Lula pode extinguir
pensão de filhas de militares. Um penduricalho imoral
Enquanto
busca estabelecer pontes com quadros das Forças Armadas, aparelhada durante o
governo Jair Bolsonaro (PL), Lula tem em suas mãos uma oportunidade histórica
de acabar com uma das maiores mamatas mantida por militares, que lesa o governo
em milhões de reais - em 2020, o custo das pensões a viúvas e filhas de
militares chegou a R$ 582 milhões.
Nesta
quarta-feira (5), a Comissão de Direitos Humanos (CDH) do Senado enviou à
Presidência da República um parecer sobre uma consulta pública feita pelo
e-Cidadania em que 57.392 brasileiros apoiam o fim das pensões.
Pela
legislação, proposições que somem o apoio de mais de 20 mil em um intervalo de
4 meses sejam apreciadas pela Casa.
O
parecer, relatado pelo bolsonarista Carlos Viana (Podemos-MG), afirmou, no
entanto, que um projeto para acabar com as pensões deve partir da própria
Presidência, que pode optar se elabora ou não um projeto sobre o tema.
Na
casa não há nenhum projeto que trate do tema e agora caberá a Lula decidir se
envia ou não uma proposta a ser votada. Atualmente, o benefício às filhas dos
militares é válido apenas para quem adquiriu o direito até 2000, quando a
legislação restringiu o benfício aos parentes dos oficiais, o que vem causando
uma redução nos pagamentos. Uma nova proposta, no entanto, acabaria de vez com
o pagamento àqueles que já receberem - embora cause um embaraço jurídico para o
governo em razão do direito adquirido.
A
base governista, no entanto, vê uma pegadinha de Viana e de bolsonaristas para
tentar minar a tentativa de aproximação de Lula dos militares.
Presidente
da CDH, o senador Paulo Paim (PT-RS) salienta o caráter "sensível" da
proposta. “Cumprimento Vossa Excelência [pelo relatório]. Quanto ao tema,
pode-se ver que é um tema delicado, né”, disse o petista, dirigindo-se a Viana.
Um
parecer relatado por Carlos Viana (Podemos-MG) concluiu que o tema é de
“iniciativa privativa” do presidente da República, ou seja, cabe a Lula decidir
se elabora um projeto de lei para revisar as pensões ou não.
A
proposta faz parte de uma sugestão de lei protocolada no programa e-Cidadania
do Senado. A legislação prevê que todas as proposições que somem o apoio de 20
mil brasileiros em um intervalo de quatro meses sejam apreciadas pela Casa. O
fim das pensões, defendido pelo blogueiro Lucas Eduardo Almeida Cobra, recebeu
o apoio de 57.392 pessoas e tramitava desde 2019.
Na
prática, a decisão do Senado não deverá representar uma grande dor de cabeça
para o Palácio do Planalto no momento em que Lula tenta restabelecer uma
relação de confiança com as Forças Armadas após os atentados do 8 de janeiro. O
texto não é de nenhum parlamentar da base aliada – e o governo não tem prazo
para analisá-lo.
Ainda
assim, a proposta agora cairá no colo do governo Lula graças ao parecer do
oposicionista Viana. Nas últimas eleições, Viana foi candidato ao governo de
Minas Gerais pelo PL de Jair Bolsonaro, amargando um terceiro lugar – com
apenas 7,23% dos votos.
No
seu relatório, Viana sustentou que o Congresso não poderia legislar sobre
direitos militares citando um artigo da Constituição que confere ao chefe do
Poder Executivo a elaboração de projetos de lei que tratem sobre militares das
Forças Armadas no âmbito de “seu regime jurídico, provimento de cargos,
promoções, estabilidade, remuneração, reforma e transferência para a reserva”.
O
senador mineiro também argumentou que a legislação sobre pensões militares vem
restringindo os benefícios aos parentes de oficiais nas últimas décadas – como,
por exemplo, a pensão vitalícia para filhas solteiras, hoje válida apenas para
quem adquiriu o direito até a implementação da legislação atual, em 2000.
Nos
últimos anos, a discussão em torno das pensões de oficiais das Forças Armadas
recebeu maior escrutínio público. Embora as legislações que tratam o tema
tenham passado por diversas reformulações nos últimos anos, o tópico ainda levanta
debates e críticas para além da abrangência familiar da sugestão avaliada na
CDH.
Em
2019, a reforma previdenciária dos militares elaborada pelo governo Jair
Bolsonaro provocou controvérsia por estabelecer uma pensão vitalícia aos
cônjuges de integrantes das Forças Armadas expulsos por terem cometido crimes,
equivalente ao salário integral do oficial. O benefício é equiparado à pensão
por viuvez, uma vez que o militar punido é dado como morto.
