Projeto Comprova: Declaração de Élcio de Queiroz sobre trabalho em
prefeitura do PT é tirada de contexto
Conteúdo investigado: Posts nas redes sociais afirmam que Élcio Vieira de
Queiroz, que confessou participação nas mortes da vereadora Marielle Franco e
do motorista Anderson Gomes, trabalhava para o deputado federal Lindbergh
Farias (PT).
* Onde foi publicado:
- Twitter e Facebook.
·
Contextualizando:
- Élcio Vieira de Queiroz afirmou em 2019, ao
prestar depoimento para o Ministério Público do Estado do Rio de Janeiro, que havia sido “assessor do PT” em Nova Iguaçu (RJ) durante a gestão
de Lindbergh Farias (PT), atualmente deputado federal.
A declaração foi feita enquanto ele alegava não ter
nada contra partidos de esquerda, ao ser questionado sobre ter feito pesquisas
online envolvendo colegas de partido de Marielle Franco (PSOL). A afirmação tem
sido usada recentemente em posts que insinuam participação do político e do PT
no crime investigado.
Queiroz foi funcionário da prefeitura de Nova
Iguaçu, onde ocupou cargo em comissão de gerente de divisão na antiga Secretaria
Municipal da Cidade (SEMCID), entre novembro de 2008 e fevereiro de 2010. O
deputado reconhece que o ex-PM fez parte do quadro de servidores da prefeitura,
mas nega conhecê-lo pessoalmente, argumentando que havia mais de 8 mil
funcionários no município.
Em delação premiada firmada recentemente
por Queiroz com a Polícia Federal (PF) e com o Ministério Público do Rio de Janeiro
(MPRJ), o ex-policial não cita o nome de Lindbergh Farias e nem o PT. Ao
Comprova, o Ministério da Justiça e Segurança Pública (MJSP) informou que o
deputado-federal não aparece nas investigações sobre os assassinatos.
* Como o post pode ser interpretado fora do
contexto original:
- O trecho do depoimento de Élcio de Queiroz, no
qual ele cita Lindbergh Farias, vem sendo utilizado desde 2019 fora de contexto
em posts que têm o intuito de associar o nome do deputado federal e o PT ao
crime, embora nenhum deles apareça nas investigações. Uma nova onda de
conteúdos desta natureza surgiu a partir das notícias da prisão do ex-sargento do Corpo de Bombeiros Maxwell Simões Corrêa, o Suel, e da delação premiada de Queiroz, em 25 de julho. Os posts
desinformam ao compartilharem a informação do depoimento de Queiroz sem contextualizá-la
no momento em que novidades sobre o caso estão sendo noticiadas.
* O que diz o responsável pela publicação:
- O Comprova não conseguiu contato com o perfil
@Rpereir63156988 pelo Twitter e também não encontrou correspondência da conta
em outras redes sociais.
Queiroz trabalhou na Prefeitura de Nova Iguaçu, mas
deputado nega conhecê-lo
Em 2019, ao prestar depoimento ao Ministério Público
do Estado do Rio de Janeiro, Élcio de Queiroz afirmou não ter antipatia por
governos de esquerda, informando ter sido, inclusive, “assessor do PT em Nova
Iguaçu, quando o prefeito era Lindbergh”. Em seguida, ele elogiou o político.
“Foi o melhor patrão que já tive, pagava muito bem seus funcionários, não tem
nada que falar da esquerda.”
Conforme o Estadão, a fala de Queiroz sobre
Lindbergh Farias é uma resposta a um questionamento do Ministério Público sobre
os motivos que o levaram a pesquisar, com frequência, sobre colegas de partido
de Marielle na internet. O acusado argumenta que era pelo fato de eles serem
políticos no Rio de Janeiro e alega que também fazia buscas por representantes
de outros partidos, acrescentando concordar com algumas pautas da esquerda.
Ainda em 2019, quando divulgado o teor do
depoimento, Lindbergh Farias afirmou em sua conta no Twitter que Élcio de Queiroz
nunca foi seu assessor e que não lembrava dele, acrescentando que iria
verificar se o acusado havia trabalhado na prefeitura, mas adiantando que, de
qualquer forma, a resposta seria irrelevante. O deputado apontou, ainda, que
Queiroz teria postura direitista.
