Ex-ministros apoiam
decreto sobre segurança pública
Ex-ministros
da Justiça se posicionaram em defesa do decreto do presidente
Luiz Inácio Lula da Silva sobre o uso da força
policial,
publicado em 24 de dezembro. O manifesto, assinado por sete ex-titulares da
pasta, surge como resposta às críticas dos governadores de São Paulo, Tarcísio
de Freitas (Republicanos-SP); do Rio de Janeiro, Cláudio Castro (PL-RJ); de
Minas Gerais, Romeu Zema (Novo-MG); e do Paraná, Ratinho Júnior (PSD-PR), todos
de oposição, que acusam o governo federal de interferir nas políticas de
segurança pública estaduais.
O
decreto estabelece regras mais rigorosas para o uso de armas pela polícia,
incluindo a diretriz de que a força letal deve ser empregada apenas como
"último recurso".
Os
ex-ministros alegam que a resistência dos governadores é movida mais por
disputas políticas do que por uma análise crítica do conteúdo do decreto.
"Entendemos,
com o devido acatamento, que as reações exacerbadamente negativas ao texto
podem ser fruto de um embate na arena política ou mesmo de desconhecimento do
inteiro teor do decreto", diz o manifesto.
Para
os ex-ministros, o decreto é uma evolução significativa na segurança pública e
fortalece a credibilidade das instituições, "sobretudo as policiais, sem a
qual a confiança é corroída, em prejuízo à construção de uma sociedade mais
segura, justa e pacífica", destacam.
O
manifesto tem a assinatura dos ex-ministros da Justiça Aloysio Nunes Ferreira,
Nelson Jobim e Miguel Reale Jr., que exerceram a função nos governos de
Fernando Henrique Cardoso, além de Tarso Genro, que foi ministro no primeiro
governo Lula; Luiz Paulo Barreto e José Eduardo Cardoso, que integraram a
gestão Dilma Rousseff; e Raul Jungmann, que atuou como ministro no governo
Michel Temer (MDB).
Os
ex-titulares da pasta afirmam ainda que a medida "visou, claramente,
defender um modelo de segurança pública moderno, com o respeito à dignidade da
pessoa humana e a promoção da justiça social".
O
texto do decreto não traz regras detalhadas, mas orienta que armas de fogo só
devem ser usadas como último recurso pelos policiais e também diz que "não
é legítimo" utilizá-las contra pessoas desarmadas em fuga ou veículos que
desrespeitem bloqueios policiais em via pública, com exceção de casos em que
haja risco ao profissional de segurança ou a terceiros.
Os
ex-ministros lembram que o decreto regulamenta uma lei que foi "publicada
há uma década" e que visa disciplinar o uso de instrumentos de menor
potencial ofensivo pelos agentes de segurança pública. Eles afirmam que a
utilização excessiva da força não pode ser a solução para combater a violência,
especialmente quando resulta em vítimas inocentes.
"A
violência desmedida não deve ser a solução ao combate à violência, inclusive,
porque, como temos visto nos últimos tempos, eventualmente, ela se volta contra
brasileiros inocentes, que pagam com suas vidas e com as suas saúdes físicas e
mentais", dizem.
Além
disso, o decreto prevê diretrizes específicas para programas de saúde mental
para os policiais envolvidos em ocorrências de alto risco, "além de
medidas para a redução da letalidade policial, de maneira a evitar o
envolvimento em novas tragédias", explica o texto.
O
decreto condiciona repasses do Fundo Nacional de Segurança Pública (FNSP) aos
estados que seguirem as regras do uso de força pelas polícias. Governadores
acusam o governo federal de enfraquecer a autonomia estadual na segurança
pública. Pelas normas atuais, o governo só tem a obrigação de "considerar
a observância das diretrizes" para fazer os repasses. Pelas novas regras,
o estado que não seguir a cartilha poderá ficar sem os recursos. Parlamentares
de oposição também dizem que trabalharão para derrubar a medida.
No
domingo, o Consórcio de governadores do Nordeste também se posicionou a favor
do decreto. Para os gestores, a medida "reafirma a centralidade do
equilíbrio e do bom senso no exercício da atividade policial" e não retira
autonomia dos estados.
A
maioria dos governadores nordestinos é do PT ou de partidos da base de Lula. A
posição deles contrapõe a de quatro dos sete governadores do Sul e do Sudeste.
Entre
os signatários nordestinos, está o governador da Bahia, Jerônimo Rodrigues
(PT). A polícia baiana foi a mais letal do país em 2023, com 1,7 mil pessoas
mortas por agentes da segurança pública.
Em
segundo lugar, conforme os dados do Anuário Brasileiro da Segurança Pública,
apareceu a polícia do Rio de Janeiro, com 871 mortes.
Ano
passado, 6.393 pessoas foram mortas por intervenção policial no Brasil, segundo
dados compilados pelo Anuário, uma média de 17 pessoas por dia.
