quarta-feira, 8 de março de 2023


 A expedição ao estilo 'Indiana Jones' que provou que os dinossauros botavam ovos

A descoberta de um ninho repleto de ovos de dinossauros em 1923, na Mongólia, forneceu a primeira evidência de que as criaturas pré-históricas botavam ovos, em vez de dar à luz seus filhotes.

Roy Chapman Andrews, o explorador americano responsável pela descoberta, se tornou uma lenda — e muitos o consideram até hoje a inspiração para o personagem Indiana Jones.

No programa de rádio Witness, da BBC, a jornalista Claire Bowes conversou com a neta de Andrews, Sara Appelbee, e com a autora Ann Bausum, que escreveu um livro sobre as expedições do explorador.

Roy Chapman Andrews começou a carreira como faxineiro do Museu de História Natural de Nova York. Formou-se na faculdade Beloit, em sua cidade natal — Beloit, no Estado de Wisconsin — em 1906.

Suas habilidades como naturalista se desenvolveram ainda na infância, que ele passou em meio a florestas, campos e cursos d'água.

Adolescente, praticava taxidermia como hobby — e foi com o dinheiro dessa atividade que pagou parte dos estudos na faculdade.

O sonho de trabalhar no Museu de História Natural o levou a se mudar para Nova York. Sem nenhuma posição compatível com sua formação, no entanto, ele aceitou o trabalho na área de limpeza. Tornou-se também assistente do departamento de taxidermia e, com o tempo, foi galgando posições até, quase 30 anos depois, tornar-se diretor do museu.

O reconhecimento se deu após muito estudo e uma série de expedições arqueológicas (e aventuras) bem-sucedidas, em meio a uma época marcada por grandes explorações.

"(No início do século 20) havia pessoas viajando para o oeste americano em busca de dinossauros, havia a exploração aérea que (Charles) Lindbergh e outros estavam fazendo. A exploração polar. Realmente foi uma época de ouro", contextualiza Bausum, autora do livro Dragon Bones and Dinosaur Eggs: A Photobiography of Explorer Roy Chapman Andrews ("Ossos de dragão e ovos de dinossauro: uma fotobiografia do explorador Roy Chapman Andrews", em tradução livre).

"E o Santo Graal que as pessoas estavam procurando era o elo perdido da civilização que conectava os homens modernos com seus ancestrais humanos", acrescenta.

Em 1922, Andrews decidiu partir então em busca desse elo perdido, que sustentaria a Teoria da Evolução de Darwin, em uma expedição pelo Deserto de Gobi, na Mongólia.

"Foi um empreendimento gigantesco. A única maneira de chegar lá era de navio. Não havia fabricação de automóveis na Ásia naquela época, então ele teve essa ideia ousada, que as pessoas também acharam muito louca... de embarcar automóveis com ele da América para a Ásia, dirigir até o deserto e usar (os automóveis) para se deslocar mais rapidamente pela vasta região."

"E ele iria em abril e ficaria até setembro. Então teria que levar literalmente milhares de galões de gasolina, sem mencionar todos os suprimentos de comida de que ia precisar", acrescenta Bausum.

E foi assim que Andrews liderou uma equipe de expedição — formada por especialistas em zoologia, paleontologia, geografia e geologia — até o deserto da Mongólia.

Embora não tenham encontrado sinal do elo perdido, eles começaram a descobrir fósseis de dinossauros — chamados pela população local de "ossos de dragão".

"Andrews logo aprendeu que a maneira mais rápida de chegar aos campos de fósseis era perguntar aos moradores onde poderiam encontrar ossos de dragão. Porque essa era a explicação que a população local havia encontrado para aqueles restos fósseis incríveis de criaturas que pareciam mais míticas do que reais."

Os ossos não só eram enormes, como não lembrava nada que os moradores conheciam.

"Se assemelhavam a um osso do braço ou da perna, mas era maior do que uma pessoa", explica Bausum.

Em 1923, Andrews e sua equipe voltaram ao Deserto de Gobi para outra expedição. Foi quando se depararam pela primeira vez com os fósseis de ovos de dinossauro.

