Pragmatismo diplomático e poder de
barganha: como o Brasil equilibra as relações com China e EUA?
O Brasil já demonstrou
interesse e elaborou propostas para considerar a entrada na Iniciativa Cinturão
e Rota. Entretanto, ao mesmo tempo, o país não quer se indispor com os EUA,
segundo principal destino de nossas exportações.
Em entrevista ao
Mundioka, podcast da Sputnik Brasil, especialistas avaliaram como o Brasil deve
proceder diplomaticamente para manter o equilíbrio nas relações tanto com a
China quanto com os EUA.
Além disso, o que a
entrada na Iniciativa Cinturão e Rota, também conhecida como Nova Rota da Seda,
pode significar para o Brasil? Quais condições o Brasil precisa estabelecer
para que a adesão ao plano chinês seja importante para o desenvolvimento do país
sul-americano?
Governo brasileiro
pode se equilibrar entre os interesses de Washington e Pequim?
Rafael Pons Reis,
doutor em sociologia política pela Universidade Federal de Santa Catarina
(UFSC) e professor do Centro Universitário Internacional Uninter, afirma que,
para conseguir tal equilíbrio, o Brasil precisa lançar mão de uma postura
pragmática e ressalta que o país tem elementos que preparam os diplomatas
brasileiros para essa "postura assertiva".
Aderir à Nova Rota da
Seda pode fortalecer ainda mais as relações com a China e também com o BRICS,
no qual, segundo o analista, o Brasil vem perdendo um pouco de força, uma vez
que a entrada de novos membros "enfraqueceu um pouco a posição negociadora
do Brasil".
Para equilibrar as
ações em relações aos EUA, Pons Reis avalia que o governo brasileiro, sobretudo
na figura do presidente Lula, precisa evitar discursos improvisados que tomem
posições ideológicas que atinjam os norte-americanos.
"Não cabe isso
para o Brasil. O Brasil precisa deixar de lado o envolvimento com questões que
não lhe dizem competência", diz, citando ponderações do presidente
brasileiro em situações como os conflitos na Ucrânia e na Faixa de Gaza.
"Se o Brasil — e
aqui especificamente falando do Lula — conseguir deixar um pouco essas práticas
discursivas antiamericanistas, […] vai conseguir não apenas se sair bem, vai
construir uma posição melhor diante do BRICS sem, com isso, enfraquecer a sua
posição negociadora com os Estados Unidos", acrescenta.
Entretanto, para não
ficar refém de nenhum dos países, o analista explica que o Brasil precisa
"saber barganhar" e construir um conjunto de parcerias.
<><> Brasil
na Nova Rota da Seda: vai ou não vai?
A iniciativa chinesa
Nova Rota da Seda completou dez anos em 2023 e já engloba 150 países. Sobre a
estratégia, é necessário entender, segundo Bruno Hendler, professor de relações
internacionais da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), que se trata de
"uma marca da política externa da China que busca se consolidar como
grande potência".
A China potencializa,
dessa forma, investimentos em setores que são vetores de projeção de política
externa e econômica. "Eles [China] entram com investimento externo direto
na construção civil, que está no limbo entre serviço e indústria, serviços financeiros,
como empréstimos, doações, acordos cambiais", explica Hendler.
Para o analista, a
visão de mundo chinesa dificulta análises dotadas de certa perspectiva
ocidental, como pensar: "Quais seriam prejuízos e benefícios ao aderir à
iniciativa?"
"A Nova Rota da
Seda é um guarda-chuva muito pouco vinculativo, que faz com que as relações
bilaterais da China sejam reforçadas. Muito mais do que um novo Plano Marshall,
um novo Bretton Woods, é um guarda-chuva. E o Brasil economicamente já tem sido
puxado, como boa parte do Sul Global já tem sido puxada para esse campo de
gravitação em torno da China", analisa.
Nesse sentido, como o
Brasil é abrangido por esse guarda-chuva chinês, mesmo sem aderir à Nova Rota
da Seda, o país já tem visto o setor de energia, por exemplo, sendo comprado
por companhias estatais chinesas, ressalta o professor da UFSM.
