domingo, 24 de setembro de 2023

Almirante Garnier e o naufrágio da fragata golpista de Bolsonaro

O acordo de delação premiada firmado pelo tenente-coronel Mauro Cid causou um rombo no casco da fragata golpista colocada em curso por Jair Bolsonaro (PL) após a derrota para Lula nas eleições presidenciais de 30 de outubro passado.

Vazadas a conta-gotas nas últimas semanas, a divulgação nesta quinta-feira (21) de novas informações reveladas por Cid à Polícia Federal (PF) causou verdadeiro tsunami na cúpula das Forças Armadas. E asfixiou principalmente o ex-comandante da Marinha, o almirante Almir Garnier Santos.

Segundo Cid, Garnier teria embarcado prontamente na tramoia golpista proposta por Jair Bolsonaro em reunião secreta com os comandantes das Forças Armadas.

Servil ao ex-presidente, a quem devia favores, o marinheiro teria colocado a tropa à disposição do golpe, cobiçando surfar no mesmo enredo do vice-almirante Augusto Rademaker, que, juntamente com o general Costa e Silva e o tenente-brigadeiro Correia de Melo, compôs a tríade que decretou o Ato Institucional nº 1 em 9 de abril de 1964.

O golpe só não foi adiante pelo silêncio do tenente-brigadeiro do ar Carlos de Almeida Baptista Junior – que nas redes e em entrevistas nunca disfarçou seu apreço pelo presidente fascista. E, principalmente, pela pronta reação do general Marco Antônio Freire Gomes, então comandante do Exército.

“Se o senhor for em frente com isso, serei obrigado a prendê-lo”, teria dito, segundo Cid, Freire Gomes, que foi pressionado e, por fim, considerado um general "melancia" – verde por fora e vermelho por dentro – pela horda bolsonarista.

A negativa e a reprimenda, que causaram o naufrágio do golpe, deram-se porque o general sabia que os comandantes do Sul (Fernando Soares), do Sudeste (Thomaz Paiva), do Leste (André Novaes) e do Nordeste (Richard Nunes) não apoiariam quaisquer aventuras golpistas de Bolsonaro.

Além disso, Freire Gomes estaria ciente de que um golpe dado por Bolsonaro não teria apoio dos Estados Unidos de Joe Biden, tanto de militares quanto de civis. Seis comitivas estadunidenses já teriam vindo ao Brasil em 2022 para dar esse recado a Bolsonaro e às Forças Armadas.

•        Olavismo e a obsessão por prender Moraes

Na delação à PF, Cid deu detalhes que ainda não vieram a público – e que irão inundar ainda mais as investigações que sufocam Bolsonaro, civis e militares golpistas.

O que se sabe é que, enquanto fazia cena nas raras aparições públicas, Bolsonaro tramava nos porões do Alvorada um plano para perpetuação no poder em conluio com figuras que ascenderam das trevas fascistas durante sua ascensão ao Planalto.

Na reunião com a cúpula militar, Bolsonaro teria apresentado uma minuta golpista recebida das mãos de Filipe Martins, então assessor especial para Assuntos Internacionais da Presidência. A ideia era testar a receptividade do golpe na cúpula militar.

Figura prepotente e burlesca, cunhada nas teorias da conspiração de Olavo de Carvalho, Martins teria entregado o documento Bolsonaro acompanhado de um advogado e de um padre.

A minuta, segundo Cid, sugeria a convocação de novas eleições e autorizava o governo a prender adversários, entre eles Lula e o ministro Alexandre de Moraes, presidente do Tribunal Superior Eleitoral.

A PF investiga se se trata do mesmo documento encontrado na busca e apreensão em endereço do ex-ministro da Justiça Anderson Torres, que previa ainda a formação de uma junta, composta majoritariamente por militares, para realizar uma intervenção na Justiça Federal.

Segundo depoimento anterior de Cid, em março deste ano, a prisão de Moraes era uma obsessão para Bolsonaro. Em meio às diversas consultas sobre propostas para tentar reverter o resultado das eleições, o ex-presidente teria falado abertamente sobre seu desejo de prender o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF).

