Luís Nassif:
Zuckerberg e a nova etapa do capitalismo - a ditadura das big techs
As declarações de
Mark Zuckerberg, da Meta, de que irá encerrar o programa “fact checking” é uma
revanche contra o Estado profundo norte-americano.
Em meu livro “A Conspiração Lava
Jato – o jogo político que comprometeu o futuro do país” narro em detalhes
essa história.
A eleição de Barack
Obama definiu duas formas de atuação política na rede. De um lado, o Partido
Republicano adotando o estilo Steve Bannon, com o apoio central da Fox News. A
emissora criava as notícias falsas e as redes sociais se incumbiam de
disseminar. A reação do Partido Democrata se deu através da militância digital.
Ambos os lados
perceberam ter em mãos um instrumento para tentar influenciar a política em
outros países.
A primeira
tentativa de instrumentalizar as redes deu-se em torno da participação de
hackers russos na campanha que elegeu Donald Trump. Um blog de pouca penetração
apareceu com supostos estudos acadêmicos tentando comprovar que o alcance da
campanha foi centenas de vezes maior do que o que se percebia.
Seu trabalho foi
apresentado a diversos veículos da mídia norte-americana, e apenas um deu
guarida: o Washington Post, que acabara de ser adquirido por Jeff Bezos, o dono
da Amazon. A decisão do jornal foi duramente criticada pelos demais veículos,
por se tratar de um trabalho direcionado e falho.
Mesmo assim, foi a
brecha que precisava o Congresso para enquadrar as redes sociais. Zuckerberg
foi convocado a uma sessão pesada. Saiu de lá direto para o Atlantic Council,
um think tank ligado ao Estado profundo norte-americano – integrado por membros
do Departamento de Estado, potentados árabes, empresas com problemas de
reputação e procuradores gerais de países atrasados, como foi o caso de Rodrigo
Janot, do Brasil. Foi o principal estimulador da Lava Jato e dos primeiros
movimentos da sociedade civil, bancados pelos bilionários do Partido Democrata,
como o Viva Rio.
O Atlantic Council
foi contratado para definir uma estratégia para Zuckerberg. Consistiu na
tentativa de montar uma rede mundial de agências de checagem, reunidas em torno
de uma associação.
Tempos depois,
blogueiros independentes levantaram os dados técnicos do tal blog e constataram
que era um domínio de propriedade do próprio Atlantic Council.
A intenção inicial
era barrar a disseminação de notícias de esquerda. Os bilionários financiavam
diversas ONGs e portais noticiosos, muitos deles com reportagens proveitosas
sobre abusos a direitos humanos, mas sem estabelecer vínculos com o modelo
econômico e a financeirização.
Por isso, na fase
inicial – quando as “primaveras” prosperavam por todos os cantos – os grandes
adversários a serem combatidos eram os blogs enquadrados como de esquerda.
Os ecos desse
modelo chegaram ao país. Primeiro, através de uma pesquisa de um professor da
Universidade de São Paulo, Pablo Ortellado, contratado pela revista Veja –
através da Agência Pública -, para um trabalho de identificação de blogs
radicais. Ele colocou no mesmo nível blogs de ultradireita, conhecidos por
espalhar fake news, com os principais blogs críticos da mídia. O trabalho de
Ortellado foi apresentado pela Veja em um seminário para o mercado publicitário,
resultando no bloqueio de publicidade para esses portais.
O próprio Ortellado
teve papel dúbio nas manifestações de 2013, tornando-se uma espécie de mentor
dos black blocs – o grupo violento, cujas ações visavam claramente desmoralizar
os movimentos iniciais, de cunho progressista, jogando o movimento nas mãos da
direita.
O passo seguinte
foi montar, no Brasil, uma associação de agências de checagem, para se integrar
à rede proposta pelo Atlantic Council. A rede foi constituída apenas por
agências de checagem da mídia corporativa e de portais alinhados
politicamente.