A entrada do Brasil na
iniciativa, portanto, é vista pelo analista como algo que deve acontecer
naturalmente, haja vista a proximidade entre os dois países.
Desde 1993, o Brasil
tem status de parceiro estratégico da China. O laço foi estreitado
principalmente após a criação da Comissão Sino-Brasileira de Alto Nível de
Concertação e Cooperação (Cosban).
"A gravitação
econômica, que já existe, faz com que a adesão à Nova Rota da Seda seja meio
inevitável, mas ela não é iminente. Ela não precisa acontecer agora, nos
próximos meses, no próximo ano. Mas é meio que natural, dada a proximidade
econômica que o Brasil está tendo com a China", destaca o especialista.
Para Pons Reis, a
entrada do Brasil na Iniciativa Cinturão e Rota pode, sim, ser vista de maneira
benéfica, desde que os termos de negociação sejam favoráveis aos brasileiros.
"Participar da
Nova Rota da Seda exige esforços diplomáticos muito contundentes no sentido de
negociar os tratados que vão ser colocados à mesa. O Brasil precisa de
incentivos para ingressar."
Ou seja, a presença em
projetos de desenvolvimento global "tende a aproximar o Brasil de uma
maior participação nas cadeias globais de valor e de infraestrutura do comércio
internacional", argumenta o professor da Uninter.
No caso do Brasil, os
investimentos chineses, em linhas gerais, poderiam chegar para o setor de
infraestrutura e transitar em setores "como a construção de portos e
estradas para melhorar o escoamento das commodities agrícolas que os chineses
estão de olho", explica Pons Reis.
"Esse
investimento em infraestrutura logística tem como objetivo também baratear o
custo desses processos específicos realmente relacionados ao agronegócio, e não
apenas isso. A China está de olho no Brasil por conta daquela famosa batalha de
5G que vem se arrastando pelo menos há mais de cinco anos", acrescenta.
Em relação a este
último, o Brasil poderia se beneficiar de uma benesse que a China estaria
disposta a conceder no setor de tecnologia, o que seria importante para o país
sul-americano.
Tais investimentos,
reforça o analista, poderiam fazer com o que o Brasil aumentasse o valor
agregado de suas commodities agrícolas, mas não só isso. Seria interessante se
o país aumentasse o valor do produto agregado mediante investimentos que sejam
sustentáveis.
"Nós precisamos
deixar a nossa economia mais complexa e investimentos em infraestrutura e
tecnologia, sobretudo na área agora relacionada a energias renováveis. Talvez
seja uma das formas de o Brasil tentar equilibrar mais a balança comercial,
sobretudo com a China", atesta.
Brasil na Nova Rota da
Seda: há setores que podem ganhar mais do que outros?
De modo hipotético,
para os analistas, dado o cenário atual, é possível apontar setores que, por
ora, se beneficiariam do acordo.
Como a China é o país
que mais investe em energia renovável no mundo, "o grande pulo do gato da
China para entrar no Brasil é via economia verde, energia sustentável",
diz Hendler.
Setores que
eventualmente perderiam espaço, segundo o professor da UFSM, poderiam ser o da
construção civil. Se nos anos 2000 as companhias se tornaram grandes campeãs
nacionais com mercados na América do Sul e na África, após a operação Lava Jato
teve a destruição dessa indústria pujante nacional.
"Esse é um dos
setores que tem mais a perder. Não só por causa da Lava Jato, mas porque agora
muitos mercados cativos dessas indústrias brasileiras caíram na mão de empresas
e contratos chineses", explica.
Além disso, poderia
também abrir a entrada para setores de tecnologia da informação e serviços no
país, ressalta.
"Empresas
gigantes como a Huawei estão querendo entrar aqui e controlar todo o 5G",
completa Pons Reis, enfatizando a força tecnológica chinesa que quer chegar ao
Brasil, deixando para trás a imagem que se popularizou de produtos "made
in China" como sinônimos de pequenos objetos manufaturados.
