segunda-feira, 2 de outubro de 2023

A economia da Grécia renasce: o que o país fez para sair do buraco

Em 2012, mergulhada na maior crise econômica de sua história, a Grécia parecia condenada. O colapso financeiro global gerado a partir da quebra do banco Lehman Brothers nos Estados Unidos, quatro anos antes, levou pânico aos mercados em todo o mundo, fazendo com que diversos países se endividassem enormemente para salvar seus sistemas bancários.

O resultado foi o surgimento de uma outra crise, de endividamento, que se alastrou pela União Europeia nos anos seguintes, penalizando os países periféricos – como Portugal, Irlanda e Chipre. A catástrofe grega, no entanto, teve contornos ainda mais dramáticos. Em 2012, o Produto Interno Bruto (PIB) do país desabou 25% e o desemprego atingiu quase um terço da população (28%).

Apenas entre 2010 e 2015, a Grécia recebeu três pacotes emergenciais de resgate da União Europeia (UE), somando mais de 320 bilhões de euros. Centenas de milhares de empresas foram à falência. A renda das famílias despencou.

Uma década depois, é difícil acreditar que a Grécia esteja entre as economias que mais crescem na Europa. No ano passado, o PIB grego avançou 5,9%. Em 2021, o crescimento havia sido de 8,4%. O desempenho supera, e muito, a média dos países da zona do euro (5,3% em 2021 e 3,5% em 2022). Embora ainda elevada, a taxa de desemprego, que terminou o ano passado em 11%, é a mais baixa em uma década.

Turismo, tecnologia e (grau de) investimento

Principal setor econômico do país, o turismo vive um novo “boom”: mais de 10 milhões de estrangeiros tiveram a Grécia como destino no último verão, movimentando 21 bilhões de euros. O segmento já alcançou 97% do patamar pré-pandemia.

O país também vem recebendo novos investimentos. Recentemente, a gigante farmacêutica Pfizer abriu um centro de pesquisa científica na cidade portuária de Tessalônica, ao norte. Google, Amazon e Microsoft instalaram centros de dados e computação em nuvem no país. Em 2022, o investimento estrangeiro na Grécia somou US$ 7,6 bilhões.

A maior confiança dos investidores se reflete na avaliação das agências de classificação de risco. Em agosto, o país recuperou o grau de investimento, concedido pela Scope Ratings, depois de 13 anos, graças a “uma trajetória estável de declínio da dívida pública, crescimento econômico real acima do potencial, juros baixos da carteira de dívida vigente e obtenção de superávits fiscais primários”.

A decisão da Scope é um termômetro importante para o mercado porque indica que a Grécia tem plena capacidade de honrar seus compromissos financeiros, algo inimaginável há 10 anos. O grau de investimento é uma espécie de selo de bom pagador atribuído pelas agências a países ou instituições.

·         Reformas: a lição de casa da Grécia

Segundo economistas ouvidos pelo Metrópoles, o segredo da Grécia para sair do atoleiro que quase implodiu a zona do euro e voltar ao clube de bons pagadores está na austeridade fiscal adotada pelo país e nas reformas econômicas aprovadas nos últimos anos.

Os pacotes financeiros emergenciais encaminhados pela UE, especialmente durante a pandemia de Covid-19, também ajudaram. Em 2021, Bruxelas aprovou 30 bilhões de euros para investimentos na Grécia, como parte de um programa de apoio às economias do bloco europeu em meio à crise sanitária global.

À frente do governo desde 2019, o primeiro-ministro Kyriakos Mitsotakis, reeleito em junho deste ano, levou a cabo uma série de políticas de disciplina fiscal, como corte de gastos e reformas que diminuíram a máquina pública, gerando maior produtividade e dinamizando a economia grega.

Em 2021, o premiê lançou um ambicioso programa denominado “Grécia 2.0”, que prevê mais de 100 projetos de investimento e cerca de 70 reformas micro e macroeconômicas até 2026. Apesar de continuar em um patamar muito elevado, a dívida pública caiu de 206% para 171% do PIB no ano passado. É o menor nível desde 2012.

