União Econômica
Eurasiática é caminho para Brasil diversificar parcerias e aproximar-se da Rússia
Muito se fala da
importância do acordo entre Mercosul e União Europeia, mas o Brasil e o
Mercosul mantêm parcerias com outros blocos econômicos importantes, como a
União Econômica Eurasiática (UEE), composta por Armênia, Belarus, Cazaquistão,
Quirguistão e Rússia. Para analistas, essa pluralidade é importante para
diversificar parcerias.
Só em 2024, o
Brasil exportou mais de US$ 1,3 bilhão (R$ 8 bilhões) em produtos
agropecuários para
a UEE. Nos primeiros nove meses de 2024, o Brasil exportou mais de US$ 1 bilhão
(R$ 6,15 bilhões) em produtos agrícolas para a UEE, com destaque para soja,
carne bovina, café e açúcar.
Além das
commodities destacadas acima, o Brasil vem abrindo espaço para outros produtos
nas negociações com a UEE. No ano passado, Brasília obteve autorização, segundo
o Ministério da Agricultura e Pecuária, para exportar banana, nozes,
erva-mate, amêndoas de cacau, suínos vivos, sêmen e embriões
bovinos ("in vivo" e "in vitro").
Para Pedro
Mendes Martins, mestre em ciências militares pela Escola de Comando e
Estado-Maior do Exército (ECEME), acordos firmados com a UEE representam um
passo importante na estratégia
de diversificação de
parcerias econômicas internacionais.
"O Brasil
tradicionalmente sempre buscou novos parceiros econômicos internacionais, seja
para abrir mercados para os produtos que já exporta, seja atrás de mercados
para produtos que não têm grande participação na nossa pauta de
exportação", explica.
<><> Por
que é importante o Brasil diversificar suas parcerias econômicas?
Atualmente, o
Brasil tem o Mercosul — com enfoque na Argentina —, a União Europeia, os
Estados Unidos e a China como pilares de seu setor
de exportação.
"Com o novo
mandato do [Donald] Trump [presidente eleito dos EUA] e a sua política de
comércio exterior mais restritiva e a hipótese de uma nova guerra comercial com
a China, o Brasil se vê ainda mais estimulado a acelerar esses esforços de
novos mercados e novos parceiros", afirma Martins, explicando o cenário
geopolítico que pode influenciar no comércio brasileiro para o exterior.
Trump mesmo chegou
publicamente a fazer uma ameaça tarifária ao Brasil, dizendo que o
país "cobra muito", sinalizando uma retaliação às taxas de
exportação.
Outro desafio que o
Brasil pode enfrentar neste ano é em relação ao avanço do acordo entre Mercosul
e União Europeia. Embora progressos tenham acontecido em 2024, ainda existem
países do bloco europeu que são resistentes a essa parceria.
"A França é um
grande nome de crítica a esse acordo entre a União Europeia e o Mercosul",
comenta Danielle Makio, professora de relações internacionais da
Universidade Estadual Paulista (Unesp).
A especialista
também ressalta que "ter um leque de parceiros mais amplo é uma segurança
muito importante" em um momento "no qual países importantes no
mercado internacional parecem estar mais críticos à manutenção ou ao
aprofundamento de relações bi e multilaterais".
<><> Em
quais setores os países podem cooperar?
Embora o Brasil
tenha uma cartela de produtos que são mais exportados para os países da União
Econômica Eurasiática, os especialistas apontam mercados que ainda podem ser
explorados por ambas as partes, em uma via de ganha-ganha.
Quando o assunto é
exportação brasileira, o agronegócio
invariavelmente é o maior beneficiário das relações com o bloco eurasiático.
Isso, no entanto, "não significa que não haja novidades dentro desse
setor, porque são novos produtos entrando em novos mercados", pondera
Martins.
Além dos produtos
já citados, os quais o Brasil recebeu autorização para exportar neste ano, há
espaço, segundo Makio, para a venda de maquinários e tecnologia
agrícola para os países da região.