¨ Partidos de oposição no RS reagem após
Melo sugerir direito de defender volta da ditadura militar
O discurso do prefeito de Porto
Alegre Sebastião Melo (MDB)
relacionando a defesa da ditadura militar com liberdade de expressão gerou
ampla reação de partidos e políticos progressistas no Rio Grande do Sul. A
declaração foi compreendida pelo bloco de oposição como uma apologia à ditadura
militar, o que é considerado crime previsto na Lei de Segurança Nacional e no
Código Penal. O fato gerou uma denúncia por parte da bancada do PT no
Ministério Público do Rio Grande do Sul (MP-RS) protocolada nesta quinta-feira
(02).
Melo é tido com um dos políticos mais
próximos de Jair Bolsonaro (PL) na região
sul e sua fala acontece em meio ao trabalho da Procuradoria Geral da República
(PGR) que analisa relatórios da Polícia Federal (PF) sobre uma trama golpista
que pretendia manter o ex-presidente no poder após sua derrota nas eleições de
2022. Além disso, Bolsonaro é responsável pela indicação da vice-prefeita
Betina Worm (PL), tenente-coronel do Exército.
O Partido Democrático Trabalhista (PDT)
lançou uma nota de repúdio onde afirma que a liberdade de expressão não pode
ser usada como subterfúgio para a apologia ou cometimento de crimes. “Não
há liberdade de expressão que permita ao individuo defender o
nazismo, o racismo, a pedofilia, a tortura, a volta da escravidão.
Nesse sentido, não há liberdade de expressão que permita ao
individuo defender a volta da ditadura”.
Em nota, o Partido Socialista Brasileiro
(PSB) declarou que “a população Gaúcha assiste, estarrecida, o prefeito da
capital ser conveniente com o discurso antidemocrático e inconstitucional
atentando contra a ordem pública, praticados por grupos inconformados com o
resultado das eleições presidenciais”.
Para o Partido Comunista do Brasil (PCdoB),
o prefeito Sebastião Melo quis dar um “verniz de "liberdade de
expressão" ao crime de apologia à ditadura militar. “Faz isso
como um aceno óbvio à sua base bolsonarista e tenta falsificar a
história construindo equivalências errôneas entre os defensores do regime
militar e os comunistas”.
De acordo com o Psol, a liberdade de
expressão não é um recurso válido para defender crimes como a abolição do
estado democrático de direito. “A manifestação do prefeito não se trata de caso
isolado ou fruto de um descuido, mas faz parte de seu alinhamento à extrema
direita, refletindo a possibilidade de concorrer ao governo do Estado em 2026”,
diz a nota.
A bancada do PT afirmou que vai
acionar o Ministério Público contra o prefeito e ponderou que se um parlamentar
defender a ditadura, isso deve ser considerado como crime de apologia à
ditadura, previsto na Lei dos Crimes de Responsabilidade (Lei 1.079/50) e
no próprio Código Penal (artigo 287).
Além de ser considerado crime, as falas
podem até mesmo ser motivo para o seu impeachment, escreveu
o vereador Pedro Ruas (Psol) feita no X (antigo twiter) na tarde de
quinta-feira (02). A deputada federal Fernanda Melchionna (Psol) e a deputada
estadual Vera Sito (PT) também se manifestaram neste sentido.
Além dos atores políticos também se
manifestaram diversas entidades e associações da sociedade civil, com a
Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul, a Associação de
Ex-Presos e Perseguidos Políticos (AEPPP), o Movimento de Justiça e Direitos
Humanos (MJDH).
<><> O
que disse o prefeito
No último dia 1º de janeiro, o prefeito
argumentou que parlamentares que defendem a ditadura não podem ser processados e que tais
manifestações devem ser consideradas como “liberdade de expressão”.
"Eu quero que desta tribuna, e das 6
mil casas legislativas municipais, do Congresso Nacional, quando um
parlamentar ou qualquer do povo diga 'eu defendo a ditadura', ele não pode ser
processado por isso, porque isto é liberdade de expressão. Mas eu também quero
que aquele que defende o comunismo, o socialismo, dizendo que não acredita na
democracia liberal, ele não pode ser processado porque isto é liberdade de
expressão. A liberdade de expressão é um valor maior", disse Melo.
O Brasil de Fato RS pediu
um posicionamento para a assessoria do gabinete do prefeito e aguarda uma
manifestação. O Ministério Público também foi procurado.
<><> Outras manifestações da sociedade civil
A AEPPP enviou um ofício à presidente da
Câmara Municipal, vereadora Comandate Nádia, requerendo as notas taquigráficas
ou a degravação do pronunciamento de Melo. Além disso, AEPPP junto
com o MJDH, repudiou a manifestação de Melo e informou que vai ingressar no
Ministério Público com representação contra o prefeito por apologia pública a
crime.
“A defesa da ditadura militar de 1964 – que
violentou a Constituição Brasileira; destituiu o legítimo Presidente da
República; cassou os mandatos e direitos políticos de milhares de brasileiros;
perseguiu, sequestrou, torturou, 'desapareceu' e assassinou outros milhares;
acabou com a liberdade de organização e de manifestação; e censurou a imprensa,
as artes e a cultura – seria um mero direito à 'liberdade de expressão'”,
consta na nota.
