terça-feira, 11 de julho de 2023

Divergências ofuscam união oferecida por Putin na cúpula da Otan

Nos meses que antecederam a sua cúpula anual, que ocorrerá nesta terça (11) e quarta (12), a Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte) parecia se preparar para um evento algo triunfalista.

A Guerra da Ucrânia havia garantido a refundação da aliança militar criada em 1949 para conter mesma Moscou que hoje assusta, Kiev preparava uma contraofensiva decisiva armada enfim com tanques ocidentais, a Finlândia havia virado seu 31º membro, e logo Volodimir Zelenski poderia comemorar a adesão ao clube.

Japão, Coreia do Sul e Austrália voltaram a ser convidados de honra do evento, enfatizando que a Guerra Fria 2.0 entre Estados Unidos, que somam 70% do gasto militar do bloco, e a China é parte da missão da Otan. Por fim, evento ocorrerá em Vilnius, bela capital de arquitetura barroca a 30 km de uma barreira de arame farpado que marca a fronteira da Lituânia com Belarus, hoje um protetorado de Vladimir Putin.

Tal demonstração de força foi ofuscada pela realidade, sobrando a Putin ser o denominador comum das notícias positivas, por assim dizer, do encontro. Deve haver mais anúncio de armas para a Ucrânia, talvez com promessas mais firmes acerca de caças.

Pode haver avanço na reestruturação dos estoques bélicos europeus e o início do reforço do flanco leste, que hoje tem 10 mil soldados. O plano é chegar a talvez 50 mil. Também há expectativa de elevar de 40 mil para 300 mil o número de militares em prontidão no continente, mas isso parece mais especulativo.

A agenda incerta é mais ampla, contudo, apesar de o ainda misterioso motim mercenário contra Putin ter arranhado a imagem do presidente russo. A contraofensiva ucraniana, iniciada em 4 de junho, prossegue na sua fase inicial, procurando fraquezas nas linhas russas dos 20% do território ocupado desde a invasão de fevereiro de 2022.. Aqui e ali, autoridades contemporizam, mas Kiev já assumiu um discurso taciturno, exigindo mais armas do Ocidente.

Com isso, o americano Joe Biden tomou uma decisão que se provou problemática: aceitou enviar munições de fragmentação, proibidas em 23 dos 31 países da Otan, para a Ucrânia usar contra os russos. Noves fora que são armas particularmente brutais, o fato de que as bombinhas espalhadas em grandes áreas nem sempre explodem, tornando-se um problema por décadas.

O presidente embarcou neste domingo (9) para o Reino Unido, o mais tradicional aliado americano na Otan, para uma visita prévia à cúpula. Londres hoje se alia aos membros do leste da aliança na agressividade ante a Rússia, afastando-se da maior prudência esposada por países maiores, como Alemanha e França.

O brexit também esfriou as relações através do canal da Mancha, e a tentativa do secretário de Defesa britânico, Ben Wallace, de substituir Jens Stoltenberg à frente da Otan foi um fracasso. Restou ao norueguês permanecer mais um ano no posto de secretário-geral.

Biden subiu no Air Force One apanhando de vários aliados europeus pela decisão de fornecer as bombas, ainda que tanto ucranianos como russos já as tenham usado no conflito. Foi simbolicamente criticado neste domingo pelo Cambodja, país que foi bombardeado com 2,8 milhões de toneladas de explosivos americanos, muitos desse tipo, de 1970 a 1973.

Mais importante, contudo, é o sinal de que as coisas não parecem estar indo bem para Zelenski, que deverá ser a estrela na quarta-feira, quando será criado o Conselho Otan-Ucrânia, a saída diplomática possível para a aliança vender ao mundo que um dia irá aceitar Kiev.

O problema é simples: pelo seu regramento, a aliança não pode aceitar um membro em guerra. Até porque isso implicaria entrar no conflito, já que o ataque a um integrante significa que todos têm de defendê-lo. Ou seja, começar a Terceira Guerra Mundial, nuclear ao fim.

Na cúpula de Bucareste de 2008, a Otan recuou de abrir o processo de adesão de Ucrânia e Geórgia, ex-repúblicas soviéticas, para não melindrar Putin. Mas deixou deixou o convite valendo, o que fez com que o russo atacasse o pequeno país no Cáucaso naquele ano e, em 2014, anexasse a Crimeia quando seu aliado no poder em Kiev foi derrubado.

Putin, que invadiu a Ucrânia ano passado com a mesma preocupação estratégica em mente, fracassou contudo em conter a expansão da Otan, como a adesão da Finlândia e seus 1.340 km de fronteira com a Rússia mostrou. A Suécia iria entrar junto, tanto que participa da cúpula, mas aí outras peculiaridades europeias se impuseram.

A Turquia de Recep Tayyip Erdogan, líder que conseguiu anunciar uma visita de Putin a seu país, membro da Otan, no mesmo dia em que recebeu Zelenski e provocou Moscou ao romper um acordo de exílio de comandantes neonazistas de Kiev, segue cobrando caro de Estocolmo a adesão. Quer ver extraditados os seus opositores abrigados no país nórdico. Nesta segunda (10) haverá uma tentativa prévia de resolver a questão, mas parece improvável.

