segunda-feira, 26 de fevereiro de 2024

Lula tenta pressionar a comunidade internacional em meio à impotência da ONU, diz especialista

Uma acadêmica da Universidade Nacional Autônoma do México enumerou os prováveis motivos para o presidente brasileiro criticar Israel em meio à sua campanha militar na Faixa de Gaza.

No domingo (18) Lula da Silva, presidente do Brasil, condenou as ações de Israel na Faixa de Gaza, e disse que o que está acontecendo lá "não é uma guerra de soldados contra soldados", mas "uma guerra entre um exército altamente treinado e mulheres e crianças".

"O que está acontecendo na Faixa de Gaza com o povo palestino não existiu em nenhum outro momento histórico. Aliás, existiu. Quando Hitler resolveu matar os judeus", disse o mandatário em uma coletiva de imprensa à margem da 37ª Cúpula da União Africana em Adis Abeba, Etiópia.

Ele foi imediatamente condenado pelo primeiro-ministro israelense Benjamin Netanyahu, que o acusou de "banalizar o Holocausto e prejudicar o povo judeu e o direito de Israel de se defender", e Israel Katz, ministro das Relações Exteriores de Israel, em resposta, declarou o líder brasileiro de "persona non grata".

Alguns dias depois, em 23 de fevereiro, o presidente Lula da Silva reiterou sua posição contra Israel e declarou mais uma vez que o que Israel faz na Faixa de Gaza não é guerra, mas genocídio.

·        Qual é o plano de Lula?

Para Mónica Velasco Molina, doutora em estudos latino-americanos e internacionalista da Universidade Nacional Autônoma do México, que falou à Sputnik, as declarações do presidente brasileiro podem ser entendidas de pelo menos três ângulos.

A acadêmica da Faculdade de Ciências Políticas e Sociais considerou que, em primeiro lugar, o líder sul-americano está buscando pressionar a comunidade internacional diante da total ineficácia demonstrada pelas organizações multilaterais diante da derrocada do território árabe, destacando que, durante a cúpula do G20, a delegação brasileira expressou mais uma vez a necessidade de reformular o Conselho de Segurança da ONU.

"Esta é a terceira vez que os Estados Unidos voltam a vetar uma resolução para, pelo menos, colocar um cessar-fogo aos habitantes de Gaza", notou a doutora.

Em segundo lugar, a especialista destacou que, ao comparar o cerco militar israelense à Faixa de Gaza com o Holocausto, Lula parece estar tentando motivar a autocrítica da população judaica, não especificamente em Israel, mas no mundo. Ela citou um exemplo no Brasil, onde o coletivo Vozes Judaicas por Libertação publicou uma carta na qual expressou seu apoio ao chefe de Estado brasileiro.

Em terceiro lugar, Velasco Molina crê que, ao lembrar o Holocausto judeu, Lula da Silva está fazendo uma alusão à comunidade europeia, especialmente à Alemanha, para que reformule sua abordagem ao conflito em curso no Oriente Médio.

Brasil é importante

Molina explicou que vê um alto peso do Brasil na região, tão importante que o fato de Lula falar contra o que está acontecendo na Palestina incentiva outros líderes a se juntarem a ele.

"Não só [o presidente colombiano Gustavo] Petro, mas também Luis Arce, o presidente da Bolívia, [expressou sua solidariedade a Lula] e Israel não gosta nada disso", recordou a acadêmica.

"Isso não significa que a Colômbia não seja importante, mas, digamos, em relação ao peso geopolítico de um ou de outro, o peso político, econômico e populacional do Brasil, de longe, é sem dúvida um eixo que atrai outros países da América Latina, da América do Sul e do Caribe", acrescentou a especialista.

·        Netanyahu convocará gabinete para aprovar plano de operações em Rafah

O primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, anunciou neste sábado (24) que vai convocar seu gabinete para aprovar um plano de operações em Rafah, região da Faixa de Gaza mais próxima da fronteira com o Egito e onde se encontram cerca de 1,5 milhão de deslocados palestinos.

Em sua conta no Twitter, o premiê de Israel afirmou que tentará aprovar, junto de seu gabinete, os planos operacionais para a região de Rafah no início da semana que vem. Dentre os objetivos das Forças de Defesa de Israel estarão a libertação de reféns, a evacuação da população civil e a eliminação de agentes do grupo palestino Hamas.

Segundo Netanyahu, uma delegação foi enviada a Paris, capital da França, para discutir os próximos passos. O presidente francês, Emmanuel Macron, o presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, e o presidente brasileiro, Luiz Inácio Lula da Silva, condenaram uma possível operação militar em Rafah.

