sempre aparecendo em sua “campanha”,
como um aliado, dando muita visibilidade ao governador goiano, para depois sair
de fininho e permitir que o próprio candidato real tire proveito da exposição
gerada pelo artista.
Para quem acha que
Gusttavo Lima, como um bolsonarista-raiz, não trairia o “capitão”, há um ledo
engano. Assim que lançou seu nome, figuras graúdas do
entorno de Bolsonaro já começaram a atacar o cantor, que seria alguém
muito mais fiel a Caiado do que ao ex-presidente, a quem sempre deu apoio por
afinidade e por apreciar a retórica reacionária e incendiária, embora nunca
tenha se colocado como um servo.
¨ De "nosso Bukele" a "oportunista
idiota": Gusttavo Lima buga grupos bolsonaristas. Por Plínio Teodoro
O anúncio de
Gusttavo Lima lançando seu nome à Presidência em 2026 para romper com essa
"história de direita e esquerda", provocou um bug geral nos grupos
bolsonaristas no Telegram.
Sem saber ao acerto
se a declaração foi combinada com os russos - ou melhor, com Bolsonaro -, a
horda bolsonarista rachou, com uma parcela aprovando a candidatura com o apoio
do ex-presidente e outros classificando como mais uma idiotia de um dos
bajuladores famosos do "mito".
De início, o
sertanejo chegou a ser comparada com o presidente de El Salvador Nayib Nukele
que, eleito pelo partido populista de direita Novas Ideias, tem ganhado
admiradores da ultradireita em todo mundo principalmente pelo estilo
autoritário na segurança pública e liberalóide na questão econômica.
"Com aval do
JB [Jair Bolsonaro]. Seria nosso Bukele", diz publicação no grupo
bolsonarista Águia, que reúne mais de 22 mil bolsonaristas no Telegram.
"Brincadeiras
a parte, sobre a candidatura do Gustavo Lima, só votaria se ele viesse com aval
do Jair Bolsonaro, fora isso não votaria", respondeu um membro do grupo.
"Mais um
oportunista idiota", rebateu outro. "As pessoas precisa (SIC)
aprender diferenciar o pato da galinha", emendou um terceiro.
As publicações
entre apoio e críticas ao "traidor" se dividiriam. Ainda mais sem
pronunciamento de Bolsonaro.
"Se o JB,
macaco velho da política, não conseguiu governar, imagine um paraquedista na
política. Saia senador, deputado, mas presidente será mais 4 anos jogado
fora", aconselhou.
Para tentar por fim
à discussão, um outro membro do grupo apelou para a revista Veja, que colocou
Bolsonaro na capa com as aspas: "o candidato sou eu".
"O candidato é
esse aqui e ponto final!", exclamou o bolsonarista.
O que não se debate
no grupo, no entanto, é a realidade: Bolsonaro está inelegível até 20230 e pode
assistir às eleições de 2026 de dentro da prisão.
¨ Candidatura do incauto cantor é pra lá de bem-vinda.
Por Juninho Bittencourt
Imbecis e aventureiros
como Gusttavo
Lima em
candidaturas ao poder Executivo são fadados ao fracasso. Não há um
que tenha caminhado para muito além das próprias pernas. A história do Brasil
está cheia de exemplos. Enéas e Eymael foram recorrentes.
Sílvio Santos, em
1989, foi outro ótimo exemplo. Chegou para bagunçar o processo, teria prestado
o excelente serviço de dividir os votos da direita, mas teve a candidatura
impugnada pela Justiça eleitoral. Ao se retirar da campanha, estava com
expressivos 30% das intenções de votos, mas ninguém apostaria que iria além
disso.
<><> Pelé
Pelé, o eterno atleta
do século, um dos brasileiros mais famosos do planeta de todos os tempos, se
meteu a apoiar, em 1992, um polítco de direita, o advogado Vicente
Cascione, à Prefeitura de Santos. Tomaram, ele e seu candidato, uma
derrota fragorosa para o médico sanitarista David Capistrano Filho.
Candidatos bizarros
costumam se dar bem no Legislativo. Estão por aí Tiririca, Romário,
Agnaldo Timóteo e mais um sem fim de exemplos para provar. Já no
Executivo, políticos profissionais são os que tendem a vencer. É o caso do
ex-presidente Jair
Bolsonaro (PL).