<><>
Presidente da Nicarágua critica Lula por postura sobre eleições na Venezuela
O presidente da
Nicarágua, Daniel Ortega, chamou nesta segunda-feira (26) o presidente Luiz
Inácio Lula da Silva de "puxa-saco" dos Estados Unidos ao não
reconhecer a vitória do presidente da Venezuela, Nicolás Maduro.
A reivindicação das
atas eleitorais da Venezuela feita por Lula e outros presidentes da América
Latina é um comportamento "vergonhoso", segundo Ortega:
"A forma como
Lula tem se comportado sobre a vitória do presidente legítimo da Venezuela é
uma forma vergonhosa, vergonhosa, repetindo os lemas dos ianques, dos europeus,
dos governos influenciados da América Latina", declarou Ortega durante uma
cúpula virtual de chefes de Estado e governo da Aliança Bolivariana para os
Povos de Nossa América (ALBA-TCP), em Caracas, na Venezuela.
"Lula, se você
quiser que o povo bolivariano o respeite, respeite a vitória do presidente
Nicolás Maduro, e não fique se rastejando", disse Ortega, que também
criticou o presidente da Colômbia, Gustavo Petro:
"A Petro, o que
posso dizer a Petro? Pobre Petro, pobre Petro, vejo Petro competindo com Lula
para ver quem vai ser o líder para representar os ianques na América Latina, é
assim que vejo Petro, porque o pobre Petro não tem a força que tem o Brasil [...],
o gigante da América Latina", acrescentou Ortega.
Brasil e Colômbia
buscam amenizar a crise pós-eleitoral na Venezuela, envolvendo as eleições que
muitos países acusam de terem sido fraudadas. Os dois chegaram a sugerir que a
Venezuela repetisse a votação, proposta criticada pelo governo e pela oposição.
Em 2 de agosto, o
Conselho Nacional Eleitoral (CNE) declarou Maduro o vencedor das eleições de 28
de julho, com 52% dos votos.
No dia seguinte,
protestos por parte da população que discordou do resultado nas urnas acabaram
em confrontos com as forças de segurança. Policiais detiveram mais de 2 mil
pessoas, acusadas de destruir infraestruturas estatais, incitar o ódio e o
terrorismo.
Maduro pediu, em 31 de
julho, proteção constitucional ao Supremo Tribunal para impedir os ataques ao
processo eleitoral, que ele chamou de tentativa de golpe.
No sábado (17),
milhares de venezuelanos marcharam em Caracas para expressar apoio à reeleição
de Maduro e o repúdio à violência.
Crise diplomática
entre Brasil e Nicarágua
No início de agosto de
2024, o Itamaraty expulsou a embaixadora da Nicarágua, Fulvia Castro Matus,
como um ato de reciprocidade à decisão de Daniel Ortega de ordenar a saída do
embaixador brasileiro, Breno de Souza Brasil Dias da Costa, por não comparecer
a um evento partidário.
¨ Chanceler brasileiro visita Índia e anuncia perspectivas
positivas no relacionamento econômico
O ministro das
Relações Exteriores do Brasil, Mauro Vieira, iniciou nesta segunda-feira (26) a
visita oficial de dois dias à Índia com um evento que reuniu companhias
brasileiras e indianas.
Em comunicado, o
Itamaraty destacou que durante a reunião de negócios em Nova Deli, capital
indiana, o chanceler abordou o grande potencial para o desenvolvimento do
comércio e de investimentos nos dois países.
Segundo ele, entre
setembro de 2023 e agosto deste ano foram realizadas 31 missões brasileiras de
promoção comercial de investimentos à Índia, em busca de oportunidades
especialmente nas áreas de defesa, agricultura, pecuária e energia.
Ainda de acordo com o
Ministério das Relações Exteriores do Brasil, em 2023 o intercâmbio comercial
entre os dois países atingirá US$ 11,5 bilhões (cerca de R$ 58 bilhões).
A Índia é o 13º maior
destino das exportações brasileiras (US$ 4,9 bilhões, cerca de R$ 25 bilhões) e
a sexta maior fonte de importações do país (US$ 6,9 bilhões, cerca de R$ 35
bilhões).
