quarta-feira, 28 de agosto de 2024

Pragmatismo diplomático e poder de barganha: como o Brasil equilibra as relações com China e EUA?

O Brasil já demonstrou interesse e elaborou propostas para considerar a entrada na Iniciativa Cinturão e Rota. Entretanto, ao mesmo tempo, o país não quer se indispor com os EUA, segundo principal destino de nossas exportações.

Em entrevista ao Mundioka, podcast da Sputnik Brasil, especialistas avaliaram como o Brasil deve proceder diplomaticamente para manter o equilíbrio nas relações tanto com a China quanto com os EUA.

Além disso, o que a entrada na Iniciativa Cinturão e Rota, também conhecida como Nova Rota da Seda, pode significar para o Brasil? Quais condições o Brasil precisa estabelecer para que a adesão ao plano chinês seja importante para o desenvolvimento do país sul-americano?

Governo brasileiro pode se equilibrar entre os interesses de Washington e Pequim?

Rafael Pons Reis, doutor em sociologia política pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) e professor do Centro Universitário Internacional Uninter, afirma que, para conseguir tal equilíbrio, o Brasil precisa lançar mão de uma postura pragmática e ressalta que o país tem elementos que preparam os diplomatas brasileiros para essa "postura assertiva".

Aderir à Nova Rota da Seda pode fortalecer ainda mais as relações com a China e também com o BRICS, no qual, segundo o analista, o Brasil vem perdendo um pouco de força, uma vez que a entrada de novos membros "enfraqueceu um pouco a posição negociadora do Brasil".

Para equilibrar as ações em relações aos EUA, Pons Reis avalia que o governo brasileiro, sobretudo na figura do presidente Lula, precisa evitar discursos improvisados que tomem posições ideológicas que atinjam os norte-americanos.

"Não cabe isso para o Brasil. O Brasil precisa deixar de lado o envolvimento com questões que não lhe dizem competência", diz, citando ponderações do presidente brasileiro em situações como os conflitos na Ucrânia e na Faixa de Gaza.

"Se o Brasil — e aqui especificamente falando do Lula — conseguir deixar um pouco essas práticas discursivas antiamericanistas, […] vai conseguir não apenas se sair bem, vai construir uma posição melhor diante do BRICS sem, com isso, enfraquecer a sua posição negociadora com os Estados Unidos", acrescenta.

Entretanto, para não ficar refém de nenhum dos países, o analista explica que o Brasil precisa "saber barganhar" e construir um conjunto de parcerias.

<><> Brasil na Nova Rota da Seda: vai ou não vai?

A iniciativa chinesa Nova Rota da Seda completou dez anos em 2023 e já engloba 150 países. Sobre a estratégia, é necessário entender, segundo Bruno Hendler, professor de relações internacionais da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), que se trata de "uma marca da política externa da China que busca se consolidar como grande potência".

A China potencializa, dessa forma, investimentos em setores que são vetores de projeção de política externa e econômica. "Eles [China] entram com investimento externo direto na construção civil, que está no limbo entre serviço e indústria, serviços financeiros, como empréstimos, doações, acordos cambiais", explica Hendler.

Para o analista, a visão de mundo chinesa dificulta análises dotadas de certa perspectiva ocidental, como pensar: "Quais seriam prejuízos e benefícios ao aderir à iniciativa?"

"A Nova Rota da Seda é um guarda-chuva muito pouco vinculativo, que faz com que as relações bilaterais da China sejam reforçadas. Muito mais do que um novo Plano Marshall, um novo Bretton Woods, é um guarda-chuva. E o Brasil economicamente já tem sido puxado, como boa parte do Sul Global já tem sido puxada para esse campo de gravitação em torno da China", analisa.

Nesse sentido, como o Brasil é abrangido por esse guarda-chuva chinês, mesmo sem aderir à Nova Rota da Seda, o país já tem visto o setor de energia, por exemplo, sendo comprado por companhias estatais chinesas, ressalta o professor da UFSM.

