quinta-feira, 28 de setembro de 2023

BAHIA VIVE ONDA DE VIOLÊNCIA EM MEIO AO AVANÇO DAS FACÇÕES CRIMINOSAS

Cinco homens foram mortos a tiros e dois ficaram feridos na terça-feira (27), na cidade de Acajutiba, a cerca de 185 km de Salvador. Segundo a Polícia Militar, eles foram baleados em confronto com as forças de segurança.

A Bahia vive uma onda de violência que já deixou 50 suspeitos de crimes mortos em confrontos com a polícia, segundo levantamento do g1. A maioria das mortes ocorreu em bairros periféricos da capital. O governo da Bahia ainda não divulgou o número oficial.

O confronto em Acajutiba ocorreu quatro dias após cinco suspeitos de integrarem facções criminosas serem mortos em Salvador e um em Feira de Santana, durante uma "megaoperação" que prendeu 15 pessoas no bairro de Águas Claras.

De acordo com a PM, equipes das Companhias Independentes de Policiamento Especializado (Cipes) Litoral Norte e Polo Industrial que intensificavam o policiamento em Acajutiba foram acionadas após receberem informações sobre homens fortemente armados, escondidos em um abrigo improvisado em uma área de mata na região conhecida como "Estrada do Cumbe".

Ao chegarem ao local, um cerco foi realizado e houve confronto entre o grupo e os policiais. Depois da troca de tiros, sete homens foram encontrados feridos e levados a uma unidade de saúde da cidade, onde cinco deles morreram.

Na ação, no interior do estado, foram apreendidos uma espingarda de fabricação artesanal, um rifle calibre 22, três revólveres calibres 38 e 32, uma pistola Taurus calibre 765, um saco, um tablete e 43 porções de maconha, 127 pinos de cocaína e 121 embalagens contendo crack.

Todo o material apreendido foi apresentado à delegacia da cidade, onde a ocorrência foi registrada.

Acajutiba tem cerca de 14 mil pessoas, de acordo com dados do Censo de 2022. Apesar de não ficar na região de costa, a cidade integra a região do litoral norte baiano.

•        Onda de violência na Bahia

A Bahia registrou ao menos 51 mortes durante confrontos com a polícia neste mês setembro – 50 delas de suspeitos de envolvimentos com crimes e uma de um policial federal, o agente Lucas Caribé.

A maioria das mortes ocorreram durante operações policiais nos bairros periféricos da capital baiana.

>>>> Veja, abaixo, a cronologia:

•        6 de setembro: sete homens mortos em uma operação policial em Porto Seguro, no extremo sul da Bahia.

•        6 de setembro: o último foragido suspeito de matar 10 pessoas em uma chacina em Mata de São João, Região Metropolitana de Salvador (RMS), foi morto em troca de tiros em Dias D'Ávila, também na RMS.

•        3 a 7 de setembro: 11 suspeitos de integrar facções criminosas foram mortos em troca de tiros com a polícia Militar nos bairros de Alto das Pombas e Calabar, que são vizinhos. Durante os dias de operações, mais de 15 moradores dos bairros foram feitos reféns por suspeitos.

•        10 de setembro: 2 pessoas foram mortas no Engenho Velho da Federação, bairro que fica próximo ao Alto das Pombas e Calabar.

•        15 de setembro: 4 suspeitos e um policial federal foram mortos no bairro de Valéria, durante uma operação da Polícia Civil em conjunto com a Polícia Federal.

•        16 a 21 de setembro: 10 suspeitos de envolvimento na ação que resultou na morte do policial federal foram mortos em Salvador e cidades da região metropolitana.

•        22 de setembro: 5 suspeitos de integrarem facções criminosas foram mortos em Águas Claras, bairro de Salvador, e 1 foi morto em Feira de Santana, cidade a 100 km da capital baiana.

•        23 de setembro: 5 suspeitos mortos após dois confrontos com policiais militares na madrugada deste sábado (23), na cidade de Crisópolis, a cerca de 212 km de Salvador.

•        26 de setembro: 5 suspeitos mortos e dois feridos após troca de tiros com policiais militares em Acajutiba, a 185 km da capital baiana.

>>>> Fuzis apreendidos e atuação de facções

O secretário de Segurança Pública da Bahia, Marcelo Werner, afirmou que a guerra entre facções é a principal causa da violência no estado.

O advogado Luiz Henrique Requião, especialista em ciências criminais e presidente do Tribunal do Júri baiano da Associação Nacional da Advocacia Criminal (ANACRIM/BA), afirma que as facções criminosas em Salvador e em cidades do interior da Bahia sempre existiram, mas passaram a ganhar força e se enfrentar após se juntarem com grandes grupos criminosos de fora do estado.

Apesar da escalada da violência no estado, o número de fuzis apreendidos até setembro deste ano mais que dobrou em relação a 2022. Segundo a Secretaria de Segurança Pública da Bahia (SSP-BA), até esta segunda-feira (25), 48 armas deste tipo foram apreendidas. Entre janeiro e dezembro do ano passado, foram apreendidos 22 fuzis.

