“Fundada suspeita”: a polícia baiana que mais mata é também a mais
violenta?
Em 2022, 1.464 pessoas foram mortas em operações
policiais na Bahia. No Rio de Janeiro a polícia matou 1.330 pessoas em suas
ações.
“Você vê a viatura, e entra correndo, você quer o
que?”
Com esta pergunta, um agente da Polícia Militar
baiana justificou o crime de invasão de domicílio na casa de um homem negro, na
cidade de Feira de Santana.
Esta “fundada suspeita” não se aplica aos moradores
brancos dos ditos bairros nobres da capital soteropolitana, Corredor da
Vitória, Graça…
Haveria “fundada suspeita” de que algum destes
imóveis dos granfinos escondam 51 milhões de reais de origem criminosa?
Ou que nestes bairros, comandantes do crime
organizado, o alto escalão do mundo jurídico, por exemplo, arquitetem compra de
sentenças de terras griladas no oeste da Bahia?
Lá, onde mora “gente de bem”, a Polícia dá boa
noite e pede licença ao “senhor ou sinhazinha…”
“A fundada suspeita” que justifica capitães-do-mato
matar preto, estapear uma mulher negra grávida – como no caso lá do Santo
Antônio Além do Carmo – humilhar com murros, xingamentos é, em outras palavras,
o racismo institucional que orienta uma atuação letal e violenta em bairros
populares de pessoas negras.
“Quem tá desrespeitando tú, playboy?”
O jovem negro, do vídeo desta matéria, que além de
sua casa invadida por policiais, teve a camisa rasgada perante sua esposa e
filhos, ouviu a irônica pergunta do soldado da PM sobre quem o desrespeitou.
Se um homem negro entrar em sua residência
coincidentemente com a passagem de uma viatura policial, há motivo suficiente
para uma atuação violenta da PM?
Sim, de acordo com o manual racista da segurança
pública baiana, que, aliás, é gerida por um homem branco.
Tal fato – a agressão policial – filmado pela
esposa da vítima foi o divisor de águas para se evitar um final trágico, talvez
uma execução, a partir de uma “reação” de um homem negro desarmado, perante
três policias com fuzil, ou em uma sessão de espancamento e tortura perante a
companheira da vítima e seus filhos.
Sobre isso, tem-se uma “fundada suspeita”.
Este recorte acende uma necessidade da tão adiada
instalação de câmeras nos fardamentos da polícia baiana, nas suas ações de
abordagens, sobretudo em bairros populares de maioria negra
• “O
senhor vê a Constituição como porcaria?”
Invasão de domicílio, crime de injúria, ameaças em
meio a gritos, revelam a expressão de um Estado Policialesco que funda sua
práxis no Direito Penal do Inimigo. No contexto brasileiro, a população negra
são indivíduos e não pessoas com prerrogativas do imperativo da dignidade da pessoa
humana, fundamento da Carta Constitucional brasileira.
Como indivíduos, ergue-se o Direito de Guerra
contra pessoas negras, com a negação da humanidade, o cerne do central do
racismo estrutural.
Não há Carta de Direitos Fundamentais para pessoas
negras materialmente, porque elas são indivíduos que precisam ser eliminados,
de acordo com a expressa necropolítica da podre elite branca brasileira, seja
pelo extermínio ou encarceramento em massa.
Tornar concreto os Direitos Humanos é o desafio da
posmodernidade, como expressa Bobbio na “Era dos Direitos”.
• O
movimento negro: “Polícia, o que você tem a esconder?”.
As entidades do Movimento Negro da Bahia – UNEGRO,
MNU, CONEM, CÍRCULO PALMARINO/Bahia, APNS, África900/Centro de Referência
Política – em conjunto com outras entidades da sociedade civil, que estão na
luta antirracista, convocaram para o dia 18/08 um ato de mobilização para
denunciar e cobrar medidas contra o extermínio da população negra pela polícia
baiana (segue manifesto abaixo).
A polícia da Bahia é que mais mata, ultrapassando
os índices de letalidade do Rio de Janeiro, governado por uma gestão de
segurança alinhada com a extrema-direita bolsonarista.
Foram 1.464 pessoas mortas no estado da Bahia, em
operações policiais em 2022, já a polícia do Rio de Janeiro matou 1.330 pessoas
em suas ações.
A Bahia segue numa expansão da letalidade desde
2015. As mortes, naquele ano, somaram 315, o que registra um aumento em 313%
durante este período de sete anos.