"A verdadeira emoção veio no segundo dia, quando George Olsen disse ter certeza que havia encontrado fósseis de ovos (de dinossauros). Nós tiramos muito sarro dele. Mas, mesmo assim, ficamos curiosos o suficiente para ir com ele até o local após o almoço. E nossa indiferença de repente evaporou. Não havia dúvida que realmente se tratava de ovos", contou Andrews, anos depois, no livro Under a Lucky Star.

"Muito provavelmente estes foram os primeiros ovos de dinossauro vistos pelos olhos do homem moderno", completou.

Os ovos, de formato oval e alongado, estavam dispostos em uma espécie de ninho, como o dos pássaros modernos — e alguns estavam expostos, possivelmente em decorrência de tempestades de vento.

"Estavam literalmente lá, à vista, apenas aguardando para serem descobertos", diz Bausum.

"E quando eles começaram a encontrar fósseis de ossos de dinossauros na mesma área, as evidências se mostraram bastante convincentes."

A descoberta, que ajudou a confirmar como os dinossauros se reproduziam, foi notícia no mundo inteiro. Em 1° de novembro de 1923, o correspondente do jornal britânico London Times no Extremo Oriente anunciava:

"Há cerca de dez milhões de anos, a fera conhecida como dinossauro estava botando ovos na Mongólia. Eu vi uma dúzia de ovos em estado fossilizado, manuseei, pesei e medi os ovos. (...) Um deles está quebrado no meio, e olhando para essa fenda, você vê claramente o esqueleto branco, puro do embrião de um dinossauro."

        Indiana Jones?

Além de inúmeras descobertas de fósseis — alguns chegaram inclusive a ser batizados em homenagem a ele, como o Andrewsarchus mongoliensis, um mamífero primitivo —, Andrews acumula uma série de aventuras no currículo.

Bausum explica que, embora não haja confirmação oficial que ele tenha sido inspiração para o personagem Indiana Jones, ambos arriscaram a vida pelo trabalho.

"Há uma citação maravilhosa dele: 'Nos primeiros 15 anos de trabalho de campo, posso me lembrar de dez vezes em que realmente escapei por pouco da morte'. E ele faz uma longa lista, incluindo quase ser devorado por uma píton, se afogar, cair de penhascos e assim por diante."

Sara Appelbee se lembra do avô contando como, na época das expedições ao Deserto de Gobi, ele fez amizade com o então príncipe da Mongólia, descendente de Genghis Khan.

"Ele era a pessoa que controlava a província onde eles estavam explorando. E entrou no acampamento a cavalo com cerca de 50 soldados. Foi bem impressionante. Todos estavam armados. Roy, é claro, foi ver o que estava acontecendo... e ele sabia que aquele era um momento que poderia terminar bem ou mal."

O explorador não só passou no teste, como se tornou amigo do jovem príncipe.

Mas nem tudo terminava de forma amistosa no deserto. Em várias ocasiões, Andrews teve que defender sua equipe de bandidos.

"Outro artefato que tenho dele é uma pistola com três marcas de combate contra um ataque de bandidos. Eles chegaram ao campo disparando contra eles, e ele os enfrentou com a pistola", conta Appelbee.

Qualquer semelhança com Indiana Jones pode não ser mera coincidência.

"Tem uma foto em particular que ele está de cinturão, chapéu, bota, com as mãos no quadril e os pés afastados. Eu pensei... até que está parecido com Indiana Jones", brinca a neta.

 

       Cientistas encontram pistas sobre mistério dos braços curtos do Tiranossauro rex

 

Um time de cientistas na Argentina diz ter descoberto uma nova espécie de dinossauro predador, com cabeça gigante, mas braços muito pequenos para o seu tamanho. A descoberta pode ajudar a desvendar o motivo de o famoso Tiranossauro rex ter braços curtos.

Em artigo na revista acadêmica Current Biology, cientistas dizem que restos do esqueleto do novo dinossauro, até então desconhecido, foram encontrados no norte da Patagônia.

