Economia melhora e fortalece Lula no Congresso
As últimas pesquisas trimestrais sobre a aprovação
do governo mostram que a popularidade de Lula segue uma tendência de
crescimento e, durante o programa Análise da Notícia, o colunista do UOL José
Roberto de Toledo citou uma pesquisa do IPEC que indica que essa melhora na
aprovação do governo está diretamente ligada a um bom desempenho da economia.
A pesquisa feita pelo IPEC em todo o país e
encomendada pela ONG Instituto Cidades Sustentáveis mostra que o percentual da
população que precisou fazer bicos, ou seja, atividades para complementar
renda, caiu 13 pontos percentuais nos últimos 12 meses em relação a mesma pesquisa
feita no ano de 2022.
A popularidade de Lula melhora por causa da
economia e, por isso, tem menos gente precisando fazer bicos. - José Roberto de
Toledo
Razões econômicas puxam popularidade de Lula para
cima. O aumento do salário mínimo, a diminuição do custo de vida, a inflação em
queda e a consolidação e ampliação de programas sociais mostram que a situação
econômica do país vem melhorando. A pesquisa feita pelo IPEC mostrou que 54% da
população brasileira precisou fazer bicos nos últimos 12 meses, enquanto o
percentual era de 67% na pesquisa realizada no ano anterior, em período
eleitoral.
Índice de Confiança do Consumidor em alta. Mais da
metade da população brasileira ainda precisa de uma atividade extra além do
trabalho formal para complementar sua renda, mas o Índice de Confiança do
Consumidor vem crescendo consecutivamente nos últimos meses e apresentando
tendência de pico nos últimos anos, o que mostra que a economia no país está
melhorando. Existe uma correlação estatística alta entre a avaliação positiva
do governo e o Índice de Confiança do Consumidor, portanto, a popularidade de
Lula continua apresentando uma tendência de crescimento, mesmo que pequena.
Além da popularidade de Lula, o bom desempenho da economia também reforça a
posição de Fernando Haddad, ministro da Fazenda, dentro do governo.
Percepção da pobreza diminuiu. A pesquisa do IPEC
também mostrou que a percepção de pobreza nas cidades brasileiras diminuiu. 57%
da população brasileira ainda afirma perceber pessoas em situação de fome ou
pobreza nas cidades, mas o percentual era de 75% na pesquisa realizada em 2022.
Ainda existem muitas pessoas que percebem a pobreza, mas a queda de quase 20
pontos é bastante expressiva.
Popularidade aumenta capacidade de ação do governo.
Para a política e para a opinião pública, a popularidade e a capacidade de ação
do governo são diretamente proporcionais. Um presidente popular acaba sofrendo
menos chantagens do Congresso e, apesar de a chantagem não ser pequena, o
índice de popularidade é um indicador importante, pois essa chantagem poderia
ser ainda maior.
Ø Lula viaja ao Nordeste para levar esperança
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT)
embarcou, nesta quinta-feira (31/8), rumo a Teresina, no Piauí, para a primeira
de uma lista de agendas no Nordeste até o fim de semana, com foco em combate à
fome e ações de infraestrutura ligadas ao novo Programa de Aceleração do Crescimento
(PAC).
Serão visitas a três estados
em dois dias, enquanto o presidente Lula adia a reforma ministerial. O
presidente deve anunciar em breve nova configuração da Esplanada para encaixar
os líderes do PP e do Republicanos, do Centrão, no primeiro escalão do governo
federal.
Nesta quinta-feira, o mandatário abre a programação
com a cerimônia de anúncio dos empreendimentos do PAC no Piauí, às 10h30. Mais
tarde, às 16h, Lula participará do lançamento do plano Brasil Sem Fome,
acompanhado do ministro Wellington Dias, do Desenvolvimento e Assistência
Social.
Uma das pautas mais caras ao presidente Lula, a
agenda de combate à desigualdade social e o acesso adequado à alimentação serão
fio condutor do novo programa do governo, anunciado nesta quinta. O chamado
Brasil sem Fome prevê a retirada do Brasil do mapa da fome até 2030.
