sexta-feira, 27 de outubro de 2023

Pesquisadores fazem testes em quem usa drogas nas baladas e identificam substância que causa necrose

Pesquisadores da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) estão fazendo testes para identificar as substâncias que são consumidas em festas, festivais e shows. Eles já descobriram que que uma delas pode causar necrose nas extremidades do corpo, como nariz, dedos e pés.

O Profissão Repórter desta terça-feira (24) mostrou quais são as drogas mais utilizadas na atualidade e os impactos que elas provocam na saúde da população.

Na última pesquisa, realizada entre 2018 e 2020, 70% das amostras identificaram substâncias diferentes das declaradas pelos usuários, incluindo um vermífugo utilizado para diluir a cocaína.

 “A gente tem percebido que existe uma discordância entre o que o usuário consome e o que a gente encontra nas amostras biológicas. Isso é um fator de risco, pois se ela for mais potente ele tem o risco de ter uma overdose e feitos indesejados”, afirmou o pesquisador Rafael Lanaro.

O repórter Chico Bahia e o repórter cinematográfico Fernando Grolla acompanharam a coleta e conversaram com as pessoas que participaram do teste.

Trabalho com voluntários

"Eu tomei uma bala [nome utilizado para designar MDMA] faz 1h30. Ainda é uma coisa muito nova no Brasil, não se fala muito sobre isso, de ter esse controle de qualidade da substância que estamos ingerindo”, afirmou um dos voluntários da pesquisa.

A pesquisadora Aline Franco Martin explica que é feita uma coleta por saliva de quem fez o uso de alguma substância nos eventos. A participação é de maneira voluntária, gratuita e garante o anonimato dos participantes.

 “No Brasil, a gente não sabe a procedência dos tipos de drogas, principalmente alucinógenos, que a gente sabe que há muita alteração dentro da química em que ele é produzido”, diz uma usuária que também consumiu MDMA.

“Por mais que seja uma droga que não seja legalizada, eu não quero consumir uma coisa que eu não imagino o que seja”, conta outro voluntário.

As amostras de saliva colhidas na festa são levadas ao laboratório da Unicamp. Os pesquisadores comparam as substâncias identificadas com o que haviam sido declarado. O resultado é compartilhado com os usuários por meio de um link anônimo.

 

       Morfina, codeína, oxicodona, fentanil: entenda por que o uso recreativo de opioides preocupa especialistas em todo o mundo

 

Nas ruas, na balada e em centros de tratamento: o Profissão Repórter desta terça-feira (24) investigou quais são as drogas usadas atualmente e os impactos que elas provocam na saúde da população. Uma das principais preocupações mundo afora é o uso recreativo dos medicamentos opioides.

No Brasil, a dependência de opioides é alta: três vezes maior que a do crack. Segundo a Fiocruz, pelo menos quatro milhões de brasileiros já usaram algum medicamento dessa classe sem indicação médica.

A equipe de reportagem foi até Itapecerica da Serra, em São Paulo, para visitar uma clínica de reabilitação focada na dependência de opioides e conversou com um usuário, que não quis se identificar.

 “Já usei mais de 30 substâncias ao longo da minha vida. Só que eu sou farmacodependente. Estava usando morfina, codeína e oxicodona”, relatou.

Os analgésicos opioides vêm sendo fabricados pela indústria farmacêutica há mais de 200 anos. E, ainda hoje, são os medicamentos mais poderosos contra a dor. Como o risco de dependência é alto, o controle de venda precisa ser rígido e uma prescrição médica é exigida para a venda.

>>>> Qual a potência de cada um desses opioides?

•        Morfina: descoberta a partir do ópio, que é a seiva da papoula, a morfina é o mais antigo opioide para tratar dor intensa. É também usada como padrão para medir a potência de outros medicamentos da mesma classe.

•        Codeína: opioide mais vendido no Brasil, indicado para dor moderada, é mais fracO que a morfina.

•        Oxicodona: também é vendida no Brasil, é 1,5 vez mais potente que a morfina. Foi esse medicamento que provocou o início a primeira onda de mortes por opioides nos EUA em 1999. Usuários de oxicodona migraram para a heroína – droga ilegal, 50 vezes mais forte que a morfina.

•        Fentanil: o opioide mais potente que existe. É 100 vezes mais forte que a morfina. Uma pequena quantidade é o suficiente para que o medicamento leve uma pessoa a morte.

O fentanil é o medicamento da classe dos opioides mais forte que existe. — Foto: Reprodução/Profissão Repórter

O mais potente, o fentanil, apareceu em apreensões no Brasil este ano. A polícia acredita que está sendo usado para potencializar a cocaína e outras drogas.

A dependência de medicamentos opioides acontece de forma rápida e, muitas vezes, de forma imperceptível.