A despeito da sua bizarrice, trata-se de um político profissional.
<><> Pablo
Marçal
O povo não costuma
arriscar com isso. O ex-coach Pablo Marçal, com todo o
barulho que fez, é o exemplo mais recente deste fenômeno. Nas últimas eleições
municipais de São Paulo não chegou nem ao segundo turno.
O deboche de Fabio
Wajngarten,
advogado, ex-ministro de Bolsonaro e que hoje atua como uma espécie de
porta-voz do ex-mandatário, por exemplo, parece ser a mais
reveladora: "Vou anunciar que serei cantor de forró".
O próprio PL aposta
que Gusttavo Lima teria chances de se eleger como presidente em 2026 apenas se
tivesse o apoio de Jair Bolsonaro. Pretensão e água benta, como dizia minha
avó, cada um toma o que quer. Bolsonaro perdeu para Lula em 2022. Em 2026,
muito mais desgastado – caso conseguisse reverter sua inelegibilidade – tudo
indica que perderia novamente. O que dizer de um cantor sertanejo desarticulado
apoiado por ele?
O bom mesmo disso
tudo é o estrago que Lima causa do lado de lá. Com a velha máxima dos eternos
candidatos de direita que dissimulam se dizer nem de direita nem de esquerda, o
sertanejo presta um excelente serviço ao campo progressista dividindo o lado de
lá.
Por enquanto, a
única coisa que conseguiu foi causar mal-estar entre seus pares. Que assim
continue.
¨ Gusttavo Lima presidente? Nikolas Ferreira tem reação
bizarra ao anúncio do sertanejo. Por Ivan Longo
O deputado
federal Nikolas
Ferreira (PL-MG),
um dos parlamentares mais próximos de Jair
Bolsonaro,
teve uma reação bizarra ao "lançamento"
da candidatura de Gusttavo Lima à presidência em 2026.
Em entrevista ao
site "Metrópoles" divulgada nesta quinta-feira (2), o cantor
sertanejo, até então um bolsonarista fervoroso, informou que pretende se
candidatar ao Palácio do Planalto nas próximas eleições presidenciais.
Aliados de
Bolsonaro têm enxergado o gesto de Gusttavo Lima como uma traição, visto que o
ex-presidente, ainda que esteja inelegível, se apresenta como o candidato da
extrema direita em 2026. Fabio Wajngarten, advogado, ex-ministro de Bolsonaro e
que hoje atua como uma espécie de porta-voz do ex-mandatário, por exemplo,
reagiu com deboche: "Vou anunciar que serei cantor de forró".
Nikolas Ferreira,
entretanto, foi por um outro caminho. Em vídeo divulgado no Instagram, o
deputado mineiro, a princípio, levou na brincadeira, mas logo na sequência
disse que "admira" o gesto e demonstrou apoio à empreitada de
Gusttavo Lima – desde que Jair Bolsonaro permaneça, de fato, inelegível.
"Gente, que
cachaça é essa que o Gusttavo Lima tomou? Agora ele quer virar presidente! O
cara é o maior cantor estourado do Brasil. Não precisava arrumar problema
nenhum pra cabeça, e agora tá dando a cara a tapa pra entrar na política. Isso
é admirável", iniciou Nikolas Ferreira.
"Ele, desde o
início, se posicionou publicamente em favor do Bolsonaro em todos os momentos,
mesmo estando no meio mais mimizento e cancelador do mundo. Mas o Gusttavo Lima
é incancelável. Ele é tipo o Neymar, só que do sertanejo. E se o sistema deixar
o Bolsonaro ir pra candidatura, esquece! Todo mundo vai com ele. Isso aí até o
Gusttavo Lima sabe. Mas, se o sistema não deixar o Bolsonaro se candidatar à
presidência, o que é um medo gigantesco – porque, se hoje ele sair presidente,
Bolsonaro ganha –, o Gusttavo Lima se demonstra, até então, uma opção",
prosseguiu.
"Até o
momento, ele é, sim, uma boa opção pra entrar na política", emendou o
deputado federal.
Gusttavo Lima, por
sua vez, sinalizou ter ficado satisfeito com a reação de Nikolas, comentando na
publicação do parlamentar com um emoji da bandeira do Brasil.
Fonte: Brasil
247/Fórum
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