quarta-feira, 28 de agosto de 2024

Shajar Goldwaser: Acusar quem defende uma Palestina livre de antissemitismo é desonesto e em uma palavra - islamofobia

Recentemente vimos se iniciar um debate sobre a frase Do Rio ao Mar, associada aos protestos por uma "Palestina Livre", e considerada como expressão antissemita pelas principais organizações da comunidade judaica. Foi o que aconteceu no caso do mural feito no contexto da jornada de "Murais pela Palestina", organizada pelo MST, onde o artista Kleber Pagu fazia um obra com a referida frase.

O incômodo da comunidade, e seu enorme poder de influência, levou ao cancelamento do patrocínio do projeto pela empresa MC tintas, e em alegada conversa com o Instituto Brasil Israel (IBI), sua diretora executiva, Manoela Miklos afirmou que o artista "seguiu defendendo a causa que o comove, mas mudou de ideia sobre como fazê-lo". O resultado foi que a pintura foi concluída, mas a frase do "rio ao mar" foi excluída. O que causa tanto espanto e rejeição a estas palavras? Islamofobia.

Em comunicação pelas suas redes sociais, o mesmo instituto, considerado como um porta-voz de um setor mais progressista da comunidade judaica, dizia que "Palestina Livre, do Rio ao Mar" significaria "expulsar ou massacrar os 8 milhões de não palestinos que vivem nesta terra". Eu queria discutir neste curto artigo um pouco do que está por trás desta ideia, que tem inclusive levado a casos de judicialização e criminalização de ativistas que pronunciam a frase, acusados de apoiarem um suposto genocídio do povo judeu.

Vamos começar do começo. Quem pede liberdade, busca ser livre de alguma coisa. Liberdade não é algo tão abstrato assim. Quando nos referimos à Palestina, o pedido por liberdade vem das sistemáticas violações de direitos humanos ao qual os habitantes daquele território vêm sendo submetidos há mais de 70 anos.

As renomadas Human Rights Watch, Anistia Internacional, e inclusive a israelense B'Tselem já relataram, por meio de extensa pesquisa e coleta de dados, que Israel impõe um regime de apartheid aos palestinos. Isso não é matéria de debate, é dado, ciência. Portanto quando se discute a Palestina Livre do Rio ao Mar estamos falando da demanda de uma população pelo fim de um regime de discriminação racial institucionalizado, que como constatam os referidos relatórios, incluem a Cisjordânia, a Faixa de Gaza e Israel.

Ou seja, esses territórios todos, do rio Jordão ao mar Mediterrâneo estão sujeitos a um regime de apartheid que configura crime no direito internacional, pelo Convenção Internacional sobre a Supressão e Punição do Crime de Apartheid, aprovada pela assembleia geral da ONU em 1973. Como então o debate sobre fim do apartheid desperta o receio por parte da população judaica de ser expulsa, ou massacrada?

Diversas discussões podem acontecer a partir desta pergunta, que sai de um debate sobre direito internacional, e adentra a psicologia dos israelenses. Mas um pensador precisa se destacar aqui: Edward Said, antropólogo palestino. Na sua principal obra, discute o termo que ele mesmo cunhou, Orientalismo. Refere-se a um estudo sobre a representação que é feita dos povos árabes pelos europeus ao longo dos séculos 18 e 19, período de expansão da atividade colonial principalmente no continente Africano e no Oriente Médio.

Em sua obra, Said demonstra como os árabes são sempre retratados como bárbaros, sanguinários, não civilizados, e incapazes de se auto governar ou administrar. Obviamente, como pretexto para legitimar a colonização por parte dos europeus que seriam aqueles que trariam a ciência, a civilização e o progresso. 