 “Em questão de um mês, dois, eu comecei a multiplicar as doses, o consumo. (...) É um prazer momentâneo. Muito intenso de analgesia. Porém, a consequência é muito devastadora”, relatou o paciente da clínica de Itapecerica da Serra.

“Basicamente, são duas fontes de entrada. Uma, é o paciente que já busca recreativamente o uso de opioides para ter algum prazer, e a outra, que tem sido a maioria até então, que são pacientes que tiveram dor, fizeram o uso prescrito por um médico, e desenvolveram dependência”, explicou André Malbergier, coordenador do ambulatório de opioides do Hospital das Clínicas.

•        O 'efeito zumbi' das drogas K

Segundo o perito criminal Emerson Oliveira, tem sido comum encontrar fentanil e outros opioides misturados nas drogas K, que causam o chamado "efeito zumbi", e têm se popularizado no Brasil.

Em São Paulo, a repórter Danielle Zampollo flagrou jovens usando drogas K em um terminal de ônibus na Zona Leste.

Feita em laboratório, e com nomes diversos, as K pertencem ao grupo de Novas Substâncias Psicoativas. As chamadas drogas K surgiram em laboratórios e têm como base os canabinoides sintéticos.

Os canabinoides sintéticos agem no cérebro nas mesmas áreas que a maconha atua, mas não são derivados da planta.

A reportagem mostra também como funciona o HUB de cuidados em crack e outras drogas, um serviço público que fica no centro de São Paulo. Dados do HUB mostram que 1 em cada 5 pacientes é usuário de drogas K.

•        Epidemia de opioides nos EUA

Os Estados Unidos vivem o pico da epidemia de mortes por opioides de toda sua história.

Só esse ano, mais de 100 mil pessoas morreram por overdose no país, segundo o departamento de saúde norte-americano. O mais preocupante: 60% dessas mortes foram causadas pela mesma droga, o fentanil.

Na cidade de Nova Iorque, a situação é ainda pior: de todas as mortes por overdose, 80% estão relacionadas ao fentanil.

Para mostrar a situação por lá, a repórter Mayara Teixeira e o repórter cinematográfico Alex Carvalho foram ao Bronx, bairro com a maior taxa de mortalidade por overdose em Nova Iorque, para conversar com usuários e organizações que oferecem programas de redução de danos.

 

       Droga do efeito zumbi: 'Eu vou atrás, ele foge', relata mãe de menino viciado em K9 que vive nas ruas

 

O Profissão Repórter desta terça-feira (24) exibiu histórias de pessoas que usam drogas sintéticas, como as drogas K, e mostrou quais os efeitos dos fármacos na vida dessas pessoas. Uma dessas pessoas é o jovem Kauan, de apenas 13 anos, que luta contra o vício e deixa a mãe preocupada.

Kauan está ausente de casa desde quando era criança. A mãe, Valênia Santiago, tem outros quatro filhos, mas ele é o único que tem um vício. Aos 13 anos, ele dorme na rua e foi visto no Metrô Itaquera, um dos principais terminais de ônibus da Zona Leste paulistana. E a mãe tenta fazê-lo retornar para casa enquanto se emociona ao se preocupar com o estado dele.

“Bem mal. Horrível. Está muito viciado, está mal mesmo. Está muito viciado, muito magro, muito. Não vem para casa, eu vou atrás dele e ele foge de mim, e não consigo trazer ele. Muito difícil”, disse Valênia.

“Tem um mês que ele não vem para casa. Quando ele vem, eu dou banho nele, passo o pente fino, corto a unha dele. E as meninas querem ajudar. A Kauane chega até a chorar, pedindo ‘volta para casa’”, contou a mãe.

Valênia foi convidada pelas voluntárias da ONG Gente de Perto para uma festa de Dia das Crianças, onde ela poderia levar toda a família. E preparou a todos para irem ao evento. No entanto, faltava encontrar Kauan.

A mãe e os quatro filhos procuraram o adolescente no terminal Itaquera, mas não encontraram – mesmo com a indicação dos funcionários do local. Sem sucesso, Valênia desistiu e foi para a festa com os outros quatro filhos.

A reportagem do Profissão só conseguiu encontrar com Kauan depois de passar uma semana inteira frequentando o terminal. E quando o viu, não conseguiu falar com ele, que se afastou ao ser abordado ainda com certa distância. Virgílio Viera, outro voluntário da ONG, revelou que a procura de Kauan já dura mais de um mês.

“Na verdade, ele está com alguns problemas aqui. Encontrei uma menina lá da Sé e ela falou que ele está muito viciado, não quer deixar de maneira nenhuma, então ele quer mais e mais usar; E ela falou assim: ‘ele está correndo risco, tia, ele vai morrer’. Estou procurando ele há mais de um mês aqui, não encontrava ele de maneira nenhuma, e agora encontramos. Vamos ver o que se pode fazer”, disse.

 

Fonte: g1

 

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