quinta-feira, 31 de agosto de 2023

Destino da Ucrânia foi selado muito antes do fracasso da contraofensiva, diz especialista

Recentemente, as Forças Armadas da Ucrânia foram criticadas pelos seus parceiros militares ocidentais por levarem a cabo operações de apoio à contraofensiva em curso, de uma forma que se desvia da teoria operacional da guerra de armas combinadas.

De acordo com o ex-oficial de inteligência do Corpo de Fuzileiros Navais dos Estados Unidos, Scott Ritter, a guerra de armas combinadas integra as capacidades inerentes às armas de combate separadas (infantaria, artilharia, blindados, guerra aérea, guerra eletrônica etc.) em um esforço singular que se complementa, aumentando assim a letalidade e a eficiência das operações. A teoria serviu de base ao treino das forças ucranianas pela Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN) na preparação para a atual contraofensiva e se baseia na atual doutrina dos Estados Unidos e da Aliança Atlântica que enfatiza princípios e táticas fundamentais, técnicas e procedimentos que, quando devidamente implementados, são projetados para alcançar o resultado desejado.

Para o especialista, as declarações atribuídas a oficiais militares dos EUA e da OTAN que estiveram envolvidos no treino das forças ucranianas, o Exército ucraniano não conseguiu implementar as táticas para as quais foi instruído, que enfatizavam uma abordagem de armas combinadas que utilizava o poder de fogo para suprimir as defesas da Rússia enquanto unidades blindadas avançavam agressivamente, buscando combinar choque e massa para romper posições defensivas preparadas. De acordo com estes oficiais ocidentais, os ucranianos se revelaram "avessos às baixas", permitindo a perda de mão de obra e equipamento diante da resistência russa para interromper os seus ataques, condenando a contraofensiva ao fracasso.

Os ucranianos, por outro lado, afirmam que o treino de armas combinadas que receberam se baseou em princípios doutrinários, tais como a necessidade de apoio aéreo adequado, que a Ucrânia nunca foi capaz de implementar, condenando a contraofensiva ao fracasso desde o início, e forçando a Ucrânia a se adaptar às realidades do campo de batalha, abandonando a abordagem de armas combinadas em favor de uma batalha centrada na infantaria, afirma Ritter. Para ele, o fato de estas novas tácticas terem produzido um número prodigioso de baixas ucranianas contradiz a noção de que a Ucrânia é avessa a baixas.

"A trágica realidade é que nenhuma das abordagens à guerra permitiu à Ucrânia alcançar as metas e objetivos ambiciosos que estabeleceu para si própria ao lançar a contraofensiva, especialmente a violação das defesas russas levando ao rompimento da ponte terrestre que liga a Crimeia à Rússia", afirmou o especialista.

Para Ritter, embora a Ucrânia, com o apoio dos seus aliados da OTAN, tenha acumulado capacidade militar suficiente para participar em operações militares concertadas contra a Rússia desde o início da contraofensiva no início de junho, a realidade é que este esforço é insustentável, ou seja "a Ucrânia chegou ao fim das suas forças".

As pesadas baixas sofridas pela Ucrânia, combinadas com o fracasso da contraofensiva em romper até mesmo a primeira linha das defesas russas preparadas, levaram o Exército ucraniano a empenhar a sua reserva estratégica na luta. Esta reserva, composta por algumas das forças mais bem treinadas e equipadas à disposição dos ucranianos, destinava-se a explorar os avanços obtidos pelas operações ofensivas iniciais. O fato de a reserva estratégica ter sido empenhada em atingir objetivos que todas as unidades de ataque anteriores não conseguiram alcançar apenas sublinha a futilidade do esforço ucraniano e a inevitabilidade da sua derrota final.

O colapso da coesão militar ucraniana ao longo da linha de contato com a Rússia está ocorrendo mesmo quando o último vestígio da contraofensiva ucraniana sangra nos campos de Zaporozhie. O especialista afirma que devido às perdas no campo de batalha sofridas pela Ucrânia nos meses que antecederam o início da contraofensiva de junho — principalmente, mas não exclusivamente, na Batalha de Artyomovsk — as forças ucranianas foram reduzidas à medida em que as unidades eram reorganizadas ao longo do front para substituir aquelas que tinham sido esgotadas em batalha.