"Os próprios generais falavam: 'presidente, isso aqui é golpe militar; se a gente fizer qualquer coisa, é golpe militar'", relatou Cid, afirmando que os militares explicavam detalhadamente a Bolsonaro as consequências da incitação golpista.

"O STF vai dar uma ordem anulando o decreto do senhor e mandando prender o senhor, e o Congresso duas semanas depois vai aprovar uma PEC emergencial tirando o 142 da Constituição, e aí, qual o papel que a gente vai cumprir? Quem tiver força. Então, é golpe militar", alertaram os fardados.

•        Braga Netto e o estudo golpista

Antes de ser levada para apreciação da cúpula das Forças Armadas, a trama golpista de Jair Bolsonaro envolveu dois de seus principais aliados na caserna.

No dia 14 de novembro, o ex-presidente recebeu em agenda secreta no Palácio da Alvorada os generais Walter Braga Netto, candidato a vice em sua chapa, e Paulo Sérgio Nogueira de Oliveira, então ministro da Defesa.

Dois dias após o encontro, Mauro Cid confirma ter solicitado ao tenente-coronel Marcelino Haddad um artigo científico apresentado à Escola de Comando e Estado-Maior do Exército, em 2017, sobre o "poder moderador das Forças Armadas", tese encampada por Bolsonaro e seus aliados para uma "intervenção militar", que desencadearia um golpe de Estado.

O estudo afirma que, "em situações de não normalidade, caracterizada pela intervenção da União nos Estados ou no Distrito Federal, ou pela decretação do estado de defesa ou do estado de sítio", seria possível "enquadramento no texto constitucional, e o emprego das Forças Armadas seria regulado a partir de um decreto presidencial (legalidade)".

"Essas possibilidades são as apontadas pela doutrina majoritária como sendo o emprego da FA [Forças Armadas] em GPC [Garantia dos Poderes Constitucionais]”, conclui o texto, usando a mesma interpretação lunática do jurista Ives Gandra Martins, propagada em grupos bolsonaristas, sobre o artigo 142 da Constituição Federal para justificar uma "intervenção militar" – amplamente rechaçada no mundo jurídico.

Na ativa, Haddad (o tenente-coronel) atualmente é comandante do Centro de Preparação de Oficiais da Reserva do Rio de Janeiro, principal celeiro do golpismo militar no Brasil.

•        Ele já sabia

Sócio de Eduardo Bolsonaro (PL-SP) na Braz Global Holding, empresa criada em maio do ano passado em Arlington, no Texas, Paulo Generoso antecipou pela rede X (antigo Twitter) o encontro entre Bolsonaro e a cúpula das Forças Armadas, revelado em delação premiada pelo tenente-coronel Mauro Cid.

Em sequência de tuítes publicados no dia 20 de dezembro de 2022, Generoso confirma que, "em reunião esta semana com o alto comando das Forças Armadas, Bolsonaro pediu apoio para barrar o avanço do judiciário sobre os outros poderes e pediu para que a posse de Lula fosse adiada por 6 meses, até que equipe de juristas fizesse uma investigação sobre favorecimento à (sic) Lula".

Em seguida, o sócio de Eduardo Bolsonaro faz menção a uma resistência do então comandante do Exército, o general Marco Antônio Freire Gomes, que vinha sendo pressionado pela horda bolsonarista a apoiar a tentativa de golpe.

"Freire Gomes foi contra [o apoio ao golpe de Bolsonaro] e disse que não valia a pena ter 20 anos de problemas por 20 dias de glória e falou que não apoiaria ou atenderia o chamado do presidente para moderar a situação mesmo após Bolsonaro apresentar vários indícios de parcialidade em favor de Lula pelo TSE e STF", escreveu Generoso.

•        Atitudes isoladas

Atuando como porta-voz das Forças Armadas, o ministro da Defesa, José Múcio Monteiro, comemorou as informações reveladas por Cid e trazidas à tona.