A primeira jogada
pesada foi quando o Papa Francisco mandou um terço bento para Lula, já preso em
Curitiba. Uma das agências denunciou dois portais de esquerda por fake news. Se
não fosse verdade, no mínimo seria uma barriga, jamais uma fake news – a
notícia falsa com intenção de promover ódio. Imediatamente foram bloqueados
pelo Facebook. Dias depois, o próprio Papa confirmou o envio do terço e a trama
se desfez.
Tempos atrás, o
Congresso pressionou novamente as big techs, em uma sessão dura.
¨ Após Zuckerberg citar 'tribunais secretos' na América
Latina, Brasil vê referência ao STF
o
presidente-executivo da Meta, Mark Zuckerberg, anunciou o fim do sistema de
checagem de conteúdos falsos das redes sociais da companhia. O dirigente também
afirmou que vai trabalhar com o presidente eleito dos EUA, Donald Trump, para
combater "tribunais secretos" na América Latina.
A Meta (proibida na
Rússia por atividades consideradas extremistas), controladora de redes sociais
como Facebook,
Instagram e WhatsApp,
anunciou nesta terça-feira (7) o encerramento do sistema de verificação de
fatos em posts em vídeo publicado por Zuckerberg.
"Vamos nos
livrar dos verificadores de fatos e substituí-los por Notas da Comunidade,
semelhantes ao X, começando nos EUA […]. Isso significa que identificaremos
menos conteúdos problemáticos, mas também reduziremos a remoção acidental de
postagens e contas de pessoas inocentes", relatou.
No vídeo,
Zuckerberg ainda fez um aceno ao presidente
eleito dos Estados Unidos, Donald Trump, e disse que vai trabalhar com o
republicano para combater o que chamou de censura na América Latina, causada
por decisões judiciais que determinam a remoção de conteúdos com
informações falsas ou crimes. "Os países latino-americanos têm tribunais
secretos que podem ordenar que as empresas retirem as coisas
silenciosamente", afirmou.
A mudança foi
justificada pelo dirigente da companhia norte-americana ao citar, sem
apresentar provas, que os verificadores de fatos "têm sido muito
tendenciosos politicamente e destruíram mais a confiança do que criaram".
Zuckerberg também atacou a Europa, que no final de 2022 aprovou a regulação
das redes sociais.
Na prática, a Meta
deixa de usar grupos independentes e organizações de notícias na checagem de
conteúdos com possíveis informações falsas e passa a adicionar notas ou
correções enviadas pelos próprios usuários sobre as publicações.
Governo brasileiro
vê referência ao STF
A medida foi
anunciada em meio às discussões no Supremo
Tribunal Federal (STF) sobre imposições às redes sociais na moderação de
conteúdos extremistas e criminosos. Também ocorre meses após o embate entre o
ministro Alexandre de Moraes e a rede social X (antigo Twitter),
que chegou a ficar fora do ar por descumprir decisões judiciais.
Em publicação no X,
o secretário de políticas digitais da Secretaria de Comunicação Social (Secom)
da Presidência da República, João Brant, defendeu que as
afirmações são uma "declaração fortíssima que se refere ao STF como corte
secreta".
"O anúncio
feito hoje por Mark Zuckerberg antecipa o início do governo Trump e explicita a
aliança da Meta com o governo dos EUA para enfrentar União Europeia, Brasil e
outros países que buscam proteger direitos no ambiente on-line (na visão dele,
os que 'promovem censura')", disse.
Além disso, o
secretário pontuou que Facebook e Instagram irão se tornar plataformas que
priorizam o "ativismo da extrema-direita", sem proteger outros
direitos individuais e coletivos. "A declaração é explícita, sinaliza que
a empresa não aceita a soberania dos países sobre o funcionamento do ambiente
digital e soa como antecipação de ações que serão tomadas pelo governo
Trump", acrescentou.