A entrada do Brasil na iniciativa, portanto, é vista pelo analista como algo que deve acontecer naturalmente, haja vista a proximidade entre os dois países.

Desde 1993, o Brasil tem status de parceiro estratégico da China. O laço foi estreitado principalmente após a criação da Comissão Sino-Brasileira de Alto Nível de Concertação e Cooperação (Cosban).

"A gravitação econômica, que já existe, faz com que a adesão à Nova Rota da Seda seja meio inevitável, mas ela não é iminente. Ela não precisa acontecer agora, nos próximos meses, no próximo ano. Mas é meio que natural, dada a proximidade econômica que o Brasil está tendo com a China", destaca o especialista.

Para Pons Reis, a entrada do Brasil na Iniciativa Cinturão e Rota pode, sim, ser vista de maneira benéfica, desde que os termos de negociação sejam favoráveis aos brasileiros.

"Participar da Nova Rota da Seda exige esforços diplomáticos muito contundentes no sentido de negociar os tratados que vão ser colocados à mesa. O Brasil precisa de incentivos para ingressar."

Ou seja, a presença em projetos de desenvolvimento global "tende a aproximar o Brasil de uma maior participação nas cadeias globais de valor e de infraestrutura do comércio internacional", argumenta o professor da Uninter.

No caso do Brasil, os investimentos chineses, em linhas gerais, poderiam chegar para o setor de infraestrutura e transitar em setores "como a construção de portos e estradas para melhorar o escoamento das commodities agrícolas que os chineses estão de olho", explica Pons Reis.

"Esse investimento em infraestrutura logística tem como objetivo também baratear o custo desses processos específicos realmente relacionados ao agronegócio, e não apenas isso. A China está de olho no Brasil por conta daquela famosa batalha de 5G que vem se arrastando pelo menos há mais de cinco anos", acrescenta.

Em relação a este último, o Brasil poderia se beneficiar de uma benesse que a China estaria disposta a conceder no setor de tecnologia, o que seria importante para o país sul-americano.

Tais investimentos, reforça o analista, poderiam fazer com o que o Brasil aumentasse o valor agregado de suas commodities agrícolas, mas não só isso. Seria interessante se o país aumentasse o valor do produto agregado mediante investimentos que sejam sustentáveis.

"Nós precisamos deixar a nossa economia mais complexa e investimentos em infraestrutura e tecnologia, sobretudo na área agora relacionada a energias renováveis. Talvez seja uma das formas de o Brasil tentar equilibrar mais a balança comercial, sobretudo com a China", atesta.

Brasil na Nova Rota da Seda: há setores que podem ganhar mais do que outros?

De modo hipotético, para os analistas, dado o cenário atual, é possível apontar setores que, por ora, se beneficiariam do acordo.

Como a China é o país que mais investe em energia renovável no mundo, "o grande pulo do gato da China para entrar no Brasil é via economia verde, energia sustentável", diz Hendler.

Setores que eventualmente perderiam espaço, segundo o professor da UFSM, poderiam ser o da construção civil. Se nos anos 2000 as companhias se tornaram grandes campeãs nacionais com mercados na América do Sul e na África, após a operação Lava Jato teve a destruição dessa indústria pujante nacional.

"Esse é um dos setores que tem mais a perder. Não só por causa da Lava Jato, mas porque agora muitos mercados cativos dessas indústrias brasileiras caíram na mão de empresas e contratos chineses", explica.

Além disso, poderia também abrir a entrada para setores de tecnologia da informação e serviços no país, ressalta.

"Empresas gigantes como a Huawei estão querendo entrar aqui e controlar todo o 5G", completa Pons Reis, enfatizando a força tecnológica chinesa que quer chegar ao Brasil, deixando para trás a imagem que se popularizou de produtos "made in China" como sinônimos de pequenos objetos manufaturados.

