Quem dá as cartas na CPI do 8/1? Veja nomes em destaque
Há exatos três meses, em 25/5 deste ano, o
Congresso Nacional instalava a Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI)
para investigar os atos golpistas de 8 de janeiro.
A criação do colegiado foi incentivada por
bolsonaristas logo nos primeiros meses do ano legislativo. A ideia do grupo era
disassociar o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) dos atos, e tentar acusar o
governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) de omissão no combate aos ataques.
A instalação do colegiado ocorreu, mas a composição
final não agradou bolsonaristas. Após manobras de parlamentares, a comissão
terminou com maioria governista — um tiro no pé dos nomes ligados à oposição.
Desde então, os trabalhos da CPMI têm se voltado
cada vez mais na direção de complicar Jair Bolsonaro e nomes ligados ao
ex-presidente, como o ajudante de ordens Mauro Cid e o ex-ministro da Justiça
Anderson Torres.
A seguir, o Metrópoles listou quais são as cartas
de maior destaque na CPMI: seja entre os bolsonaristas, com estratégias para
tumultuar as sessões; seja entre os governistas, com planos para comprometer
Bolsonaro e aliados por meio dos materiais obtidos pelo colegiado.
• A
Mesa
O comando da CPMI é marcado por dois nomes que se
opõem em posicionamentos sobre o desenrolar do colegiado: Arthur Maia,
presidente da comissão, e Eliziane Gama, relatora.
Ao presidente da comissão, cabe a elaboração da
pauta, com a escolha dos requerimentos que serão apreciados, e o agendamento de
oitivas e sessões deliberativas.
Desde as primeiras sessões da CPMI, Maia se
posicionou duramente contra a ideia de transformar o colegiado em uma “caça às
bruxas” contra a família Bolsonaro. O deputado afirmou que atuaria de forma
independente e justa na condução dos trabalhos para investigar os autores e
financiadores dos ataques em Brasília.
Maia, porém, tem sido resistente à inclusão de
requerimentos que pedem convocação e quebra de sigilo de Jair e Michelle
Bolsonaro e Frederick Wassef, advogado da família. Todos são investigados pela
Polícia Federal (PF) e foram citados por depoentes que falaram à CPMI ao longo
das semanas.
Acusado de “blindar” a família do ex-presidente no
colegiado, Arthur Maia também tem acenado em defesa das Forças Armadas em meio
às investigações. Nesta semana, ele se reuniu com o comandante do Exército,
general Tomás Paiva, e afirmou que a CPMI precisa “preservar instituições
democráticas” e separar atitudes de “alguns militares”.
Do outro lado, Eliziane Gama, a relatora, tem
insistido em pedir quebras de sigilo telefônicos, telemáticos, bancários e
fiscais de nomes ligados ao ex-presidente e de outros personagens acusados de
envolvimento com os ataques de 8 de janeiro. Para se ter ideia, a senadora é
autora de 153 dos 163 pedidos de transferências de sigilos aprovadas pela
comissão.
Como relatora, cabe à parlamentar elaborar o
parecer final com o resultado das investigações do colegiado. Em entrevista na
última semana, a parlamentar já adiantou que existem “fortes condições” para
incluir Jair Bolsonaro na lista de indiciados pela CPMI.
As acusações ganharam força após o depoimento do
hacker Walter Delgatti Neto ao colegiado. Ele apontou Bolsonaro como o mandante
de uma série de atividades antidemocráticas.
As divergências entre Eliziane e Arthur Maia
chegaram a causar tensionamento no colegiado. No início da semana, a sessão
deliberativa prevista para a manhã de terça-feira (22/8) chegou a ser adiada
duas vezes por falta de consenso entre os parlamentares.
• As
cartas do governo
A tropa de choque do governo na CPMI é formada por
parlamentares do Partido dos Trabalhadores, de Lula, e de siglas ligadas à
esquerda, como o PCdoB e o PSol.
Um dos destaques é a deputada Jandira Feghali
(PCdoB-RJ). A parlamentar protagonizou discursos e fez uma série de perguntas
de destaque a depoentes investigados pelo colegiado.
Além disso, a deputada é autora de requerimentos
que pediram convocação de Anderson Torres, Mauro Cid e Delgatti Neto.