A retórica israelense de que seriam a única democracia do Oriente Médio, por exemplo, demonstra essa visão orientalista. Temos que concordar que, de fato a região não seja um exemplo democracia, mas como mostrado anteriormente, Israel também não é regime democrático, e não pode sê-lo enquanto implementar um apartheid à população palestina. A "democracia" ao qual Israel se refere não é a do seu regime, mas a do seu alinhamento com os interesses do Ocidente, mais especificamente dos EUA. Como disse Netanyahu, primeiro ministro de Israel, em seu discurso ao congresso estadunidense no dia 25 de julho deste ano:

"(...) o "eixo de terror" do Irã confronta a América, Israel e os nossos amigos árabes. Não se trata de um choque de civilizações. É um choque entre a barbárie e a civilização. (...) No entanto, no coração do Médio Oriente (...) há uma orgulhosa democracia pró-americana - o meu país, o Estado de Israel.(...) E nós também ajudamos a manter as tropas americanas fora do território enquanto protegemos os nossos interesses comuns (...)"

Está evidente quem são os aliados de Israel, quais são seus interesses comuns, e que o que se entende por "democracia" não é apenas o regime político, mas o caráter de aliado aos EUA. Por isso, quando se enfrenta este regime, não está só enfrentando o aparheid, mas o domínio ocidental sobre as populações árabes em geral. Qual então seria a solução, e qual o medo da Palestina Livre? Pensar em democracia, é pensar em direitos iguais. E ter direitos iguais exige reconhecer a civilidade e capacidade de convivência pacífica e em sociedade. Em termos bem simples, reconhecer no outro um igual.

Isso não ocorre em Israel, e por isso o medo deste suposto massacre ou expulsão. Igualdade entre israelenses e palestinos, compartilhar um parlamento, ter um só líder eleito democraticamente, o fim do apartheid, isso só se transforma em ameaça para os israelenses se compreendidos os palestinos pela ótica orientalista: bárbaros, não civilizados, incapazes de se administrar e progredir. Porém um fato aqui deve ser lembrado, quem está expulsando quem de sua terra? Quem está massacrando quem? Parece que Israel tem se portado como o perpetuador do seu maior pesadelo, basta ver as imagens dos passados mais de 10 meses da ofensiva à Faixa de Gaza. 

Seja pela rejeição à igualdade entre israelenses e palestinos, seja pela proposta de dois Estados (que visa segregar populações ao invés de agregar), a motivação que se transfigura em argumentos complexos e discussões sem fim é simples: Islamofobia. E vale destacar, que o medo que a população israelense sente é verdadeiro.

O mesmo medo que a população branca dos EUA tinha dos ex-escravizados após a guerra civil que incentivou a distribuição de armas à população (branca) e a criação das leis de segregação racial. O mesmo medo que levou à população afrikaner na África do Sul a instituir o regime de apartheid em 1948, que supostamente tinha como principal argumento a segurança. O mesmo medo que faz com que as elites e classes médias brasileiras incentivem a militarização ainda maior das polícias, e sua ação truculenta principalmente em relação à população negra e marginalizada. Este medo existe, porém ele provém de uma visão racista, na qual o outro é visto como inapto à participação na sociedade, e na qual a violência é a única linguagem que compreende.

O debate sobre a islamofobia no Brasil ainda é incipiente. Pouco se discute sobre como no nosso dia a dia ele é presente e quanto muçulmanos e árabes são vistos como uma ameaça na nossa sociedade. Isso permite que se possa pensar que o combate a um regime de apartheid represente o massacre de 8 milhões de judeus sem que ninguém levante o dedo para dizer: isso é Islamofobia!

 

¨      Ataque do Hezbollah não dá a Israel motivo para lançar grande guerra contra Líbano, diz especialista

Um ataque a instalações militares do Exército israelense pelos combatentes do movimento Hezbollah do Líbano no domingo (25) não deu ao comando israelense o pretexto para lançar uma guerra em grande escala contra o Líbano, mas a região está à beira de uma mudança drástica, disse o escritor e analista libanês, Ali Ezzeddine, à Sputnik.

Na madrugada de domingo, o Hezbollah afirmou ter lançado cerca de 320 foguetes contra diversas áreas do norte de Israel, incluindo 11 bases militares. O movimento esclareceu que o ataque representa a primeira fase de sua retaliação pela morte do comandante Fuad Shukr no final de julho.

