"Investigação do CNJ pode levar Moro e Dallagnol à cadeia",
prevê Joaquim de Carvalho
O jornalista Joaquim de Carvalho, que produziu
documentários na TV 247 sobre o enriquecimento do ex-juiz suspeito Sergio Moro
e do ex-deputado cassado Deltan Dallagnol, prevê que a investigação do Conselho
Nacional de Justiça poderá levar a dupla à prisão. "Os malfeitos são muito
grandes e há várias frentes de investigação contra Moro", disse ele, no
Bom Dia 247, deste sábado. "Moro e Dallagnol repassaram dinheiro da
corrupção à Petrobras, mas esses recursos depois voltariam para eles, na
fundação que eles pretendiam criar", acrescenta. Joaquim também afirmou
que o juiz Eduardo Appio pode voltar à
décima-terceira Vara de Curitiba. Assista e saiba mais:
O corregedor nacional de Justiça, Luis Felipe
Salomão, instaurou uma reclamação disciplinar contra o ex-juiz suspeito Sergio
Moro e a juiza Gabriela Hardt para investigar o que considerou graves indícios
de violações praticadas na Operação Lava Jato, entre 2015 e 2019. A informação
é da colunista Mônica Bergamo, da Folha de S. Paulo.
Para a apuração, está sendo criado um grupo
específico na Polícia Federal, em uma colaboração entre o CNJ e o ministro
Flávio Dino, da Justiça e Segurança Pública. A decisão do corregedor surgiu com
base no relatório da correição realizada pelo CNJ na 13ª Vara Federal de
Curitiba e na 8ª Turma do Tribunal Regional Federal da 4ª Região, o TRF-4, por
onde correm os processos da Lava Jato nas duas primeiras instâncias. Vale
destacar que, se Moro for punido, ele passará à condição de ficha suja e se
tornará inelegível.
Salomão busca apurar o repasse de R$ 2,1 bilhões à
Petrobrás por Moro e Hardt, que teriam atuado de maneira irregular. De acordo
com a reportagem de Mônica Bergamo, "o montante teria sido transferido
antes mesmo do trânsito em julgado de parte das ações penais, em um processo
instaurado de ofício que não incluiu a participação de réus e
investigados".
Ao determinar a instauração da reclamação
discipinar contra o ex-juiz suspeito, o corregedor citou um trecho do relatório
da correição do CNJ que destaca a participação de Moro, Hardt, o ex-procurador
Deltan Dallagnol e outros procuradores da Lava Jato em violações reiteradas.
Moisés
Mendes: O homem que virou PIX
Só há uma figura da extrema direita com alguma
relevância política fora de combate até agora, mesmo que continue circulando
pelo pátio como um frango sem cabeça.
É Deltan Dallagnol, que não pertencia à estrutura
golpista de Brasília, mas fazia parte, muito antes da ascensão do bolsonarismo,
da força inspiradora que ajudou a construir o fundamentalismo político a partir
da Lava-Jato.
É duro, mas é a realidade. Dallagnol é o único
arriado totalmente até agora. O resto, considerando-se os outros abatidos em
combate, pode ter tido participação na estruturação e funcionamento do
fascismo, mas como ajudante de segunda linha.
Não vamos nos iludir com Anderson Torres e Mauro
Cid, que podem levar aos chefes, mas eram meros instrumentadores.
Me alcança a minuta, chama o Braga Netto, instiga
os comandantes militares, manda assoprarem o apito de cachorro, desativa a PM
de Brasília e me encontra na Disney, falsifica o atestado da vacina e vende as
joias.
Tudo mandalete. Não tinham voto. Tinham lastros
políticos concedidos, e não conquistados. Eram serviçais.
Dallagnol, sem relação com esse núcleo, era mais
relevante politicamente no projeto da extrema direita do que esses dois. Os
dois tinham funções táticas na hora do golpe, trabalhando por empreitada nos
limites do que poderiam fazer.
Dallagnol tinha missão estratégica na direita e
dispunha de um bem que os militares mais invejavam em Bolsonaro: tinha voto. O
ex-procurador elegeu-se deputado federal com o apoio de 342.185 eleitores. É
muita gente.