Buscando blindar a alta cúpula a todo custo, Múcio encontrou na delação de Cid amparo à sua tese de que o golpe não foi levado adiante justamente por oposição das Forças Armadas.

"Devemos ao Exército, à Marinha e à Aeronáutica a manutenção da nossa democracia. A aura de suspeição coletiva nos incomoda, mas as informações que saíram hoje são relativas a comandantes passados. Não mexe com ninguém que está na ativa. Ficamos sempre torcendo que essas coisas tenham fim, é ruim trabalhar num manto de suspeição. Quem não tem nada a ver com isso se sente incomodado. De uma coisa tenho certeza cristalina: o golpe não interessou em momento nenhum às Forças Armadas. São atitudes isoladas”, declarou.

A "certeza cristalina" do ministro de Lula, no entanto, não transparece quais tampouco quantas "atitudes isoladas" marcharam no plano golpista de Bolsonaro.

Considerada pela Marinha um "navio-escolta" para situações de conflitos, a fragata do almirante Garnier naufragou com a delação de Mauro Cid. Mas ainda resta saber quantos militares embarcaram na armada golpista ao lado de Jair Bolsonaro.

 

       Garnier “some” e perde apoio até mesmo dentro da Marinha

 

O almirante Almir Garnier submergiu e se isolou depois que veio a público parte do depoimento do tenente-coronel Mauro Cid. O ex-ajudante de ordens de Jair Bolsonaro (PL) teria sido testemunha de um planejamento de golpe de Estado do ex-presidente, que teve o apoio somente da Marinha dentre as Forças Armadas.

Ex-colegas de Garnier, consultados pelo blog, disseram que ele não responde às mensagens e não atende ligações. Ele também deixou o Twitter, onde geralmente curtia tweets de conotação golpista. Oficialmente, o militar diz que só vai se manifestar “nos autos”.

O alto comando da Marinha também não parece se compadecer com a situação do almirante e ex-comandante da Força. Isolado, Garnier deve ser chamado para interrogatório na Polícia Federal e na CPMI do 8 de Janeiro, que já pediu a quebra de sigilos do militar.

A relação entre Garnier e outros almirantes já não era boa, segundo ex-colegas. Ele é visto como “próximo demais” a Jair Bolsonaro, sendo considerado um “mau militar”.

 

       Marinha entende que revelações de Cid sobre ex-comandante ‘não trazem indícios de crime militar’

 

Uma análise da assessoria jurídica do comandante da Marinha feita sobre as revelações da delação premiada do tenente-coronel Mauro Cid concluiu que "não há indícios de crime de natureza militar" que justifiquem "a abertura de inquérito policial militar". O conteúdo da análise, feita entre ontem e hoje, foi relatado à coluna por uma fonte com acesso à discussão, cuja identidade será preservada. Na prática, a Marinha entende que não deve investigar o ex-comandante Almir Garnier. O caso, no entanto, segue em investigação pela Polícia Federal.

 “Preliminarmente, o entendimento da Força é que por tratar-se de objeto de procedimento sigiloso em trâmite no STF [Supremo Tribunal Federal] não se pode assegurar a veracidade das informações veiculadas. Por isso, prematura a instauração de procedimento administrativo investigatório, por enquanto”, contou.

No entendimento da Marinha, segundo essa fonte, ainda que se confirme o conteúdo das notícias publicadas pelo UOL e pelo jornal O Globo, não haveria indícios de crime militar. Segundo a análise, se houver algum procedimento interno sobre "contravenção disciplinar" [cuja pena é mais leve], a apuração não teria "teor de conduta criminosa".

De acordo com as reportagens, em delação premiada, Cid, ex-ajudante de ordens de Jair Bolsonaro (PL), disse que o ex-presidente teria se reunido com comandantes do Exército, da Marinha e da Aeronáutica após o resultado das eleições de 2022 para discutir detalhes de um suposto plano golpista.

Ainda segundo com as reportagens, Cid disse que o então comandante da Marinha, almirante Almir Garnier Santos, teria mostrado apoio à proposta de golpe de Estado, dizendo que suas tropas estariam prontas para agir, caso o plano avançasse. O tenente-coronel disse que, na reunião, o comando do Exército teria rejeitado o plano.

