Funai de Bolsonaro usou CGU para justificar falta de demarcações
Durante o governo Bolsonaro, a Fundação Nacional
dos Povos Indígenas (Funai) usou uma restrição da Controladoria-Geral da União
(CGU) ao pagamento de diárias para justificar a falta de demarcação de terras
indígenas. Atendendo a uma promessa de campanha de Jair Bolsonaro em 2018,
nenhuma terra indígena foi reconhecida durante o mandato.
Em junho de 2020, o então presidente da Funai,
Marcelo Xavier, fez uma consulta formal ao ministro da CGU na época, Wagner
Rosário. Xavier alegava que a fundação precisava pagar diárias a servidores
públicos de outros órgãos federais e também de estados, no caso de policiais
militares. O objetivo era proteger servidores da Funai em atividades de fiscalização
e estudos, segundo Xavier.
A resposta da CGU foi negativa e chegou à Funai no
mês seguinte. O órgão afirmou que não havia previsão legal para o pagamento
dessas diárias, em documento assinado pelo coordenador-geral da Auditoria da
Área de Justiça e Segurança Pública, Sidney Cardoso.
Em seguida, a Funai afirmou em um documento interno
que a restrição da CGU impactaria diversas ações da fundação, inclusive
ordenadas por ações judiciais.”São impactados procedimentos de terras em
estudo”, afirmou o ofício, citando que professores de universidades federais
atuam nesses casos e deixariam de receber diárias.
“Será necessário tempo para a adaptação
administrativa”, escreveu o coordenador de Orientação a Estudos
Multidisciplinares, Flávio Schardong, no documento enviado a Maria Rita
Alencar, coordenadora de Identificação e Delimitação.
Em maio deste ano, já no governo Lula, Marcelo
Xavier foi indiciado pela Polícia Federal pelo assassinato do indigenista Bruno
Pereira e do jornalista inglês Dom Phillips. A corporação considerou que Xavier
não agiu para evitar o ataque.
• Governo
acumula 166 processos de demarcação de terras indígenas
O governo federal acumula pelo menos 166 processos
de demarcação de terras indígenas, alguns há 40 anos. Essa lentidão deve se agravar
depois que o Senado contrariou o STF e aprovou um projeto que fixa o marco
temporal, tese dos ruralistas para dificultar a demarcação de terras indígenas.
Na Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai),
tramitam pelo menos 146 processos. É no órgão que acontecem os estudos
antropológicos e fundiários.
Depois da análise da Funai, o processo segue para o
Ministério da Justiça. Até o início deste ano, a fase final acontecia no
Ministério dos Povos Indígenas, mas o Congresso esvaziou a pasta recém-criada
em mais uma derrota do governo Lula.
O Ministério da Justiça contabiliza 20 processos.
Há casos de todas as últimas quatro décadas, desde que a ditadura militar foi
enterrada com a atual Constituição. Foi nos anos 1980 que o governo foi
demandado para demarcar a terra indígena do povo Xukuru-Kariri, em Palmeira dos
Índios (AL). Mesma situação da terra Toldo Imbu, do povo Kaingang, em Toldo
Imbu (SC). Os documentos foram obtidos por meio da Lei de Acesso à Informação.
No último dia 27, o Senado aprovou um projeto da
Câmara que reconhece a tese do marco temporal. Isso quer dizer que só podem ser
demarcadas terras indígenas que eram ocupadas por essas populações quando a
Constituição foi promulgada, em 1988. O texto depende agora da sanção de Lula.
O movimento foi uma reação ao julgamento do Supremo que, seis dias antes,
considerou que essa tese é inconstitucional.
<><> MPF se reúne com lideranças
indígenas para tratar da delimitação da Terra Indígena Kapôt Nhinore
O Ministério Público Federal (MPF) se reuniu nesta
segunda-feira (2) com lideranças indígenas dos povos Kayapó e Juruna para
tratar do processo demarcatório da Terra Indígena Kapôt Nhinore, cuja área está
localizada nos estados de Mato Grosso e Pará. A reunião foi com a coordenadora
da Câmara sobre Populações Indígenas e Comunidades Tradicionais (6ª CCR) do
MPF, a subprocuradora-geral da República Eliana Torelly.
