sexta-feira, 27 de outubro de 2023

André Lobão: Empresas de Israel e os seus negócios com o governo do Brasil

Esses contratos e compras  em sua grande maioria foram encaminhadas a partir dos grandes eventos realizados no Brasil a partir de 2014 com a Copa do Mundo e Olimpíadas do Rio 2016. Com o Bolsonaro os negócios com empresas de Israel cresceram. Foram mapeadas seis empresas, sendo cinco israelenses e uma de origem dinamarquesa que possui contratos com Israel na gestão de centros prisionais naquele país voltados para palestinos. O que fica claro é que o lobby de Israel tem forte atuação no sistema de defesa militar do Brasil e na segurança pública, financiando assim o apartheid de Israel contra os palestinos. Saiba quais são as empresas:

•        Elbit

O Brasil é um dos grandes compradores da indústria de armamentos de Israel. Em matéria publicada na Folha de S. Paulo, em janeiro de 2017, é informado que o Exército Brasileiro fechou acordo de R$ 6,3 bilhões com empresas israelenses para compra de blindados (caveirões). Uma das fornecedoras – a empresa Elbit – é acusada de ter construído drones que mataram 164 crianças palestinas em Gaza, durante a ofensiva de 2014. Os dados são da ONG Defense for Children International Palestine (DCI).

Em 5 de agosto, de 2016, o Cade (Conselho Administrativo de Defesa Econômica) aprovou a venda dos negócios de comunicação militar da Mectron Engenharia, empresa da área de defesa do grupo Odebrecht, para a Elbit Systems.

A mesma Elbit firmou, a partir de 2016, 34 pagamentos por  fornecimento de serviços e equipamentos com o Ministério da Defesa, sendo a Marinha do Brasil sua única compradora. Os negócios totalizaram mais de R$ 75 milhões, e envolveram desde a aquisição de equipamentos de comunicação até modernização de carros de combate, desenvolvimento e renovação de sistemas operativos, entre outros produtos e serviços. Esses dados constam no Portal da Transparência do Governo Federal. Somente no governo Bolsonaro foram firmados 29 contratos.

Segundo uma reportagem do Brasil de Fato, produzida em 2016,  a Copa do Mundo de 2014, serviu de impulso para as operações da Elbit no Brasil. Só em 2013, quando foi realizada a Copa das Confederações, a empresa recebeu R$ 102,6 milhões do governo, com drones sendo usados para monitorar, inclusive, as manifestações de rua daquele ano. No ano de 2014, a Elbit anunciou o fornecimento de uma linha de Hermes 900 para a Força Aérea Brasileira (FAB). O Brasil foi o oitavo país do mundo a adquirir essa aeronave, o drone mais moderno e mais potente fabricado pela empresa israelense. O modelo tem autonomia de voo de 36 horas e alcança raio de 300 km em relação à sua base em solo. É o dobro da capacidade do Hermes 450.

•        AEL

A Elbit é a maior empresa privada da área militar em Israel. Aqui no Brasil ela possui uma subsidiária que é sediada em Porto Alegre/RS, chamada AEL Sistemas Ltda. Só essa empresa firmou contratos com o Governo Federal que já  ultrapassaram mais de R$ 702 milhões. São 29 contratos celebrados desde 2012, sendo que alguns só serão finalizados em 2027. O maior contrato de R$ 153.515.441,24 – firmado também com o Ministério da Defesa, tendo como a unidade contratante o Centro Logístico da Aeronaútica, para contratação de serviços de suporte logísitco (CLS) para os itens do sistema de aviônico da Aeronave F-5M.

•        IAI

Já a estatal israelense Israel Aerospace Industries (IAI), teve firmados um total de 65 pagamentos , totalizando mais de R$ 22 milhões, de julho de 2019 até o último mês de agosto. São produtos e serviços adquiridos pelo Ministério da Defesa para a Aeronáutica, tendo a Polícia Federal como cliente final.

•        IWI

A IWI (Israel Weapon Industries) é uma fabricante de armas  de pequeno porte como pistolas e sistemas de pontaria e observação. No Brasil a IWI vende seus produtos para o Governo Federal através da representação da empresa Jose Wanderley Schmaltz Equipamentos Eletrônicos Ltda, sediada em Goiânia-GO, firmou 10 contratos entre os anos de 2013 e 2021 que totalizam R$ 6.691.421,00

•        G4S

A G4S não é israelense, fundada na Dinamarca hoje a empresa tem presença global, considerada uma concorrente do grupo russo Wagner, oferecendo serviços  de segurança privada, formação de policiais , postos de controle, estruturando milícias de colonos em territórios ocupados, gerenciando cinco prisões, entre outros serviços e produtos, em  Israel. No sistma prisional israelense estão encarceradas entre 500 e 700 crianças palestinas, segundo informações do Movimento DBS.

A empresa também está presente no Brasil, sendo denominada G4S Brasil,oferecendo serviços de soluções integradas em segurança privada, proteção de dados, facility e até consultoria no mercado financeiro. A empresa com o Governo Federal efetivou 29 contratos, tendo recebido da União R$ 15.552.359,38.