O
próprio presidente da CDH, o petista Paulo Paim (RS), admitiu o caráter
sensível da proposta de acabar com pensões de filhos de militares ao
parabenizar o colega mineiro pelo relatório.
“Cumprimento
Vossa Excelência [pelo relatório]. Quanto ao tema, pode-se ver que é um tema
delicado, né”, disse Paim. “O senador desmistificou o que realmente acontece
com a pensão de filhos militares”.
Ao
encaminhar a sugestão para o Planalto, Viana avaliou que o Executivo só tem
espaço para ampliar a restrição às pensões em um cenário específico: filhos de
militares que ainda estão vivos, ingressaram nas Forças Armadas até dezembro de
2000 e optaram à época pela contribuição previdenciária adicional de 1,5% da
renda.
O
senador pontuou que a mudança exigiria, no entanto, o ressarcimento das
parcelas da contribuição adicional pagas por cada oficial desde 2000.
“Esse
ressarcimento demandaria análise de impacto orçamentário-financeiro, nos termos
do artigo 113 do Ato das Disposições Constitucionais Transitórias (ADCT), e não
se sabe se, ao cabo, a proposta seria acolhida pelo governo”, frisou o senador.
Nós
perguntamos ao Ministério da Defesa a posição da pasta sobre a sugestão
encaminhada pelo Senado ao presidente Lula, mas não recebemos retorno até a
publicação deste texto.
Reforma trabalhista de Temer piorou
trabalho doméstico
A
informalidade sempre foi uma característica marcante e estrutural do mercado de
trabalho brasileiro e no âmbito do emprego doméstico. Mas, na última década,
entre 2012 e 2022, a informalidade no emprego doméstico cresceu ainda mais,
aprofundando a desproteção social desse grupo vulnerável e dando sinais de mais
precarização do mercado de trabalho. Hoje, de cada quatro trabalhadores
domésticos no país, três não contam com a proteção da carteira de trabalho
assinada. Um reflexo das desigualdades de raça e gênero do país, tendo em vista
a grande predominância de mulheres negras ocupadas no trabalho doméstico.
O
Brasil não consegue solucionar atrasos estruturais históricos em um cenário que
ainda assiste ao surgimento de novas formas de trabalho atípico, como o das
plataformas digitais, que adicionam elementos de fragilização em um já
debilitado mundo laboral.
Considerando
como indicador a participação do emprego doméstico sem carteira assinada no
total de empregos, a informalidade atingiu o patamar mais elevado nos anos de
2021 e 2022 (de 74,8%) para todo o período de 2012 a 2022, quando se considera
as médias anuais da PNAD Contínua. O referido percentual é superior ao
observado nos anos de 2012 (68,6%), 2016 (66,8%) e 2019 (71,7%). A
informalidade, que já dava sinais de aumento a partir de 2017, acabou se
agravando com os efeitos da pandemia e, considerando as médias anuais, se
encontra em patamar superior ao de 2012.
Em
que pese a recuperação do emprego doméstico com e sem carteira assinada no ano
de 2022, em função da atenuação dos impactos da pandemia, o nível de emprego
doméstico com carteira em 2022 ainda era inferior não apenas ao observado antes
da pandemia, no ano de 2019 (-14,8%), como também ao registrado nos anos de
2012 (-22,1%) e 2016 (-26,6%). Também chama atenção que a retração do trabalho
doméstico com carteira de trabalho assinada no período entre 2012 e 2022 tenha
ocorrido de forma mais intensa nas regiões mais ricas do país, ou seja, no
Sudeste (- 27,3%) e no Sul (- 25,4%).
Em
todas as regiões do país, a participação do trabalho doméstico sem carteira, em
2022, era superior ao observado no ano de 2012 e 2019 para todas as grandes
regiões do país, inclusive, as mais ricas. No Sudeste cresceu de 61,3% para 70%
entre 2012 e 2022. No Sul, de 63,6% para 73,1% no mesmo período. Contudo, em
2022, as regiões com maior informalidade ainda eram Norte (86,8%) e Nordeste
(84,1%).
Esses
dados também indicam que a política de permitir o desconto da contribuição
patronal do empregador doméstico no imposto de renda, que durou de 2006 a 2019,
não foi eficaz para formalizar em larga escala o trabalho doméstico no país,
provavelmente, porque quem se beneficiou da mesma foram justamente aqueles que
já assinavam a carteira dos seus trabalhadores, sendo bem menos efetiva para
estimular novas formalizações. A duração dessa medida, por tanto tempo, sem
qualquer impacto positivo sobre a formalização, também denota a falta de uma
cultura de avaliação das políticas públicas com maior profundidade no Brasil.