É fácil entender por que ele não é um Cid ou um
Torres. Foi quem ajudou Moro a dar forma ao lavajatismo, afrontou hierarquias
do sistema de Justiça, obteve apoio da elite empresarial e da imprensa e depois
saltou fora do MP, ganhou um mandato e iria caminhar na direção de algo mais
grandioso.
Dallagnol pensava no Everest, algo inalcançável
para Torres e Cid, figuras do cerrado. Os ajudantes eram operadores de esquemas
miúdos. Os dois eram substituíveis.
Dallagnol carregava sonhos graúdos, projetos dele,
da direita e da extrema direita religiosa, e com plano de poder compartilhado
com Moro. Mas está fora de combate, apesar de espernear.
O ex-juiz que aderiu ao sistema que dizia repelir
também será sacrificado por inépcia política, pela capacidade de atrair mais
inimigos do que parceiros e por ter cumprido sua missão justiceira. Hoje, vale
tanto quanto um Marcos do Val.
O sistema atraiu e inutilizou a dupla de Curitiba.
Mas até agora só Dallagnol está morto politicamente. E não há mais ninguém com
alguma relevância fora do jogo. Nem Bolsonaro morreu.
Torres, Cid, os oficiais PMs de Brasília que
acabaram presos, os manés, os patriotas e os terroristas – nenhum deles vale
muito para os próprios parceiros e para quem aguarda reparações.
Hoje, são informantes decisivos para a compreensão
do golpe. Mas foram coadjuvantes e figurantes sem peso político, sem votos, sem
tropas, sem nada que possa lhes assegurar qualquer tipo de sobrevivência.
Se a história do golpe fosse encerrada agora e tudo
o que aconteceu até então virasse uma série da Netflix, teríamos só gente dos
times de baixo entre os perdedores sem volta.
E não faltam apenas os líderes fardados, mesmo que
essa seja, compreensivelmente, a pauta do momento. Faltam líderes civis,
inclusive políticos com votos.
Mauro Cid terá de falar deles mais adiante. Alguém
acredita que Bolsonaro tenha se esforçado para mobilizar os militares, sem
contar com o apoio civil?
Políticos com mandato, empresários financiadores do
golpe (e do gabinete do ódio desde 2018) e outros que ficaram na moita, esses
também importam muito no conjunto dos times do golpismo.
Por isso é de se perguntar sobre o que significa
nesse contexto o ex-assessor especial Filipe Martins, que teria levado a
Bolsonaro a minuta do golpe. Martins é outro Cid, outro Anderson, ou alguém
acredita que ele possa ter escrito a minuta?
São importantes pelas informações que levarão aos
crimes e aos protagonistas. Mas foram só isso, ajudantes de um núcleo ainda não
alcançado.
Deltan Dallagnol, o ajudante de Sergio Moro na
caçada a Lula, o procurador que montou as acusações, que viu Lula ser preso,
que tirou proveito político dos 580 dias de encarceramento de Lula e se elegeu
e planejou altos voos como base de uma futura alternativa ao bolsonarismo –
esse é o único grande nome deles fora de combate até agora.
É imensa, no latifúndio da extrema direita, a
solidão de Deltan Dallagnol, o homem que virou PIX.
Brasil
precisa ouvir Tacla Duran, mas falta de empenho, inclusive em um setor do
Ministério da Justiça. Por Joaquim de Carvalho
O advogado Rodrigo Tacla Duran não prestou
depoimento no Brasil ainda por conta dos obstáculos que têm sido colocado por
uma procuradora da Espanha e também pela falta de empenho do Departamento de
Recuperação de Ativos e Cooperação Internacional (DRCI), órgão que faz parte da
Secretaria Nacional de Justiça, do Ministério da Justiça e Segurança Pública.
Como titular da 13a. Vara Federal de Curitiba, em
abril o juiz Eduardo Appio entrou em contato com a procuradora Maria Tereza
Galvez Diez, do Tribunal Nacional da Espanha, para que ela permitisse que
Rodrigo Tacla Duran viajasse ao Brasil para prestar depoimento. A procuradora,
no entanto, negou e intimou Tacla Duran para que informasse se tinha tirado
passaporte brasileiro.
