terça-feira, 27 de fevereiro de 2024

Nas mãos do capital estrangeiro: após 2 anos de conflito, G7 promete continuar financiando a Ucrânia

De acordo com o comunicado do grupo, o dinheiro vai ser focado na reconstrução e no déficit orçamentário de Kiev, atendendo aos pedidos da equipe econômica de Vladimir Zelensky, que desde dezembro de 2023 fala da importância da ajuda ocidental para que o país continue funcionando.

As principais economias do G7 (grupo composto por Alemanha, Canadá, Estados Unidos, França, Itália, Japão e Reino Unido) se comprometeram no sábado (24) a continuar fornecendo ajuda financeira a Kiev, ao mesmo tempo que mantêm a pressão das sanções sobre Moscou.

De acordo com uma declaração conjunta dos líderes do G7 após a cúpula online que marcou dois anos desde o início do conflito na Ucrânia, a sua prioridade atual é a reconstrução e o déficit orçamentário de Kiev.

"Ajudaremos a Ucrânia a satisfazer as suas necessidades urgentes de financiamento[...]. Continuaremos a apoiar o direito da Ucrânia à autodefesa e reiteraremos o nosso compromisso com a segurança da Ucrânia a longo prazo", dizia o comunicado.

Os líderes do G7 saudaram a recente aprovação pela União Europeia (UE) de um pacote de ajuda de emergência de € 50 bilhões (cerca de R$ 270,6 bilhões) até 2027, mas apelaram aos aliados ocidentais para o complementarem com apoio adicional para cobrir o déficit orçamentário remanescente da Ucrânia para este ano. O Ministério das Finanças ucraniano estimou em dezembro que as necessidades fiscais para 2024 eram de US$ 37,3 bilhões (aproximadamente R$ 186,3 bilhões).

O grupo também observou que Kiev precisa de mais investimentos privados para a reconstrução pós-conflito e disse que a questão seria abordada na Conferência de Recuperação da Ucrânia, em Berlim, ainda neste ano. De acordo com as últimas estimativas, o custo total da reconstrução e recuperação na Ucrânia é atualmente de US$ 486 bilhões (cerca de R$ 2,4 trilhões).

Entretanto, o G7 também se comprometeu a intensificar a pressão das sanções sobre a Rússia, a fim de "aumentar o custo da guerra da Rússia [e] impedir os seus esforços para construir a sua máquina de guerra". O grupo alertou para novas medidas destinadas a reforçar a aplicação do limite máximo de preços do petróleo russo, de modo a "limitar as futuras receitas energéticas da Rússia", mas não entrou em detalhes sobre as novas medidas. Alertou também para sanções secundárias adicionais contra países terceiros que facilitam a evasão de sanções à Rússia.

Entretanto, muitos analistas apontaram para o fato das sanções não terem conseguido desestabilizar a Rússia e, em vez disso, o tiro saiu pela culatra nos países que as impuseram. De acordo com os últimos números oficiais, a economia da Rússia expandiu 3,6% em 2023, ultrapassando os EUA e a UE em crescimento, e ainda é esperado algum crescimento neste ano. As restrições forçaram o país a reorientar a maior parte do seu comércio para a Ásia, enquanto muitos Estados ocidentais perderam o acesso à energia russa barata, o que resultou em um aumento da inflação e em crises de custo de vida.

O G7 também apelou aos aliados para que intensifiquem os esforços destinados a utilizar os ativos congelados da Rússia no exterior para ajudar a Ucrânia. O Reino Unido e os EUA têm defendido uma apreensão total dos fundos e a sua transferência para Kiev, mas essa opção carece atualmente de fundamento jurídico. A UE, que detém cerca de dois terços dos ativos congelados, aprovou recentemente um plano para confiscar os juros ganhos, mas não chegou a confiscar os próprios fundos.

Moscou denunciou repetidamente o congelamento dos seus ativos como ilegal, enquanto muitos políticos e analistas em todo o mundo alertaram que a utilização dos fundos colocaria em risco a credibilidade do sistema financeiro ocidental e das suas principais moedas, o euro e o dólar.

 

Ø  Europa tenta mobilizar sua 'indústria militar fragmentada' para atender à demanda voraz da Ucrânia

 

Os obstinados patronos europeus de Kiev enfrentam desafios crescentes, à medida que tentam equilibrar a satisfação do insaciável financiamento e exigências militares da Ucrânia com o relançamento de própria indústria de defesa do continente.

As nações europeias, ainda determinadas a apoiar a Ucrânia, estão lutando para expandir a produção de defesa a fim de satisfazer os apetites vorazes de Kiev, ao mesmo tempo que tentam não esgotar a sua própria capacidade militar, informou o The Washington Post.

No entanto, "décadas de desinvestimento" na sequência da Guerra Fria é uma das razões pelas quais a Europa se encontra lutando para enfrentar o desafio, disse o veículo citando James Black, pesquisador de defesa e segurança da Rand Europe.

