Crise na América Latina: imigrantes arriscam a vida na selva colombiana
para chegar à fronteira dos EUA
A crise migratória na fronteira dos Estados
Unidos com o México atinge outras partes do continente americano. O Panamá registrou
movimento recorde, com a passagem de 400 mil imigrantes neste ano até setembro.
Segundo o Ministério de Segurança do país, mais da
metade eram crianças e bebês. Muitos são da Venezuela, Equador e Haiti. O
número acumulado de 2023 é quase o dobro do registrado em 2022.
Autoridades da América Latina estão registrando um
aumento exponencial de pessoas em deslocamento. Só em setembro deste ano as
travessias no Panamá aumentaram 20% em comparação com mês anterior.
A principal questão é que a maioria dessas pessoas
usam uma rota perigosa, conhecida como região de Darién, entre a Colômbia e o
Panamá. A passagem é a única que liga por terra as américas do Sul e Central. A
área é uma das rotas mais perigosas do mundo, segundo a Organização
Internacional para as Migrações (OIM).
A travessia pode durar pelo menos dez dias, quando
famílias inteiras são expostas aos perigos da selva. A região também é tomada
por organizações criminosas, com casos de roubo e abuso sexual.
Muitos chegam ao Panamá com fome, desidratados e
precisando de assistência médica. A diretora de Migração da região de Antioquia
e Chocó, na Colômbia, disse que houve um aumento significativo de crianças
fazendo a travessia.
Antes, era comum ver adultos, em sua grande maioria
homens, arriscando a própria vida. Hoje, famílias inteiras fogem de seus países
em busca de melhores condições de vida. Segundo a UNICEF, mais de 40 mil
crianças e adolescentes cruzaram a região de Darién, na primeira metade de
2023.
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Rotas alternativas
Para evitar a rota mais perigosa, aqueles que tem
mais recursos optam por pegar um avião até a Nicarágua e, dali, seguir a pé até
os Estados Unidos. A maioria é de cubanos e pessoas vindas dos mais diversos
países da África.
Segundo a OIM: “Os migrantes africanos e cubanos
escolhem cada vez mais rotas aéreas para chegar aos países da América Central,
evitando a selva de Darién”.
A ONU disse ainda que as causas da imigração em
massa são complexas e variadas. Os principais fatores são a crise econômica
causada pela pandemia da COVID-19, eventos climáticos extremos e instabilidade
política. O fenômeno do El Niño preocupa as autoridades, uma vez que ameaça
agravar ainda mais a crise climática.
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América Latina em movimento
Nesta semana, o presidente do México, Andrés Manuel
Lopez Obrador, convocou uma reunião com ministros das Relações Exteriores de 10
países da América Latina para discutir a crise.
“Não é uma questão que diz respeito apenas ao
México, é uma questão estrutural e precisamos enfrentá-la desta forma”, disse
Obrador.
A medida acontece ao mesmo tempo que o governo
mexicano está enviando ônibus para a fronteira dos Estados Unidos, na tentativa
de transportar essas pessoas para outras regiões do país e do continente. O
movimento interno foi um acordo do México com os Estados Unidos.
O Panamá anunciou no início deste mês medidas para
travar o aumento de imigrantes, incluindo a deportação de pessoas com
antecedentes criminais. O governo panamenho também reduziu o número de dias que
os turistas podem permanecer no país.
Nessa semana, a Costa Rica declarou estado de
emergência por causa da crise migratória. Segundo a OIM, mais de 84 mil pessoas
entraram no país, no mês de agosto. O número representa um aumento de 55% em
relação ao mês anterior. O presidente da Costa Rica, Rodrigo Chaves, pediu
apoio do governo americano para lidar com a crise.
O grande número de imigrantes que estão na
fronteira do México com os Estados Unidos aumentou a pressão sobre a
administração do presidente americano Joe Biden, a medida que a corrida para a
Casa Branca, que acontece no ano que vem, começa a acelerar.
Ø Panamá registra recorde no fluxo de migrantes rumo aos EUA
Mais de 400 mil pessoas atravessaram neste ano
a selva de Darién, no Panamá,
rumo à fronteira entre o México e os Estados Unidos, informou nesta
quinta-feira (28/09) o Ministério panamenho da Segurança Pública.
"Até setembro deste ano a cifra de migrantes
irregulares chegou a 402.030 pessoas", informou a pasta em nota,
acrescentando que mais da metade dessas pessoas eram menores de idade e bebês
de colo.
O número recorde é 62% superior a todo o ano de
2022, quando 248 mil pessoas fizeram a perigosa travessia. Uma estimativa da
ONU divulgada em abril calculava um total de 400 mil migrantes em todo o ano de
2023.
Segundo o ministério, as chegadas diárias ao país
através da fronteira com a Colômbia chegaram a ser de 4 mil pessoas. Os
migrantes são, na maioria, cidadãos de Venezuela, Haiti, Equador e
Colômbia, além de chineses e afegãos.
A fronteira natural de Darién, de 266 quilômetros
de extensão e 575 mil hectares de superfície, se converteu em um corredor
migratório para as pessoas que tentam chegar aos Estados Unidos desde a América
do Sul, através da América Central e do México.
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"Esforço
sobre-humano"
A crise migratória levou o
governo panamenho a instalar centros de cuidados aos migrantes em parceria com
organizações internacionais em diferentes pontos do país de 4,2 milhões de
habitantes.
