sábado, 26 de agosto de 2023

Quem dá as cartas na CPI do 8/1? Veja nomes em destaque

Há exatos três meses, em 25/5 deste ano, o Congresso Nacional instalava a Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) para investigar os atos golpistas de 8 de janeiro.

A criação do colegiado foi incentivada por bolsonaristas logo nos primeiros meses do ano legislativo. A ideia do grupo era disassociar o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) dos atos, e tentar acusar o governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) de omissão no combate aos ataques.

A instalação do colegiado ocorreu, mas a composição final não agradou bolsonaristas. Após manobras de parlamentares, a comissão terminou com maioria governista — um tiro no pé dos nomes ligados à oposição.

Desde então, os trabalhos da CPMI têm se voltado cada vez mais na direção de complicar Jair Bolsonaro e nomes ligados ao ex-presidente, como o ajudante de ordens Mauro Cid e o ex-ministro da Justiça Anderson Torres.

A seguir, o Metrópoles listou quais são as cartas de maior destaque na CPMI: seja entre os bolsonaristas, com estratégias para tumultuar as sessões; seja entre os governistas, com planos para comprometer Bolsonaro e aliados por meio dos materiais obtidos pelo colegiado.

•        A Mesa

O comando da CPMI é marcado por dois nomes que se opõem em posicionamentos sobre o desenrolar do colegiado: Arthur Maia, presidente da comissão, e Eliziane Gama, relatora.

Ao presidente da comissão, cabe a elaboração da pauta, com a escolha dos requerimentos que serão apreciados, e o agendamento de oitivas e sessões deliberativas.

Desde as primeiras sessões da CPMI, Maia se posicionou duramente contra a ideia de transformar o colegiado em uma “caça às bruxas” contra a família Bolsonaro. O deputado afirmou que atuaria de forma independente e justa na condução dos trabalhos para investigar os autores e financiadores dos ataques em Brasília.

Maia, porém, tem sido resistente à inclusão de requerimentos que pedem convocação e quebra de sigilo de Jair e Michelle Bolsonaro e Frederick Wassef, advogado da família. Todos são investigados pela Polícia Federal (PF) e foram citados por depoentes que falaram à CPMI ao longo das semanas.

Acusado de “blindar” a família do ex-presidente no colegiado, Arthur Maia também tem acenado em defesa das Forças Armadas em meio às investigações. Nesta semana, ele se reuniu com o comandante do Exército, general Tomás Paiva, e afirmou que a CPMI precisa “preservar instituições democráticas” e separar atitudes de “alguns militares”.

Do outro lado, Eliziane Gama, a relatora, tem insistido em pedir quebras de sigilo telefônicos, telemáticos, bancários e fiscais de nomes ligados ao ex-presidente e de outros personagens acusados de envolvimento com os ataques de 8 de janeiro. Para se ter ideia, a senadora é autora de 153 dos 163 pedidos de transferências de sigilos aprovadas pela comissão.

Como relatora, cabe à parlamentar elaborar o parecer final com o resultado das investigações do colegiado. Em entrevista na última semana, a parlamentar já adiantou que existem “fortes condições” para incluir Jair Bolsonaro na lista de indiciados pela CPMI.

As acusações ganharam força após o depoimento do hacker Walter Delgatti Neto ao colegiado. Ele apontou Bolsonaro como o mandante de uma série de atividades antidemocráticas.

As divergências entre Eliziane e Arthur Maia chegaram a causar tensionamento no colegiado. No início da semana, a sessão deliberativa prevista para a manhã de terça-feira (22/8) chegou a ser adiada duas vezes por falta de consenso entre os parlamentares.

•        As cartas do governo

A tropa de choque do governo na CPMI é formada por parlamentares do Partido dos Trabalhadores, de Lula, e de siglas ligadas à esquerda, como o PCdoB e o PSol.

Um dos destaques é a deputada Jandira Feghali (PCdoB-RJ). A parlamentar protagonizou discursos e fez uma série de perguntas de destaque a depoentes investigados pelo colegiado.