A prefeitura de Nova Iguaçu informou à reportagem
que Elcio Vieira de Queiroz ocupou cargo em comissão de gerente de divisão na
antiga Secretaria Municipal da Cidade (SEMCID), entre novembro de 2008 e
fevereiro de 2010, quando Lindbergh Farias era prefeito, com salário bruto de
R$ 1.276,99.
No dia 26 de abril, ao discutir com o deputado bolsonarista André Fernandes (PL-CE) durante a sessão que criou a Comissão Parlamentar Mista de
Inquérito (CPMI) de 8 de janeiro, o deputado reconheceu que Queiroz foi
funcionário na administração dele em Nova Iguaçu, mas alegou nunca tê-lo visto.
Ao Comprova, o deputado informou que Queiroz
trabalhou na prefeitura, e não para o PT, em decorrência de um programa que
fazia a contratação direta de policiais, em seus horários de folga, para
fazerem policiamento no centro da cidade. “Nunca conversei com esse cara, não
conheço ele (…). Nova Iguaçu tem mais de 8 mil funcionários, é uma cidade de 1
milhão de habitantes”, declarou.
O Comprova questionou o Ministério da Justiça e
Segurança Pública (MJSP), a Polícia Federal e a Polícia Civil do Rio de Janeiro
se o político é ou foi considerado suspeito no caso em algum momento. A
assessoria de imprensa do MJSP informou que o nome de Lindbergh Farias não
aparece nas investigações. Os demais órgãos não responderam.
Em 18 de abril, a Sexta Turma do Superior Tribunal
de Justiça (STJ) decidiu que os familiares das vítimas deveriam ter
acesso ao inquérito sigiloso que tenta chegar aos mandantes do crime. A
reportagem procurou advogados que acompanham a família de Anderson,
questionando se eles já acessaram o conteúdo e, caso sim, se há qualquer menção
a Lindbergh entre os investigados, mas eles não retornaram.
O mesmo foi feito junto à assessoria da Defensoria
Pública do Rio de Janeiro, que representa a família de Marielle. O órgão
informou ao Comprova não poder passar esse tipo de informação por se tratar de
um processo que corre em sigilo.
Também foram procurados os advogados que fizeram a
defesa de Queiroz, mas eles não responderam às mensagens. No último dia 24,
o escritório que o representava emitiu uma nota informando ter deixado o caso após o ex-PM firmar delação premiada com a Justiça, ato que os
advogados desconheciam.
O que se sabe sobre as mortes de Marielle e
Anderson até agora?
No início de 2023, cinco anos após o crime, apenas
Ronnie Lessa e Élcio de Queiroz estavam presos, apontados como executor do
crime e o motorista, respectivamente. Ainda sem respostas sobre a motivação e
quem seria o mandante, o ministro da Justiça e Segurança Pública Flávio Dino requisitou que a Polícia Federal no Rio abrisse um inquérito para dar continuidade às investigações, que eram até então de
responsabilidade da Polícia Civil do Rio de Janeiro.
No dia 24 de julho, a PF e o Ministério Público do
Rio de Janeiro (MPRJ) prenderam o ex-bombeiro Maxwell Simões Corrêa, o Suel, na Operação Élpis. Esta foi a primeira operação desde quando
a PF assumiu a investigação.
No mesmo dia, foi noticiada a delação premiada
firmada entre Queiroz e o Ministério Público, homologada pela Justiça. Negando
envolvimento no crime desde 2019, ele decidiu confessar a participação na execução da
ex-vereadora e do motorista dela. Queiroz informou que dirigia o veículo usado
no duplo homicídio, além de ter participado do planejamento do ato.
Segundo o ex-PM, no dia do crime, ele recebeu uma
mensagem de Lessa ao meio-dia dizendo que precisaria que dirigisse para o
policial reformado à noite.
Depois, os dois se encontraram na casa de Lessa às
17h e saíram em seguida, no carro do amigo, seguindo até uma rua sem saída,
onde entraram em um Chevrolet Cobalt prata.
Com esse veículo eles seguiram para o Centro e
passaram a acompanhar os passos de Marielle. Entre 21h09 e 21h12, diz a
confissão, eles emparelharam o carro junto ao que estava a vereadora e Ronnie
disparou os tiros.