Segundo o governo federal, indicadores mais
recentes apontam que em 2022, 33 milhões de brasileiros estavam em situação de
insegurança alimentar no país.
Além disso, o plano tem como metas reduzir anualmente
as taxas totais de pobreza e diminuir a menos de 5% o percentual de domicílios
em insegurança alimentar grave.
Para alcançar os objetivos a iniciativa estabelece
a criação de ações que promoverão aumento da renda para compra de alimentos;
inclusão em políticas de proteção social; bem como a ampliação da produção e do
acesso a alimentos saudáveis e sustentáveis.
O desenho do programa prevê ações em três eixos:
acesso à renda, ao trabalho e à cidadania; alimentação adequada e saudável; e
mobilização para o combate à fome.
Na sexta-feira (1º/9), Lula estará em Fortaleza
(CE) para a cerimônia comemorativa dos 18 anos de criação do Programa Agroamigo
e de 25 anos do Programa Crediamigo, do Banco do Nordeste.
Em seguida, o mandatário segue para o município de
Luís Gomes, no interior do Rio Grande do Norte, onde visitará as obras do Ramal
do Apodi – Túnel Major Sales.
A estrutura no interior do RN faz parte do Ramal do
Apodi, e é associada à transposição do rio São Francisco. Segundo o governo
federal, a conclusão das obras irá beneficiar cerca de 750 mil pessoas em 54
cidades dos potiguares, paraibanas e cearenses.
Na próxima semana, o mandatário planeja fazer um
tour pelo Sudeste, também para o lançamento das obras do novo PAC. Os quatro
estados (SP, RJ, MG e ES) somam a região que mais receberá investimentos do
programa do governo.
A informação foi adiantada por Lula nessa
terça-feira (29/8), quando Lula afirmou que pretende visitar São Paulo e Minas
Gerais.
O petista disse ainda que convidará os governadores
– Tarcísio de Freitas (Republicanos) e Romeu Zema (Novo), respectivamente –
para acompanhá-lo no evento, e alfinetou os chefes do Executivo estaduais que
apoiaram Jair Bolsonaro (PL) nas eleições de 2022.
“Como nós somos civilizados, nós vamos fazer e
convocar o governador”, disse o petista. Nesta quinta-feira, Tarcísio confirmou
à imprensa que pretende aceitar o convite.
Ø Bolsonaro engordou Centrão para Lula engolir
Distante da polarização que dividiu famílias e
tornou o Brasil um caldeirão de pólvora nas eleições de 2022 e cujos efeitos
nas relações pessoais sentimos até hoje, há grupos que em momento nenhum
tiveram seu futuro em risco. Esses estão no Centrão, em especial no PP e no
Republicanos, alas do grupo que abraçam o governo Lula em meio a uma
minirreforma ministerial. Um apoio envergonhado, é bem verdade, mas que deve se
traduzir nos votos preciosos que Lula precisa para tocar uma mínima agenda em
um Congresso hostil.
O Centrão que agora abraça Lula – à exceção da
maioria do PL que pela vinculação mais íntima com Bolsonaro não pode dar as
caras na Esplanada – é o mesmo que foi inflado pelo bolsonarismo, seja nas
negociações que permearam o momento mais difícil do governo anterior, seja nas
urnas. Não fosse o forte voto conservador que impactou a eleição em 2022 – e ao
nosso sistema proporcional –, o PP não teria passado de 38 deputados quatro
anos antes para 47. Nem o Republicanos teria ido de 30 para 41. Foi o
bolsonarismo, com candidatos indelevelmente vinculados a ele espalhados nesses
partidos – quem tornou o Centrão ainda mais “ão” e garantiu que ele tivesse
força suficiente para fazer a difícil balança de um Congresso polarizado pender
agora para o lado do Executivo.