Apelidado de Meraxes gigas, ele tinha 11 metros de comprimento, um crânio de 1,2 metros, mas braços de apenas 60,9 centímetros. Os cientistas acreditam que os bracinhos curtos davam a esse animal carnívoro vantagens para sobreviver.

"Eu estou convencido de que esses braços proporcionalmente menores tinham algum tipo de funcionalidade. O esqueleto mostra grandes inserções musculares e estruturas peitorais totalmente desenvolvidas, de modo que os braços tinham músculos fortes", disse Juan Canale, principal autor do estudo.

"Eles podem ter usado os braços para comportamentos reprodutivos, para segurar a fêmea durante o coito ou como apoio para se levantar do chão após um descanso ou uma queda", acrescentou.

Peter Makovicky, coautor do estudo, disse que os braços do dinossauro eram "literalmente metade do comprimento do crânio dele e o animal não teria sido capaz de alcançar a boca" com as mãos.

Makovicky diz acreditar que a enorme cabeça dessa espécie era o instrumento predador principal, assumindo as funções que os braços desempenhavam em dinossauros menores.

O Meraxes gigas, nome que recebeu em alusão ao dragão da série de ficção Game of Thrones (A Guerra dos Tronos), pertence ao gênero dos carcarodontossauros — nome inspirado no latim para "lagartos com dentes de tubarão".

O réptil de quatro toneladas teria vivido na Terra há cerca de 90 a 100 milhões de anos. Os cientistas dizem que duas outras espécies, como os tiranossauros (que inclui o Tiranossauro rex) e o abelissauros, também tinham braços curtos por razões similares.

 

       Como era o 'maior dinossauro da Europa', recém-descoberto no Reino Unido

 

Fósseis do que pode ter sido o maior dinossauro predador terrestre da Europa foram descobertos na Ilha de Wight, no Reino Unido.

Paleontólogos da Universidade de Southampton, na Inglaterra, identificaram os restos mortais como sendo de uma criatura que media mais de 10 metros de comprimento e viveu há 125 milhões de anos.

Os fósseis pré-históricos pertenciam a um dinossauro espinossaurídeo predador bípede, com cara de crocodilo.

De acordo com o estudante de doutorado Chris Barker, que liderou a pesquisa, era um "animal enorme"

Os restos mortais, que incluem vértebras pélvicas e caudais, foram descobertos na costa sudoeste da Ilha de Wight.

O carnívoro foi apelidado de "espinossaurídeo de rocha branca", devido à camada geológica em que seus fósseis foram encontrados.

"Era um animal enorme, com mais de 10 metros de comprimento e um peso provavelmente de várias toneladas", afirmou Barker.

"A julgar por algumas das dimensões, parece representar um dos maiores dinossauros predadores já encontrados na Europa — talvez até o maior que se conhece."

Ele teria vivido no início de um período de elevação do nível do mar e teria percorrido lagunas e planícies de areia em busca de comida.

"Como só é conhecido a partir de fragmentos no momento, não demos um nome científico formal. Esperamos que restos adicionais apareçam a tempo", diz Darren Naish, coautor da pesquisa.

A maioria dos fósseis foi encontrada pelo caçador de dinossauros Nick Chase, da Ilha de Wight, que morreu pouco antes da pandemia de covid-19.

"Eu estava procurando por fósseis deste dinossauro com Nick e encontrei um pedaço de pélvis com túneis perfurados — cada um do tamanho do meu dedo indicador", contou Jeremy Lockwood, outro coautor do estudo, que é aluno de doutorado da Universidade de Portsmouth, no Reino Unido, e do Museu de História Natural.

"Achamos que foram causados por larvas comedoras de ossos de um tipo de besouro necrófago. É interessante pensar que esse assassino gigante acabou se tornando uma refeição para um monte de insetos."

A descoberta segue um trabalho anterior sobre espinossaurídeos da equipe da Universidade de Southampton, que publicou um estudo sobre a descoberta de duas novas espécies em 2021.

 

 

Fonte: BBC Future

Nenhum comentário: