segunda-feira, 11 de novembro de 2024

Ciência pode ter desvendado milagre descrito na Bíblia

Um grupo de cientistas forneceu uma possível explicação para os relatos bíblicos da "pesca milagrosa" e da "multiplicação dos pães e peixes", dois eventos que teriam ocorrido no Mar da Galileia, também conhecido como lago de Genesaré, em Israel.

Na narrativa dos evangelhos, Jesus é o autor desses dois milagres impressionantes. Na história sobre a multiplicação de alimentos, Jesus satisfez 5 mil pessoas com apenas cinco pães e dois peixes.

Na história da pesca milagrosa, pescadores voltaram de uma noite de trabalho com as redes vazias. Quando se resignaram, Jesus lhes disse para tentar uma última vez, o que resultou em uma volumosa pescaria.

Em um estudo publicado no fim de outubro na revista Water Resources Research, pesquisadores sugerem que um fenômeno incomum causado pelo vento, temperatura e ondas pode ter levado o grande cardume em direção à costa, facilitando a captura.

Para chegar a essa conclusão, os especialistas estudaram a alta mortandade de peixes ocorrida no Mar da Galileia em 2012, que ocorreu devido a um fenômeno chamado seicha, que faz com que a água fria e anóxica (pobre em oxigênio) suba das profundezas do lago para a superfície.

Ondas de tamanho significativo são geradas por mudanças de temperatura e ventos intensos que causam um acúmulo maciço de peixes na margem do lago, limitando sua capacidade de se mover e respirar, causando sua morte em massa.

<><> Pode ter ocorrido há cerca de 2 mil anos

Os pesquisadores veem uma ligação entre as histórias bíblicas que relatam capturas milagrosas nas margens do lago e o fenômeno de alta mortalidade de peixes que ocorreu em 2012.

"Hoje, os eventos de mortandade de peixes ocorrem no mesmo local do lago onde o milagre bíblico dos pães e peixes e, presumivelmente, a pesca milagrosa ocorreram dois milênios antes do presente", escreve a equipe em seu estudo.

Isso "pode explicar a ocorrência de grandes quantidades de peixes fáceis de coletar perto da margem descrita nos relatos bíblicos", acrescentam.

<><> Modelo para prevenir fenômeno

Um modelo tridimensional mostrou como o fenômeno ocorre, quando o vento cria uma inclinação na termoclina – camada de água de transição em trecho que há mudança brusca de temperatura – e empurra a água fria e anóxica em direção à costa por várias horas, em faixas de até 1,5 quilômetro, prendendo os peixes em um ambiente carente de oxigênio.

O modelo possibilita ainda que cientistas antecipem com muita precisão e evitem esses eventos, que causam alta mortalidade de peixes e poderiam ser intensificados pelos efeitos da mudança climática.

Os autores não afirmam definitivamente que foi exatamente isso que aconteceu nas histórias de Jesus na Bíblia, mas consideram possível que esses eventos descritos como milagres possam ter ocorrido há cerca de 2 mil anos, às margens do Mar da Galileia.

 

•        Semente "ressuscitada" pode ser chave para mistério bíblico

Uma semente não identificada, encontrada décadas atrás numa caverna do deserto da Judeia, pode ser a chave para um dos mistérios botânicos da Bíblia, e cientistas conseguiram agora fazer germinar a partir dela uma árvore de mais de mil anos. Apelidada "Sheba", ela pode ser a fonte do enigmático bálsamo "tsori", mencionado nas escrituras por suas supostamente miraculosas propriedades curativas.

Como relata o artigo publicado em setembro na revista científica Communications Biology, cerca de 40 anos atrás arqueólogos descobriram na região de Wadi el Makkuk uma semente originária dos anos 993 a 1202, segundo a datação por radiocarbono. Ela permaneceu esquecida no Instituto de Arqueología da Universidade Hebraica, até que a cientista Sarah Sallon, do Centro de Pesquisa de Medicina Natural Louis Borick, em Jerusalém, resolveu lhe dar uma segunda oportunidade.

Com apoio da diretora do Centro de Agricultura Sustentável do Instituto Arava, Elaine Solowey, a semente foi plantada em 2010. Cinco semanas mais tarde, emergia uma plantinha e, passados 14 anos, "Sheba" já mede quase três metros e começou a produzir resina.

<><> Potencial curativo concentrado

Há duas teorias igualmente prováveis sobre como a secular semente teria chegado à caverna no deserto: através de excrementos animais ou humanos. Análises de DNA revelaram que pertence ao gênero Commiphora, o mesmo das plantas de que se extraem incenso e mirra.

No entanto não foi possível identificar sua espécie exata, levando a crer que se trate de uma linhagem já extinta. Uma primeira hipótese, de que se trataria do mítico "bálsamo da Judeia", foi descartada pelo fato de a árvore ressuscitada não apresentar propriedades aromáticas.

No entanto, o que lhe falta em fragrância, Sheba compensa em propriedades medicinais: análises químicas revelaram que suas folhas e resina estão repletas de triterpenoides pentacíclicos, compostos conhecidos por suas propriedades anti-inflamatórias e anticancerígenas, assim como do antioxidante natural esqualeno, utilizado em tratamentos de pele.

Devido a essas propriedades curativas, as cientistas propõem que a resina possa ser o tsori mencionado nos livros bíblicos do Gênese, Jeremias e Ezequiel. Tradicionalmente associado à região de Galaad (atual Jordânia), esse bálsamo era mais famoso por sua ação terapêutica do que por seu perfume.

"Cremos que os esses achados apoiam nossa segunda hipótese: Sheba pode representar uma linhagem extinta (ou pelo menos extirpada), outrora nativa desta região, cuja resina tsori era valiosa, associada à cura, mas não descrita como fragrante", explica o estudo.

Esta não é a primeira façanha de ressurreição botânica da equipe liderada por Sallon, que já trabalhou com sementes de tâmaras de 1.900 anos de idade. Uma delas germinou, sendo batizada "Matusalém", em honra à personagem bíblica que supostamente viveu 969 anos.

Enquanto a "bela adormecida" Sheba continua crescendo e os cientistas pesquisam suas propriedades, permanece em aberto o mistério do bálsamo da Judeia. A hipótese da equipe é que a planta aromática que o produzia seja uma espécie de Commiphora ainda não identificada.

 

Fonte: DW Brasil

 

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