Além disso, a deputada é autora de requerimentos que pediram convocação de Anderson Torres, Mauro Cid e Delgatti Neto.

Outro nome de destaque é o deputado Pastor Henrique Vieira (PSol-SP). O parlamentar tem feito discursos fortes com questionamentos a investigados. Um dos momentos de maior repercussão foi a série de perguntas que o deputado fez ao hacker Delgatti Neto sobre a relação do hacker com Bolsonaro.

A tropa governista também conta com o reforço dos petistas Fabiano Contarato (PT-ES) e Rogério Carvalho (PT-SE), além das deputadas Duda Salabert (PDT-MG) e Erika Hilton (PSol-SP), e de Duarte Jr. (PSB-MA).

•        As cartas da oposição

Entre a oposição, a estratégia passou a ser tumultuar as sessões do colegiado. Nas últimas semanas, as redes sociais têm sido tomadas por vídeos de brigas entre parlamentares ligados a Jair Bolsonaro e outros integrantes do grupo.

Nomes como Nikolas Ferreira (PL-MG), Marco Feliciano (PL-SP), Eduardo Girão (Novo-CE), André Fernandes (PL-CE), Flávio Bolsonaro (PL-RJ) e Eduardo Bolsonaro (PL-SP) têm se mobilizado para proteger o ex-presidente de acusações nas sessões do colegiado.

Além disso, o grupo tem tentado convocar nomes ligados a Lula para associar o mandatário aos ataques de 8/1. Eles conseguiram aprovar a convocação do general Gonçalves Dias, ex-ministro-chefe do Gabinete de Segurança Institucional (GSI) de Lula. O militar falará ao grupo em 31/8.

•        Quem está no radar?

Alguns nomes investigados por órgãos como a Polícia Federal (PF) e o Supremo Tribunal Federal (STF) estão na mira de Eliziane Gama e devem ser citados no relatório final.

É o caso de Mauro Cid, tenente-coronel e ex-ajudante de ordens de Jair Bolsonaro; Anderson Torres, ex-secretário de Segurança Pública do Distrito Federal; e Silvinei Vasques, ex-diretor da Polícia Rodoviária Federal (PRF).

Também devem ser citados George Washington de Oliveira, investigado por tentativa de ataque a bomba em Brasília, e o hacker Walter Delgatti Neto.

•        Próximos passos

O regimento do Congresso Nacional determina que CPMIs tenham duração de 180 dias — que podem ser prorrogados, caso haja consenso no colegiado.

No entanto, nessa quinta-feira (24/8), o presidente da comissão, Arthur Maia (União-BA), adiantou que o colegiado não terá duração maior que 6 meses. Ele pretende encerrar os depoimentos até 17 de outubro e, em novembro, a relatora, Eliziane Gama (PSD-MA), deve finalizar o relatório que será votado na comissão.

 

       O que Bolsonaro dirá ao se tornar réu no caso do golpe de 8/1

 

No caso do roubo das joias, caso seja denunciado e sente no banco dos réus, Bolsonaro, por enquanto, não sabe o que dirá. Parece perdidinho da silva, segundo pessoas com acesso a ele. Foi pego de surpresa pelas ações da Polícia Federal a mando da Justiça.

Seus advogados estudam várias teses de defesa. A mais recente, pedir de volta as joias surrupiadas ao Estado brasileiro, alegando que pertencem a Bolsonaro, foram oferecidas a ele por governos estrangeiros, são itens “personalíssimos” e não foram surrupiadas.

A tese não se sustenta. Acima de determinado valor, presentes dados a autoridades públicas vão diretamente para o acervo do Estado. O preço das joias excede de longe o valor determinado em lei. As joias estão mais para pagamento de suborno do que para brindes.

Não fosse assim, por que Bolsonaro embolsou parte delas antes de deixar o cargo? Por que as levou no avião presidencial para vendê-las nos Estados Unidos? Por que o dinheiro apurado com a venda caiu em sua conta? E por que mandou recomprar algumas?

Porque descoberto o crime, quis encobri-lo devolvendo as joias. Se fossem itens “personalíssimos”, não os devolveria. Conta outra, Jair. É atrás do que contar com o mínimo de verossimilhança que correm os advogados pagos pelo partido do Valdemar.