"O Brasil tem
uma produção muito importante de tecnologia e de máquinas como colheitadeiras,
plantadeiras, que são adaptáveis a diferentes solos, condições climáticas e
tipos de plantação."
Como o Brasil é um
país agrícola de proporção continental, com sua própria constituição
geográfica, diferentes tipos de solo e diferentes biomas, adquiriu-se um
know-how interessante na fabricação dessas máquinas. Para a especialista, isso
pode ser de grande valia para países com territórios extensos, como Rússia
e Cazaquistão.
Outra cooperação
interessante entre as partes destacada por Makio, que pode ser esperada no
âmbito do desenvolvimento tecnológico, é um diálogo mais intenso acerca da
questão nuclear.
Uma vez que o
Brasil se posiciona como uma liderança importante nos debates internacionais
acerca da transição energética e a Rússia, importante liderança nuclear, vem
investindo muito na expansão, no desenvolvimento e no aprimoramento da energia
nuclear e na educação de outros países a respeito desse tipo de energia, a
analista acredita que ambos poderiam se beneficiar com essa troca.
Já no que diz
respeito às importações, os especialistas ouvidos pela Sputnik Brasil apontam
que a importação de insumos para fertilizantes e os próprios
fertilizantes são
um caminho já estabelecido. A novidade, segundo Martins, por exemplo, seria a
importação de "tecnologia e equipamentos para a nossa indústria de
petróleo ou até mesmo permitir a participação de empresas dos países
envolvidos em projetos de exploração conjuntos no futuro".
<><> Parceria
com UEE pode aproximar Brasil da Rússia e da Ásia Central
De acordo com
Martins, a parceria com a UEE é uma porta importante para o Brasil
se aproximar da Rússia e equilibrar as relações com o gigante
eurasiático.
"Brasil e
Rússia sempre tiveram excelentes relações políticas, mas uma relação econômica
muito aquém não só do potencial que poderia ter, como também do nível que as
relações políticas têm. Então a parceria do Brasil com a União Econômica
Eurasiática serve como uma forma de 'equilibrar' esses dois lados da relação, o
político e o econômico", afirma.
Makio, por sua vez,
destaca a força que o Brasil pode ganhar também na Ásia Central, região
indispensável para a Nova Rota da Seda chinesa, "cada vez mais importante
do ponto de vista da política internacional e da qual o Brasil é
relativamente distante não só em termos geográficos, mas também em termos
diplomáticos".
"Essa
cooperação pode representar uma abertura de portas muito importantes para o
futuro da diplomacia brasileira, que podem representar ganhos muito importantes
em termos de diversificação de mercado, em termos de pautas exportadoras para o
Brasil e em termos de fortalecimento diplomático e político", acrescenta a
especialista.
A aproximação do
Brasil à UEE também representa duas máximas importantes: a primeira é, conforme
Martins, a comprovação de que o isolamento internacional pretendido contra a
Rússia com a imposição de sanções ocidentais não foi "atingido de
forma satisfatória".
"O impacto foi
bem menor do que o esperado porque grandes players econômicos internacionais
não aderiram ao regime de sanções, dificultando bastante a estratégia de isolar
economicamente a Rússia", disse o analista.
A segunda máxima,
de acordo com Bruno De Conti, professor do Instituto de Economia da
Universidade de Campinas (Unicamp), é a do avanço da pauta da desdolarização,
"com o comércio externo reduzindo a importância relativa do dólar
estadunidense".
Apesar dos benefícios
econômicos que
a relação entre o Brasil — e o próprio Mercosul — e a União Econômica
Eurasiática podem gerar, há percalços que precisam ser superados para que a
cooperação se torne mais intensa e pujante.
O principal desafio
é a distância geográfica entre as partes, que gera dificuldades logísticas
e de infraestrutura.
"Isso traz
maiores custos de transporte, traz dificuldades logísticas que precisam ser
trabalhadas e precisam ser superadas, para que essa relação de fato seja tão
profícua quanto se espera e para que ela realmente possa crescer tanto quanto
se espera", aponta Makio.