Na pandemia, o número de óbitos na Bahia, por ação
da polícia, foram 1.138.
A morte do menino Joel em 2011, a “Vila Moisés”, a
chacina da Gamboa, a morte de Gabriel Silva da Conceição Júnior de 10 anos, na
cidade de Lauro de Freitas, e as 30 pessoas mortas em ações policiais nas
primeiras semanas de agosto deste ano, formam uma lista de um “estado de
coisas” que caracteriza a tônica da segurança pública da Bahia: o extermínio da
vida de pessoas negras.
Em outro recorte, não há efetiva repressão aos
assassinatos, agressões, humilhações, torturas praticadas por policiais contra
as pessoas negras de bairros periféricos.
O relatório “Pele Alvo: a Cor que a Polícia Apaga”
registra em 2021, que das 3290 mortes em operações policiais, 65% era pessoas
negras. Na Bahia, das 1335 pessoas mortas pela polícia em 2021, tem-se o
alarmante número de 98% pessoas negras mortas em ações policiais.
Não se trata da decisão de um jogador na marca do
penâlty, é decisão política. Tampouco, supostamente, as pessoas mortas serem
“homicidas, traficantes, estupradores, assaltantes, entre outros criminosos”,
como afirmou o governador, é justificativa para a necropolítica que assassina
pessoas negras na Bahia.
Câmeras nos uniformes dos policiais, formação em
Direitos Humanos e Letramento Racial nos setores de segurança pública, e punição
para ações de extermínio e violação de direitos das pessoas negras, são pontos
urgentes para alterar o curso do racismo institucional na Bahia.
Câmeras nos fardamentos policiais já!
Compartilhe com seus amigos e familiares!
#CamerasJá #ChegaDeViolênciaPolicial
#JustiçaParaTodos #ContraoExtermíniodaJuventudeNegra #JuventudeNegraViva
#PovoNegroVivo
Organizações que apoiam o ato:
UNEGRO
MNU
CONEM
CÍRCULO PALMARINO – Bahia
APNS
NEGRITUDE SUSSUARANA
GRUPO TORTURA NUNCA MAIS
REPROTAI
INSTITUTO DE MULHERES NEGRA LUIZA MAHIN
ASSOC. DE MORADORES DO CONJUNTO SANTA LUZIA
ONG BUMBÁ – ESCOLA DE FORMAÇÃO ARTÍSTICA
CEDHU – CENTRO DE DIREITOS HUMANOS FRANCO
PELLEGRINI
CMA HIP HOP – Comunicação, Militância e Atitude Hip
Hop
BANCADA DO FEIJÃO
EDUCAFRO
Coletivo Nacional de Juventude Negra – Enegrecer
Fórum de Entidades Negras da Bahia-FENEBA
Associação dos Moradores de Itapuã – AMI
EtniCidades: grupo de estudos étnico-raciais em
arquitetura e urbanismo da FAUFBA
União Estadual dos Estudantes – UEES BAHIA
Associação de Grêmios e Estudantes de Salvador –
AGES
Núcleo Popular – Bahia
CUT Bahia
UJS – União da Juventude Socialista
Associação de advogadas e advogados negras e negros
Blackordem
Coletivo Resistência Preta
Programa A Voz do Axé
Informe Nordeste
Frente Nacional Makota Valdina
Terreiro Ilê Axé Araká
Coletivo Vozes que Invocam
Casa Marielle Franco Brasil
África900- Centro de Referência Política
Coletivo de Arte e Juventude Urbana ( CAJU )
Cajaverde Organização Ambiental Esportiva e
Cultural
FABS Federação das Associações de Bairros de
Salvador
Frente Ampla de Cajazeiras
B5 Frente Negra
Instituto Jaime Sodré
NCA Nação de Consciência Ancestral
• SOBRE
O AUTOR
Franklim Peixinho é homem negro, Ogan do Ilê Axé
Ikandèlé, professor de História e Direito Penal, advogado antirracista,
militante do Círculo Palmarino/Bahia, Dirigente do Instituto Hori. Mestre em
Políticas Públicas e em História da África, Diáspora e Povos Indígenas (UFRB),
Doutor em Ciências Jurídicas. Pesquisa a necropolítica da guerra às drogas no
Brasil e educação antirracista
Fonte: Por Franklim Peixinho, parceria Jornalistas
Livres, Instituto Hori e Ciranda
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