Há igualmente problemas internos em relação ao gasto militar. A Europa declarou independência energética da Rússia em 2022, mas o fez após os países encherem seus depósitos de gás natural. O inverno fraco ajudou na economia, mas há dúvidas se não haverá uma nova pressão inflacionária na estação fria de 2023-2024.

Stoltenberg defende que todos os integrantes do clube tenham os 2% do Produto Interno Bruto gastos com defesa como piso, e não como a atual meta. Em 2022, apenas 7 dos então 30 membros conseguiram isso, embora todos (exceto Turquia) tenham aumentado seu gasto ante 2014, ano que mudou a percepção de risco na Europa.

Países menores, que têm o mesmo direito a voto dos outros, discordam da pressão e querem ajudar de outras maneiras, como disse à reportagem a ministra da Defesa portuguesa, Helena Carreiras.

Há questões diversas, não menos importantes. A Polônia quer que os EUA instalem em seu território ogivas nucleares táticas, de uso mais restrito, porque Putin fez o mesmo com a vizinha Belarus.

Por fim, a China. Na reunião do ano passado, a Otan foi assertiva ao incluir Pequim nas suas preocupações estratégicas, uma pressão dos EUA. Mas os chineses compram 10% das exportações europeias e vendem 20% do que os países do continente importam. Os líderes da França e da Alemanha estiveram recentemente com Xi Jinping, e mesmo Biden está em um momento de aproximação com os rivais.

Apesar da presença de japoneses, australianos e sul-coreanos, parece mais provável que o tom belicista de 2022 seja mais direcionado ao principal aliado de Xi, Putin, com talvez algum pedido de gentileza para o chinês intervir em favor da paz.

 

Ø  Presidente polonês pede unidade em viagem à Ucrânia antes da cúpula da Otan

 

O presidente polonês, Andrzej Duda, na Ucrânia neste domingo (9), insistiu na necessidade de os aliados ocidentais se manterem unidos em torno do país em guerra, às vésperas de uma cúpula da Otan em que Kiev busca concretizar o seu processo de adesão à aliança militar.

“Juntos somos mais fortes”, disse o presidente Andrzej Duda nas redes sociais, durante uma visita à cidade de Lutsk, no oeste da Ucrânia, junto com seu homólogo ucraniano, Volodimir Zelensky.

O presidente ucraniano afirmou que ambos decidiram “trabalhar juntos para obter o melhor resultado possível para a Ucrânia na próxima cúpula da Otan, em 11 e 12 de julho em Vilnius, na Lituânia.

A Polônia é um dos principais apoios da Ucrânia na Otan, a aliança militar à qual Kiev deseja aderir.

O chefe da administração presidencial ucraniana, Andriy Yermak, acrescentou por na mesma rede social: “Ucrânia e Polônia estão juntas, unidas na luta contra um inimigo comum”.

Zelensky voltou da Turquia no sábado, após uma breve viagem pelo leste da Europa, para reunir apoio antes da cúpula da Otan.

O presidente estava acompanhado por altos comandantes do regimento de Azov, que deveriam permanecer na Turquia até o fim do conflito, cumprindo um acordo diplomático entre Moscou e Kiev.

O Kremlin criticou sua repatriação, uma “violação direta” do pacto, segundo o porta-voz da presidência russa, Dmitri Peskov.

Os combatentes do regimento são celebrados como heróis na Ucrânia por sua resistência na siderúrgica Azovstal durante o cerco à cidade de Mariupol (sul) e insultados na Rússia por suas ligações com o ultranacionalismo ucraniano.

Um dos combatentes desse batalhão, Denys Prokopenko, citado pela agência de notícias Interfax-Ucrânia, declarou que vai voltar à frente de batalha.

“É por isso que voltamos para a Ucrânia. É o nosso principal objetivo”, disse.

Peskov associou o retorno dos membros do regimento ao “fracasso da contraofensiva ucraniana” lançada em junho, mas também à vontade de Ancara de mostrar a sua “solidariedade” antes da cúpula da Otan.

– Biden na cúpula da Otan –

Nesta reunião da Aliança Atlântica, Kiev receberá “garantias de segurança” dos seus aliados ocidentais, mas será difícil obter um calendário específico para o seu processo de adesão.

Os Estados Unidos já garantiram que a ex-república soviética ainda tem “muitas etapas a superar” e o chefe da aliança, Jens Stoltenberg, estimou que a adesão só poderá ser considerada após a guerra.

O presidente dos EUA, Joe Biden, viajou neste domingo para o Reino Unido, onde se reunirá com o rei britânico Charles III, antes de ir para a cúpula da Otan na terça e quarta-feira.

Biden concluirá sua viagem com uma visita ao novo membro da Aliança Atlântica, a Finlândia.