Ou você pensa que Bolsonaro paga alguma coisa do próprio bolso? Nem recapeamento dos dentes, ele paga. Faz um comercial para o dentista e estamos conversados. Se quer mais dinheiro, pede ao PL, partido de Valdemar Costa Neto. Ou aos seus devotos.

Quanto à acusação de que esteve por trás do golpe fracassado do 8 de janeiro, caso venha a se tornar réu, já sabe o que dirá. A cartilha da extrema-direita é universal. Com pequenas variações para atender circunstâncias locais, o discurso é sempre o mesmo.

 “Temos todo o direito de contestar uma eleição que consideramos desonesta”, disse, ontem, no estado da Geórgia, o ex-presidente Donal Trump, em sua quarta prisão criminal, acusado de conspirar com aliados para reverter sua derrota nas eleições de 2020.

“Reverter a derrota”, “eleição desonesta” são sinônimos de golpe. Derrotado pelo democrata Joe Biden, Trump, primeiro, pediu recontagem de votos. Segundo, pressionou o vice-presidente a não proclamar os resultados. Por último, e o mais trágico…

Por último, estimulou seus eleitores a invadirem o Capitólio, em Washington. Morreu gente. Gente saiu ferida. Os congressistas fugiram para não serem mortos. Lembra alguma coisa? Aqui não houve mortes porque Deus é brasileiro, embora ande distraído.

Mas foi pior. Os golpistas acamparam à porta de quartéis sob a proteção dos militares. Estradas foram bloqueadas. Por pouco, uma bomba não explodiu, destruindo o aeroporto de Brasília. As sedes dos três Poderes da República foram saqueadas.

Considerem, a levar-se em conta que um golpe mesmo sem uso ostensivo de blindados significa a ocupação das sedes dos Poderes. Por algum tempo aqui, o golpe foi consumado. Durou pouco como se viu. O amadorismo acabou castigado. Salve o amadorismo!

Bolsonaro repetirá Trump: “Temos todo o direito de contestar uma eleição que consideramos desonesta”. Com uma diferença: se Trump for condenado e preso, poderá ser candidato. Bolsonaro já não pode. Está inelegível até 2030. E responde a outros processos.

A cadeia poderá lhe fazer bem.

 

       General Girão é investigado pela PF por incitar ataques golpistas nas redes sociais

 

A Polícia Federal instaurou nesta quinta-feira (24) um inquérito para investigar as acusações contra o deputado federal General Girão (PL-RN) de incitar os ataques golpistas nas redes sociais. Girão é acusado de promover não apenas os ataques do 8 de janeiro, mas toda a trama golpistas que se seguiu após o segundo turno das últimas eleições com ocupações de rodovias, acampamentos em quarteis e outros episódios de vandalismo e depredação.

De acordo com a investigação, Girão apareceu em uma série de vídeos e postagens nas redes sociais incitando animosidades entre os poderes da República, a sociedade e as forças armadas. Segundo o documento da PF, o parlamentar teria organizado um grupo para cometer os crimes contra a democracia.

A PF lista dois: tentativa de abolição com emprego de violência ou grave ameaça do Estado Democrático de Direito e tentativa de deposição por meio de violência ou grave ameaça de um governo legitimamente eleito.

O delegado federal Victor Menezes, que assina o inquérito, afirma já estar de posse de todas as publicações de Girão no Facebook, Youtube, Instagram, Twitter e Tik Tok que serão analisadas pela investigação.

O ministro Alexandre de Moraes é o relator do inquérito no Supremo Tribunal Federal. Foi ele quem determinou a abertura do investigação contra Girão, ainda em julho, a pedido da PF e da PGR.