“O que explica a retomada grega é a política de austeridade fiscal. Aliás, o que levou o país a uma situação dramática em 2012 foi uma relação dívida/PIB elevadíssima, que empurrou os juros para cima e, consequentemente, levou a uma desconfiança do mercado em relação à adimplência da dívida”, afirma o economista Mauro Rochlin, professor de MBAs da Fundação Getulio Vargas (FGV).

“Essa política restabeleceu a confiança dos investidores, o que gerou um aumento da procura por títulos públicos da Grécia. O governo conseguiu retornar ao mercado financeiro. De fato, o país pode ter entrado em um círculo virtuoso.”

De acordo com o economista da FGV, a Grécia “fez a lição de casa” e “endireitou seu desconcerto fiscal”. “Quando entrou na zona do euro, a Grécia, assim como outros países da periferia europeia, passou a gozar de crédito e se endividou tremendamente”, explica. “Os déficits primários do governo grego foram crescentes e turbinaram a dívida grega nos últimos seis anos. Agora, a questão fiscal passou a ser bem encaminhada. O governo passou a mirar no superávit.”

Para o economista Maurício F. Bento, diretor do Instituto de Formação de Líderes de São Paulo (IFL-SP), as perspectivas da Grécia para os próximos 10 anos são muito melhores, hoje, do que eram no passado recente. “O país talvez esteja na transição entre uma década perdida em termos econômicos e uma possível retomada. Nós temos a expectativa de ver o início de uma nova fase de crescimento grego”, diz.

·         O jogo não está ganho

Apesar do bom momento econômico, a lição de casa da Grécia ainda está longe de ser concluída. O PIB atual do país é 24% inferior ao de 2008, antes do início da crise. A Grécia é a segunda nação mais pobre da UE – à frente apenas da Bulgária no ranking do PIB per capita, de acordo com dados do Banco Mundial. Embora tenha baixado, a dívida pública segue como a maior da Europa. No ano passado, a inflação quase alcançou os dois dígitos (9,3%).

“Se a política de austeridade for abandonada, a crise estará à espreita. A relação dívida/PIB ainda é altíssima. O que anima o mercado é uma trajetória descendente da dívida, mas o patamar dela é preocupante. A questão fiscal ainda sombreia esse processo”, afirma Rochlin.

Maurício F. Bento também alerta para os riscos de complicações econômicas à frente. “A Grécia tem hoje uma situação mais promissora, mas o quadro ainda não é tão confortável. Apesar do crescimento nos últimos anos, o PIB do país é apenas levemente superior aos valores de 2018. Em relação ao PIB per capita, a Grécia ainda não alcançou os valores de 2004, o que é espantoso”, observa.

“Apesar de o pior já ter passado, a ponto de vislumbrarmos um futuro economicamente mais próspero na próxima década, o trabalho ainda não acabou. As reformas não se encerram nelas mesmas. São um processo.”

 

Ø  De olho na África, Brasil pode se candidatar para patrulhar mares do golfo da Guiné, diz analista

 

Visita da Marinha brasileira ao Senegal pode sinalizar disposição do Brasil em realizar patrulhas marítimas contra a pirataria no golfo da Guiné. A Sputnik Brasil conversou com especialistas para saber se a Marinha tem condições de assumir essa missão e como a pirataria na África pode afetar os interesses nacionais brasileiros.

Fragata da Marinha brasileira realizou visita ao porto de Daca, no Senegal, com o intuito de retomar a diplomacia naval com países africanos da costa do Atlântico. A visita foi realizada no âmbito da Operação "Guinex-III" e contou com a presença de autoridades militares e diplomáticas de países sul-americanos e africanos.

A presença da Marinha brasileira na costa atlântica da África é considerada relevante para garantir a segurança das rotas comerciais brasileiras, de riquezas nacionais como as reservas de petróleo do pré-sal e mitigar a presença militar estrangeira no Atlântico Sul.

No entanto, é o aumento da atividade de pirataria na região do golfo da Guiné, região do Atlântico Sul que banha países como Benin, Nigéria, Camarões e Guiné Equatorial, gera preocupação entre autoridades brasileiras.

A pirataria na área chegou inclusive a superar a atividade na região da Somália, considerada uma das mais perigosas do mundo. Os incidentes podem comprometer a segurança das linhas de comunicação marítimas brasileiras, gerando inclusive prejuízos econômicos ao Brasil, cuja economia depende do comércio internacional.