¨ Ala do
STF minimiza anúncio da Meta e destaca postura do tribunal no caso X
Uma ala do Supremo Tribunal
Federal (STF) minimizou o anúncio feito pela Meta, nesta terça-feira (7), do
encerramento de seu programa de checagem de fatos nos Estados Unidos e a sua
substituição por um sistema de “Notas da Comunidade”.
Ministros ouvidos
reservadamente pela CNN avaliam que, neste primeiro momento, a
medida está restrita às atividades da rede social nos Estados Unidos e não tem impacto no funcionamento da plataforma no Brasil.
Para esses ministros, a
postura do tribunal no caso envolvendo o X, e que levou ao bloqueio da
plataforma no país, pode ter influenciado a Meta a não promover
mudanças na rede social no Brasil.
Essa ala do tribunal
acredita que se no futuro houver eventual alteração das diretrizes da
plataforma também no Brasil o STF poderá dar uma resposta similar à que foi
dada na rede social de Elon Musk.
Outro ministro ouvido
pela CNN acredita, assim como integrantes do governo federal, que
o anúncio de Mark Zuckerberg, dono da Meta, foi uma direta para o Brasil.
O executivo
norte-americano, em vídeo divulgado nesta terça-feira (7), defende priorizar a
liberdade de expressão nas redes e afirma que “países da América Latina têm ‘tribunais
secretos’ que podem ordenar que empresas
silenciosamente retirem conteúdos” de plataformas.
¨ MPF vai
oficiar Meta no Brasil sobre decisão de Zuckerberg
O Ministério Público
Federal (MPF) vai oficiar a plataforma Meta, empresa dona do Facebook,
Instagram e WhatsApp, para verificar se as novas regras apresentadas pelo dono
da empresa, Mark Zuckerberg, nesta terça-feira (7) serão implementadas no
Brasil.
A informação foi
confirmada à CNN pelo próprio MPF.
O órgão quer saber se a
Meta no Brasil vai seguir a matriz americana e encerrar seu
programa de checagem de fatos e o
substituirá sua por um sistema de “Notas da Comunidade” semelhante ao que é
utilizado pela plataforma X, antigo Twitter, de propriedade de Elon Musk.
Os ofícios serão
encaminhados dentro de um inquérito civil que tramita desde 2021 e que apura a
responsabilidade das big techs nos conteúdos postados.
A Meta é um dos alvos
desse inquérito. Em julho do ano passado, por exemplo, o MPF cobrou uma indenização de R$ 1,7 bilhão por
violação de direitos de usuários.
Desde que o inquérito
foi aberto, segundo fontes do MPF, a empresa vem colaborando e implementando
medidas de regulação de conteúdos postados. Com os ofícios, a ideia é saber se
isso será mantido ou se haverá um alinhamento às regras anunciadas pela matriz
americana hoje.
Chamou a atenção de
procuradores que Zuckerberg cite que as novas regras “começarão nos Estados
Unidos”, sugerindo que elas podem ser adotadas em todo o mundo.
As mudanças, segundo
essas fontes, colidem com normas já aprovadas em diversos países e até mesmo
com recomendações já feitas pelo MPF no Brasil e adotadas pela empresa no
sentido de regulação de conteúdos postados.
A leitura no MPF é a de
que falou mais alto dentro da empresa seus interesses econômicos nos Estados
Unidos e a leitura de que é preciso ter o novo presidente do país, Donald
Trump, ao seu lado na luta contra a regulação que as big techs vem sofrendo
mundo afora.
A impressão, porém, é a
de que Trump e as big techs não teriam por si só força para enfrentar os
processos de regulação em curso em diversos países do mundo.
No Brasil, por exemplo,
muito embora o Congresso tenha evitado votar qualquer projeto nesse sentido, o
Supremo Tribunal Federal (STF) julga uma ação que no limite pode ser impactada
pela postura da Meta daqui em diante.
E, de acordo com fontes
do MPF, não haveria muita margem de manobra das empresas para mudar seu curso
tampouco para não cumprir sua decisão, já que o risco de perder o grande
mercado brasileiro estaria em jogo.