Zelensky disse esperar receber um “sinal claro” sobre a possibilidade de seu país ingressar no grupo.

O presidente ucraniano aplaudiu a “coragem” do seu povo, em um vídeo divulgado no sábado, 500 dias após o início da guerra, gravado na Ilha das Serpentes, no Mar Negro, território que simboliza a resistência contra Moscou.

·         Presidentes da Ucrânia e Polônia relembram juntos massacre da Segunda Guerra que abalou relação entre os países

Os presidentes da Ucrânia e da Polônia relembraram juntos neste domingo o aniversário dos massacres de poloneses cometidos por nacionalistas ucranianos durante a Segunda Guerra Mundial, assassinatos que geraram tensão por gerações entre países que se tornaram aliados próximos.

Varsóvia se posicionou como uma das mais ferrenhas apoiadoras de Kiev desde que a Rússia invadiu o país em 2022.

Mas os massacres de Volhynia continuaram a pairar sobre os laços entre as duas nações, particularmente antes de 11 de julho, aniversário de um dos dias mais sangrentos de uma série de assassinatos ocorridos de 1943 a 1945.

A Polônia diz que cerca de 100.000 poloneses foram mortos nos massacres realizados por nacionalistas ucranianos. Milhares de ucranianos também foram mortos em represália.

O ucraniano Volodymyr Zelenskiy e seu colega polonês Andrzej Duda compareceram juntos a uma cerimônia religiosa na cidade de Lutsk, no oeste da Ucrânia, em memória das vítimas.

"Juntos prestamos homenagem a todas as vítimas inocentes de Volhynia! A memória nos une!", escreveram o gabinete de Duda e Zelenskiy no Twitter. "Juntos somos mais fortes."

A cerimônia contou com a presença dos chefes das maiores igrejas ortodoxas e católicas da Ucrânia e do chefe da Conferência Episcopal Polonesa, o arcebispo Stanislaw Gadecki.

 

Ø  Ucrânia ainda não está pronta para entrar na Otan, diz Biden

 

O presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, disse em entrevista divulgada pela CNN neste domingo (9.jul.2023) que a Ucrânia ainda não está pronta para aderir à Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte). Afirmou também que a guerra precisa acabar antes que a organização possa considerar adicionar o país sob a liderança de Volodymyr Zelensky.

“Acho que temos que traçar um caminho racional para que a Ucrânia possa se qualificar para poder entrar na Otan”, disse Biden. “Mas acho que é prematuro dizer, pedir uma votação, sabe, agora, porque há outras qualificações que precisam ser atendidas, incluindo a democratização e algumas dessas questões”, completou.

Ele afirmou ter discutido sobre o tema com Zelensky. Declarou que os EUA e seus aliados da organização continuarão a fornecer segurança e munição à Ucrânia. Não comentou, no entanto, o envio de bombas de fragmentação, decisão criticada por Reino Unido, Canadá e Espanha.

Biden viajou neste domingo para a Europa. Vai se encontrar na 2ª feira (10.jul) com o primeiro-ministro do Reino Unido, Rishi Sunak. Depois segue para a Lituânia, onde participar da cúpula da Otan.

500 DIAS DA GUERRA

Na 6ª feira (7.jul), completaram-se 500 dias desde que a Rússia iniciou uma ofensiva no território ucraniano.

De acordo com a ONU (Organização das Nações Unidas), a guerra já resultou na morte de cerca de 9.000 civis desde o início da invasão russa, em 24 de fevereiro de 2022.

 

Ø  Ministros de Rússia e Turquia conversam após Turquia enviar comandantes ucranianos para casa

 

Os ministros das Relações Exteriores da Rússia e da Turquia conversaram por telefone no domingo, um dia depois de Ancara ter irritado Moscou ao enviar cinco comandantes ucranianos para casa com o presidente Volodymyr Zelenskiy, no que a Rússia chamou de violação de um acordo de troca de prisioneiros.

Os ministérios das Relações Exteriores da Rússia e da Turquia disseram que Sergei Lavrov e Hakan Fidan discutiram a situação na Ucrânia, bem como um acordo de exportação de grãos do Mar Negro que suspendeu o bloqueio da Rússia aos portos ucranianos no ano passado.

Moscou ameaçou encerrar o acordo de exportação de grãos em 17 de julho, quando deveria ser renovado, dizendo que as demandas para facilitar as vendas de seus próprios grãos e fertilizantes não foram atendidas.

O presidente da Turquia, Tayyip Erdogan, disse no sábado que estava pressionando a Rússia para prorrogar o acordo que foi negociado no ano passado por Ancara e as Nações Unidas por pelo menos três meses.

O ministério russo disse que os dois lados se concentraram nos acontecimentos recentes na Ucrânia, incluindo a decisão de Ancara de devolver comandantes detidos da unidade ucraniana de Azov, que defendeu uma siderúrgica na cidade portuária ucraniana de Mariupol no ano passado.

 

Fonte: FolhaPress/Reuters/Poder 360

 

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