Durante a reunião, os representantes indígenas
fizeram um apelo para que o MPF acompanhe as atividades da Comissão Externa
sobre Delimitação da Terra Indígena Kapôt Nhinore, da Câmara dos Deputados. A
comissão vai promover nesta terça-feira (3), às 14h, na Câmara dos Deputados,
um debate acerca da delimitação da terra indígena. Duas dentre as lideranças
que se reuniram com a subprocuradora-geral participarão do debate: Daniel Yudja
e Mengaron Txucarramae.
As lideranças relataram que a terra Kapôt Nhinore é
território tradicional e pedem apoio do MPF para que se conclua a demarcação.
Também relataram que um grupo de deputados teria ido ao território sem
autorização prévia, o que violaria termos da Convenção 169 da OIT.
Como encaminhamento da reunião, a coordenadora da
6ª Câmara do MPF vai acompanhar a audiência pública desta terça-feira, que vai
ocorrer no Anexo II, Plenário 04 da Câmara dos Deputados. A Terra Indígena
Kapôt Nhinore abrange 362.243 hectares nos municípios de Vila Rica e Santa Cruz
do Xingu, em Mato Grosso, e São Félix do Xingu, no Pará. A área é sagrada para
os Yudjá (Juruna) e Mebengokrê (como se nomeiam os Kayapó). Ali nasceu o
cacique Raoni, liderança que reivindica a área há cerca de 40 anos.
Indígenas
alertam para a urgência na demarcação e proteção dos territórios no Conselho de
Direitos Humanos da ONU
Na última quinta-feira (28), lideranças indígenas
da Aty Guasu – a Grande Assembleia Guarani e Kaiowá – reforçaram que a
demarcação e a proteção dos territórios tradicionais são medidas fundamentais
para preservação da biodiversidade, combate às mudanças climáticas e garantia
da soberania alimentar, social e cultural dos povos originários no Brasil.
O alerta foi realizado em Diálogo Interativo com o
Relator dos Direitos dos Povos Indígenas, durante a 54ª sessão do Conselho de
Direitos Humanos (CDH) da Organização das Nações Unidas (ONU), que está sendo
realizado de 11 de setembro a 13 de outubro deste ano, em Genebra, na Suíça.
A historiadora, vereadora e representante das
mulheres Guarani e Kaiowá, Inaye Lopes, chamou a atenção para o fato de que,
todo e qualquer financiamento dos investimentos, devem levar em conta a perspectiva
indígena para não serem exclusivos, assim como assegura a Convenção 169 da
Organização Internacional do Trabalho (OIT), em relação à Consulta Prévia,
Livre, Informada e Consentida.
“Neste contexto, estamos refletindo sobre como as
comunidades Guarani e Kaiowá podem ter atividades sustentáveis. Há
discriminação e preconceito contra nossos produtos indígenas. Muito pouco desta
economia é convertida para as nossas comunidades”, listou Inaye, preocupada com
autonomia de seu povo.
Enquanto o mundo direciona os olhares para a
Amazônia, no centro do país o bioma Cerrado – considerado o berço das águas no
Brasil – está sendo destruído sem que ninguém preste atenção. Portanto, a
garantia dos direitos dos povos indígenas deve ser a estratégia central para um
desenvolvimento justo e sustentável da humanidade. “Isto requer, primeiro, a
demarcação do nosso território ancestral”, alerta Josiel Machado, liderança
Guarani e Kaiowá no Mato Grosso do Sul.
O acesso a serviços políticas públicas, como água,
educação, saúde e alimentação, constam na sequência da listagem de Josiel como
indispensáveis. Para ele, em “terceiro lugar estão as políticas e programas de
apoio à agricultura indígena e ao reflorestamento. Aos modos de viver e de
produzir dos povos indígenas”. “É preciso que o mundo reverta a grande perda da
biodiversidade, e recupere a natureza e sua rica biodiversidade”, reforça a
liderança Guarani Kaiowá, que é sobrevivente do massacre de Guapoy, em Amambaí
(MS).