O julgamento do STF
analisa a constitucionalidade do artigo 19 da lei do Marco Civil da Internet,
que isenta as plataformas de responsabilidade por conteúdo de terceiros.
A corte caminha,
contudo, para rever essa regra dar alguma responsabilidade para elas. A análise
no MPF é de que se a Meta deixar de controlar o conteúdo no Brasil, o STF pode
endurecer no grau de responsabilidade que pretende dar as big techs. Até agora
apenas três ministros votaram (Dias Toffoli, Lupis Roberto Barroso e Luiz Fux).
¨ Messias
diz que decisão da Meta “tende a intensificar desordem informacional”
O advogado-geral da
União, Jorge Messias, afirmou, nesta terça-feira (7), que a decisão da Meta de
acabar com o programa de checagem de fatos nos Estados Unidos e substituí-lo
por um sistema de Notas da Comunidade “tende a intensificar a desordem
informacional”.
Ele ainda voltou a
defender a regulação das redes sociais no Brasil. Apesar de haver um apoio do
governo, projeto sobre o tema está parado há meses no Congresso Nacional.
“A Meta decidiu focar na
expansão de seu modelo de negócios. Infelizmente, como os algoritmos da empresa
são secretos, essa escolha tende a intensificar a desordem informacional em um
ecossistema digital que já enfrenta desafios significativos relacionados à
disseminação de fake news e discursos de ódio. Assim, torna-se ainda mais
premente a necessidade de criar um novo marco jurídico para a regulação das
redes sociais no Brasil”, disse Messias.
A empresa dona do
Facebook, Instagram e WhatsApp informou as mudanças nesta terça-feira (7). O próprio dono da Meta, Mark Zuckerberg, publicou um vídeo em seu
perfil explicando a decisão e acrescentou: “É hora de voltar às nossas raízes
em relação à liberdade de expressão”.
O modelo de Notas da
Comunidade permitirá que os usuários das redes sociais da Meta – Facebook,
Instagram e Threads – chamem a atenção para publicações potencialmente
enganosas e que precisam de mais contexto, em vez de colocar a responsabilidade
em organizações e especialistas independentes em checagem de fatos. Não foi
divulgada uma data para que a mudança chegue a outros países.
¨ Governo
Lula já esperava mudança de postura da Meta para se aproximar de Trump
Integrantes do governo Lula
(PT) já esperavam uma mudança de postura da Meta, empresa que controla
Facebook, Instagram e WhatsApp, para se aproximar do presidente eleito dos
Estados Unidos, Donald Trump. Na última terça-feira (7), a empresa anunciou uma
mudança na sua política de moderação de conteúdos, encerrando o sistema de
checagem de fatos para implementar o sistema de notas da comunidade. As
informações são do Metrópoles.
Técnicos do Palácio do
Planalto afirmam que, desde a metade do ano passado, membros da empresa no
Brasil já sinalizavam que uma mudança nas políticas da matriz da Meta ocorreria
em caso de eleição de Trump. No entanto, a mudança na moderação de conteúdo das
redes sociais é considerada “preocupante”.
Aliados de Lula não
esperavam uma adesão “tão explícita” do dono da Meta, Mark Zuckerberg, às
agendas de Trump. Zuckerberg chegou a reclamar publicamente de “tribunais
secretos” em países latino-americanos, que ordenariam “silenciosamente” a
remoção de conteúdos.
Outro ponto que gera
preocupação nos bastidores do Palácio do Planalto é a volta dos conteúdos
políticos. Atualmente, os algoritmos da Meta priorizavam conteúdos pessoais
para evitar a polarização nas redes, o que deve mudar a partir de agora.
Zuckerberg também afirmou que trabalhará junto com Trump para pressionar
governos que perseguem empresas americanas a implementarem mais “censura”.
Fonte: Sputnik
Brasil/Jornal GGN/CNN Brasil/Brasil 247
Nenhum comentário:
Postar um comentário