Votorantim extermina peixes e mariscos com vazão de Pedra do Cavalo
Pescadores e marisqueiros que vivem às margens do
rio Paraguaçu assistem, impotentes, ao extermínio de peixes e mariscos,
provocado pela vazão descontrolada de água da barragem de Pedra do Cavalo. Sob
a gestão da Votorantim, a usina
hidrelétrica vem gerando, além de energia, doenças de pele e miséria.
A escassez do pescado compromete a principal, senão
única, atividade de sustento das famílias ribeirinhas. Pelo menos 100 ações
aguardam um posicionamento da justiça. São 15 mil pescadores que buscam
responsabilizar a Votorantim pela operação desastrada da represa.
Iracema, marisqueira de Maragogipe, relata o drama
vivido pelos ribeirinhos. “A Votorantim está soltando muita água, eles dizem
que não prejudica, mas está matando o marisco todo”., diz ela. “Sei que é
necessário soltar, mas essa água está nos prejudicando. Nem todo marisqueiro e
pescador quer falar, uns têm vergonha, outros têm medo. A gente come isso, vive
disso”., acrescenta Iracema
• Coceira
Não bastasse a morte dos peixes e mariscos, os
ribeirinhos relatam ainda problemas de pele causados pela água. Em Santiago do
Iguape, zona rural de Maragogipe, a marisqueira Iraildes resume os efeitos da
contaminação. “Parece que está mordendo. Eu vivo de marisco, a gente não faz
outra coisa”.
Sérgio vai além e diz que a roupa não serve mais
para vestir depois do contato com a água da represa. “A roupa fica parecendo
espinho, lã de vidro. Se coçar cria bolhas no corpo", diz.
Isabela também é mariasqueira de longa data no
Iguape e compara a realidade de hoje com os tempos em que não havia o
lançamento de água pela Votorantim. “Morre um bocado de mariscos quando abre as
comportas. Sururu e ostra a gente procura e não acha. Antes a gente voltava
carregada de marisco”.
Francisco, conhecida como “Tico”, viu a atividade
marisqueira passar de geração em geração na sua família e também testemunhou a
transformação devastadora. “Antes da Votorantim, quando tinha enchentes em
Cachoeira era muita fartura quando a água baixava. Camarão encalhava. Depois da
barragem, soltam água tratada, causa coceira, não dá para andar na lama. A
Votorantim não agregou nada para os pescadores”.
• Morosidade
Todos os indícios apontados pelos ribeirinhos não
são suficientes para sensibilizar o judiciário. A ação movida em nome dos
pescadores em 2017 passou dois anos aguardando a definição do juízo competente,
uma vez que haivia dúvida se seria civel ou do consumidor.
Superada essa etapa, foram mais dois anos de
pandemia e, mesmo após a retomada do judiciário, os advogados esperam há mais
de um ano pela primeira audiência. "Não chegamos sequer à instrução",
indigna-se a advogada Elba Diniz, representante dos marisqueiros.
Ela conta que Pedra do Cavalo nunca teve licença de
instalação e que a Votorantim conseguiu renovar a licença de operação sem
apresentar nenhum laudo, se comprometendo apenas a instalar sirenes de alerta
para anunciar a abertura das comportas.
"A Votorantim provoca terror com sirenes em Cachoeira e Maragogipe", diz
a advogada, que condena a postura da empresa. “É uma situação que vai de
encontro às melhores práticas de responsabilidade ambiental propagadas pela
empresa, no mínimo a Votorantim deveria abrir uma porta de negociação”.,
argumenta Elba.
A advogada aguarda uma determinação juduicial para
cobrar da empresa a realização de análises que comprovem os danos provocados
pela empresa, a fim de permitir a quantificação do dano. |O advogado Georges
Humbert, presidente da Associação Brasileira de Direito e Sustentabilidade
(Abrades), cobra mais celeridade do judiciário.
“Esses casos de litigância por desastres ambientais
precisam de andamento prioritário, devido ao impacto na qualidade de vida de
comunidades tradicionais e remanescentes de quilombos”.
Vereador
parabeniza prefeitura de Cachoeira por defesa de terreiros
Durante sessão ordinária ocorrida na última
segunda-feira, 11, na Câmara Municipal de Cachoeira, o vereador Josmar Barbosa
(Republicanos) afirmou que a prefeita da Cidade, Eliana Gonzaga (Republicanos),
"tem atuado em defesa do Terreiro Ilê Axé Icimimó Aganjú Didê".
De acordo com o líder religioso Pai Duda de
Candola, o terreiro teria sofrido uma invasão de funcionários da empresa Penha
Papel e Celulose na última semana. Um vídeo postado nas redes sociais mostra um
funcionário da fábrica confirmando que faz rondas diárias em torno do terreiro.
Ainda de acordo com o babalorixá, um grupo de
homens armados invadiu o terreno em 2020 e destruiu toda a cerca de proteção.
“Parabenizo a prefeita Eliana Gonzaga, o secretário
de Políticas de Reparação e Promoção da Igualdade Racial, Nal Nego Bom, e o
chefe de gabinete, Leonardo Marques, que estão lado a lado com o nosso Pai
Duda, buscando defender uma terra que é sagrada e, historicamente, vem sofrendo
ataques de uma empresa de celulose, que se diz proprietária de 40% do município
de Cachoeira”, disse o vereador Josmar Barbosa.
Ainda de acordo com o vereador, a secretária
estadual de Promoção da Igualdade Racial, sob a gestão de Ângela Guimarães,
ouviu e atendeu a demanda, assim como forças de segurança da cidade, que
criaram a Ronda Rota da Liberdade para coibir ataques.
"É uma luta árdua. Temos que estar atentos
para que não aconteça com o nosso Pai Duda o que aconteceu com a mãe Bernadete.
Pai Duda, estamos juntos nesta luta”, ressaltou.
Fonte: A Tarde
Nenhum comentário:
Postar um comentário