Sincretismo:
o que é religioso e cultural no Brasil
"Sincretismo
é a fusão ou combinação de diferentes doutrinas, crenças, práticas ou elementos
culturais, resultando em uma nova forma de expressão que mantém características
das suas origens. Esse processo pode ocorrer em diversos contextos, incluindo o
religioso, cultural, filosófico e linguístico. Plutarco é creditado como um dos
primeiros a usar a palavra sincretismo para descrever a união dos povos
cretenses.
O
sincretismo pode ser do tipo social, cultural ou religioso. No Brasil, as
religiões de matriz africana e algumas festividades populares são exemplos
clássicos de sincretismo. Na Ásia, o hinduísmo e o budismo frequentemente se
misturam, resultando em práticas religiosas que combinam elementos de ambas as
tradições. Na América Central, especialmente as ilhas do Caribe, religiões como
o vodu haitiano e a santeria cubana são exemplos de sincretismo entre religiões
africanas e o catolicismo."
• "Resumo sobre sincretismo
O
sincretismo é a síntese de vários elementos culturais, que dialogam e interagem
entre si, mas buscam conservar suas identidades distintas.
É
um conceito sobretudo utilizado em antropologia ou em sociologia da religião.
Pode
ser do tipo cultural, religioso ou social e pode variar de acordo com as
reações de dois ou mais grupos que entram em contato.
No
Brasil, teve início como uma forma de resistência, conservação, adaptação e
assimilação cultural.
A
umbanda e o candomblé são religiões de matriz africana e exemplos clássicos de
sincretismo.
• O que é sincretismo?
O
sincretismo designa a síntese de vários elementos culturais que dialogam e
interagem entre si, mas buscam conservar suas identidades distintas. O termo
deriva do grego, synkritismós (συγκρητισμός), e foi empregado por Plutarco
(46-120) para designar uma reunião das ilhas de Creta contra um adversário
comum. Essa origem etimológica já sugere a ideia de união e combinação de
elementos distintos para formar um todo coeso.
Por
extensão, sincretismo pode significar uma aliança circunstancial de duas partes
opostas contra um inimigo em comum. Foi nesse sentido que Erasmo (1466-1536)
aplicou essa palavra à frente formada por humanistas e luteranos. A partir do
século XVII, o termo passou para o vocabulário religioso e filosófico,
indicando a combinação, mais ou menos coerente e harmoniosa, de doutrinas
religiosas ou de correntes filosóficas.
Atualmente,
sincretismo é um conceito sobretudo utilizado em antropologia ou em sociologia
da religião, principalmente para representar o contexto latino-americano, no
qual o sincretismo encontrou um terreno propício para ser debatido.
• Tipos de sincretismo
O
sincretismo pode ser de tipo cultural, religioso ou social:
O
sincretismo religioso acontece com a fusão de elementos de diferentes
religiões, resultando em novas práticas e crenças.
O
sincretismo cultural é condicionado pela integração de elementos culturais,
como costumes, tradições e linguagens, de diferentes sociedades.
O
sincretismo social ocorre por meio da combinação de estruturas sociais e
organizacionais de diferentes culturas, como a adaptação de sistemas de
parentesco ou de governança.
Os
tipos de sincretismo podem variar de acordo com as reações culturais de dois ou
mais grupos quando entram em contato. Entre a recusa da cultura imposta e a sua
assimilação completa, existem muitas possibilidades: aceitação e apropriação da
outra cultura, mas igualmente reinterpretação, recusa parcial, triagem seletiva
e contra-aculturação.
• Exemplos de sincretismo
Exemplos
clássicos de sincretismo religioso incluem a umbanda no Brasil, que combina
elementos do catolicismo, espiritismo e religiões africanas. Esse tipo de
sincretismo pode ocorrer de forma espontânea ou ser resultado de imposições
culturais e religiosas, como durante a colonização. No candomblé, os orixás
africanos são sincretizados com santos católicos. Por exemplo, Iansã é
associada a Santa Bárbara, e Oxalá a Jesus Cristo.
O
Dia dos Mortos, celebrado no México, é um exemplo de sincretismo cultural,
combinando tradições indígenas com o catolicismo trazido pelos colonizadores
espanhóis. A festa honra os mortos com altares, oferendas e desfiles. O
halloween é uma festa que combina elementos das tradições celtas, como o
samhain, com influências cristãs e práticas modernas americanas."
• "Sincretismo no Brasil
O
sincretismo das religiões de matriz africana no Brasil foi inicialmente uma
estratégia de sobrevivência cultural das pessoas que desembarcaram aqui para
trabalhar de graça para os fazendeiros e colonos. Os colonizadores proibiam e
puniam a veneração dos deuses africanos, então o sincretismo permitia
cultuá-los sob a aparência de um culto aos santos católicos.
Essa
origem conflituosa e opressora não impediu que, posteriormente, os membros de
cultos afro-brasileiros também se tornassem praticantes sinceros do catolicismo
e bem integrados à sociedade. O caso brasileiro, segundo Roger Bastide,
representa que pode ocorrer uma coexistência das crenças sem contradição nem
conflito. A colonização e a escravidão, mesmo sendo forçadas e violentas,
podem, no fim, resultar em uma reformulação cultural original, inventiva e
positiva.