•        Cognyte

A Cognyte Brasil, empresa que forneceu o software de espionagem israelense  FirstMile  durante o governo Bolsonaro firmou dois contratos com o Governo Federal que somam R$ 10 milhões e foram realizados com inexibilidade de licitação. Ambos tiveram como órgão contratante a Polícia Rodoviária Federal, a partir da Superintendência do Rio de Janeiro.

 O primeiro contrato ( 73/2018) ,assinado em 28/12/2018, nos últimos dias do governo Temer, tendo como objeto a aquisição de solução integrada denominada Webint, um software de monitoramento de redes socais de pessoas e empresas, inclusive na deepweb. O contrato de R$ 5 milhões foi finalizado em 28/12/2019.

O segundo contrato (35/2021), também de R$ 5 milhões, foi firmado no governo Bolsonaro em 21/09/2021 e adentra ao governo Lula até 21/03/2024. Este visa serviços de manutenção , suporte, migração do sistema Verint Web Intelligence e realização de treinamento oficial.

 

       Abin: Parlamentares poupam órgãos que compraram programa espião israelense da Cognyte alvo da PF. Por Caio de Freitas Paes

 

Após o depoimento do diretor-geral da Agência Brasileira de Inteligência (Abin), Luiz Fernando Corrêa, à Comissão Mista de Controle das Atividades de Inteligência (CCAI) nesta quarta-feira (25), para explicar o uso do programa espião First Mile, parlamentares não se comprometeram a pedir explicações a outros órgãos públicos que contrataram este e outros produtos similares da empresa israelense Cognyte nos últimos anos.

A companhia somou mais de R$57 milhões em contratos firmados com o poder público brasileiro após fechar negócio com a Abin, em dezembro de 2017, vendendo produtos para a Aeronáutica, o Exército, a Polícia Rodoviária Federal (PRF) e pelo menos outros nove estados. O fato foi revelado pela Agência Pública na última sexta-feira (20), dia da operação Última Milha, da Polícia Federal (PF).

Antes e depois da reunião da CCAI, a Pública questionou membros da comissão se haveria apuração sobre os outros contratos da Cognyte junto a órgãos federais, como aqueles com as Forças Armadas. Porém, nenhum dos membros previu medidas concretas, como por exemplo protocolar requerimentos de informação aos órgãos que usam produtos da Cognyte ou a convocar servidores responsáveis por fiscalizar o uso das ferramentas do grupo israelense.

 “Aprovamos requerimento a outros órgãos envolvidos, como a CGU [Controladoria-Geral da União] e o Supremo [Tribunal Federal] para termos acesso a todas as informações relacionadas à contratação e utilização deste programa [First Mile], para que num segundo momento possamos ouvir outras autoridades”, disse o presidente da CCAI, deputado federal Paulo Alexandre Barbosa (PSDB-SP), em entrevista coletiva após a reunião.

Em agosto, a Pública já havia revelado, com exclusividade, que a Comissão do Exército Brasileiro em Washington (EUA) gastou mais de R$ 4 milhões no fim do governo Bolsonaro para a “renovação de licenças de interesse” dos militares junto à Cognyte, uma compra que foi publicada no Diário Oficial da União somente em janeiro deste ano, já no governo Lula.

Depois da 1ª fase da Operação Última Milha, o jornal Folha de S. Paulo revelou que militares do Gabinete de Intervenção Militar no Rio de Janeiro tinham comprado produtos espiões da Cognyte, ainda em 2018. Mesmo com tais fatos públicos, não houve qualquer sinal de mobilização dos parlamentares da CCAI, para esclarecer o uso destas ferramentas pelo Exército.

 “É importante dizer que o encontro de hoje foi motivado pelos fatos revelados na sexta [após a operação da PF], e nem isso foi devidamente esclarecido”, disse o vice-presidente da CCAI, senador Renan Calheiros (MDB-AL), após o término da reunião.

No encontro, estava o deputado federal Alexandre Ramagem (PL-RJ), membro da comissão e ex-diretor-geral da Abin no período atualmente investigado pela PF. O parlamentar evitou a imprensa ao chegar para a reunião e, ao término, saiu por uma das salas anexas ao local do encontro, sem falar com os repórteres.

“O Ramagem, por bem dizer, deveria pedir para sair [da CCAI], né? Essa seria a posição mais correta, por mais que não haja nada que o impeça de continuar na comissão… mas é constrangedor”, disse aos repórteres o deputado federal Carlos Zarattini (PT-SP), outro membro da CCAI, antes do início dos trabalhos.

Ramagem tem se eximido de responsabilidade sobre o suposto uso ilegal do First Mile durante sua gestão na Abin. Em sua conta na rede social X (antigo Twitter), o deputado afirmou que “o setor de operações da Abin possuía exclusividade e discricionariedade sobre o uso da ferramenta” e que “só o setor de operações possuía senha e gestão do sistema”, referindo-se ao programa da Cognyte.

À Pública, Ramagem já havia afirmado que sua gestão promoveu “uma auditoria formal de todos os contratos” da Abin, o que incluía o First Mile – programa adquirido em dezembro de 2017, quando a agência estava subordinada ao Gabinete de Segurança Institucional do general da reserva do Exército Sérgio Etchegoyen.

 

Fonte: Brasil 247/Agencia Pública

 

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