<><> Presidente da Nicarágua critica Lula por postura sobre eleições na Venezuela

O presidente da Nicarágua, Daniel Ortega, chamou nesta segunda-feira (26) o presidente Luiz Inácio Lula da Silva de "puxa-saco" dos Estados Unidos ao não reconhecer a vitória do presidente da Venezuela, Nicolás Maduro.

A reivindicação das atas eleitorais da Venezuela feita por Lula e outros presidentes da América Latina é um comportamento "vergonhoso", segundo Ortega:

"A forma como Lula tem se comportado sobre a vitória do presidente legítimo da Venezuela é uma forma vergonhosa, vergonhosa, repetindo os lemas dos ianques, dos europeus, dos governos influenciados da América Latina", declarou Ortega durante uma cúpula virtual de chefes de Estado e governo da Aliança Bolivariana para os Povos de Nossa América (ALBA-TCP), em Caracas, na Venezuela.

"Lula, se você quiser que o povo bolivariano o respeite, respeite a vitória do presidente Nicolás Maduro, e não fique se rastejando", disse Ortega, que também criticou o presidente da Colômbia, Gustavo Petro:

"A Petro, o que posso dizer a Petro? Pobre Petro, pobre Petro, vejo Petro competindo com Lula para ver quem vai ser o líder para representar os ianques na América Latina, é assim que vejo Petro, porque o pobre Petro não tem a força que tem o Brasil [...], o gigante da América Latina", acrescentou Ortega.

Brasil e Colômbia buscam amenizar a crise pós-eleitoral na Venezuela, envolvendo as eleições que muitos países acusam de terem sido fraudadas. Os dois chegaram a sugerir que a Venezuela repetisse a votação, proposta criticada pelo governo e pela oposição.

Em 2 de agosto, o Conselho Nacional Eleitoral (CNE) declarou Maduro o vencedor das eleições de 28 de julho, com 52% dos votos.

No dia seguinte, protestos por parte da população que discordou do resultado nas urnas acabaram em confrontos com as forças de segurança. Policiais detiveram mais de 2 mil pessoas, acusadas de destruir infraestruturas estatais, incitar o ódio e o terrorismo.

Maduro pediu, em 31 de julho, proteção constitucional ao Supremo Tribunal para impedir os ataques ao processo eleitoral, que ele chamou de tentativa de golpe.

No sábado (17), milhares de venezuelanos marcharam em Caracas para expressar apoio à reeleição de Maduro e o repúdio à violência.

Crise diplomática entre Brasil e Nicarágua

No início de agosto de 2024, o Itamaraty expulsou a embaixadora da Nicarágua, Fulvia Castro Matus, como um ato de reciprocidade à decisão de Daniel Ortega de ordenar a saída do embaixador brasileiro, Breno de Souza Brasil Dias da Costa, por não comparecer a um evento partidário.

 

¨      Chanceler brasileiro visita Índia e anuncia perspectivas positivas no relacionamento econômico

O ministro das Relações Exteriores do Brasil, Mauro Vieira, iniciou nesta segunda-feira (26) a visita oficial de dois dias à Índia com um evento que reuniu companhias brasileiras e indianas.

Em comunicado, o Itamaraty destacou que durante a reunião de negócios em Nova Deli, capital indiana, o chanceler abordou o grande potencial para o desenvolvimento do comércio e de investimentos nos dois países.

Segundo ele, entre setembro de 2023 e agosto deste ano foram realizadas 31 missões brasileiras de promoção comercial de investimentos à Índia, em busca de oportunidades especialmente nas áreas de defesa, agricultura, pecuária e energia.

Ainda de acordo com o Ministério das Relações Exteriores do Brasil, em 2023 o intercâmbio comercial entre os dois países atingirá US$ 11,5 bilhões (cerca de R$ 58 bilhões).

A Índia é o 13º maior destino das exportações brasileiras (US$ 4,9 bilhões, cerca de R$ 25 bilhões) e a sexta maior fonte de importações do país (US$ 6,9 bilhões, cerca de R$ 35 bilhões).

