AL-BA: Deputados lagartixas aprovam pagamento dos precatórios da
educação sem juros
O Projeto de Lei (PL) para o pagamento da segunda
parcela dos precatórios do Fundef devido aos professores e profissionais da
Educação Básica foi aprovado, pouco depois de 0h30 desta sexta-feira (25), pela
maioria dos 54 deputados presentes na sessão extraordinária da Assembleia
Legislativa da Bahia (Alba). Em minoria, a oposição votou contra, pois a emenda
que apresentou mais cedo prevendo o pagamento da dívida com os juros aos
educadores foi rejeitada pelo relator, o deputado governista Vitor Bonfim (PV).
A emenda da oposição foi apresentada no início da
sessão, às 19h20, e sugeria o pagamento integral dos juros aos profissionais.
Os governistas não se manifestaram sobre a proposta, embora em reunião com a
categoria, no dia 8, tenham se comprometido a lutar pela aprovação do pagamento
com os juros. Na votação, porém, nenhum deles subiu à tribuna para defender tal
posição.
O início da votação do PL dos Precatórios foi
marcado por muito bate-boca entre os deputados e por gritos e protestos dos
profissionais afetados pela medida, que lotaram as galerias do plenário; além
de críticas à situação da educação na Bahia.
A sessão começou com discussão acirrada entre o
líder da oposição, Alan Sanches (União Brasil), e o presidente da Casa, Adolfo
Menezes (PSD), a respeito da leitura da ata. O líder da oposição subiu à
tribuna e reclamou da audiência extraordinária marcada para às 19h20 e acusou o
presidente da Casa de ser subserviente ao governo do estado. Sanches cobrou
mais independência do Legislativo baiano.
Alan Sanches saiu da tribuna com gritos de apoio
dos professores e foi sucedido pela deputada Fátima Nunes (PT). Ela fez
discurso em defesa do governador Jerônimo Rodrigues, que é do mesmo partido, e
foi interrompida por protestos da categoria. O presidente Adolfo ficou irritado
e ameaçou tomar medidas drásticas caso a deputada voltasse a ser interrompida.
"Querem pagar para ver?", ameaçou, voltando-se para a galeria dos
professores. Do lado de fora do plenário, policiais militares estavam de
plantão.
A sessão continuou com outros deputados se
alternando na tribuna. Vitor Bonfim defendeu a educação em tempo integral e
cobrou mais investimentos para a segurança das escolas. Sandro Régis (União
Brasil) lembrou que a Bahia lidera os índices de analfabetismo e os baixos
níveis do ensino médio do Brasil. Ele também acusou a Assembleia de
"apunhalar nas costas os professores".
Leandro de Jesus (PL) afirmou que "o governo
está metendo a mão no dinheiro que não é dele, no dinheiro dos
professores". Já Hilton Coelho (PSOL) criticou o uso da tropa de choque da
PM de plantão na entrada da Alba. "Estão aí para agir contra os
professores com escudos que são maiores do que eles". O deputado afirmou
que a retirada dos juros de mora do projeto de lei não era justo.
• Manobras
Às 20h53 a oposição pediu verificação de quorum e
houve corrida dos deputados governistas ao plenário para evitar que a sessão
caísse. Os professores nas galerias cobraram a presença dos deputados que
integram a Comissão de Educação e que se comprometeram em apoiar a categoria.
Às 21h07, houve novo pedido de quórum, desta vez no âmbito das comissões. O
quórum foi confirmado. Foi feita nova verificação às 22h21, mas dessa vez
surgiu impasse sobre o regimento. A sessão foi mantida, mas a oposição ameaçou
acionar o Judiciário para invalidar a votação.
Por volta de 23h30, os parlamentares passaram o
outro projeto em votação no dia, que libera o governo para contratar
empréstimos para obras no estado, à frente dos precatórios. O PL dos empréstimos
foi aprovado por volta das 23h45 e autoriza o governo a contratar R$ 400
milhões em empréstimos com a Caixa para investimentos em infraestrutura em toda
a Bahia. Os parlamentares da oposição criticaram o que definiram como falta de
transparência sobre o destino dos recursos.
O PL dos precatórios começou a ser votado às 23h45,
na sequência do PL dos empréstimos, ainda sob forte comoção. Na sessão,
deputados discursaram ainda sobre outros assuntos, como a construção da ponte
Salvador- Itaparica, a mudança de modal do VLT do Subúrbio e a implantação de
adutoras.
>>> Cronologia do caso:
# Setembro de 2022
- O governo do estado faz o pagamento da primeira
parcela dos precatórios para 57 mil pessoas, mas a estimativa era alcançar 87
mil beneficiários. O valor foi pago sem a correção monetária acumulada nos mais
de 20 anos de espera pelo abono. A retirada dos juros e mora pelo Executivo
está sendo questionada na justiça;
Janeiro de 2023 - O governo do estado faz um alerta
de que há 5.121 herdeiros de ex-servidores falecidos que têm direito a receber
o abono, mas que apenas 554 deles a- presentaram à comissão os alvarás
solicitando os pagamentos. Segundo a categoria, o imbróglio permanece por
questões burocráticas;
# Maio de 2023
- Os R$ 3.108.822.717,80 foram disponibilizados na
Caixa Econômica Federal para o pagamento da segunda parcela dos precatórios.
Desse montante, 60% serão destinados aos docentes e 40% à infraestrutura dos
colégios da rede estadual de ensino. O valor dependia de projeto de lei para
ser transferido para os beneficiários e a categoria começou a pressionar os
deputados da Alba;
# Julho de 2023
- No dia 11, representantes dos professores fazem
visita técnica à Secretaria Estadual de Relações Institucionais (Serin) para
discutir questões que afligem a categoria. Eles foram recebidos por servidores
da pasta. Duas semanas depois, acontece um protesto em Feira de Santana, e na
semana seguinte, outro protesto em Salvador;
# 8 de agosto de 2023
- Deputados retornam às atividades na Assembleia
Legislativa e os professores lotam a sala da Comissão da Educação, Cultura,
Ciência e Tecnologia e Serviços Públicos. Parlamentares da base governista se
comprometem a trabalhar para que os juros de mora sejam repassados para a
categoria;
# 21 de agosto de 2023
- O Projeto de Lei que trata do pagamento da
segunda parcela dos precatórios é encaminhado para votação na Assembleia
Legislativa. O texto amplia a base dos beneficiados, prevê o pagamento de um
abono, mas não inclui os juros. A categoria protesta. O PL entra na lista de
urgência para votação;
# 24 de agosto de 2023
- O PL dos precatórios foi aprovado por volta de
0h30 desta sexta (25), em sessão tumultuada e com muito bate-boca entre os
deputados. O projeto passou sem os juros e correções, embora a oposição tenha
feito proposta de emenda contemplando essa reivindicação dos professores, que
foi rejeitada pelo relator. A oposição votou contra o PL sem os juros; e os
governistas, a favor.
Fonte: Correio
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