Segundo essa fonte da Marinha, mesmo que esperem pela conclusão da investigação que corre no STF, não haverá “qualquer prejuízo para a disciplina e hierarquia, uma vez que o prazo prescricional de eventual contravenção disciplinar somente começará a contar do trânsito em julgado da decisão que afaste a aplicação da penalidade no âmbito penal”.

Com as revelações do caso, a defesa de Mauro Cid afirmou que “não tem os referidos depoimentos, que são sigilosos, e por essa razão não confirma seu conteúdo”. Já os advogados de Bolsonaro, afirmaram que ele "jamais compactuou" qualquer ação golpista.

Em nota, divulgada nesta quinta, 21, a Marinha comunicou que “eventuais atos e opiniões individuais não representam o posicionamento oficial da Força e que permanece à disposição da justiça para contribuir integralmente com as investigações”.

 

       Anderson Torres sugeriu enforcar Lula

 

O patético ex-ministro da Justiça do fascista Jair Bolsonaro corre o sério risco de voltar em breve para a cadeia. O site Metrópoles revelou nesta segunda-feira (18) que “o celular de Anderson Torres armazena uma série de conteúdos considerados golpistas por investigadores. No aparelho foi encontrada imagem, de dezembro do ano passado, que sugere o enforcamento de Lula e de aliados do petista na posse presidencial”.

No telefone também foram encontradas mensagens de convocação para a “concentração nos quartéis” com objetivo de “exigir intervenção federal”. Há ainda fake news sobre fraudes nas urnas eletrônicas e críticas ao Supremo Tribunal Federal, em especial a Alexandre de Moraes. “Há, até mesmo, a ilação de que o magistrado teria comprado imóveis com recursos não compatíveis com a renda de ministro do STF”, registra o site.

•        O farsante negou participação no golpe

Quando foi preso em janeiro, após retorno forçado da sua fuga aos EUA, Anderson Torres jurou que não tinha qualquer envolvimento com os atentados terroristas de Brasília. Mesmo com uma “minuta do golpe” achada em sua residência, o farsante garantiu que não sabia de nada. Agora, a exemplo do celular falante do ex-faz-tudo Mauro Cid, o seu telefone também revela seus intentos golpistas e assassinos.

Numa das imagens vazadas, postada em 3 de dezembro de 2022, aparece um desenho intitulado “A rampa”. A ilustração tem uma legenda bem explícita: “Os corruptos comunistas que fraudaram as eleições subirão nesta rampa em Brasília construída pelo povo brasileiro”. O detalhe é que a tal rampa leva a uma forca.

O celular de Anderson Torres também contém um folder pedindo intervenção militar dois dias após o segundo turno das eleições: “Convocação nacional. O nosso Brasil precisa de nós! 02/11/2022. Concentração nos quartéis por todo o Brasil! Exigência para o cumprimento da intervenção federal. Compartilhem ao máximo”.

•        Mentiras sobre o STF e Alexandre de Moraes

No que se refere ao ministro Alexandre de Moraes, a legenda em uma foto afirma criminosamente: “Ele é funcionário público, que tal darmos 5 dias para ele explicar a origem do dinheiro para comprar 8 imóveis, ao valor médio de 4 milhões cada. Com salário de R$ 39 mil”. Também há uma postagem intitulada “Aonde quer chegar o STF?”, assinada pela Comissão Interclubes Militares, de 23 de abril de 2022.

As mensagens enterram de vez o ex-ministro de Jair Bolsonaro. Como aponta o site, “investigado pela minuta do golpe encontrada em sua casa e por suposta omissão no 8 de janeiro quando secretário de Segurança Pública do DF, Anderson Torres alegou ter perdido o celular nos Estados Unidos e não o entregou à Polícia Federal. Os investigadores só conseguiram as informações após acessar dados que estavam salvos na nuvem”.

 

Fonte: Metrópoles/Terra/O Cafezinho

 

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