Além disso, existem outras "restrições sistêmicas", tais como "a produção militar fragmentada, mercados de menor escala e barreiras legais à produção conjunta".

Ao longo dos anos, embalados pela complacência e pela remota possibilidade de um conflito militar à sua porta, os países europeus "reconfiguraram" as suas indústrias de defesa e confiaram em forças militares regionais de menor escala, sublinhou o analista.

"A Europa está agora correndo para reaprender a mobilizar a indústria para uma situação de guerra. Mas você não pode simplesmente apertar um botão", disse Black.

Os líderes europeus que aderiram ao movimento liderado pelos EUA de ajuda à Ucrânia, independentemente do custo para si próprios, foram generosos nas fortes declarações de apoio, mas acabaram em uma "situação em que a produção está longe de ser algo que se assemelhe a uma economia de guerra", disse Camille Grand, ex-secretário-geral adjunto da Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN) para investimentos em defesa, segundo a apuração.

"A realidade não corresponde às palavras", acrescentou ele.

Outro funcionário da OTAN citado descreveu o desafio da Europa como "uma crise em formação há muitos anos", acrescentando que "para muitos aliados, a questão da produção de munições era profundamente pouco atraente [...]. Agora está no topo das mentes de todos."

A própria capacidade de defesa da Europa e a ajuda da Ucrânia dominaram as discussões na recente Conferência de Segurança de Munique, onde o presidente da Ucrânia, Vladimir Zelensky, mais uma vez implorou por dinheiro e armas. O apelo de financiamento surgiu no contexto de uma dolorosa derrota no campo de batalha para Kiev, quando as forças russas libertaram a cidade de Avdeevka.

Com a "fadiga da Ucrânia" a fraturar cada vez mais a unidade europeia, muitos orçamentos nacionais da União Europeia (UE) estão cada vez mais sob pressão para financiar a guerra por procuração da OTAN com a Rússia na Ucrânia. Em um contexto de rápido esgotamento dos arsenais de armas e da vacilante produção industrial, os responsáveis da UE reconheceram que, até março, só vão conseguir fornecer à Ucrânia metade do milhão de munições de 155 mm prometidas anteriormente pelo bloco. Um mínimo de 200.000 cartuchos por mês é o que as autoridades ucranianas têm exigido aos seus patronos, enquanto a produção coletiva da Europa ronda os 50.000 por mês, de acordo com uma análise da Estônia.

A UE aprovou um pacote de ajuda de € 50 bilhões (cerca de R$ 270,5 bilhões) para a Ucrânia no início de fevereiro. No entanto, o pacote de ajuda externa dos EUA, que inclui US$ 60 bilhões (aproximadamente R$ 299,7 bilhões) para a Ucrânia, está atualmente paralisado no Congresso. O presidente da Câmara, Mike Johnson, altamente crítico do projeto de lei, afirmou que ele não abordava a segurança da fronteira dos EUA, retirou a votação e anunciou um recesso de duas semanas até 28 de fevereiro.

Em Munique, no final de semana passado, o chefe da política externa da UE, Josep Borrell, reconheceu que, embora o bloco europeu tenha capacidade de produção suficiente para fornecer munições à Ucrânia, os países carecem de financiamento.

A Rússia, que considera o conflito na Ucrânia como uma guerra híbrida liderada pelos Estados Unidos, tem alertado consistentemente contra o financiamento contínuo e as entregas de armas à Ucrânia, dizendo que apenas prolongam o conflito.

 

Ø  Sem plano B, chanceler da Ucrânia pressiona aliados por mais armas: 'Não podemos fazer concessões'

 

O ministro das Relações Exteriores da Ucrânia, Dmitry Kuleba, declarou que o seu país se encontra em uma situação em que não pode "fazer concessões em matéria de fornecimentos militares".

O ministro das Relações Exteriores ucraniano, Dmitry Kuleba, declarou no sábado (24) que Kiev está "pressionando" seus aliados para obter mais armas.

Quando questionado na televisão local sobre o plano B caso a Ucrânia deixe de receber ajuda militar de Washington, o ministro das Relações Exteriores ucraniano sublinhou que se concentra na execução do plano A.

"Quando um plano B é criado em tempos de guerra, é preciso ter certeza que esse plano B vai ocorrer, porque em uma guerra você tem que estar sempre focado no plano A", afirmou, detalhando que esse plano consiste na "consideração máxima dos seus interesses".

"Não estamos em posição de fazer concessões em fornecimentos militares", disse o ministro.

Nesse contexto, o ministro afirmou que, se não receberem projéteis dos Estados Unidos, "daremos a volta ao mundo e traremos projéteis de outras partes do mundo".