O próprio Bolsonaro, bem depois de ouvir o general
Augusto Heleno cantar que “se gritar pega Centrão não fica um meu irmão”,
afirmou, quando ainda não tinha escolhido o PL para se filiar, que o grupo o
representava ou estava encarnado nele: “Eu sou do Centrão”. Foi uma escolha de
Bolsonaro para sobreviver após esticar a corda com os demais Poderes e começar
a ser massacrado pela oposição no Senado àquela altura. Ao se defender da
incoerência da aliança para alguém eleito como outsider (ainda que nunca tenha
sido), vitaminou os partidos que escancaravam a fantasia do conservadorismo
para surfar no espaço que estava aberto de um país dividido.
Depois de fazê-los crescer, Bolsonaro e seus
aliados convictos também contribuíram para entregar esse espólio a um governo
de esquerda. Primeiro, com o 8 de janeiro, que tornou um pouco mais tóxica a
vinculação ao núcleo do ex-presidente. Depois, com a posição intransigente do
ex-presidente contra a reforma tributária na Câmara. Foi quando a dúvida se
dissipou na cabeça de muitos parlamentares que ainda não sabiam se valia o
desgaste para ingressar no governo atual.
Agora, o Centrão, ou grande parte dele, é Lula. E
não é surpresa para ninguém que isso aconteça. Não bastasse a histórica
vinculação desses partidos com os governos de ocasião, sejam eles quais forem,
dias após a eleição já havia líderes do Centrão admitindo por aí que estar no
Executivo era uma questão de tempo. E que só não se poderia fazer anúncios de
apoio explícitos e imediatos para não melindrar um eleitorado bolsonarista que
havia acabado de alçá-los ao Congresso. A cada dia que passa, porém, o clássico
rebranding do Centrão, que ocorre sempre que há alternância de poder, vai
ganhando corpo.
E ao governo pouco importa o que esses grupos
fizeram nos verões passados. Se na resolução para as eleições de 2024 o PT veda
alianças com bolsonaristas, no governo Lula pode entrar quem abraçou Bolsonaro
na campanha, quem votou pelo impeachment de Dilma Rousseff e até quem até ontem
tinha vergonha de aparecer ao lado do hoje presidente. Se o objetivo é esticar
o apoio, a porta agora está aberta é justamente para quem se elegeu de mãos
dadas com Bolsonaro.
É verdade que na escolha dos ministros –
bizarramente anunciados antes de seus lugares serem definidos – a busca foi por
nomes já próximos a figuras de esquerda. Silvio Costa Filho (Republicanos-PE),
que o nome já entrega ser herdeiro de Silvio Costa, um fiel defensor dos
governos petistas – e André Fufuca (PP-MA), com sua proximidade reconhecida com
Flávio Dino – ajudam a dissolver a desconfiança. Margarete Coelho, a cotada
para assumir a Caixa, porém, tem um bolsonarismo mais carimbado pelas imagens
de campanha. Nesse caso, porém, importa mais é a fidelidade a Arthur Lira, o
homem do destino do governo na Câmara.
A entrada no governo será discreta. Formalmente, se
dando à revelia dos comandos das duas legendas que não querem se indispor com
os conservadores. Oficialmente, quem entra o faz na cota pessoal e por desejo
próprio e não de um grupo. Não é verdade. E nem se espera que esses partidos
entreguem todos os seus votos ao governo, evidentemente. Se mantiverem a taxa
de governismo que ostentam hoje com uma bose dose de emendas e o aval pessoal
de Lira (perto de 70% para cada um deles, e levemente maior no Republicanos),
já será um grande avanço. Nas pautas econômicas e sociais, que fique claro. Nas
ideológicas, de viés progressista, eles não ajudarão em nada. Mas com isso só a
militância petista mesmo se preocupa. Lula, no máximo, simula também se
preocupar, assim como um dia o Centrão simulou se preocupar com Bolsonaro.
Fonte: UOL/Metrópoles/Agencia Estado
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