Amanhã (27), Vieira
copresidirá, com o ministro dos Negócios Estrangeiros da Índia Subrahmanyam
Jaishankar, a IX Reunião da Comissão Mista de Cooperação Política, Econômica,
Científica, Tecnológica e Cultural Brasil — Índia (Comista).
A Comista é o
principal mecanismo de coordenação entre o Brasil e a Índia, criada com o
objetivo de orientar e avaliar a cooperação bilateral. Nessa reunião serão
examinadas formas de promover o comércio, os investimentos e a cooperação em
várias áreas, em especial nas áreas de agricultura, defesa e energia, além de
ciência e tecnologia, governo digital e pesquisa espacial.
O Itamaraty adiantou
que serão debatidos ainda temas de interesse estratégico para os dois países e
será reforçada a coordenação entre Brasil e Índia em foros internacionais como
o BRICS, o IBAS [Fórum de Diálogo Índia-Brasil-África do Sul, em tradução livre]
e o G20 — este atualmente presidido pelo Brasil, na sequência da Índia.
Os chanceleres
firmarão o Acordo sobre Cooperação no Combate ao Terrorismo Internacional e ao
Crime Organizado Transnacional.
¨ Brasil, Indonésia e África do Sul se preocupam com uso de armas
ocidentais contra Rússia, diz China
O Brasil, a Indonésia
e a África do Sul estão preocupados com o fato de os países ocidentais estarem
continuamente flexibilizando as condições para que a Ucrânia use suas armas
para atacar o território russo, disse Li Hui, o representante especial do governo
chinês para Assuntos Eurasiáticos, em uma coletiva de imprensa.
De 28 de julho a 7 de
agosto, o diplomata visitou o Brasil, a África do Sul e a Indonésia, onde
conversou com as autoridades sobre a solução da crise ucraniana.
"Todas as partes
estão preocupadas com o fato de o Ocidente estar continuamente flexibilizando
as condições para [a Ucrânia] atacar o território russo com as armas
fornecidas", disse Hui na coletiva de imprensa sobre o resultado da quarta
rodada da "diplomacia de vaivém" do representante especial sobre a
crise na Ucrânia.
Como observou, "a
situação recente no teatro de operações confirmou esses temores". Hui
acrescentou que estes países também estão preocupados com o risco de escalada e
agravamento do conflito.
Segundo Hui, os três
países acreditam que o prolongamento do conflito ucraniano não é causado apenas
pelas ações da Rússia e da Ucrânia, mas que "certos complexos
militares-industriais" também estão por trás disso e "manipulam o
conflito".
Hui disse que Pequim
está disposta a continuar desempenhando um papel construtivo na restauração da
paz e na busca de uma solução política para a crise junto com um número cada
vez maior de países pacíficos.
"Pedimos a mais
países que ajudem a criar condições para a retomada do diálogo direto e das
negociações entre os dois lados [Rússia e Ucrânia]."
Contudo, no dia 21 de
agosto, tendo como pano de fundo o ataque das Forças Armadas da Ucrânia à
região de Kursk, o chefe da diplomacia da União Europeia, Josep Borrell, disse
que o levantamento da proibição dos ataques de Kiev com armas ocidentais contra
o território russo poderia supostamente "contribuir para os esforços de
paz".
No mesmo dia, as
Forças de Operações Especiais das Forças Armadas da Ucrânia informaram que
haviam usado lançadores de foguetes ocidentais Himars para destruir pontes
flutuantes na região de Kursk.
O Ministério da Defesa
da Rússia observou anteriormente ter registrado repetidamente o uso de
equipamentos militares fabricados nos EUA, inclusive o sistema Himars, durante
o ataque do Exército ucraniano à região de Kursk.
De acordo com o
ministério militar russo, as Forças Armadas da Ucrânia perderam três desses
equipamentos nos combates na área fronteiriça.
A representante
oficial do Ministério das Relações Exteriores da Rússia, Maria Zakharova, disse
que o ataque da Ucrânia à região de Kursk estava ocorrendo com o apoio total do
Ocidente, que havia autorizado essas ações.
Fonte: Sputnik Brasil
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