As contribuições de Inaye e Josiel se deram no
mesmo evento, com a presença do Relator Especial das Nações Unidas para os
Direitos dos Povos Indígenas, José Francisco Cali Tzay, a quem Josiel fez
referência ao afirmar que: “como diz o relator, 80% da biodiversidade mundial
está em território indígena”.
Ao concluírem suas contribuições ao Conselho de
Direitos Humanos, nesta edição, Inaye reforçou as razões pelas quais os Guarani
e Kaiowá, “lutamos por nosso território tradicional, que é um espaço de Bem
Viver. Nosso tekohá – lugar onde se é – é o caminho dos povos Guarani e Kaiowá,
como resistência ao racismo e genocídio cotidiano. Digo isso para o mundo
saiba”, completou a liderança.
Por sua vez, Josiel finalizou sua contribuição
questionando os presentes na sessão: “por que não começamos protegendo esses
territórios e modos de vida?”, direcionando-se aos presentes na 54CDH.
• Incidências
na Europa
Nas duas últimas semanas de setembro, entre os dias
18 e 30, Josiel Machado e Inaye Lopes, ambas lideranças Guarani e Kaiowá, do
Mato Grosso do Sul (MS), estão na Europa para denunciar as violações de seus
direitos.
A programação contemplou, ainda, um conjunto de
incidências junto a representantes de instituições europeias, do parlamento, de
comissões e serviços externos europeus. O objetivo é chamar atenção para a situação
que os povos Guarani e Kaiowá enfrentam no Brasil.
Na avaliação dos indígenas, é importante falar com
os formuladores de políticas europeias e com os órgãos de direitos humanos da
ONU. Em especial, neste momento em que o Congresso Nacional, busca aprovar o
Projeto de Lei (PL) 2903/2023 – antigo PL 490/2007 – e instituir o marco
temporal de forma legislava, contrariando a decisão do Supremo Tribunal Federal
(STF), que no último dia 21 derrubou a tese por 9 votos a 2.
Dada a gravidade da situação, nessa sexta-feira
(29), organizações indígenas, de direitos humanos e socioambientais enviaram
uma carta ao presidente Lula pedindo que vete o PL 2903, aprovado pelo Senado
Federal nesta semana. O documento foi entregue pelas lideranças indígenas a
Tovar da Silva Nunes, chefe da missão brasileira na ONU em Genebra, Suíça.
Além dos indígenas, o comitê é composto por
representantes do Conselho Indigenista Missionário (Cimi) e da Organização pelo
Direito Humano à Alimentação e à Nutrição Adequadas (FIAN) Brasil e Internacional.
Operação
retira ocupações de duas terras indígenas no Pará
Uma operação de retirada de não indígenas das
terras Apyterewa e Trincheira Bacajá, no estado do Pará, mobiliza, na manhã
desta segunda-feira (2), o Ministério dos Povos Indígenas, a Fundação Nacional
dos Povos Indígenas (Funai) e a Força Nacional de Segurança Pública, além de
mais 11 órgãos ambientais, de segurança pública e inteligência. Cerca de 1,6
mil famílias vivem ilegalmente na região.
De acordo com informações da Secretaria de
Comunicação Social da Presidência da República (Secom), 2,5 mil indígenas dos
povos Parakanã, Mebengôkre Kayapó e Xikrim, distribuídos em 51 aldeias, vivem
nas duas terras indígenas que abrangem parte dos municípios de São Félix do
Xingu, Altamira, Anapú e Senador José Porfírio. Há ainda registro de indígenas
isolados com contato recente com não indígenas na região.
A Secom informou ainda que a operação acontecerá de
forma semelhante a ação ocorrida na Terra Indígena Alto Rio Guamá (Tiarg), nos
municípios de Nova Esperança do Piriá, Santa Luzia e Paragominas, no nordeste
do Pará. De maio para junho o governo negociou a saída pacífica de 1,6 mil não
indígenas da terra onde vivem 2,5 mil indígenas dos povos Tembé, Timbira e
Kaapor, distribuídos em 42 aldeias próximas ao Rio Guamá.