Na
antropologia, o sincretismo é estudado como um fenômeno de interpenetração de
civilizações, em que elementos culturais de diferentes origens se combinam e se
transformam. Roger Bastide, um dos principais teóricos do sincretismo, destacou
a importância de entender esse processo como uma forma de resistência,
conservação, adaptação e assimilação cultural.
→
Sincretismo na umbanda
A
umbanda é um exemplo claro de sincretismo religioso no Brasil. Essa religião
surgiu no início do século XX e combina elementos do catolicismo, espiritismo
kardecista, religiões africanas (como o candomblé) e tradições indígenas. Roger
Bastide estudou a umbanda como um fenômeno de sincretismo que reflete a
complexidade cultural brasileira, em que diferentes tradições religiosas
coexistem e se influenciam mutuamente.
Na
umbanda, santos católicos são frequentemente associados a orixás africanos, e
práticas espirituais kardecistas são integradas a rituais de origem africana e
indígena. Esse sincretismo permite uma grande flexibilidade e adaptabilidade,
tornando a umbanda uma religião dinâmica e inclusiva.
→
Sincretismo no catolicismo
O
catolicismo, ao longo de sua história, também incorporou elementos de outras
religiões e culturas. No Brasil, o sincretismo católico é evidente na forma
como santos católicos foram associados a divindades africanas e indígenas. Por
exemplo, Nossa Senhora Aparecida é frequentemente sincretizada com Oxum, um
orixá africano.
Roger
Bastide observou que o sincretismo no catolicismo brasileiro não é apenas uma
fusão superficial, mas uma integração profunda que permite a coexistência de
diferentes sistemas de crenças.
No
Rio de Janeiro, o Dia de São Jorge, celebrado em 23 de abril, é um feriado
estadual e uma data de grande importância, tanto para católicos quanto para
praticantes de candomblé e umbanda.
A
celebração começa cedo, com a Alvorada de São Jorge, às 5 h, marcada por uma
intensa queima de fogos, especialmente em torno da Igreja Matriz de São Jorge
em Quintino, na Zona Norte da cidade. Essa igreja é conhecida por realizar a
maior festa dedicada ao santo na América Latina, atraindo cerca de 1,5 milhão
de fiéis.
Ogum
é o orixá que sincretiza o santo católico São Jorge na fé de umbandistas e
candomblecistas.
As
festividades incluem missas, cavalgadas, rodas de samba, e as tradicionais
feijoadas. As escolas de samba também participam oferecendo feijoadas que
celebram tanto São Jorge quanto Ogum. Essas feijoadas são momentos de
confraternização e de anúncio de temas e equipes para o próximo Carnaval.
• Sincretismo no mundo
O
sincretismo não é um fenômeno exclusivo do Brasil. Ele ocorre em diversas
partes do mundo. Na Ásia, o hinduísmo e o budismo frequentemente se misturam,
resultando em práticas religiosas que combinam elementos de ambas as tradições.
Na América Central, especialmente as ilhas do Caribe, religiões como o vodu
haitiano e a santeria cubana são exemplos de sincretismo entre religiões
africanas e o catolicismo.
O
movimento rastafári, que surgiu na Jamaica, combina elementos do cristianismo,
do judaísmo e das tradições africanas, promovendo a crença na divindade do
imperador etíope Haile Selassie e a valorização da cultura africana.
Outro
exemplo de sincretismo social é a cultura hip-hop. Surgida nos Estados Unidos,
essa cultura é um exemplo de sincretismo social, combinando elementos de várias
culturas urbanas, incluindo música, dança, arte de rua e moda, originando-se
nas comunidades afro-americanas e latinas de Nova York.
A
Índia é um país parecido com o Brasil em aspectos sincréticos. O sikhismo é um
exemplo de sincretismo religioso, combinando elementos do hinduísmo e do
islamismo. Outro exemplo é o movimento bhakti, que promove a devoção a Deus sem
distinção de casta ou religião, influenciando tanto o hinduísmo quanto o
islamismo.
• Sincretismo ou multiculturalismo?
Nos
debates contemporâneos, o sincretismo é frequentemente comparado ao
multiculturalismo. Ambos os conceitos envolvem a coexistência e interação de
diferentes culturas, mas enquanto o sincretismo enfatiza a fusão e a criação de
novas formas culturais, o multiculturalismo foca na gestão e governança da
diversidade cultural.
• Críticas ao sincretismo
O
sincretismo não está isento de críticas. Alguns estudiosos argumentam que ele
pode levar à diluição das tradições originais, resultando em expressões
culturais superficiais. Outros veem o sincretismo como uma forma de apropriação
cultural, em que elementos de uma cultura são adotados por outra sem o devido
respeito e compreensão. Além disso, há debates sobre a autenticidade das
tradições sincréticas e a tensão entre pureza e mistura cultural.
O
argumento é que falar de mistura de culturas e de sincretismo pressuporia que
tais culturas fossem “puras”, claramente separadas uma das outras e presas às
suas respectivas tradições. Muitos antropólogos argumentam que, na realidade,
não existem culturas puras, isso foi uma invenção da antropologia moderna,
porque as culturas são essencialmente construções etnológicas e
históricas."
Fonte:
Brasil Escola
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