Os ilícitos marítimos no golfo da Guiné não se restringem a pirataria, mas também incluem a pesca ilegal, que contribui para esgotar recursos pesqueiros locais e deteriorar o equilíbrio ecológico da região.

A insegurança marítima no golfo da Guiné está inclusive na pauta do Conselho de Segurança da ONU, que a partir do dia 1º de outubro passará a ser presidido pelo Brasil. Por ação deste órgão da ONU, foi aprovado o Código de Conduta naval de Yaoundé, que propõe medidas para mitigar a pirataria na área. O Brasil é membro do Grupo de Amigos do golfo da Guiné (FOGG, na sigla em inglês), que busca auxiliar os países da região a implementar o acordo de Yaoundé.

Para o pesquisador em Economia e Relações Internacionais da Universidade Federal Fluminense (UFF), Jonuel Gonçalves, a visita da Marinha ao Senegal pode ser considerado um primeiro passo para manifestar a prontidão brasileira a colaborar com a segurança marítima do golfo da Guiné.

"Os países limítrofes ao golfo da Guiné se preocupam com a questão da pirataria e devem se preparar para operações similares as que a União Europeia fez na Somália, não excluída a hipótese de que a Marinha do Brasil seja chamada para patrulhar o golfo", disse Gonçalves à Sputnik Brasil.

Segundo ele, a Marinha brasileira tem boa imagem e seria considerada uma força estrangeira confiável pelos seus parceiros africanos.

"O Brasil é visto como um aliado seguro e poderia contar com uma boa retaguarda em seus patrulhamentos, que é o porto de Dacar, no Senegal", explicou Gonçalves. "Esse tipo de convite poderia ser feito sem a intermediação de organizações internacionais, como a ONU. Uma possibilidade seria a CEDEAO [Comunidade Econômica dos Estados da África Ocidental], que conta com grande influência da Nigéria, decidir por acionar marinhas de fora da área para realizar patrulhas."

O fortalecimento do papel do Brasil na área viria em um momento de consideráveis mudanças geopolíticas no Norte da África, palco de revoluções, golpes de Estado e mudanças de regime que desafiam a presença de ex-potências colonizadoras, como a França e o Reino Unido, na região.

"Uma eventual patrulha da Marinha brasileira precisaria considerar a reação de países como França e Reino Unido, que sempre mantém fragatas baseadas na área, no porto de Abidjan e no porto de Gana, respectivamente", lembrou Gonçalves.

Para ele, o contexto atual favorece a projeção de poder político e econômico brasileiro, em meio aos esforços do Itamaraty de recuperar o protagonismo do país no exterior.

Apesar das intenções do governo em engajar a Marinha em patrulhamento no exterior, não está claro se a força detém os meios necessários para essa empreitada, alertou o analista militar e oficial da reserva da Marinha do Brasil, Robinson Farinazzo.

"A Marinha não cria este tipo de agenda, ela vem da Presidência, do Itamaraty e demais instituições que determinam os rumos da política externa brasileira. Cabe à Marinha cumprir a missão. Mas não adianta dar uma missão dessa envergadura para a marinha do Brasil e não atrelar recursos", disse Farinazzo à Sputnik Brasil.

Segundo ele, o "patrulhamento permanente no golfo da Guiné realmente necessitaria a mobilização de mais de um navio, com helicópteros, sensores e suíte de armamentos em condições de operar."

"A África, América do Sul e Atlântico Sul são os destinos naturais do Brasil, com todos os problemas e soluções que essas regiões apresentam. Mas ser potência não é só destino, é vontade também", notou o oficial da reserva da Marinha.

Os investimentos de recursos em uma reaproximação marítima com o continente africano trariam retorno ao Brasil, que ganharia tanto acesso a um mercado emergente, quanto o fortalecimento de suas Forças Armadas.

"Essa aproximação é natural e saudável, já que a África é uma nova fronteira econômica e um mercado extremamente promissor para o Brasil", apontou Farinazzo. "Esses países também serão fundamentais para garantir apoio às pretensões internacionais do Brasil, especialmente nas Nações Unidas."