A Associação de Críticos de Cinema do Rio
Grande do Sul (ACCIRS) também criticou as falas proferidas por Melo e lembrou
que a apologia à ditadura é crime no Brasil, previsto na Lei de Segurança
Nacional (Lei 7.170/83), na Lei dos Crimes de Responsabilidade (Lei 1.079/50) e
no próprio Código Penal (artigo 287).
“É inaceitável que o chefe do Executivo da
capital de um estado federativo como o Rio Grande do Sul, que sofreu, igualmente
a outros estados, com a perda da liberdade de expressão durante o período da
ditadura militar no Brasil (1964 a 1985), manifeste tal opinião não condizente
com o Estado Democrático de Direito, o qual se caracteriza pelo respeito aos
direitos humanos fundamentais e pela limitação do poder do Estado”.
¨ Prefeito é impedido de assumir
no Ceará e ligações com o deputado Júnior Mano agravam suspeitas
O pequeno município de Choró, no interior do Ceará,
enfrenta uma crise política após a Justiça Eleitoral suspender a posse do prefeito eleito Carlos
Alberto Queiroz Pereira, o Bebeto Queiroz (PSB), e de seu vice, Bruno Jucá
Bandeira (PRD). A decisão, proferida pela 6ª Zona Eleitoral de Quixadá, atendeu
a um pedido do Ministério Público Eleitoral e ocorre em meio a investigações
que apontam suspeitas de corrupção, compra de votos e desvio de recursos
públicos.
Diante
da suspensão, o vereador Paulo George Saraiva, conhecido como “Paulinho” (PSB),
presidente da Câmara Municipal, foi empossado como prefeito interino na última
quarta-feira (1º). A cerimônia também marcou a posse dos nove vereadores
eleitos para o mandato de 2024. Durante seu discurso, Paulinho destacou a
necessidade de promover estabilidade administrativa no município.
<><> Ligações
com Júnior Mano e esquemas de desvio
De
acordo com a revista Piauí, investigações da Polícia Federal
revelaram diálogos entre
Bebeto e Adriano Almeida Bezerra, assessor do deputado
federal Júnior Mano (PSB-CE). Nessas
conversas, Bebeto teria articulado o direcionamento de emendas parlamentares
com propostas de desvio de até 12% dos recursos destinados ao Fundo Municipal
de Saúde de Choró.
A
relação entre Bebeto e Júnior Mano foi descrita pela Polícia Federal como uma
rede de subordinação e articulação político-financeira, envolvendo práticas
como o uso de caixa dois e manipulação eleitoral, relata a revista Piauí.
O esquema fazia parte das chamadas “emendas de comissão”, estratégia usada para
ocultar os padrinhos das emendas. Bebeto, que tem um mandado de prisão
preventiva em aberto, é considerado foragido.
De
acordo com a revista, o deputado Júnior Mano sugeriu que poderia exercer
influência sobre certas comissões da Câmara e outros parlamentares, incluindo o
líder do governo, deputado José Guimarães, que também é cearense. No entanto,
até o presente momento, as investigações não encontraram evidências que
conectem outros parlamentares ao caso. Há indícios de que alguns dos
mencionados podem ter tido seus nomes utilizados de forma indevida pela
organização criminosa, sem seu conhecimento ou consentimento.
<><> Investigação
de desvios milionários de emendas no Ceará
A
Polícia Federal intensificou apurações sobre desvios de milhões em recursos de
emendas parlamentares e convênios para obras públicas, envolvendo prefeitos e
deputados federais. No Ceará, o caso ganhou destaque com o nome do deputado
federal Júnior Mano sendo citado no inquérito.
Segundo
a Revista Ceará, o esquema envolvia contratos e licitações
direcionados, sem livre concorrência. As investigações também constataram
superfaturamentos de obras e serviços, além de desvios de recursos públicos por
meio de lavagem de dinheiro, envolvendo políticos e servidores públicos.
<><> Quem é
Júnior Mano?
Segundo
deputado federal mais votado do Ceará em 2022, com 216 mil votos, Júnior Mano
foi expulso do PL após apoiar a candidatura de Evandro Leitão (PT), adversário
político do partido. Conforme o portal UOL, a Polícia Federal aponta que o
deputado teve um “papel central” em um esquema de manipulação de eleições
municipais em 51 cidades do Ceará, envolvendo compra de votos e desvios de
recursos de emendas parlamentares.
<><> Caso vai
ao STF
O caso
do deputado federal Júnior Mano foi encaminhado ao STF devido ao foro
privilegiado. O inquérito, junto com um recurso de Bebeto Queiroz, está sob
análise do ministro Gilmar Mendes, que solicitou manifestação da
Procuradoria-Geral da República. A documentação foi enviada ao Supremo na
última sexta-feira (27).
Fonte: Correio
Braziliense/Brasil de Fato/Congresso em Foco
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