quinta-feira, 26 de outubro de 2023

Anabolizantes comprometem fertilidade mesmo após interrupção do uso

O Conselho Federal de Medicina proibiu, no começo do ano, a prescrição de esteroides anabolizantes para fins estéticos. Isso diminuiu o uso das substâncias, mas não reverte os efeitos na saúde, que são duradouros - sobretudo aqueles da fertilidade.

De acordo com o Dr. Rodrigo Rosa, especialista em reprodução humana e diretor clínico da Clínica Mater Prime, os esteróides anabolizantes podem prejudicar o funcionamento adequado dos testículos mesmo após anos da interrupção de seu uso. Isso porque o aumento dos níveis de testosterona provocado por esse tipo de medicamento inibe a produção do hormônio responsável pela maturação das células reprodutivas.

"Já sabíamos que o uso indiscriminado de anabolizantes pode afetar a fertilidade de forma total ou parcial em homens. No entanto, alguns estudos já mostraram que os esteroides podem comprometer de forma semipermanente a produção de testosterona nos testículos, causando assim uma disfunção testicular", afirma o médico.

·         Comprovação científica

Em março de 2021, pesquisadores publicaram um artigo no Journal of Clinical Endocrinology & Metabolism, com os resultados de um trabalho que acompanhou 132 homens praticantes de musculação entre 18 e 50 anos. Os cientista dividiram os participantes em 3 grupos:

Aqueles que nunca usaram esteroides;

Aqueles que utilizavam os anabolizantes no momento do estudo;

E, por fim, aqueles que pararam de usar medicamentos do tipo pelo menos três anos antes do início da pesquisa. 

Para determinar a falta de função testicular, visto que os níveis de testosterona tendem a variar naturalmente ao longo do dia, os pesquisadores utilizaram como marcador o peptídeo 3 semelhante a insulina (INSL3). Ele é produzido pelas mesmas células produtoras da testosterona. 

Ao compararem os resultados da análise desses marcadores nos três grupos, os pesquisadores notaram que, em comparação com os participantes que nunca utilizaram anabolizantes, os outros dois grupos tinham concentrações muito mais baixas de INSL3. E, quanto maior o tempo de uso dos anabolizantes, menores eram os níveis desse peptídeo.

Além disso, foi possível observar que até ex-usuários de esteroides anabolizantes ainda apresentavam disfunção testicular. Isso mesmo após mais de dois anos e meio da interrupção do uso. "É possível concluir que o uso de anabolizantes a longo prazo pode suprimir a função testicular. Ela pode nunca se recuperar completamente, com consequente impacto na qualidade e contagem de espermatozoides e na fertilidade", diz o Dr Rodrigo.

·         É possível recuperar a fertilidade?

O especialista alerta para os diversos riscos do uso indiscriminado de esteroides anabolizantes. Ele contraindica a utilização sem a devida orientação médica. Homens que já utilizam essas substâncias, por sua vez, devem interromper o uso. E, caso desejem ter filhos, consultar um médico especialista em reprodução humana para realizar exames de espermograma a fim de verificar a quantidade de espermatozoides e se houve alguma interferência na fertilidade. 

Felizmente, para homens que já sofreram grandes impactos na fertilidade, mas desejam ter um filho, é possível reverter os danos, melhorando a qualidade e a contagem dos espermatozóides. Para isso, o médico recomenda adotar um estilo de vida saudável, seguindo as seguintes condutas:

Manter uma alimentação balanceada;

Controlar o peso;

Praticar exercícios físicos regularmente;

Evitar maus hábitos como o tabagismo e a ingestão excessiva de álcool.

"Além disso, aumentar a frequência das relações sexuais, principalmente durante o período fértil da mulher, também é outra estratégia para que homens com baixa contagem de espermas consigam fecundar suas parceiras", aconselha o médico.

·         Fertilização in vitro (FIV)

No entanto, se mesmo com a adoção dessas estratégias o casal ainda não conseguir engravidar, é interessante verificar com o médico especialista em reprodução humana a possibilidade da realização de procedimentos de reprodução assistida. É o caso da Fertilização In Vitro (FIV), por exemplo. 