O presidente da Ucrânia, Vladimir Zelensky, alertou na sexta-feira (23) que o seu país só pode "derrotar a Rússia" com a ajuda militar dos Estados Unidos e que certamente fracassará sem essa ajuda financeira.

Entretanto, o secretário do Conselho de Segurança e Defesa Nacional da Ucrânia, Aleksei Danilov, instou os países ocidentais a entregarem às Forças Armadas do país todas as armas e equipamento militar de que dispõem. Em sua opinião, no futuro "a aposta será noutra coisa, a guerra será completamente diferente. [Este armamento] será sucata de que eles não precisarão porque haverá uma guerra completamente diferente", disse ele.

·        Mídia norte-americana reconhece impossibilidade de vitória da Ucrânia em meio aos avanços da Rússia

Apesar da altamente esperada contraofensiva ucraniana de 2023, ela foi parada e a Rússia começou a libertação de territórios, uma realidade que os apoiadores de Kiev foram forçados a reconhecer.

A contraofensiva ucraniana fracassou, e eventos como a recaptura de Avdeevka pela Rússia sinalizam uma nova realidade que Vladimir Zelensky foi forçado a reconhecer, escreveu no sábado (24) a revista norte-americana Time.

"A tão esperada contraofensiva do ano passado fracassou", reconheceu no sábado (24) em um editorial Anatol Lieven, do Instituto Quincy, acrescentando que a retórica de Washington mudou de acordo com isso.

"A estratégia do governo Biden agora é manter a defesa ucraniana até depois das eleições presidenciais dos EUA [de novembro de 2024], na esperança de enfraquecer as forças russas em uma longa guerra de desgaste."

A esperança agora é que as forças de Kiev alcancem o tão esperado avanço em 2025, ou talvez no ano seguinte, mas "a Rússia nunca concordará, na mesa de negociações, em ceder terras que conseguiu manter no campo de batalha", argumentou Lieven.

"Os territórios ucranianos perdidos estão perdidos", apontou Lieven.

"Por mais doloroso que um acordo de paz seja hoje, ele será infinitamente mais doloroso se a guerra continuar e a Ucrânia for derrotada", sugeriu ele.

Oper

 

Ø  Taiwan está 'extremamente preocupada' com a possibilidade de EUA abandonarem a Ucrânia

 

A liderança de Taiwan está mostrando preocupação com a falta de ajuda militar à Ucrânia, que teme ser um possível prelúdio para algo semelhante no caso de Pequim organizar uma invasão da ilha.

Altos funcionários taiwaneses questionaram repetidamente membros de uma delegação do Congresso dos EUA sobre a paralisação da ajuda de Washington à Ucrânia devido às repercussões que isso poderia ter sobre a segurança da ilha, informa no sábado (24) o jornal norte-americano Politico.

A delegação de cinco membros se reuniu com a presidente taiwanesa cessante Tsai Ing-wen e o presidente eleito Lai Ching-te, entre outros altos responsáveis, durante uma viagem de três dias a Taipé.

"Taiwan está extremamente interessada na [questão da] Ucrânia e extremamente preocupada com a possibilidade de estarmos nos afastando da Ucrânia", disse na sexta-feira (23) Mike Gallagher, presidente do Comitê Seleto da Câmara sobre Competição Estratégica EUA-China, durante o último dia da visita liderada por ele.

Gallagher reconheceu que o fato de os EUA não continuarem apoiando a Ucrânia em seu conflito com a Rússia, por causa do pacote de US$ 60 bilhões (R$ 299,7 bilhões) paralisado no Congresso, poderia ter um impacto desestabilizador no estreito de Taiwan.

‘"O resultado na Ucrânia é importante não apenas para a Ucrânia e para a credibilidade dos EUA, mas também para a dissuasão no Indo-Pacífico, para a dissuasão através do estreito" de Taiwan, explicou ele.

O congressista tentou tranquilizar as autoridades taiwanesas, temerosas de que um segundo mandato de Donald Trump corte a assistência à ilha.

"O povo de Taiwan deve ter confiança de que, não importa o quanto nossas eleições sejam controversas, os Estados Unidos apoiarão firmemente Taiwan."

Ao mesmo tempo, Mike Gallagher lamentou os atrasos nas entregas de armas a Taiwan, que chegam a US$ 19 bilhões (R$ 94,91 bilhões). Ele reconheceu que a questão "não será resolvida em breve" e exigiu soluções "criativas", incluindo a transferência da produção de drones aéreos e submarinos dos EUA para Taiwan, a fim de acelerar as entregas.

O congressista democrata Raja Krishnamoorthi, por sua vez, notou que altos funcionários taiwaneses "estão observando os pedidos suplementares para a Ucrânia como falcões", e acrescentou que Taipé considera uma "vitória da Ucrânia" algo "incrivelmente importante para enviar uma mensagem ao Partido Comunista Chinês".

 

Fonte: Sputnik Brasil

 

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