Ainda assim, há proposições legislativas que buscam reativar essa política.
Outro
aspecto que denota a necessidade de buscar soluções mais céleres a esses
problemas estruturais é o processo de envelhecimento populacional que está
gerando impactos sobre a estrutura demográfica da população ocupada e dos
trabalhadores domésticos. Entre o quarto trimestre de 2012 e o mesmo período de
2022, a idade mediana de trabalhadores domésticos sem carteira saltou de 39
para 44 anos, mostrando que esse grupo está envelhecendo.
Passados
cerca de 10 anos do avanço civilizatório da Emenda Constitucional nº 72, de 2
de abril de 2013, que permitiu grandes avanços nos direitos sociais das
trabalhadoras e trabalhadores domésticos no Brasil, bem como a sua
regulamentação por meio da Lei Complementar 150, em 2015, e a ratificação da
Convenção 189 da OIT sobre trabalho doméstico, certamente há que se comemorar
os avanços em termos de legislação. Contudo, ainda existem grandes desafios
para garantir proteção social efetiva a trabalhadoras e trabalhadores
domésticos no país. Também deveria ficar evidente que, em que pese a
necessidade de buscar inovações de política pública, o problema da elevada
informalidade do trabalho doméstico no Brasil também demanda mudança cultural
profunda da nossa sociedade.
Estratégia do governo acelerou reforma
tributária
Para
mostrar mais uma vez a insatisfação com o governo Lula (PT), deputados
conseguiram atrasar a votação de projetos econômicos importantes para o Palácio
do Planalto.
Eles
fizeram isso para dar celeridade à votação da PEC (Proposta de Emenda à
Constituição) da reforma tributária — o presidente da Câmara, Arthur Lira
(PP-AL), disse que o primeiro turno será votado nesta quinta, a partir das 18h.
Governistas
priorizavam o projeto de lei do Carf (Conselho Administrativo de Recursos
Fiscais). Inicialmente, a ordem de votação que estava sendo discutida seria
votar primeiramente o Carf, que tem urgência constitucional e tranca a pauta
(outras matérias não podem ser votadas). O ministro da Fazenda, Fernando Haddad,
considera a aprovação do PL do Carf fundamental para fechar as contas do
governo neste ano.
Depois
do Carf, seria a votação do novo arcabouço fiscal. Ele já foi aprovado na
Câmara, mas recebeu mudanças no Senado, e os deputados precisam apreciar essas
alterações. A reforma tributária seria o terceiro item para votação, mas passou
à frente após um acordo costurado ontem no Congresso.
Segundo
o regimento da Câmara, o trancamento de pauta por projetos com urgência
constitucional, como é o caso do Carf, não atinge PECs. É o presidente da Casa
quem escolhe a ordem de votação das propostas e a pauta que vai ao plenário.
Lira conseguiu reverter o cenário desfavorável para a PEC da reforma tributária
nos últimos dias.
Aliados
do presidente da Câmara afirmaram à reportagem que não houve empenho de
interlocutores do governo Lula pela votação da proposta. Ficou a cargo de Lira
as negociações para mudanças no texto, segundo fontes da Casa.
O
ministro Haddad teve “boa vontade” e sinalizou interesse em conversar com as
bancadas. Entretanto, os relatos de falta de engajamento do governo em torno da
tributária reforçavam nos corredores que a prioridade do Planalto era apreciar
os projetos do Carf e das novas regras fiscais.
Parlamentares
do centrão ainda criticam a relação do governo Lula com a Câmara. Entre as
reclamações estão: o atraso no pagamento de emendas, a falta de articulação nas
bancadas e de diálogo entre o Planalto e o Congresso Nacional.
Por
isso, priorizar a reforma tributária seria dar o recado de que o governo
precisa melhorar a relação com os congressistas.
Há
líderes que já falam sobre deixar a votação do arcabouço fiscal apenas para
agosto, reconhecendo um “esforço” na possível votação do Carf.
Para
governistas, a distância do governo na articulação pela reforma tributária foi
“positiva”, porque evitou a politização do tema. Foi feito um acordo com o
relator, o deputado Aguinaldo Ribeiro (PP-PB), para fazer alterações no texto.
Para
avançar com a reforma, governadores e presidentes de partidos políticos fizeram
ontem uma força-tarefa para articular a votação. Isso destravou a votação e o
plenário iniciou a discussão.
• Tributos serão extintos
Cinco
impostos serão eliminados: IPI (federal), PIS (federal), Cofins (federal), ICMS
(estadual) e ISS (municipal). Serão criados dois IVAs (Imposto sobre Valor
Agregado): o Imposto sobre Bens e Serviços (IBS), que substituirá o ICMS dos
Estados e o ISS dos municípios; e a Contribuição sobre Bens e Serviços (CBS),
que vai unificar os tributos federais: PIS, Cofins e IPI, com base ampla e não
cumulatividade plena na cadeia de produção — ou seja, sem tributação em
cascata.