Com ou sem a missão de patrulhamento no golfo da Guiné, a Marinha brasileira continuará exercendo seu papel de "Itamaraty flutuante" e auxiliando o Brasil a navegar o turbulento período de transição geopolítica atual, acredita Farinazzo.

"O momento é de fragmentação geopolítica e mudanças estruturais, inclusive no continente africano. A única coisa que podemos prever com um certo grau de certeza é que não ficará pedra sobre pedra", concluiu o oficial da reserva.

 

Ø  Brasil, Índia e os EUA lideram entre os cerca de 60 países que compram fertilizantes da Rússia

 

A Rússia tem obtido grandes receitas com a venda de fertilizantes, incluindo aos EUA e aos países europeus, durante o primeiro semestre de 2023.

A Rússia obteve pelo menos US$ 6,6 bilhões (R$ 33,21 bilhões) com a venda de fertilizantes para 57 países no primeiro semestre de 2023, sendo o Brasil, a Índia e os Estados Unidos os principais compradores, revelam cálculos da Sputnik baseados em dados da plataforma de estatísticas UN Comtrade.

O Brasil, com US$ 1,9 bilhão (R$ 9,56 bilhões) e a Índia, com US$ 1,3 bilhão (R$ 6,54 bilhões) foram responsáveis por quase metade das exportações russas desses produtos. Em terceiro lugar, ficaram os EUA, que compraram fertilizantes no valor de US$ 890 milhões (R$ 4,48 bilhões), em quarto lugar a China, com US$ 632 milhões (R$ 3,18 bilhões), e no quinto lugar o México, US$ 429 milhões (R$ 2,16 bilhões).

Os dez principais compradores também incluem a Turquia, que gastou US$ 170 milhões (R$ 855,42 milhões) na compra de fertilizantes, e a Alemanha, que pagou US$ 151 milhões (R$ 759,82 milhões) de janeiro a junho de 2023.

A Sérvia, a França e o Cazaquistão também importaram fertilizantes no valor de mais de US$ 100 milhões (R$ 503,19 milhões), o mesmo acontecendo com a Guatemala e a Polônia, no valor de US$ 93 milhões (R$ 467,97 milhões) e US$ 77 milhões (R$ 387,46 milhões), respectivamente. Além disso, muitos países europeus continuam comprando fertilizantes russos, como a Bulgária, Espanha, Itália, Países Baixos e a República Tcheca.

Remessas menores de fertilizantes em janeiro-junho foram para Belize, que adquiriu US$ 32.000 (R$ 161.021), Montenegro, US$ 18.500 (R$ 93.090) e Bahrein, US$ 434 (R$ 2.184).

Segundo o Serviço Federal de Alfândegas da Rússia, em 2022 o país exportou fertilizantes no valor de US$ 19,3 bilhões (R$ 97,12 bilhões), 50% mais do que em 2021.

 

Ø  Suíça segue os passos da União Europeia e aplica sanções contra drones do Irã

 

Além das sanções à venda e transporte de peças, pessoas e entidades ligadas ao programa de drones do país persa serão submetidas a sanções financeiras e de viagens.

A Suíça resolveu espelhar as sanções do bloco europeu sobre drones iranianos. De acordo com um comunicado do governo suíço emitido ontem (29), a venda, fornecimento, exportação e trânsito de componentes utilizados para a produção de veículos aéreos não tripulados pelo Irã estão agora proibidos, segundo a Bloomberg.

Berna tem adotado sanções da UE em relação à produção iraniana de drones desde o outono do ano passado, mas resolveu intensificar as restrições nesta semana.

Embora as novas medidas sejam impostas ao Irã, também visam a capacidade da Rússia de utilizar drones iranianos que supostamente ajudam na operação russa na Ucrânia, escreve a mídia.

Apesar do status de neutralidade, a Suíça tem tomado medidas que colaboram com um dos lados no conflito, nomeadamente Kiev e Ocidente. Ontem (29), o país europeu anunciou o envio de um pacote de US$ 109,57 milhões (cerca de R$ 547 milhões) para desminar partes do território ucraniano.

Há dois dias, também anunciou que vai atender ao pedido da Alemanha e revender 25 tanques Leopard para ajudar a reabastecer a Europa e aliados da OTAN após doações à Ucrânia, conforme noticiado.

 

Fonte: Metrópoles/Sputnik Brasil

 

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