Este estreitamento das linhas de frente ucranianas proporcionou oportunidades às forças russas, levando a grandes avanços nas proximidades de Kupyansk. À medida que as perdas ucranianas continuam, esta diminuição só se tornará mais prevalente, criando lacunas nas defesas ucranianas que podem ser exploradas por militares russos que têm mais de 200.000 reservistas bem treinados e bem equipados que ainda não foram empenhadas na batalha.

Segundo Ritter, esta relação causa-efeito vai continuar, uma vez que a Ucrânia não tem mais reservas disponíveis para substituir as perdas no campo de batalha que vão continuar a se acumular ao longo de toda a linha de contato. "Eventualmente, a postura ucraniana será insustentável e o alto comando ucraniano será confrontado com a realidade de que terá de ordenar uma retirada geral para posições mais defensivas — talvez até a margem direita do rio Dniepre — ou enfrentará a inevitabilidade da destruição total do seu Exército", afirmou ele.

"O destino da Ucrânia foi selado muito antes de sua contraofensiva ser reprimida pelas defesas da Rússia. As raízes do desastre militar da Ucrânia podem ser encontradas nos campos de treino da OTAN, onde os soldados ucranianos foram induzidos a acreditar que o treino que recebiam lhes daria capacidade semelhante à da OTAN no campo de batalha. Mas o léxico da guerra de armas combinadas, a menos que esteja ligado a princípios, táticas, técnicas e procedimentos doutrinariamente sólidos, é apenas uma coleção de palavras desprovidas de significado e substância", garantiu.

A ideia fundamental por trás da guerra de armas combinadas é que se pode exigir mais de cada arma de combate individual porque as fraquezas inerentes presentes são protegidas pelas capacidades complementares das outras que, quando agem em conjunto, servem como um multiplicador de força global, onde o coletivo é maior que a soma de todos os componentes individuais. Mas no campo de batalha, não foi como os fatos transcorreram.

À medida que a operação militar especial atinge a sua fase terminal, marcada pelo colapso da coesão por parte de um Exército ucraniano esgotado em batalha e incapaz de se reforçar adequadamente, é necessário refletir sobre como a situação se deteriorou até este ponto para uma nação que foi beneficiada por bilhões de dólares em assistência. Embora a determinação e a habilidade dos militares russos tenham desempenhado um papel importante na definição dos atuais acontecimentos no campo de batalha, o fato dos ucranianos terem sido lançados em uma batalha para a qual não estavam organizados nem treinados desempenhou um papel enorme no âmbito e na escala do conflito. E por isto a Ucrânia pode culpar – e a Rússia agradecer – à OTAN, concluiu Ritter.

·         Zelensky 'levou bomba' em sua 1ª reunião na Casa Branca com Biden

A exigência de adesão à OTAN, juntamente com a afirmação de que a França e a Alemanha iriam sair do grupo, "irritaram" o presidente dos EUA, relata o autor Franklin Foer em seu mais novo livro de acordo com a mídia britânica.

De acordo com o The Guardian, Washington e Kiev devem passar por um constrangimento público no aguardado livro "O último político: por dentro da Casa Branca de Joe Biden e a luta pelo futuro da América" de Franklin Foer, no qual ele conta, dentre outras coisas, que o presidente da Ucrânia, Vladimir Zelensky, "levou bomba" em sua primeira reunião no Salão Oval com o presidente dos EUA, Joe Biden.

"Até os mais fervorosos simpatizantes de Zelensky na administração [Biden] concordaram que ele tinha fracassado", escreve Franklin Foer sobre a reunião de setembro de 2021.

O livro não utiliza citações diretas nem cita fontes ao relatar a reunião Biden-Zelensky de 1 de setembro, mas segundo sua editora, Penguin Random House, afirma que o livro se baseia no "acesso sem paralelo ao estreito círculo interno de conselheiros que cercam Biden há décadas".

Desde que foi eleito em 2019, o presidente ucraniano alega ter sofrido pressões da Rússia e teria buscado apoio dos EUA para lidar com a questão, mas o ex-presidente Donald Trump teria se recusado encontrar com Zelensky.