• Local de cobrança muda
O
imposto será cobrado no destino (local do consumo do bem ou serviço), e não na
origem, como é hoje.
Haverá
desoneração de exportações e investimentos.
Haverá
um Imposto Seletivo. Incidirá sobre a produção, comercialização ou importação
de bens e serviços prejudiciais à saúde ou ao meio ambiente, como cigarro e
bebidas alcoólicas. Será usado para manter a Zona Franca de Manaus.
• Previsão de três alíquotas
Haverá
a alíquota única, como regra geral, uma alíquota reduzida em 50% e uma alíquota
zero para medicamentos, Prouni e produtor rural pessoa física.
Oito
grupos de produtos e serviços terão alíquota reduzida em 50%. São eles:
-Serviços
de transporte público coletivo urbano, semiurbano ou metropolitano;
-
Medicamentos;
-
Dispositivos médicos;
-
Serviços de saúde;
-
Serviços de educação;
Produtos
agropecuários, pesqueiros, florestais e extrativistas vegetais in natura;
-
Insumos agropecuários, alimentos destinados ao consumo humano e produtos de
higiene pessoal;
-
Atividades artísticas e culturais nacionais.
A
nova versão do texto apresentada pelo relator trouxe modificações de transição
para o novo sistema tributário e a criação de uma Cesta Básica Nacional com a
relação de produtos básicos que terão alíquota zero.
Uma
lei complementar definirá quais serão os “produtos destinados à alimentação
humana” que integrarão a cesta, segundo o parecer. Na primeira versão, Ribeiro
tinha estabelecido que os itens da cesta básica teriam desconto de 50% na
tributação.
Ainda
segundo o texto, o período de transição para o novo modelo começará em 2026,
com a cobrança de 0,9% do CBS e 0,1% de IBS. A partir de 2033, os impostos
atuais serão extintos e passará a valer a nova tributação.
Caiado teme que reforma tributária onere
empresários
No
início da semana, os governadores pareciam bem contrariados com o texto da
reforma tributária. Ontem, porém, o paulista Tarcísio de Freitas
(Republicanos), o fluminense Cláudio Castro (PL) e outros que são considerados
oposição ao governo federal se declararam favoráveis à Proposta de Emenda
Constitucional (PEC) do relator, deputado Aguinaldo Ribeiro (PP-PB).
A
principal resistência vem hoje do governador de Goiás, Ronaldo Caiado (União).
“Eu cumpri uns seis mandatos no Congresso Nacional e jamais vi tamanho
desrespeito federativo e nunca imaginei que o Congresso se propusesse a votar
matéria tão desrespeitosa aos entes federados”, reclamou Caiado à coluna.
O
governador mantém várias críticas ao texto da reforma.
“A
pessoa que optou pelo Simples sobrevive porque paga 3% de imposto. Mas e a
média e pequena empresa que ficam fora do Simples, como vão pagar 35%?”,
questiona, referindo-se à alíquota prevista no novo sistema de impostos.
Caiado
cita também o encarecimento do custo de vida como outra consequência ruim.
“Esse é um país que tem diferenças regionais enormes e condições sociais
totalmente diferentes. Como aumentam a carga tributária em cesta básica?”.
Ele
não concorda com os que andam dizendo que é melhor a atual reforma, mesmo não
sendo ideal, do que o sistema de impostos que está vigente. “Isso é a maior
mentira. O texto serve para concentrar poderes em Brasília, com a criação desse
tal comitê federativo”, reclama o governador goiano.
“É
maior ataque que os entes federados já sofreram. Tira o poder de arrecadação e
concentra em Brasília. É uma afronta à Constituição Brasileira”. Aos seus
colegas governadores que anunciaram publicamente apoio à reforma tributária,
ele lança uma questão:
“Gostaria
de que eles respondessem uma única pergunta: qual será a alíquota final? Se
algum deles souber me responder isso, gostaria que incluísse no texto
constitucional”, provoca.
Apesar
de todas as objeções, Caiado não duvida que se realmente houver votação da PEC
da reforma tributária hoje, como está previsto, a matéria possa ser aprovada.
“Não se pode menosprezar a estrutura toda que está sendo mobilizada para a
aprovação”, reconhece. E lamenta que o Congresso não tenha oradores que
consigam traduzir em palavras os prejuízos que o texto legal pode causar.
Fonte:
Fórum/O Globo/Agencia Estado/CNN Brasil/UOL
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