Outro nome de destaque é o deputado Pastor Henrique
Vieira (PSol-SP). O parlamentar tem feito discursos fortes com questionamentos
a investigados. Um dos momentos de maior repercussão foi a série de perguntas
que o deputado fez ao hacker Delgatti Neto sobre a relação do hacker com
Bolsonaro.
A tropa governista também conta com o reforço dos
petistas Fabiano Contarato (PT-ES) e Rogério Carvalho (PT-SE), além das
deputadas Duda Salabert (PDT-MG) e Erika Hilton (PSol-SP), e de Duarte Jr.
(PSB-MA).
• As
cartas da oposição
Entre a oposição, a estratégia passou a ser
tumultuar as sessões do colegiado. Nas últimas semanas, as redes sociais têm
sido tomadas por vídeos de brigas entre parlamentares ligados a Jair Bolsonaro
e outros integrantes do grupo.
Nomes como Nikolas Ferreira (PL-MG), Marco
Feliciano (PL-SP), Eduardo Girão (Novo-CE), André Fernandes (PL-CE), Flávio
Bolsonaro (PL-RJ) e Eduardo Bolsonaro (PL-SP) têm se mobilizado para proteger o
ex-presidente de acusações nas sessões do colegiado.
Além disso, o grupo tem tentado convocar nomes
ligados a Lula para associar o mandatário aos ataques de 8/1. Eles conseguiram
aprovar a convocação do general Gonçalves Dias, ex-ministro-chefe do Gabinete
de Segurança Institucional (GSI) de Lula. O militar falará ao grupo em 31/8.
• Quem
está no radar?
Alguns nomes investigados por órgãos como a Polícia
Federal (PF) e o Supremo Tribunal Federal (STF) estão na mira de Eliziane Gama
e devem ser citados no relatório final.
É o caso de Mauro Cid, tenente-coronel e
ex-ajudante de ordens de Jair Bolsonaro; Anderson Torres, ex-secretário de
Segurança Pública do Distrito Federal; e Silvinei Vasques, ex-diretor da
Polícia Rodoviária Federal (PRF).
Também devem ser citados George Washington de
Oliveira, investigado por tentativa de ataque a bomba em Brasília, e o hacker
Walter Delgatti Neto.
• Próximos
passos
O regimento do Congresso Nacional determina que
CPMIs tenham duração de 180 dias — que podem ser prorrogados, caso haja
consenso no colegiado.
No entanto, nessa quinta-feira (24/8), o presidente
da comissão, Arthur Maia (União-BA), adiantou que o colegiado não terá duração
maior que 6 meses. Ele pretende encerrar os depoimentos até 17 de outubro e, em
novembro, a relatora, Eliziane Gama (PSD-MA), deve finalizar o relatório que
será votado na comissão.
O que
Bolsonaro dirá ao se tornar réu no caso do golpe de 8/1
No caso do roubo das joias, caso seja denunciado e
sente no banco dos réus, Bolsonaro, por enquanto, não sabe o que dirá. Parece
perdidinho da silva, segundo pessoas com acesso a ele. Foi pego de surpresa
pelas ações da Polícia Federal a mando da Justiça.
Seus advogados estudam várias teses de defesa. A
mais recente, pedir de volta as joias surrupiadas ao Estado brasileiro,
alegando que pertencem a Bolsonaro, foram oferecidas a ele por governos estrangeiros,
são itens “personalíssimos” e não foram surrupiadas.
A tese não se sustenta. Acima de determinado valor,
presentes dados a autoridades públicas vão diretamente para o acervo do Estado.
O preço das joias excede de longe o valor determinado em lei. As joias estão
mais para pagamento de suborno do que para brindes.
Não fosse assim, por que Bolsonaro embolsou parte
delas antes de deixar o cargo? Por que as levou no avião presidencial para
vendê-las nos Estados Unidos? Por que o dinheiro apurado com a venda caiu em
sua conta? E por que mandou recomprar algumas?
Porque descoberto o crime, quis encobri-lo
devolvendo as joias. Se fossem itens “personalíssimos”, não os devolveria.