O advogado, que tem dupla nacionalidade, já tinha
entregue o passaporte espanhol às autoridades daquele País. "Muda o
governo, mudam os juízes. Não vou permitir que ele vá ao Brasil, sob o risco de
fuga. E que ele não tente sair da Espanha por fronteira terrestre", afirmou
a procuradora ao juiz brasileiro, segundo este comentou com autoridades também
empenhadas na vinda de Tacla Duran.
Num primeiro momento, a posição da Maria Tereza
Galvez Diez poderia ser interpretada como a atitude de uma procuradora zelosa,
preocupada com o processo a que Tacla
Duran responde desde 2019 na Espanha por iniciativa de Sergio Moro.
O problema é que o processo que tramita lá deveria
ter se encerrado no início do ano, quando o ministro Ricardo Lewandowski anulou
as provas da Odebrecht usadas pelo Ministério Público Federal nos processos
contra Tacla Duran. O ministro considerou essas provas
"imprestáveis", já que há indícios de que foram fraudadas.
A Maria Tereza não caberia decidir sobre os
processos de Tacla Duran, já que, tendo a ação se iniciado em Curitiba, a
jurisdição do caso é do Brasil. O processo aberto na Espanha pode revelar outra
ilegalidade de Sergio Moro. Ele teria dividido o processo. Deixou uma parte sob
sua autoridade e enviou outra para a Espanha, por fatos conexos.
Seria uma forma de punir Tacla Duran por ter obtido
na Interpol uma decisão incomum: tornar sem efeito o mandado de prisão assinado
por Moro, que foi considerado pela Interpol um juiz parcial – parcialidade,
aliás, que foi decidida antes do STF no processo relativo a Lula.
A exemplo de Moro, a procuradora da Espanha teve
sua isenção questionada, num escândalo de corrupção que envolve um vereador de
Madri, Francisco Granados, num caso que é conhecido como Púnica. O chefe de
Maria Tereza, Juan Antonio García Jabaloy, tinha deixado o Ministério Público e
integrado a banca de advogados para defender o vereador.
"É necessário abordar o mais rapidamente
possível uma regulação adequada das situações em que, sem quebra de
continuidade, se pode passar do Poder Judiciário ou do Ministério Público para
o exercício da advocacia e vice-versa", afirmou o jornal El Español no
editorial com o título "Caso Púnica: o perigo das portas giratórias".
O antigo chefe de Maria Tereza também foi
contratado por um dos maiores escritórios de advocacia do mundo, o DLA Piper,
com sede nos Estados Unidos e que, em nome da Odebrecht, atuou em vários países
da América Latina, especialmente no Peru e Colômbia.
Na Colômbia, a DLA Piper esteve no centro de um
escândalo, em dezembro de 2019, quando o procurador-geral Néstor Humberto
Martínez foi afastado por envolvimento em casos de corrupção relacionados à
atuação da Odebrecht no país.
Néstor era uma espécie de Sergio Moro da Colômbia,
devido à sua reputação de honestidade, mas com habilidade política. Foi
ministro em mais de um governo — inclusive da Justiça —, de centro-esquerda e
de direita.
Ao mesmo tempo em que servia ao governo, mantinha
negócios com a multinacional DLA Piper, com o escritório, formalmente dirigido
pelo filho, associado à banca norte-americana.
O depoimento de Tacla Duran no Brasil preocupa os
delatores da Odebrecht, como anotou a jornalista Renata Agostini, na CNN.
"Enquanto advogados do grupo se debruçaram
sobre a extensa decisão, ex-executivos da empresa trocavam mensagens e
externavam medo sobre os possíveis efeitos", afirmou a jornalista, em 6 de
setembro.
“Ninguém
sabe ao certo o que vai acontecer a partir de agora”, disse um ex-integrante da
cúpula da companhia, segundo a jornalista.
"A avaliação é que o STF está 'implodindo' o
acordo. Até então, as decisões do ministro Ricardo Lewandowski declaravam as
provas da Odebrecht imprestáveis, mas circunscrevem esse entendimento a casos
específicos", acrescentou Renata Agostini.
Para os delatores, que apresentaram as provas
consideradas imprestáveis tanto por Lewandowski quanto por Toffoli, o
depoimento de Tacla Duran pode ser o explosivo que falta para fazer ruir os
acordos da Odebrecht, não só no Brasil.