"Estamos trabalhando para obter outro esquema para a libertação dos nossos reféns, bem como para a conclusão da eliminação dos batalhões do Hamas em Rafah. É por isso que enviei uma delegação a Paris e esta noite discutiremos os próximos passos nas negociações. Portanto, no início da semana, convocarei o gabinete para aprovar os planos operacionais de ação em Rafah, incluindo a evacuação da população civil. Só uma combinação de pressão militar e negociações firmes conduzirá à libertação dos nossos reféns, à eliminação do Hamas e à realização de todos os objetivos da guerra."

Logo no início do contra-ataque israelense, Netanyahu avisou aos civis para que se deslocassem a Rafah, declarando a porção sul da Faixa de Gaza uma zona segura. No entanto, Israel não cumpriu sua promessa e realizou diversos ataques aéreos na região desde então.

Organismos internacionais classificam a ação como deslocamento forçado em massa, o que é condenável a partir das convenções de crimes de guerra e genocídio, dos quais Israel é acusado.

 

Ø  EUA criticam expansão de assentamentos judaicos na Cisjordânia: 'Enfraquece segurança de Israel'

 

Washington criticou as ações israelenses de fazer crescer ilegalmente seus assentamentos no território palestino ocupado, que também vê como nada práticos do ponto de vista de sua própria segurança.

A Casa Branca declarou na sexta-feira (23) que a expansão dos assentamentos de Israel na Cisjordânia ocupada é inconsistente com o direito internacional.

Antony Blinken, secretário de Estado dos EUA, disse durante uma coletiva de imprensa em Buenos Aires, Argentina, que em Washington estavam "decepcionados" com o anúncio de Israel sobre os planos de construção de novas habitações na Cisjordânia, e que tais passos eram contraproducentes para alcançar uma paz duradoura.

"Eles também são inconsistentes com a lei internacional. Nosso governo mantém uma firme oposição à expansão dos assentamentos e, em nossa opinião, isso apenas enfraquece, e não reforça, a segurança de Israel", disse Blinken.

O governo dos EUA tem imposto sanções a colonos israelenses acusados de envolvimento na violência contra palestinos na Cisjordânia. No entanto, a administração de Joe Biden não tem aplicado grande pressão sobre Tel Aviv.

A maioria dos países considera os assentamentos, que em muitas áreas separam as comunidades palestinas umas das outras, como uma violação da lei internacional, enquanto Israel afirma um direito bíblico de posse da terra.

Desde o ataque do Hamas em 7 de outubro até o momento, a campanha militar de Israel já deixou quase 30 mil palestinos mortos.

Enquanto isso, do lado israelense, quase 1.500 pessoas foram mortas.

·        Ameaça de houthis aumentarem ataques é retaliação aos EUA e Reino Unido, diz líder do grupo

O grupo iemenita Ansar Allah, também conhecido como houthis, emitiu advertência nesta sexta-feira (23), ameaçando intensificar seus ataques nos mares Vermelho e Árabe caso os ataques americanos e britânicos nas áreas sob seu controle persistam.

Muhammad Ali Al-Houthi, membro do Conselho Político Supremo formado por Ansar Allah, fez a declaração em suas redes sociais, dizendo que a continuação da agressão por parte dos Estados Unidos e Reino Unido será confrontada com uma escalada crescente de retaliação por parte do grupo.

"A opção pela paz para os americanos é clara: parar o genocídio em Gaza e fornecer ajuda humanitária adequada, como alimentos e remédios. A alternativa é apenas um caminho para o fracasso e para a perpetuação do sofrimento", afirmou Al-Houthi.

Ele enfatizou que as forças iemenitas operam com eficácia e modernidade, utilizando técnicas e armamentos que têm se mostrado eficazes contra os ataques, inclusive contra navios israelenses.

Os recentes acontecimentos incluem ataques aéreos dos EUA e do Reino Unido contra locais do grupo na província de Hodeidah, no oeste do Iêmen.

Além disso, o Comando Central dos EUA anunciou ter interceptado vários drones e mísseis de cruzeiro antinavio pertencentes ao Ansar Allah.

Estas ações vêm em resposta aos ataques do grupo contra alvos na região de Eilat, no sul de Israel, e ao bombardeio de um navio britânico no Golfo de Aden, bem como ao ataque a um contratorpedeiro americano no Mar Vermelho com drones.

Desde outubro passado, o Ansar Allah tem intensificado seus ataques contra navios no mar Vermelho e em Bab al-Mandab em retaliação às operações do exército israelense contra a resistência palestina em Gaza.

O grupo Ansar Allah reiterou seu apoio à resistência palestina e afirmou fazer parte do eixo de resistência que inclui o Irã, a Síria, o Hezbollah libanês e facções palestinas, destacando sua disposição para combater ao lado da resistência palestina.

Desde 2014, o movimento controla a maioria das províncias do centro e norte do Iêmen, incluindo a capital, Sana'a.

Em 2015, coalizão árabe liderada pela Arábia Saudita lançou operações militares para tentar recuperar essas áreas do controle do grupo, resultando em um conflito prolongado e devastador no país.

 

Fonte: Sputnik Brasil

 

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