Apesar do número alto de mortes em setembro, a realidade da insegurança não é novidade na Bahia. Em 2022, o estado liderou o ranking de mortes violentas no país, com quase 7 mil assassinatos, de acordo com o Fórum Brasileiro de Segurança Pública. O número representa 50 casos a cada 100 mil habitantes.

Ainda segundo o Fórum, 1.464 dessas mortes aconteceram em confrontos policiais – uma média de 122 por mês. O estado da Bahia também foi o que mais matou pessoas em intervenções policiais no ano passado, seja de agentes em serviço ou fora dele. Esse número saltou de 1.335 em 2021, para 1.464 mortes em 2022. O órgão não dispõe de dados referentes ao ano de 2023.

Embora não tenha detalhado números, a Secretaria de Segurança Pública da Bahia informou, em nota que, de janeiro a agosto deste ano, as intervenções policiais com resultado morte apresentaram redução de 4,3%, em comparação com o mesmo período do ano passado.

 

       Governador volta a descartar intervenção federal na Bahia e fala em  'guerra contra o crime'

 

O governador Jerônimo Rodrigues voltou a negar nesta quarta-feira (27) que a possibilidade de intervenção federal na segurança da Bahia está descartada. “Eu nomeei um secretário de Segurança Pública, Marcelo Werner, que é da Polícia Federal. E um dos objetivos dele é dialogar com a PF. Nem imaginávamos que fosse acontecer o que está acontecendo, de ocupação, tentativa de ocupação, de facções criminosas. Não tenho problema. Na hora que precisar fazer qualquer tipo de parceria, nós faremos“, disse o governador. “Agradeço a preocupação de vocês, se é essa, em ficar repetindo diálogo sobre intervenção. Mas está descartada nesse momento“, acrescentou ele, que falou durante um evento para lançamento de editais de cultura no estado.

Jerônimo diz que mantém diálogos com os ministros Flávio Dino e Rui Costa e o presidente Lula. “Existem outros estados que estão também com dificuldade, inclusive no Nordeste. Estamos em guerra  contra o crime, as drogas, o uso de armas que um presidente irresponsável canetou, liberou e soltou“, acrescentou, em referência ao ex-presidente Jair Bolsonaro. Segundo Jerônimo, as autoridades apreendem uma média de cinco fuzis por mês na Bahia.

O petista afirmou que o Estado não vai “baixar a guarda“. “Temos tido operações constantemente“, acrescentou. Ele falou dos dias que passou em Brasília em reuniões. “Avaliamos o cenário nacional para entender mais como a Bahia entra nesse circuito de violência. É sim uma investidura das facções criminosas que estão se espalhando, saindo de lugares  em que já atuavam e ocupando novos lugares, e o Nordeste tem sido espaço escolhido para isso“, acrescentou. “Planejamos uma ação que está se desdobrando. Hoje à tarde chega o secretário nacional de segurança pública. Amanhã chega o secretário nacional que trabalha com presídios. Vamos fazer avaliação com nossas equipes sobre o que precisamos fazer para continuar contendo qualquer tipo de investimento das facções e ações criminosas“.

Ele acrescentou que outras frentes são importantes e o papel da Cultura é relevante. “Aqui uma ação dentro de uma escola, uma comunidade importante para Salvador, Sussuarana“, disse.

 

       Audiência pública debaterá redução da letalidade policial na Bahia

 

O Ministério Público do Estado da Bahia, por meio do Grupo de Atuação Especial Operacional de Segurança Pública (Geosp); o Conselho Estadual de Proteção aos Direitos Humanos (CEPDH) e a Defensoria Pública estadual promoverão audiência pública, no próximo dia 2 de outubro, para debater as políticas públicas de enfrentamento aos índices de letalidade policial verificados na Bahia. A audiência ocorrerá a partir das 14h, na sede do MP, no bairro de Nazaré, em Salvador. O acesso ao público se dará a partir das 13h até a lotação do espaço.

A audiência subsidiará o MP na instrução do procedimento administrativo instaurado no dia 22 de setembro deste ano, que tem como objetivo fomentar a criação e implementação de um plano estadual de redução de mortes decorrentes de intervenção policial. O plano contará com a colaboração de Comitê Interinstitucional para diagnóstico e discussão da temática. Será realizada uma escuta qualificada das instituições representativas da sociedade civil organizada, movimentos sociais, entidades governamentais, setor acadêmico e cidadãos em geral.

Por meio do procedimento administrativo, o MP pretende debater o enfrentamento da violência policial não apenas sob o enfoque repressivo e individual, mas também de maneira preventiva e sistêmica, pelo acompanhamento e fiscalização de diversos eixos das políticas de segurança pública.

 

Fonte: g1/Correio/Tribuna da Bahia

 

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