Segundo a delação, a submetralhadora MP5 utilizada
no crime supostamente foi extraviada de um incêndio no Batalhão de Operações
Especiais (Bope) da Polícia Militar do Rio de Janeiro, nos anos 1980.
>>> Quem é Élcio de Queiroz
Élcio Queiroz é um ex-sargento da Polícia Militar do Rio de Janeiro. Ele foi expulso em 2015 por fazer segurança ilegal em uma casa de
jogos de azar na capital fluminense. O ex-PM foi preso em março de 2019, um ano
após os assassinatos da vereadora do Rio Marielle Franco e do motorista
Anderson Gomes.
De acordo com o Estadão, o ex-sargento tem um histórico de envolvimento
com grupos paramilitares, conhecidos como milícias, no Estado. Foi um dos 45
integrantes das Polícias Civil e Militar do Rio presos na Operação Guilhotina por envolvimento em
corrupção, participação em milícias, desvio de armas e venda de proteção a
bicheiros, narcotraficantes e contrabandistas. Na época, Queiroz atuava no 16º
BPM, em Olaria, na Zona Norte.
Antes de ser preso pela PF na primeira vez, cerca
de sete anos antes da execução de Marielle, Queiroz já era monitorado pelo
setor de inteligência da Polícia Civil do Rio. Setores da polícia chegaram a
informações, repassadas por uma fonte protegida, de que o ex-policial faria
parte de um grupo de extermínio e atuaria como miliciano desde 1998, na região
de Quitungo, Brás de Pina, Vila da Penha e Cordovil, bairros da Zona Norte.
Queiroz é amigo de Ronnie Lessa. Segundo a PF, os dois se
conhecem há mais de 30 anos. Durante a infância e adolescência, Queiroz morava
na mesma rua que a esposa de Lessa. Eles se conheceram quando Lessa começou a
namorar a atual esposa e passou a frequentar o local. Desde então, a relação
entre os dois só se fortaleceu. Eles voltaram a se encontrar nos quadros da PM.
Atualmente, o ex-policial militar está preso em uma
unidade de segurança máxima do Complexo Penitenciário da Papuda. Ele foi transferido da Penitenciária Federal de Brasília na noite
de 25 de julho. Antes disso, ele esteve preso em Porto Velho, em Rondônia.
* Alcance da publicação:
- O Comprova investiga os conteúdos suspeitos com
maior alcance nas redes sociais. Até o dia 28 de julho, a publicação somava
42,8 mil visualizações e mais de 2 mil curtidas no Twitter.
* Como verificamos:
- A partir da cobertura da imprensa e buscas nas
redes sociais, o Comprova reuniu informações sobre o assassinato de Marielle
Franco e Anderson Gomes, a delação de Queiroz (Estadão, G1 e O Globo), além da relação do ex-PM com o deputado federal
Lindbergh Farias (Estadão, O Globo e Twitter).
Também entrou em contato com as assessorias de
imprensa da Defensoria Pública do Rio de Janeiro (DPE-RJ), que representa
Marielle Franco, da prefeitura de Nova Iguaçu, do Ministério da Justiça e
Segurança Pública (MJSP) e da Polícia Civil do Rio de Janeiro. Por fim, o
Comprova tentou conversar com o escritório que fazia a defesa de Élcio Queiroz
e falou com o deputado Lindbergh Farias.
·
Por que investigamos:
- O Comprova monitora conteúdos suspeitos
publicados em redes sociais e aplicativos de mensagem sobre políticas públicas
e eleições no âmbito federal e abre investigações para publicações que
obtiveram maior alcance e engajamento e que induzem a interpretações
equivocadas. Você também pode sugerir verificações pelo WhatsApp +55 11 97045-4984.
* Outras checagens sobre o tema:
- Em 25 de julho, a agência Aos Fatos publicou um material explicando as principais novidades sobre o
caso de Marielle e Anderson Gomes desde a delação de Queiroz.
Recentemente, o Comprova divulgou um conteúdo contextualizando um vídeo de 2019 do senador Randolfe Rodrigues pedindo
impeachment de ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) e outro mostrando que fala de Ciro sobre fraude nas eleições de 2022 era crítica a Lula e
Bolsonaro, e não denúncia contra sistema eleitoral.
Fonte: Agencia Estado
Nenhum comentário:
Postar um comentário