Amanhã (27), Vieira copresidirá, com o ministro dos Negócios Estrangeiros da Índia Subrahmanyam Jaishankar, a IX Reunião da Comissão Mista de Cooperação Política, Econômica, Científica, Tecnológica e Cultural Brasil — Índia (Comista).

A Comista é o principal mecanismo de coordenação entre o Brasil e a Índia, criada com o objetivo de orientar e avaliar a cooperação bilateral. Nessa reunião serão examinadas formas de promover o comércio, os investimentos e a cooperação em várias áreas, em especial nas áreas de agricultura, defesa e energia, além de ciência e tecnologia, governo digital e pesquisa espacial.

O Itamaraty adiantou que serão debatidos ainda temas de interesse estratégico para os dois países e será reforçada a coordenação entre Brasil e Índia em foros internacionais como o BRICS, o IBAS [Fórum de Diálogo Índia-Brasil-África do Sul, em tradução livre] e o G20 — este atualmente presidido pelo Brasil, na sequência da Índia.

Os chanceleres firmarão o Acordo sobre Cooperação no Combate ao Terrorismo Internacional e ao Crime Organizado Transnacional.

¨      Brasil, Indonésia e África do Sul se preocupam com uso de armas ocidentais contra Rússia, diz China

O Brasil, a Indonésia e a África do Sul estão preocupados com o fato de os países ocidentais estarem continuamente flexibilizando as condições para que a Ucrânia use suas armas para atacar o território russo, disse Li Hui, o representante especial do governo chinês para Assuntos Eurasiáticos, em uma coletiva de imprensa.

De 28 de julho a 7 de agosto, o diplomata visitou o Brasil, a África do Sul e a Indonésia, onde conversou com as autoridades sobre a solução da crise ucraniana.

"Todas as partes estão preocupadas com o fato de o Ocidente estar continuamente flexibilizando as condições para [a Ucrânia] atacar o território russo com as armas fornecidas", disse Hui na coletiva de imprensa sobre o resultado da quarta rodada da "diplomacia de vaivém" do representante especial sobre a crise na Ucrânia.

Como observou, "a situação recente no teatro de operações confirmou esses temores". Hui acrescentou que estes países também estão preocupados com o risco de escalada e agravamento do conflito.

Segundo Hui, os três países acreditam que o prolongamento do conflito ucraniano não é causado apenas pelas ações da Rússia e da Ucrânia, mas que "certos complexos militares-industriais" também estão por trás disso e "manipulam o conflito".

Hui disse que Pequim está disposta a continuar desempenhando um papel construtivo na restauração da paz e na busca de uma solução política para a crise junto com um número cada vez maior de países pacíficos.

"Pedimos a mais países que ajudem a criar condições para a retomada do diálogo direto e das negociações entre os dois lados [Rússia e Ucrânia]."

Contudo, no dia 21 de agosto, tendo como pano de fundo o ataque das Forças Armadas da Ucrânia à região de Kursk, o chefe da diplomacia da União Europeia, Josep Borrell, disse que o levantamento da proibição dos ataques de Kiev com armas ocidentais contra o território russo poderia supostamente "contribuir para os esforços de paz".

No mesmo dia, as Forças de Operações Especiais das Forças Armadas da Ucrânia informaram que haviam usado lançadores de foguetes ocidentais Himars para destruir pontes flutuantes na região de Kursk.

O Ministério da Defesa da Rússia observou anteriormente ter registrado repetidamente o uso de equipamentos militares fabricados nos EUA, inclusive o sistema Himars, durante o ataque do Exército ucraniano à região de Kursk.

De acordo com o ministério militar russo, as Forças Armadas da Ucrânia perderam três desses equipamentos nos combates na área fronteiriça.

A representante oficial do Ministério das Relações Exteriores da Rússia, Maria Zakharova, disse que o ataque da Ucrânia à região de Kursk estava ocorrendo com o apoio total do Ocidente, que havia autorizado essas ações.

 

Fonte: Sputnik Brasil

 

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