Foer afirma que Zelensky nutriu "ressentimentos remanescentes do episódio" e "pelo menos inconscientemente [...] parecia culpar" Biden, o sucessor de Trump no Salão Oval, "pela humilhação que sofreu, pela estranheza política que suportou".

Ainda segundo a mídia, o autor afirma em seu livro que Zelensky considerava Biden fraco, especialmente quando renunciou às sanções ao Nord Stream 2 (Corrente do Norte 2) — o gasoduto para a Alemanha — contrariando os interesses de Zelensky que considerava o projeto do setor energético uma ameaça aos interesses econômicos e de segurança da Ucrânia.

Ainda de acordo com o livro, Biden teria "feito pouco" de Zelensky porque ele teria feito contato com o senador republicano de extrema direita do Texas, Ted Cruz, sobre a decisão do Nord Stream.

Em um trecho sobre a reunião, o autor conta que Biden esperava por expressões de gratidão pelo apoio dos EUA à Kiev, porém Zelensky "recheou suas conversas com uma longa lista de exigências". A principal delas: "Ele precisava se juntar à OTAN".

Naquela ocasião, Biden tinha então 78 anos e Zelensky 43. Foer argumenta que Biden "tentou transmitir alguma sabedoria que pudesse moderar o entusiasmo do homem mais jovem", notando inclusive que não existia então apoio suficiente para a Ucrânia aderir à Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN).

"A frustração de Zelensky obstruiu sua capacidade de lógica. Depois de implorar para se juntar à OTAN, começou a dar sermões de que a organização é, na verdade, uma relíquia histórica, com significado cada vez menor. Ele disse a Biden que a França e a Alemanha iriam sair da Aliança Atlântica", conta Foer dizendo que "foi uma análise absurda – e uma contradição flagrante. E isso irritou Biden".

·         Zelensky volta a se irritar com Lula e diz que Brasil 'apresenta contradições'; Itamaraty rebate

Líder ucraniano afirmou que o presidente do Brasil precisa "perceber" melhor as coisas para dizer algo. Chancelaria brasileira rebateu Zelensky dizendo que não recebeu suas declarações como críticas uma vez que sempre condenou o conflito.

Em entrevista à RTP ontem (29), o presidente ucraniano, Vladimir Zelensky, criticou mais uma vez a posição do governo brasileiro sobre o conflito na Ucrânia. Para Zelensky, o Brasil apresenta "contradições" em seu posicionamento, mas ao mesmo tempo, o líder ucraniano diz que precisa do país sul-americano "integralmente ao seu lado".

"Precisamos antes de tudo do Brasil, um país com influência no território da América Latina. E quero muito que o Brasil esteja integralmente ao nosso lado [...]. O presidente Lula deve perceber claramente que a guerra é na Ucrânia, não é na Rússia, nem no Brasil, nem na África, nem nos Estados Unidos. As vítimas são os ucranianos, não são os brasileiros, nem os outros europeus, nem os americanos. Para dizer algo, é necessário perceber quem é a vítima e quem é o agressor", declarou o presidente da Ucrânia.

Zelensky ainda deu uma alfinetada e disse que Kiev está aberta a receber sugestões para paz, desde que não se baseiem na concessão de territórios para a Rússia: "Isso não é coerente com nossos pensamentos e não é compatível com o respeito à nossa integridade territorial e soberania", destacou.

Em seguida, a chancelaria brasileira respondeu à entrevista e disse que "respeita as declarações do presidente Zelensky e não as considera críticas porque sempre condenou a invasão do território ucraniano", reiterando que defende o fim das hostilidades e a solução do conflito entre os dois países por meios diplomáticos, segundo a RTP.

Em abril deste ano, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse que Moscou deveria retirar as tropas da Ucrânia, mas que o governo ucraniano também não pode "querer tudo o que quer" em relação a territórios, acrescentando que a tomada da Crimeia pelos ucranianos "não deveria nem ser discutida", conforme noticiado.

Kiev rebateu Lula na época dizendo que "não há razão legal, política ou moral para justificar o abandono de um único centímetro do território ucraniano".

Os desencontros e "toma lá da cá" entre Zelensky e Lula acontecem desde que o petista retornou à cadeira da presidência para o seu terceiro mandato. O ápice aconteceu durante a cúpula do G7 deste ano, com "um acusando o outro" de que a reunião entre os dois na cúpula não foi possível por "má vontade".

