quinta-feira, 6 de julho de 2023

Carlos Carvalho: Passava da hora de já ir embora

A sociedade brasileira viu o monstro do fascismo emergir da lagoa, quando foi levado a cabo o golpe que depôs a presidenta Dilma Rousseff. Daí em diante, tudo o que havia de mais podre nos esgotos da política nacional ganhou status de poder. Gestada nas hordas da mediocridade, na estupidez e no submundo das falcatruas por pelo menos trinta anos, eis que uma das figuras mais abjetas da política brasileira em todos os tempos é alçada ao cargo máximo do Executivo nacional. E é claro que isso não poderia dar certo, como não deu.

A chegada de tal choldra política ao posto mais alto da República abriu caminhos para que ratos grandes, pequenos e minúsculos se digladiassem à luz do dia, numa luta ferrenha para ver quem abocanharia as maiores partes do gigantesco “queijo” do dinheiro público. Era a fatura sendo cobrada pelos patrocinadores do “quanto pior, melhor”, afinal, os canalhas já haviam perdido completamente a modéstia. E assim foram quatro anos de caos e retrocesso. Enquanto pais e mães de família se humilhavam em filas para comprar ossos, pele de frango e carcaças de peixe para alimentar seus filhos, o que se via eram passeios de jet-ski, motociatas, ostentação e pregações extremistas em praças públicas e templos ditos religiosos.  Tudo isso pago pelo contribuinte, obviamente. Enquanto o povo sofria horrores, o clã presidencial se regalava com o bom e o melhor, inclusive, com recorrentes viagens ao exterior e compra de mansões. Nem mesmo a morte de mais de 700 mil pessoas foi levada a sério, ao contrário, o que se ouviu a respeito foram coisas como: “E daí, eu não sou coveiro”. Mas foi o autor dessa famosa frase que, às vésperas de ser considerado inelegível pelo Tribunal Superior Eleitoral, disse: “Quem sabe Deus toque o coração de Alexandre de Moraes”. Bingo! Deus não apenas tocou o coração de Moraes, mas de quatro outros ministros, o que resultou em um placar de 5 a 2 pela condenação e consequente inelegibilidade do néscio por oito anos.  

A decisão do TSE serve de aviso a todos aqueles que, conscientemente, usaram e abusaram da disseminação de notícias falsas sobre as urnas eletrônicas e o processo eleitoral brasileiro, considerado um dos mais rápidos e seguros do mundo. Tais criminosos, muitos abrigados sob o manto da imunidade parlamentar, são hoje problema da Justiça que, certamente os alcançará mais cedo ou mais tarde. Que seja cedo! E é a essa mesma Justiça que também deverão prestar contas os empresários, coronéis, generais, suas esposas, filhos e filhas; que atiçaram seus paus-mandados a atacar a democracia brasileira. E aqui cabe perguntar: a quem interessava o golpe contra o presidente eleito? A quem servem, afinal, as nossas dispendiosas forças armadas? Quem financiou a tentativa de golpe? Sim. Estava mais que na hora do entulho já ir embora, mas nada será como antes se a Justiça brasileira não apresentar respostas para estas perguntas e não responsabilizar criminalmente os envolvidos. O tempo urge, meus caros, e a democracia tem pressa. 

 

       Cúpula do PL fica furiosa com foto de Bolsonaro

 

A divulgação de uma fotografia do ex-presidente Jair Bolsonaro sem camisa, expondo uma cicatriz deixada pela facada que levou no abdômen durante a campanha eleitoral de 2018, irritou a cúpula do PL. A imagem foi alvo de memes e considerada de “péssimo gosto” por dirigentes do partido de Bolsonaro, que relataram à equipe da coluna não terem sido consultados previamente sobre a publicação.

No mesmo dia em que o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) concluiu o julgamento em que tornou o ex-presidente inelegível e o condenou por abuso de poder político e uso indevido dos meios de comunicação, o advogado Fabio Wajngarten, assessor de Bolsonaro, divulgou o retrato do ex-presidente, como tentativa de demonstrar apoio nas redes sociais.

“Vítima, dessa tal DEMOCRACIA, que joga há muito tempo fora das 4 linhas, não por palavras e sim por atos e decisões. Fique firme Pr @jairmessiasbolsonaro tamo junto, SEMPRE”, escreveu Wajngarten, em seu perfil no Instagram.

Na avaliação de integrantes do PL ouvidos reservadamente pela equipe da coluna, a publicação de Wajngarten vai na contramão do trabalho que está sendo feito pelo time de comunicação, mostrando o ex-presidente “vulnerável”, “enfraquecido” e “grotesco”.

Mais recentemente, o ex-Secom passou a costurar sua eventual indicação como candidato a vice do prefeito de São Paulo, Ricardo Nunes (MDB), em 2024. A empreitada não conta com a simpatia da cúpula do PL, mas Wajngarten conta com o apoio de Bolsonaro para demover as resistências internas.

O ex-secretário e atual assessor do ex-presidente acumula desgastes no PL desde que assumiu a coordenação da comunicação da campanha de Bolsonaro à reeleição a três meses do primeiro turno da eleição.