Conta outra, Jair. É atrás do que contar com o mínimo de verossimilhança que
correm os advogados pagos pelo partido do Valdemar.
Ou você pensa que Bolsonaro paga alguma coisa do
próprio bolso? Nem recapeamento dos dentes, ele paga. Faz um comercial para o
dentista e estamos conversados. Se quer mais dinheiro, pede ao PL, partido de
Valdemar Costa Neto. Ou aos seus devotos.
Quanto à acusação de que esteve por trás do golpe
fracassado do 8 de janeiro, caso venha a se tornar réu, já sabe o que dirá. A
cartilha da extrema-direita é universal. Com pequenas variações para atender
circunstâncias locais, o discurso é sempre o mesmo.
“Temos todo
o direito de contestar uma eleição que consideramos desonesta”, disse, ontem,
no estado da Geórgia, o ex-presidente Donal Trump, em sua quarta prisão
criminal, acusado de conspirar com aliados para reverter sua derrota nas
eleições de 2020.
“Reverter a derrota”, “eleição desonesta” são
sinônimos de golpe. Derrotado pelo democrata Joe Biden, Trump, primeiro, pediu
recontagem de votos. Segundo, pressionou o vice-presidente a não proclamar os
resultados. Por último, e o mais trágico…
Por último, estimulou seus eleitores a invadirem o
Capitólio, em Washington. Morreu gente. Gente saiu ferida. Os congressistas
fugiram para não serem mortos. Lembra alguma coisa? Aqui não houve mortes
porque Deus é brasileiro, embora ande distraído.
Mas foi pior. Os golpistas acamparam à porta de
quartéis sob a proteção dos militares. Estradas foram bloqueadas. Por pouco,
uma bomba não explodiu, destruindo o aeroporto de Brasília. As sedes dos três
Poderes da República foram saqueadas.
Considerem, a levar-se em conta que um golpe mesmo
sem uso ostensivo de blindados significa a ocupação das sedes dos Poderes. Por
algum tempo aqui, o golpe foi consumado. Durou pouco como se viu. O amadorismo
acabou castigado. Salve o amadorismo!
Bolsonaro repetirá Trump: “Temos todo o direito de
contestar uma eleição que consideramos desonesta”. Com uma diferença: se Trump
for condenado e preso, poderá ser candidato. Bolsonaro já não pode. Está
inelegível até 2030. E responde a outros processos.
A cadeia poderá lhe fazer bem.
General
Girão é investigado pela PF por incitar ataques golpistas nas redes sociais
A Polícia Federal instaurou nesta quinta-feira (24)
um inquérito para investigar as acusações contra o deputado federal General
Girão (PL-RN) de incitar os ataques golpistas nas redes sociais. Girão é
acusado de promover não apenas os ataques do 8 de janeiro, mas toda a trama
golpistas que se seguiu após o segundo turno das últimas eleições com ocupações
de rodovias, acampamentos em quarteis e outros episódios de vandalismo e
depredação.
De acordo com a investigação, Girão apareceu em uma
série de vídeos e postagens nas redes sociais incitando animosidades entre os
poderes da República, a sociedade e as forças armadas. Segundo o documento da
PF, o parlamentar teria organizado um grupo para cometer os crimes contra a
democracia.
A PF lista dois: tentativa de abolição com emprego
de violência ou grave ameaça do Estado Democrático de Direito e tentativa de
deposição por meio de violência ou grave ameaça de um governo legitimamente
eleito.
O delegado federal Victor Menezes, que assina o
inquérito, afirma já estar de posse de todas as publicações de Girão no
Facebook, Youtube, Instagram, Twitter e Tik Tok que serão analisadas pela
investigação.
O ministro Alexandre de Moraes é o relator do
inquérito no Supremo Tribunal Federal. Foi ele quem determinou a abertura do
investigação contra Girão, ainda em julho, a pedido da PF e da PGR.