•        'Girões' sabiam do 8 de janeiro

Mensagens encontradas pela Polícia Civil do Distrito Federal no celular do militante bolsonarista e armamentista George Washington de Oliveira Sousa colocam parlamentares bolsonaristas como o deputado federal Elieser Girão (PL-RN) e o senador Eduardo Girão (Novo-CE) na "cena do crime", uma vez que em trocas de mensagem com o terrorista, tomaram ciência dos planos de ações violentas para abolir o Estado Democrático de Direito. O conteúdo que foi enviado à CPMI dos Atos Golpistas e o dono do celular, George Washington, além de ter tentado explodir uma bomba no aeroporto de Brasília na véspera de Natal, também falou sobre outras ações violentas, como um suposto assassinato de Lula por meio de um atirador sniper. Mesmo sabendo dos planos do militante, os parlamentares não avisaram as autoridades até onde se sabe.

As mensagens foram reveladas pela jornalista Denise Assis, do Brasil 247. Nelas, o terrorista de Brasília cobra do deputado, que se identifica como general Girão, a liberação da ação de CACs (caçadores, atiradores e colecionadores de armas) nas ações golpistas.

“General Girão, vão esperar até quando para acionar os CACs? Têm CACs prontos. Acione, general! Coloque-os em treinamento militar intensivo. Temos muitos fuzis a disposição, não nos deixe sair como bandidos”, escreveu George Washington em 11 de dezembro de 2022 para Eliéser Girão. No dia seguinte foi registrado a primeira arruaça em Brasília, quando golpistas incendiaram a capital contra a diplomação do presidente Lula (PT).

Eliéser, durante uma manifestação pública, chegou a afirmar em megafone para golpistas mobilizados na capital que colocassem “os sapatinhos na janela, pois teremos novidades no Natal”. A novidade, no caso, aparentemente seria a explosão do aeroporto que, segundo George Washington, geraria um caos social na capital e seria o estopim para uma “intervenção federal” no Judiciário e na Segurança Pública, que permitiria a Bolsonaro, hoje inelegível, driblar o resultado das eleições e permanecer no poder. Mas deu errado, e agora George Washington “saiu como bandido”, conforme temia na conversa com o parlamentar.

Na última sexta-feira (7), o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal, determinou que um inquérito fosse aberto para investigar a possível participação do general Girão como incitador dos atos golpistas de 8 de janeiro.

George Washington também falou com o senador Eduardo Girão, que hoje é membro da própria CPMI dos Atos Golpistas. Ele cobrava a “ativação” de CACs no golpe de estado, sobretudo em um momento que os setores mais radicais do bolsonarismo ventilavam um possível assassinato de Lula com a utilização de snipers.

“Vão esperar até quando para ativar os CACs como força de reserva? Tem muito CAC atirador sniper”, escreveu George Washington para Eduardo Girão no mesmo 11 de dezembro. Aparentemente Girão não o respondeu, mas tampouco avisou as autoridades sobre os planos do extremista.

Para além do apelo aos parlamentares em relação a atuação dos CACs no golpe, as mensagens ainda apontam conversas de George Washington em que foi planejada a implantação da bomba com um contato identificado como Ricardo Adesivaço Xinguara. Termos como “missão” e “caminhão” são frequentes nas trocas de mensagens. As revelações apontam para uma organização mais sofisticada dos atos golpistas - desde os bloqueios de rodovias, acampamentos, arruaças na capital e planejamento de atentados a bomba - e contrariam a narrativa bolsonarista de que tais mobilizações teriam sido "orgânicas" e "espontâneas".

“O que existe nesse material começa a mostrar que não apenas essas pessoas confessam que foram lá para isso, para poder estabelecer uma quebra da democracia e ocupar os poderes para destituir o presidente eleito, mas também começa agora a aparecer uma organização por trás, inclusive, de atos que eles falavam que teriam e que seriam atos que levados a cabo criariam um caos e dentro disso tem esse caso, que é o mais explícito do caminhão a bomba, mas tem também o fechamento de rodovias, que levariam ao caos. E aquele ato do dia 12 levaria a que setores das Forças Armadas fizessem uma intervenção para que o Bolsonaro voltasse. Era o que eles esperavam para fechar e dar o golpe”, avaliou o deputado Rogerio Correia (PT-MG) para o Brasil 247.

 

Fonte: Metrópoles/Fórum

 

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