Na época, como publicamos no blog, interlocutores do então presidente viam o ex-secretário de Comunicação como o principal incentivador de falas radicais de Bolsonaro enquanto Lula avançava nas pesquisas de intenção de voto. Antes do embarque bolsonarista no PL, Wajngarten já havia sido exonerado da Secom por atritos dentro do governo.

Após a derrota nas urnas, o partido chefiado por Valdemar Costa Neto acatou um pedido de Bolsonaro e contratou o ex-secretário com pagamentos mensais para assessorar Jair Bolsonaro e sua esposa, Michelle.

A ex-primeira-dama, no entanto, garantiu uma equipe de comunicação própria após fazer chegar à cúpula do partido que tinha reservas ao perfil do ex-secretário, visto por ela como muito “radical”.

Desde então, Wajngarten tem atuado como assessor de imprensa, porta-voz e até gestor de crises. O exemplo mais contundente até a conclusão do julgamento no TSE havia sido o escândalo das joias sauditas, quando o assessor veio a público defender o ex-presidente e Michelle das suspeitas de apropriação de presentes que são de patrimônio público

Procurada pela equipe da coluna, a assessoria do PL não se manifestou.

 

       New York Times destaca as diferenças entre os destinos de Trump e Bolsonaro

 

Em análise publicada no sábado, o jornal The New York Times destacou as notáveis diferenças nas repercussões políticas enfrentadas por Donald Trump e Jair Bolsonaro após alegações infundadas de fraude eleitoral e ações de seus apoiadores. Enquanto Trump permanece influente nos Estados Unidos e lidera as pesquisas para se tornar novamente o candidato republicano à presidência, Bolsonaro enfrenta investigações criminais e foi proibido de ocupar cargos políticos pelo tribunal eleitoral do Brasil até 2030.

A diferença nas consequências reflete a estrutura política e judicial distinta dos dois países, com o sistema eleitoral brasileiro exercendo um papel mais proativo e rápido na aplicação de medidas para proteger a democracia. Enquanto os tribunais brasileiros têm sido incisivos no bloqueio de políticos considerados ameaças, nos EUA, o destino de Trump depende da decisão dos eleitores e do sistema de justiça mais lento e metódico.

 

       Noblat: Se em 2026 a economia estiver bem e Lula também, preparem-se…

 

Em novembro de 1989, uma semana depois do primeiro turno da eleição em que os brasileiros voltaram a escolher seu presidente com o fim da ditadura militar, Leonel Brizola (PDT) convocou a militância do seu partido para uma reunião no Riocentro, em Jacarepaguá, à época, o maior centro de convenções do país.

Brizola ficou fora do segundo turno por diferença ínfima de votos válidos: teve 16,04%, e Lula, 16,69%. Fernando Collor (PRN) teve quase o dobro – 32,47%. A poucas horas da reunião, Brizola hesitava sobre o que fazer: apoiar Lula ou não apoiar ninguém, liberando seus seguidores para votar como quisessem?

À saída do prédio onde morava na Avenida Atlântica, acompanhado por um grupo de dirigentes do PDT, Brizola foi abordado por uma vizinha, sua eleitora, que lhe disse de bate-pronto: “É, governador, vamos ter que engolir o sapo barbudo”. No Riocentro, o clima era escancaradamente a favor do voto em Lula.

Depois de ouvir mais de uma dezena de discursos, sem que dissesse uma palavra que antecipasse sua decisão, Brizola afinal se rendeu. E disfarçando a contrariedade, começou a falar assim:

“É, meus companheiros, vamos ter mesmo que engolir o sapo barbudo”.

Transferir votos é uma coisa difícil. Deposto em 1945, Getúlio Vargas transferiu parte dos seus para eleger presidente o general Eurico Gaspar Dutra, que fora seu ministro da Guerra. Em 1961, Juscelino Kubitschek (PSD), no auge de sua popularidade, foi obrigado a passar a faixa presidencial para Jânio Quadros (UDN).

Fernando Henrique Cardoso (PSDB), que se elegeu e se reelegeu como pai do Plano Real derrotando Lula (PT), não conseguiu fazer seu sucessor, José Serra. Lula fez o dele – Dilma Rousseff. Bolsonaro se elegeu em 2018 porque, entre outras razões, Lula, que liderou todas as pesquisas de intenção de voto, estava preso.

Bolsonaro passará à História como o primeiro presidente que não se reelegeu, e como o único até aqui que se tornou inelegível. Muita abobrinha está sendo escrita a respeito da capacidade de Bolsonaro transferir votos para o candidato que em 2026 venha a enfrentar Lula ou outro nome apoiado por Lula.

Tais votos irão naturalmente para o candidato da direita, ou os candidatos da direita. Bolsonaro foi um acidente. Estava no lugar certo e na hora certa, e por isso se elegeu. Uma eleição como a de 2018 jamais se repetirá. Bolsonaro nunca foi homem de partido e nem de ideias. A direita começa a dar-lhe as costas.

É muito cedo para se especular sobre a eleição presidencial de 2026. É tolice dizer que Tarcísio de Freitas (Republicanos), por governar São Paulo, está fadado a ser o candidato da direita. Paulo Maluf, Mário Covas, Orestes Quércia, Serra e Geraldo Alckmin governaram São Paulo, disputaram a presidência e perderam.

 

Fonte: Brasil 247/Metrópoles

 

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