¨ BRICS ajuda Sul Global a se livrar do modelo político
ocidental de 'tomar partido', diz mídia
O BRICS é um
produto do Sul Global que não tem intenção de confrontar com alguém, livrando
seus membros da escolha de lado tradicionalmente imposta pelas organizações internacionais
ocidentais, diz o jornal Global Times.
O BRICS é uma associação
interestatal criada
em 2006 pelo Brasil, Rússia, Índia e China, formando o nome da organização a
partir das primeiras letras dos países, com a adesão da África do Sul em 2010.
O ano de 2024
começou com a entrada de novos membros na associação: Egito, Etiópia, Irã,
Emirados Árabes Unidos e Arábia Saudita.
Em 2025,
a presidência do BRICS passou da Rússia para o Brasil.
No primeiro dia
deste ano, mais nove países se tornaram oficialmente parceiros do BRICS:
Belarus, Bolívia, Indonésia, Cazaquistão, Tailândia, Cuba, Uganda, Malásia e
Uzbequistão.
O Global
Times enfatiza o fato de uma
preocupação no Ocidente com a expansão de cooperação no âmbito do BRICS,
especialmente após a 16ª Cúpula do BRICS em Kazan, com a participação de
representantes de 36 países e seis organizações internacionais, realizada de 22
a 24 de outubro de 2024.
O jornal diz que a
mídia ocidental não demorou a caracterizar esses eventos como um confronto
do Sul Global contra
o Ocidente.
"O BRICS é uma
organização não ocidental, mas não é uma organização antiocidental. Desde sua
criação, o BRICS articulou claramente seu
papel e sua missão:
não começar de novo, não se envolver em confrontos de campos e não buscar
substituir ninguém", afirma o Global Times.
O artigo destaca
que o modelo de cooperação dentro do BRICS permite aos participantes evitar
um jogo de soma zero em que o ganho de um jogador significa
necessariamente a perda para o outro.
Por este motivo, o
BRICS acabou ganhando popularidade entre os países que buscam escapar do modelo
de ordem mundial imposto pelo Ocidente e procuram uma alternativa mais
justa e equitativa.
"Por meio da
plataforma do BRICS, o Sul Global pode se livrar da pressão geopolítica
tradicional de 'tomar partido' e buscar maior autonomia em um mundo
multipolar."
Segundo o
jornal, "ações hegemônicas" dos países ocidentais afetaram
a maioria global, enquanto os países-membros e parceiros do BRICS não só
alcançaram um progresso significativo, mas continuam se desenvolvendo e
defendendo um sistema global multipolar.
¨ Economia da Alemanha está rumo a sua maior recessão
desde a 2ª Guerra Mundial
A economia da
Alemanha – a maior da União Europeia (UE) - está a caminho da sua mais longa
recessão desde a Segunda Guerra Mundial, com o terceiro ano consecutivo de
contração projetado para 2025, de acordo com o Instituto de Pesquisa
Handelsblatt (HRI).
O think tank prevê
um declínio de 0,1% em 2025, após contrações de 0,3% em 2023 e 0,2% em 2024.
"A economia
alemã está em meio à sua maior
crise na história pós-guerra",
disse Bert Rurup, economista-chefe da HRI. "A pandemia, a crise energética
e a inflação tornaram os alemães mais pobres em média."
Enquanto o HRI
prevê uma modesta recuperação em 2026, espera-se que o crescimento seja de
apenas 0,9%, muito abaixo dos níveis pré-crise. O Banco Central alemão
também ajustou suas perspectivas de crescimento para 2025, revisando-as de 1,1%
para 0,2% em dezembro.
A mudança da
Alemanha de gás
russo a
preços acessíveis para gás natural liquefeito (GNL) mais caro dos EUA fez subir
os custos de energia, gravemente os fabricantes industriais e as pequenas
empresas. O aumento dos custos levou a paralisações e falências
em vários setores,
incluindo grandes empresas como a Volkswagen.
Fonte: Sputnik
Brasil
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