Síndrome do ‘sangue grosso’: conheça a doença que
fez jovem ter braço amputado
Uma estudante de medicina
de Belo Horizonte (MG) foi hospitalizada pelo que acreditava se tratar de uma
crise de asma, contudo, ela acabou passando por um coma e acordou 36 dias
depois com um braço amputado, além de passar por uma traqueostomia
[Procedimento cirúrgico em que é realizada uma abertura na traqueia para
assegurar o processo de respiração]. A causa de toda essa situação foi a
enfermidade que também é conhecida como síndrome do “sangue grosso”, pelo fato
de afetar a coagulação.
A estudante descobriu que
possuía a SAF (Síndrome do Anticorpo Antifosfolipídeo) após ser hospitalizada
com falta de ar.
>>> Entenda o caso:
- Bárbara Maia sentiu uma falta de ar e foi
ao hospital, onde recebeu medicação; No dia seguinte teve que retornar ao
local pela mesma razão;
- A jovem foi internada e teve que ser
transferida a outro hospital devido ao seu convênio;
- Ela passou por dois AVCs, uma falência
renal, uma hemorragia de intestino e uma traqueostomia, além de ter que
passar por fisioterapia para recuperar os movimentos do corpo;
- Foi só depois de todas essas dificuldades
que o diagnóstico foi dado e foi confirmada a Síndrome do “Sangue Grosso”;
- A estudante fez uma campanha para juntar
fundos com o objetivo de comprar uma mão biônica que a possibilite ser uma
médica oncologista no futuro.
De acordo com o vídeo
postado por Bárbara nas redes sociais, no dia 7 de maio ela sentiu falta de ar
e foi ao pronto-socorro, local em que foi medicada e melhorou momentaneamente.
“No dia seguinte, na parte da tarde, tive o mesmo problema e o broncodilatador
que eu utilizava para a asma não estava funcionando […] Fui levada ao mesmo
pronto-atendimento por uma ambulância […] Os médicos optaram pela intubação”,
contou.
Por conta do plano de
saúde da estudante estar em um período de carência, ela teria que pagar pela
estadia no hospital, cuja diária era algo em torno de R$ 15 mil. “Uma médica se
sensibilizou com a situação e ligou para um colega da Santa Casa, que conseguiu
uma vaga para mim.”
Depois de ser transferida
para a Santa Casa de Belo Horizonte, a mulher ficou 36 dias em coma e acordou
sem saber o que tinha acontecido com ela. “Eu tive tromboembolismo pulmonar,
pneumonia, dois AVCs do lado direito, falência renal e uma hemorragia
intestinal”, explicou a jovem.
Bárbara teve que tomar 13
bolsas de sangue e realizar várias sessões de hemodiálise, além de realizar uma
traqueostomia.
A estudante foi novamente
transferida, mas desta vez, para a unidade de cuidados prolongados do hospital,
onde passou por uma fisioterapia, já que ela não conseguia se movimentar
adequadamente, e terapia ocupacional. “Fui diagnosticada com uma doença
genética chamada SAF, que faz com que meu sangue coagule facilmente.”
>>>> O que é essa síndrome?
A Síndrome do “Sangue
Grosso” é uma doença autoimune que gera anticorpos antifofípedes capazes de
atacar o próprio organismo, como elucida a hematologista Helena Visnadi, do
Hospital São Luiz Anália Franco. “Essas imunoglobulinas são capazes de inibir o
sistema de anticoagulação natural”, o que acaba com o equilíbrio deste processo
no corpo humano.
De acordo com a
hematologista, os sintomas mais comuns envolvem justamente os problemas
relacionados à coagulação do sangue como a embolia pulmonar e uma contagem
baixa de plaquetas.
Dante Bianchi, coordenador
de reumatologia da Rede D’or, também explica que não há como saber qual é o
“gatilho” que gera a doença e faz ela começar. “O sistema imunológico começa a
agredir algumas estruturas, especialmente plaquetas e células da placenta. O
que aumenta o risco de gerar uma trombose, entupindo os vasos.”
O especialista esclarece
que existem duas formas de ação da síndrome que é mais comum em mulheres. “A
manifestação obstétrica causa aborto de repetição, perda fetal e partos
prematuros, que acontecem durante a gestação, já que a SAF aumenta o risco
dessas condições”. A outra ocorrência causa tromboses recorrentes e AVC
(Acidente Vascular Cerebral).
·
Diagnóstico
Helena Visnadi também
fala sobre os motivos do diagnóstico ser tão complicado, citando o fato de a
confirmação da doença requerer exames laboratoriais e critérios clínicos. “Por
não se tratar de uma trombofilia hereditária, não vai haver uma história
familiar que demonstre o ‘rastro’ da enfermidade. Além disso, não é algo que se
define em uma só avaliação.”
Dante Bianchi complementa
que as pessoas demoram para pensar que a culpada por algum problema pode ser
essa doença, já que ela é uma condição rara. “Esse é o principal motivo do
atraso, fora isso, ano é nem todo hospital e laboratório que consegue fazer
esses exames, eles não são tão fáceis de disponibilizar.”
·
Tratamento
O reumatologista relata
que o tratamento se baseia no uso de anticoagulantes que são popularmente
conhecidos por “afinar o sangue”, exceto em casos específicos. “Em alguns
pacientes com determinadas manifestações da síndrome, a gente pode precisar
usar alguns imunossupressores também, mas o básico é o uso de remédios.”
Helena Visnadi diz que o
tratamento é direcionado para a trombose, sendo assim, nesse caso, o uso desses
remédios é prolongado e contínuo. “Os anticoagulantes, como citado
anteriormente, tornam mais difícil a formação de coágulos no sangue”, portanto,
o paciente deve ter alguns cuidados em caso de machucados ou procedimentos
invasivos. “A medicação eleva o risco de sangramentos.”
·
Campanha de Bárbara Maia
Após sair do hospital, a
estudante de 27 anos Bárbara Maia fez diversas postagens nas redes sociais
pedindo por ajuda para comprar uma prótese, com o intuito de poder ser uma
médica no futuro e “levar a vida da maneira mais normal possível”, que possui o
valor de R$ 480 mil.
Fonte: IstoÉ
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