"Nesse procedimento, o material genético colhido da mulher (óvulo) e do homem (espermatozoides) são fecundados em laboratório. Posteriormente, os médicos transferem o embrião para o útero, onde se implantará e desenvolverá a gestação", explica Rodrigo. 

Segundo o médico, existe ainda uma técnica recente já muito comum na FIV. Trata-se da injeção intracitoplasmática de esperma (ICSI), que permite escolher microscopicamente o espermatozoide saudável para inseri-lo diretamente dentro do óvulo com o auxílio de uma agulha de máxima precisão. 

"Com a seleção de espermatozoides usando microscópio, é possível separar o material genético em condições para fertilização, revertendo problemas como alterações na quantidade ou qualidade dos espermatozoides", destaca o Dr Rodrigo Rosa. 

"No entanto, a indicação do procedimento vai depender de uma série de fatores, incluindo idade e histórico de saúde do casal, cabendo então ao profissional especializado recomendar o procedimento mais adequado para cada caso", finaliza.

 

Ø  Uso de anabolizantes aumenta 4 vezes o risco de morte prematura

 

Os esteroides androgênicos e anabolizantes (EAA) são famosos no mundo fitness por ajudar no desempenho físico ou no aumento de massa muscular. Por isso, estes produtos derivados da testosterona são usados em larga escala por fisiculturistas e outros praticantes de esportes. No entanto, estudos vêm demonstrando que o uso indiscriminado dessas substâncias é a causa principal do surgimento de doenças cardiovasculares.

·         Quais os riscos dos anabolizantes?

Estima-se que um terço dos usuários de EAA seja dependente desses esteroides, já que o uso não farmacológico visa um crescimento rápido de massa muscular e a modificação corporal. Além disso, segundo pesquisas do Research, Society and Development Journal, o risco de morte prematura em usuários atuais ou antigos de esteróides anabolizantes é quatro vezes maior em relação a quem nunca usou. 

·         Uso de anabolizantes pode causar aneurisma? Médico alerta riscos

"Isto acontece porque sem a devida indicação e o adequado acompanhamento médico, essas substâncias podem causar diversos danos à saúde, mesmo após a suspensão do uso", explica o Dr. Carlos Hossri, médico cardiologista do Hospital do Coração (Hcor).

Segundo ele, entre as principais consequências do uso de anabolizantes estão:

Miocardite;

Arritmia;

Hipertensão;

Morte súbita;

Aumento do colesterol ruim;

Diabetes;

Infarto agudo do miocárdio;

Acidente vascular cerebral (AVC). 

O médico alerta ainda que a possibilidade de efeitos colaterais aumenta com o uso prolongado de altas doses.

·         Perigo alarmante para o coração

De acordo com a Sociedade Brasileira de Cardiologia (SBC), o uso desses esteroides causa efeitos adversos no corpo, como o aumento de massa muscular no coração sem a proporcionalidade da irrigação sanguínea. 

Essa desarmonia pode ser consequência do desenvolvimento de placas obstrutivas nas artérias coronárias, além do "engrossamento" do sangue, formando coágulos dentro desses vasos, impedindo o fluxo sanguíneo adequado e, consequentemente, um déficit no suprimento de oxigênio. 

Os mesmos estudos afirmam que 25% dos jovens que utilizam anabolizantes apresentam as placas em até três coronárias. Além disso, o sistema nervoso autônomo, aquele que ajuda a controlar as variações dos batimentos cardíacos e a pressão arterial, também pode ser afetado negativamente pelo uso dos anabolizantes.

·         Risco de dependência química

O  Dr. Carlos Hossri alerta que, devido aos seus efeitos no organismo, os esteroides podem levar ao vício. "Mesmo ex-usuários de anabolizantes há anos relatam que a qualidade da saúde física e mental piorou, afetando o comportamento e o bem-estar emocional. Isso porque os EAA promovem uma sensação de bem-estar, podendo fazer com que os usuários tornem-se verdadeiros dependentes químicos", explica o especialista.

Em todos os casos, é fundamental que o uso de anabolizantes seja realizado sob indicação e supervisão médica, destaca o cardiologista. "Geralmente, os EAA são prescritos por endocrinologistas a fim de regular a função hormonal. Mesmo esses pacientes, que tomam doses muito baixas, precisam ter um acompanhamento médico periódico", ressalta.

 

Fonte: Saúde em Dia

 

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