Tacla Duran, que trabalhava do Departamento de
Operações Estruturadas da Odebrecht, tinha acesso ao sistema de comunicação da
empresa, o Drousys, por onde transitavam as planilhas de valores pagos a título
de propina no mundo inteiro.
Tacla Duran já mostrou uma dessas planilhas, a que
envolve João Santana, e ela não batia com a que foi apresentada num processo
pelo Ministério Público Federal.
Estaria a DLA Piper por trás da má vontade da
procuradora espanhola? O secretário nacional de Justiça, Augusto de Arruda
Botelho, foi procurado sobre o caso, depois que o DRCI juntou um documento na
ação que tramita no gabinete do ministro Dias Toffoli.
O documento não estava disponível e perguntei a ele
se poderia dizer do que se tratava. Arruda Botelho disse que verificaria, mas
não voltou mais a fazer contato e deixou de responder à minha mensagem.
A última delas foi esta:
"O senhor chegou a verificar se o ofício do
DRCI diz respeito a providências determinadas pelo ministro Toffoli para
Rodrigo Tacla Duran depor no Brasil? Perdoe-me, mas é que, como disse, pretendo
escrever sobre isso, e a demora nesse trâmite."
O deputado Rogério Correia (PT-MG), que conseguiu
aprovar o requerimento para que Tacla Duran seja ouvido na Câmara dos
Deputados, disse que a demora se deve à falta de ação na Espanha.
"O que o pessoal do DRCI fala é que já cumpriram
tudo e que agora depende da Espanha. Mas a Espanha está com uma má vontade
danada. Houve muita ingerência nisso. Moro faz ingerência direta lá. Com essa
pressão, a má vontade na Espanha é muito grande. Segundo eles, o que precisava,
no STF, já foi feito e enviado. É o que o DRCI fala."
Se a Espanha não cumpre o acordo de cooperação, o
dever do DRCI é cobrar.
Arruda Botelho é considerado um quadro importante
do meio jurídico brasileiro e se destacou como comentarista da CNN. Com classe,
inteligência e muito conhecimento jurídico, Arruda Botelho desmontava os
argumentos do extremista de direita Caio Coppolla.
No caso Tacla Duran e Odebrecht, porém, há uma
brecha para que Arruda Botelho possa ser criticado, já que, no passado,
integrou uma banca de advocacia que, mais tarde, viria a se juntar com com um
escritório que defende delatores da Odebrecht e que estão preocupados com a
decisão de Toffoli.
No dia 15 de junho, quando Eduardo Appio já estava
afastado e sem resultado efetivo para os pedidos formais que fez também ao
secretário nacional de Justiça, Arruda Botelho, Toffoli determinou que o DRCI
tomasse as providências para que Tacla Duran viesse ao Brasil, com segurança.
Até agora, também não houve resultado efetivo.
Um dos delatores defendidos pela advogada Paula
Sion de Souza Naves, que viria a se juntar ao escritório de Dora Cavalcanti –
onde Arruda Botelho foi sócio –, é o ex-diretor da Odebrecht Luiz Eduardo da
Rocha Soares, irmão de Paulo Sérgio da Rocha Soares, o especialista em
informática que administrava o sistema de comunicação da Odebrecht conhecido
como Drousys e também o de contabilidade, My Web Day.
Os sistemas foram hospedados em provedores da Suíça
e também da Suécia, e foi Paulo Sérgio da Rocha Soares que baixou e entregou os
arquivos apresentados pela Odebrecht como provas. Se são imprestáveis, Paulo
Sérgio da Rocha Soares poderá ser responsabilizado.
Se Tacla Duran não fala a verdade sobre a fraude
dos arquivos, como já disseram informalmente advogados dos irmãos Rocha Soares,
a vinda dele ao Brasil será uma excelente oportunidade para fazer demonstração.
O que não pode é pressionar autoridades para que o
ex-prestador de serviços da Odebrecht seja impedido de vir ao Brasil e, com
liberdade e todas as garantias de testemunha protegida, preste depoimento, na
Justiça, na Polícia Federal e também no Congresso Nacional.
Fonte: Brasil 247
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