 

Ø  Ucrânia intensifica seus esforços para obter apoio de mais países do Sul Global, diz mídia

 

A Ucrânia está intensificando sua ofensiva diplomática com a ajuda da França para conquistar mais países no Sul Global depois que a Rússia saiu fortalecida da cúpula do BRICS da semana passada, informa um artigo do jornal Financial Times.

"Nossa missão é estar em bons termos com tantos países quantos podemos", disse Aleksei Danilov, chefe do Conselho de Segurança da Ucrânia, ao Financial Times. "Estamos fazendo tudo o que podemos para que eles não apoiem a Rússia."

Nesse contexto, Aleksei Kharan, professor de política comparada da Universidade Nacional da Academia de Kiev-Mogila, afirmou que a diplomacia ucraniana com o Sul Global "está se tornando mais ativa, mais profissional e tem em conta uma maior especificidade" dos países com os quais tenta relacionar-se.

De acordo com publicação, para atingir o seu objetivo a Ucrânia procura ajuda da França. Assim, durante uma visita a Paris na terça-feira (29), o ministro das Relações Exteriores, Dmitry Kuleba, saudou "uma nova dinâmica" na busca de aliados fora dos EUA e da Europa.

"Usaremos as próximas sessões das Nações Unidas para organizar mais comunicação com países da África, Ásia e América do Sul", disse ele.

"Os esforços diplomáticos vêm à medida que o progresso na contraofensiva altamente esperada da Ucrânia para tentar expulsar a Rússia de seu território tem sido dolorosamente lento, criando tensões entre Kiev e seus aliados ocidentais liderados pelos EUA", escreve por sua vez o autor do artigo.

Além disso, o jornal destaca que "a Rússia também embarcou em sua própria campanha para reforçar o apoio internacional, inclusive na cúpula dos países do BRICS realizada na África do Sul na semana passada".

Durante o evento, o bloco, composto pelo Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul, anunciou que a Argentina, Egito, Irã, Emirados Árabes Unidos, Arábia Saudita e Etiópia se tornarão novos membros de pleno direito a partir de 1º de janeiro de 2024.

Após o alargamento, o produto interno bruto do BRICS representará 37% do PIB mundial e ele terá 46% da população mundial, garantiu o presidente do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva.

 

Ø  Putin pode 'virar o jogo' e deixar Ucrânia sem aliados, diz ex-conselheiro de Segurança dos EUA

 

John Bolton, ex-conselheiro de Segurança Nacional dos EUA, afirmou que se a contraofensiva de Kiev não der os resultados esperados, o presidente russo Vladimir Putin pode "virar o jogo".

Para Bolton, se Kiev não der sinais de progresso no campo de batalha, Putin poderá, sem qualquer aviso, determinar o cessar-fogo nos próximos dois meses na linha de frente e iniciar rapidamente as negociações.

"E os líderes políticos de Berlim, Paris e até mesmo Washington vão experimentar uma tentação para concordar com o cessar-fogo e iniciar as conversações", afirmou Bolton.

Apesar da insistência dos países ocidentais em prosseguir com os conflitos, muitos políticos europeus vão querer esquecer o conflito, devido à fraqueza militar da Ucrânia e o apoio financeiro a Kiev, ressaltou.

Para Bolton, o presidente americano Joe Biden também pode aproveitar a situação para encontrar uma saída a fim de encerrar o conflito.

"A dura verdade é que a política de Biden está falhando, a Ucrânia pode se tornar um fardo político e ele pode muito bem estar tentando encontrar uma saída. A ousada manobra diplomática de Putin pode ser exatamente a desculpa de que Biden precisa", destacou.

Além disso, Bolton acredita que o Ocidente tenda a concordar com a ideia russa de colocar a Ucrânia em uma situação de desvantagem.

"Já passou da hora de usar uma estratégia mais eficaz para atingir os objetivos de restaurar a soberania e integridade territorial da Ucrânia, bem como para uma assistência mais consistente", concluiu.

Moscou, por diversas vezes, afirmou estar pronta para retomar as negociações, contudo Kiev segue se recusando e insistindo em sua contraofensiva, que segue sofrendo uma série de reveses no campo de batalha.

 

Fonte: Sputnik Brasil

 

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