Segundo a Funai, a presença de estranhos no
território indígena, além de representar uma ameaça à integridade dos povos que
ali vivem, também pode causar danos ambientais, já que alguns ocupantes
promovem a destruição da vegetação nativa para praticar atividades como criação
de gado e garimpo, de forma ilegal.
A medida cumpre uma determinação judicial de
devolução da posse e cumprimento do direito de uso exclusivo das terras
indígenas pelos povos originários, conforme o previsto no artigo 213 da
Constituição Federal.
Os outros órgãos que atuam na força-tarefa são o
Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra), Instituto
Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), Agência
Brasileira de Inteligência (Abin), Polícia Federal, Polícia Rodoviária Federal,
Centro Gestor e Operacional do Sistema de Proteção da Amazônia (Censipam),
Comando Militar do Norte, Ministério do Trabalho e Emprego e Secretaria de
Comunicação Social da Presidência da República (Secom).
MPF se
reúne com lideranças indígenas e sociedade civil para apresentar nova estrutura
de atendimento no Amazonas
Com o objetivo de apresentar os novos gabinetes com
atuação na temática de povos indígenas e comunidades tradicionais no Amazonas,
o Ministério Público Federal (MPF) promoveu, na última sexta-feira (22),
reunião com lideranças de povos indígenas e tradicionais, além de
representantes da sociedade civil. Até o ano passado, o estado contava com
apenas um gabinete atuando de forma especializada na temática, tendo o segundo
iniciado a atuação em agosto de 2022. Agora, são três gabinetes vinculados à
câmara temática populações indígenas e comunidades tradicionais (6ª Câmara de
Coordenação e Revisão) do MPF.
O encontro ocorreu de forma híbrida, na sede do MPF
no Amazonas e virtualmente. Na ocasião, as lideranças enfatizaram a atuação do
órgão na garantia de direitos como a regularização fundiária; a criação do
fórum Diálogo Amazonas; a Catrapoa e a Catrapovos; e a mediação realizada em conflitos.
Além disso, destacaram a importância do atendimento humanizado e da escuta
ativa de demandas, bem como a visita do MPF nos territórios para conhecer a
realidade das comunidades.
Para os novos procuradores da República Janaína
Mascarenhas e Eduardo Sanches, o encontro foi importante para apresentar o
reforço na atuação do MPF. “Essa aproximação nos permite ouvir as expectativas,
mostrar nossa abertura à sociedade e tornar mais célere nossa atuação”, afirmou
Janaína Mascarenhas. Para Eduardo Sanches, a obrigação de defender os direitos
dos povos indígenas e das comunidades tradicionais passa necessariamente pela
proximidade com os grupos. “Por terem formas próprias de existir e se
relacionar com seus territórios e com a sociedade envolvente, eles são os
únicos aptos a definirem suas demandas e elencarem suas prioridades”, ressaltou
o procurador.
Representando as lideranças dos povos indígenas e
comunidades tradicionais, participaram da reunião o Movimento dos Estudantes
Indígenas do Amazonas (Meiam), Coordenação de Povos Indígenas de Manaus e
Entornos (Copime), Instituto Socioambiental (ISA), Instituto Internacional de
Educação do Brasil (IEB), Conselho Nacional de Saúde (CNS), Articulação das
Organizações e Povos Indígenas do Amazonas (Apiam), Organização dos Povos
Indígenas do Juruá (OPIJ), Organização Internacional para as Migrações (OIM),
Comissão Pastoral da Terra (CPT), Associação dos Trabalhadores Rurais de Juruá
(Astruj), Caritas Cuxiuara – Rio Purus, União Indígena de Coari, Federação das
Organizações Indígenas do Rio Negro (Foirn), Fórum de Educação Escolar e Saúde
Indígena do Amazonas (Foreeia), Associação Indígena Karapãna, Resex
Extrativista Baixo Juruá e Associação dos Witoto do Alto Rio Solimões (AWAS).
Fonte: Metrópoles/Agencia Câmara de
Notícias/Cimi/Agencia Brasil/PGR
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