• 'Girões'
sabiam do 8 de janeiro
Mensagens encontradas pela Polícia Civil do
Distrito Federal no celular do militante bolsonarista e armamentista George
Washington de Oliveira Sousa colocam parlamentares bolsonaristas como o
deputado federal Elieser Girão (PL-RN) e o senador Eduardo Girão (Novo-CE) na
"cena do crime", uma vez que em trocas de mensagem com o terrorista,
tomaram ciência dos planos de ações violentas para abolir o Estado Democrático
de Direito. O conteúdo que foi enviado à CPMI dos Atos Golpistas e o dono do
celular, George Washington, além de ter tentado explodir uma bomba no aeroporto
de Brasília na véspera de Natal, também falou sobre outras ações violentas,
como um suposto assassinato de Lula por meio de um atirador sniper. Mesmo
sabendo dos planos do militante, os parlamentares não avisaram as autoridades
até onde se sabe.
As mensagens foram reveladas pela jornalista Denise
Assis, do Brasil 247. Nelas, o terrorista de Brasília cobra do deputado, que se
identifica como general Girão, a liberação da ação de CACs (caçadores,
atiradores e colecionadores de armas) nas ações golpistas.
“General Girão, vão esperar até quando para acionar
os CACs? Têm CACs prontos. Acione, general! Coloque-os em treinamento militar
intensivo. Temos muitos fuzis a disposição, não nos deixe sair como bandidos”,
escreveu George Washington em 11 de dezembro de 2022 para Eliéser Girão. No dia
seguinte foi registrado a primeira arruaça em Brasília, quando golpistas
incendiaram a capital contra a diplomação do presidente Lula (PT).
Eliéser, durante uma manifestação pública, chegou a
afirmar em megafone para golpistas mobilizados na capital que colocassem “os
sapatinhos na janela, pois teremos novidades no Natal”. A novidade, no caso,
aparentemente seria a explosão do aeroporto que, segundo George Washington,
geraria um caos social na capital e seria o estopim para uma “intervenção
federal” no Judiciário e na Segurança Pública, que permitiria a Bolsonaro, hoje
inelegível, driblar o resultado das eleições e permanecer no poder. Mas deu
errado, e agora George Washington “saiu como bandido”, conforme temia na
conversa com o parlamentar.
Na última sexta-feira (7), o ministro Alexandre de
Moraes, do Supremo Tribunal Federal, determinou que um inquérito fosse aberto
para investigar a possível participação do general Girão como incitador dos
atos golpistas de 8 de janeiro.
George Washington também falou com o senador
Eduardo Girão, que hoje é membro da própria CPMI dos Atos Golpistas. Ele
cobrava a “ativação” de CACs no golpe de estado, sobretudo em um momento que os
setores mais radicais do bolsonarismo ventilavam um possível assassinato de
Lula com a utilização de snipers.
“Vão esperar até quando para ativar os CACs como
força de reserva? Tem muito CAC atirador sniper”, escreveu George Washington
para Eduardo Girão no mesmo 11 de dezembro. Aparentemente Girão não o
respondeu, mas tampouco avisou as autoridades sobre os planos do extremista.
Para além do apelo aos parlamentares em relação a
atuação dos CACs no golpe, as mensagens ainda apontam conversas de George
Washington em que foi planejada a implantação da bomba com um contato
identificado como Ricardo Adesivaço Xinguara. Termos como “missão” e “caminhão”
são frequentes nas trocas de mensagens. As revelações apontam para uma
organização mais sofisticada dos atos golpistas - desde os bloqueios de
rodovias, acampamentos, arruaças na capital e planejamento de atentados a bomba
- e contrariam a narrativa bolsonarista de que tais mobilizações teriam sido
"orgânicas" e "espontâneas".
“O que existe nesse material começa a mostrar que
não apenas essas pessoas confessam que foram lá para isso, para poder
estabelecer uma quebra da democracia e ocupar os poderes para destituir o
presidente eleito, mas também começa agora a aparecer uma organização por trás,
inclusive, de atos que eles falavam que teriam e que seriam atos que levados a
cabo criariam um caos e dentro disso tem esse caso, que é o mais explícito do
caminhão a bomba, mas tem também o fechamento de rodovias, que levariam ao
caos. E aquele ato do dia 12 levaria a que setores das Forças Armadas fizessem
uma intervenção para que o Bolsonaro voltasse. Era o que eles esperavam para
fechar e dar o golpe”, avaliou o deputado Rogerio Correia (PT-MG) para o Brasil
247.
Fonte: Metrópoles/Fórum
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