quarta-feira, 8 de janeiro de 2025

Pedro Benedito Maciel Neto: "Democracia" militante contra a inflexão à direita e a "Carluxo Esgoto News"

O Zé Dirceu, que continua sendo o mais lúcido quadro da esquerda, a chama de período contrarrevolucionário, fato é que nesses tempos, os nossos maiores desafios são a amplificação da crítica substantiva à hegemonia do capital financeiro e a urgente reorganização da esquerda, pois, s.m.j., nossas lideranças estão deixando a desejar, querem que Lula e o governo façam o trabalho que é dos partidos.

O ataque à democracia, feito pela extrema-direita através de mentiras e versões, é diário e ocorre em profusão; depois do trabalho dos algoritmos e dos robôs, um exército de idiosubjetivados as difunde; recebo dezenas de mensagens de WhatsApp com esses conteúdos (como eu já escrevi aqui, mantenho alguns idiosubjetivados ativos no meu WhatsApp e recebo as porcarias que eles compartilham).

Não vou listar aqui as mentiras deslavadas que essa gente faz circular, mas vou lembrar ao paciente leitor que quase toda a corja bolsonarista já sofreu algum tipo de condenação: o senador Flávio Bolsonaro e o seu irmão, o deputado Eduardo Bolsonaro - carioca que elege-se por São Paulo -, a deputada cassada Carla Zambelli e Nikolas Ferreira, são alguns dos condenados por tribunais dos seus estados, ou por tribunais superiores, em razão de  fake news (mentiras), ou seja, o Poder Judiciário tem trabalhado, contudo, os partidos, que têm recursos abundantes, deveriam atuar como força de resistência e, além de desmentir de forma dura as mentiras, deveriam divulgar o trabalho do governo, em cada área de atuação (o que se vê nas redes é a apologia dos “mandatos”, um nojo, verdadeira idiotia dos nossos valorosos congressistas e das suas bem remuneradas assessorias).

Mas vamos em frente.

Não se trata de negar a liberdade de expressão ou os direitos dos parlamentares, que são essenciais à democracia, mas de compreendermos que precisamos desmenti-los e denunciá-los, pois, os citados parlamentares e outros tantos são responsáveis pela corrosão quotidiana da confiança que a sociedade tem nas nossas instituições e nos Poderes da República; o que esses delinquentes buscam é criar condições para rupturas institucionais; tentaram grandemente durante todo o governo Bolsonaro e de forma descarada a partir da vitória do Lula, mas não pararam e nós não estamos fazendo nada.

·        A teoria da “Democracia militante”

Feita essa introdução, passo ao tema que pretendo trazer à reflexão ao paciente leitor: a teoria da “democracia militante” de Karl Loewenstein.

A teoria que surgiu no cenário de erosão da República de Weimar, e, a meu juízo, precisa ser conhecida e debatida à luz das investidas autoritárias que ocorrem no Brasil todos os dias. 

Primeiramente é importante registrar que o contexto internacional tem sido marcado pela crise das democracias liberais e ascensão de regimes híbridos e autoritários, é triste, mas é real. 

Na minha opinião essas crises decorrem do desencanto que as populações de muitos países vivem, um desencantamento com suas vidas e com as promessas do liberalismo e da sua democracia em mudar suas vidas, promessas que não é capaz de atender. 

A consolidação da democracia liberal em países que vivenciaram um passado autoritário, não mudou radicalmente a vida das pessoas, essa é a percepção de quase 17 milhões de pessoas no Brasil que, segundo o Censo Demográfico 2022, vivem em 12.348 Favelas e Comunidades Urbanas no Brasil, o que equivale a 8,1% da população do país; essa é a percepção de cerca de 33 milhões de pessoas que vivem sem acesso à água potável, segundo dados divulgados pelo Instituto Trata Brasil; e, ainda segundo o IBGE, mais de um terço das crianças e adolescentes até 14 anos não têm acesso a esse tipo de lazer cultural.

No Brasil a democracia trouxe inegáveis conquistas: o SUS, a educação universalizada, o fim da inflação, as várias políticas sociais. Contudo, o sentimento das pessoas é de que isso tudo é pouco, e é mesmo, num mundo em que somos todos reféns de desejos de consumo inalcançáveis.  

Vivemos um tempo de sofrimento, terra fértil para os inimigos da democracia e suas narrativas sedutoras e criminosas.

Partindo da ideia de que o desencantamento é terra fértil para os inimigos da democracia atacá-la, visito a teoria da “democracia militante”, proposta por Karl Loewenstein.