O ministro da Segurança Pública do Panamá, Juan
Pino, alertou nesta quinta-feira que a capacidade do Panamá de atender os
migrantes já está superada. "Estamos fazendo um esforço
sobre-humano", disse.
Para tentar conter a onda migratória, as
autoridades panamenhas anunciaram no dia 9 de setembro uma série de medidas,
como o aumento das deportações das pessoas que entrarem ilegalmente no país.
Os governos dos EUA, Panamá e Colômbia lançaram em
maio uma estratégia de dois meses de duração para tentar conter o fluxo de
migrantes ilegais. Em maio, Washington anunciou novas políticas que incluíam a
deportação das pessoas em situação irregular e a proibição da reentrada no país
por um período de cinco anos.
Como resultado, as travessias de fronteira
diminuiram inicialmente em até 70%, mas o aumento recente na chegada de
migrantes à fronteira americana sugere que essa estratégia deixou de surtir
efeito.
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Perigos da selva de
Darién
A crise migratória levou o governo da Costa Rica,
outro país de trânsito na América Central, a declarar estado de emergência
nesta semana. O presidente panamenho, Laurentino Cortizo, se reunirá com seu
homólogo costa-riquenho, Rodrigo Chaves, nos dias 5 e 6 de outubro para
discutir a situação.
Margarida Loureiro, do Escritório do Alto
Comissariado das Nações Unidas para Refugiados (Acnur) no Panamá, alertou
recentemente para o fato de que nas redes sociais, a selva de Darién é muitas
vezes mostrada como uma rota simples, o que certamente não é o caso. Até
hoje, não existem rodovias na região, por exemplo.
"Darién é uma selva, é perigosa, há também
grupos criminosos lá dentro, que estupram, matam e roubam", explicou. Um
terço das pessoas que atravessaram o local em agosto de 2023 relataram ter sido
vítimas de abuso, maus-tratos, roubo ou fraude.
"Estamos falando de 31% de 82 mil pessoas.
Elas perderam tudo, documentos, telefones celulares, todos os recursos
econômicos. Há muitas mulheres que foram estupradas, há pessoas que
morreram", disse Loureiro.
Ela afirmou que muitas pessoas também são afetadas
psicologicamente pela experiência traumática de ver corpos pela estrada, Não
há, no entanto, estimativas concretas de quantas pessoas perderam a vida
durante a viagem.
Alguns migrantes cubanos e africanos disseram ter
realizado viagens aéreas para a Nicarágua no intuito de evitar os perigos da
selva de Darién em suas trajetórias rumo à fronteira dos EUA.
Ø Brasil e Bolívia fecham acordo para ponte binacional na Amazônia
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva e seu
homólogo boliviano, Luis Arce, fizeram um acordo nesta quinta-feira (28/09)
para avançar na construção de uma ponte binacional na região amazônica.
Em conversa por telefone, os mandatários trataram
da "construção da ponte sobre o rio Mamoré, com a maior brevidade
possível, levando em conta os interesses das comunidades fronteiriças
locais", informou em nota o Ministério das
Relações Exteriores.
Lula e Arce já tinham analisado o tema durante um
encontro em agosto, à margem da cúpula dos países membros da
Organização do Tratado de Cooperação Amazônica (Otca) em Belém, no Pará.
Para os governos de Brasília e La Paz, é importante
ampliar a infraestrutura para facilitar o desenvolvimento econômico e social da
Amazônia e da longa fronteira binacional de mais de três mil quilômetros.
A construção da ponte foi objeto de um acordo
firmado entre o Brasil e a Bolívia em 2007 e cujo tratamento foi retomado por
equipes técnicas dos países desde o primeiro semestre de 2023.
Ainda na nota do Itamaraty, os Estados
sul-americanos reiteraram a "excelente" relação entre Brasil e
Bolívia, apontando a bilateridade envolve "diversos projetos e iniciativas
voltados para a melhoria da integração física e econômica entre os dois países,
em benefício de suas populações".
Nesse sentido, a pasta informou que, sobre a ponte,
foi acordado que o lado brasileiro apresentará ainda nesta sexta-feira (29/09)
"proposta para consideração pelo lado boliviano que reflita os interesses
de ambos os países e sua posterior ratificação, segundo o estabelecido pelo
Acordo de 2007".
Já o ministro das Obras Públicas da Bolívia, Edgar
Montaño, acrescentou que o calendário relativo ao projeto “continua firme”,
indicando também que haverá uma reunião na sexta-feira e “o que temos que fazer
é obedecer” ao acordo alcançado entre os líderes.
“O Brasil indicou de quatro a seis meses para a
licitação e estão nos prazos correspondentes ao que nós também aqui na Bolívia
colocamos para licitar. Então com certeza o cronograma ainda terá ajustes, mas
o importante é que já começamos”, explicou.
Ponte binacional
O projeto de construção da ponte binacional
Guayaramerín – Guajara – Mirim, sobre o rio Mamoré, data de mais de 100 anos.
Embora houvesse compromisso de execução, o ex-presidente do Brasil Jair
Bolsonaro não deu impulso.
O Brasil retomou os esforços para a construção da
obra, uma dívida histórica que vem do Tratado de Petrópolis de 1903. O projeto
original consiste em uma ponte de 1.200 metros, com um custo de mais de US$ 52
milhões, que será custeada pelo Brasil.
No entanto, o Brasil disse às autoridades
bolivianas que garante um financiamento de até US$ 70 milhões para a construção
da ponte binacional, segundo o responsável pelo Comércio Externo e Integração.
Fonte: CNN Brasil/Deutsche Welle/Opera Mundi
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