·        Sobre a “democracia militante”

A teoria de Loewenstein sustenta a necessidade de a democracia se colocar de forma ativa em sua própria defesa, evitando, ao fim e ao cabo, sua erosão a partir de suas estruturas internas.

A democracia militante defende medidas como o banimento de partidos e a responsabilização de líderes antidemocráticos como forma de salvaguardar o regime democrático. 

·        A aplicação da teoria da democracia militante no contexto brasileiro

Após o fim da Ditadura Civil-Militar, o Brasil viveu um período de relativa estabilidade democrática; contudo, a partir de 2013 atores antidemocráticos surgiram na última década e, com celulares na mão, revelaram a fragilidade institucional brasileira, resquícios autoritários na sociedade brasileira e no próprio ordenamento jurídico, elementos que representam desafios a serem enfrentados. 

·        A democracia militante à luz das disposições da Constituição Federal de 1988

A teoria da democracia militante, que foi inicialmente, utilizada de forma colateral para fundamentar a impossibilidade de que um agente político dissemine notícias inverídicas contra o próprio sistema eleitoral que o elegeu, foi utilizada expressamente para fundamentar a constitucionalidade do Inquérito das Fake News enquanto resposta institucional às pressões antidemocráticas.

A conclusão alcançada é de que a teoria da democracia militante é relevante no contexto brasileiro de erosão democrática.

Contudo, é necessário buscar um modelo que atenda às especificidades do Brasil, levando em conta o seu passado político e a urgência por uma formação democrática essencialmente brasileira, por isso convoco os grandes: Pedro Serrano, Lenio Streck, Alysson Mascaro, dentre outros, para organizarmos, aqui no 247, um seminário sobre o tema.

Quem sabe assim conseguimos movimentar positivamente a mofada burocracia partidária e libertá-la da sua confortável lógica analógica.

¨      Falta de articulação entre governo e movimentos sociais gera duvidas para evento de 8 de janeiro

Faltando pouco para o evento que marcará dois anos dos atos antidemocráticos de 8 de janeiro, membros de movimentos sociais consultados pela coluna relataram insatisfação com a falta de articulação do governo federal. Apesar de os movimentos já terem confirmado a presença do presidente Luiz Inácio Lula da Silva em seu ato, fontes do Planalto indicam que essa decisão ainda não foi completamente definida internamente e tampouco alinhada com os movimentos. As últimas reuniões ocorridas na semana passada terminaram sem uma definição sobre esse ponto central.

Os movimentos sociais têm adotado a estratégia de divulgar a presença de Lula como forma de pressionar o governo a se posicionar oficialmente, mas essa tática expôs a falta de articulação entre as partes. "O governo está tratando da parte institucional desde dezembro, mas não houve um diálogo consolidado com os movimentos sociais", afirmou uma das fontes ouvidas.

Enquanto isso, o governo tem concentrado esforços no diálogo com parlamentares, autoridades e instituições, deixando de lado uma articulação mais ampla com a base popular. Essa postura gerou críticas entre os movimentos, que consideram que a Secretaria de Governo deveria ter desempenhado um papel mais ativo para construir um alinhamento entre as partes. "Faltou combinar lá atrás", afirmou uma fonte próxima às discussões.

A situação também expôs divergências entre os atos convocados pelos movimentos sociais e o que vinha sendo planejado pelo governo. “O PT já está convocando para o ato na praça, que é diferente do ato que o governo estava preparando. Há necessidade de alinhamento para evitar uma fragmentação das mobilizações”, apontou uma das fontes.

Outro ponto de insatisfação levantado é a falta de uma estratégia clara sobre a integração da sociedade civil no evento. Enquanto os esforços institucionais avançaram desde o ano passado, os movimentos populares continuam sem uma definição concreta sobre como participar de forma coordenada. “O presidente quer a participação dos movimentos, mas não aconteceu a articulação prévia necessária para isso”, explicou um dos interlocutores.

A indefinição sobre a presença de Lula no ato organizado pelos movimentos sociais reflete um descompasso mais amplo na condução do evento. Segundo as fontes, o Planalto ainda debate internamente qual será o papel do presidente no dia 8 de janeiro, sem ter alinhado essa decisão com os movimentos que já divulgaram sua participação.

Com a proximidade da data, cresce a pressão sobre o governo para apresentar uma posição clara e unificar as ações institucionais e populares. A falta de conclusão na reunião mais recente acendeu alertas entre os movimentos sociais, que veem o risco de o evento ser marcado pela falta de coordenação e descompasso, prejudicando a narrativa de unidade e defesa da democracia que o ato busca transmitir.

 

Fonte: Brasil 247/Fórum

 

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