O porta-voz do Exército israelense em língua árabe, Avichay Adraee, disse à Sputnik que as Forças de Defesa de Israel haviam lançado ataques preventivos contra as posições do Hezbollah, frustrando assim grande parte do plano de ataque. Ele também negou que o quartel-general da inteligência militar em Tel Aviv tivesse sido atingido de alguma forma.

"O ataque do Hezbollah foi ponderado militarmente e feito em coordenação com a inteligência. Assim, o movimento não deu ao lado israelense um pretexto para lançar uma guerra em grande escala", disse Ezzeddine.

De acordo com o especialista, uma decisão importante do comando do Hezbollah foi a de evitar atacar a infraestrutura civil, incluindo a máxima redução dos ataques a áreas povoadas.

"O ataque a uma instalação militar a 110 km de Tel Aviv comprovou o potencial militar suficientemente forte do Hezbollah, enquanto a declaração do líder do movimento sobre a existência de mísseis balísticos e de alta precisão, que poderiam ser usados no futuro, se tornou um argumento para dissuadir [Israel] da ideia de iniciar uma guerra em grande escala", explicou.

Ele também sugeriu que o anúncio feito pelo secretário-geral do Hezbollah, Sayyid Hassan Nasrallah, sobre a possível continuação de ataques retaliatórios contra Israel, caso os resultados do ataque de domingo não fossem satisfatórios, colocou a sociedade israelense e a liderança em Tel Aviv em uma posição difícil.

"Está claro que a região está à beira de mudanças radicais, e não apenas no Oriente Médio. Dada a continuação do esgotamento dos recursos militares e humanos de Israel pelas ações da Resistência [Islâmica] desde o início da Operação Dilúvio de Al-Aqsa [o ataque do Hamas a Israel em 7 de outubro de 2023], [Israel] acabará por ser forçado a pôr fim na guerra na Faixa de Gaza no contexto dos acontecimentos no mundo em geral", acrescentou o analista.

Ezzeddine também expressou a opinião de que, em um futuro próximo, haverá distúrbios graves dentro de Israel contra as ações do governo do primeiro-ministro Benjamin Netanyahu.

¨      Jordânia alerta para uma 'guerra regional' após troca de ataques entre Israel e Hezbollah

O Ministério das Relações Exteriores da Jordânia emitiu um comunicado alertando para a possibilidade de um conflito regional no Oriente Médio, após ataques intensificados pelas forças israelenses e o grupo libanês Hezbollah.

O porta-voz do Ministério das Relações Exteriores da Jordânia, Sufyan Qudah, destacou "a necessidade de aderir à Resolução 1701 do Conselho de Segurança da ONU para evitar uma nova escalada e unificar os esforços para desescalar e proteger a região do risco de uma guerra regional".

"A contínua agressão israelense contra Gaza e o fracasso em chegar a um acordo que conduza a um cessar-fogo imediato e permanente colocam toda a região em risco de o conflito se expandir regionalmente", disse Qudah.

A Resolução 1701 apela à "cessação completa das hostilidades, ao envio de forças libanesas para o sul do Líbano, à retirada paralela das forças israelenses para trás da Linha Azul, ao reforço da força da ONU para facilitar a entrada das forças libanesas na região e ao estabelecimento de uma zona desmilitarizada entre a Linha Azul e o rio Litani", segundo o comunicado do governo da Jordânia.

Durante as últimas escaladas do conflito no Oriente Médio, a Jordânia esteve diretamente envolvida nas hostilidades entre Israel e Irã, quando o país teve de abater projéteis iranianos no seu espaço aéreo, lançados em retaliação pelo assassinato de sete pessoas, incluindo dois generais iranianos, na embaixada do Irã na Síria.

"A Jordânia já declarou que não permitiria a utilização do seu espaço aéreo em caso de retaliação iraniana. Por outro lado, os iranianos comunicaram que qualquer país árabe que tente impedi-los ou bloqueá-los também sofrerão retaliações", disse à Sputnik Tufy Kairuz, doutor em história pela Universidade de York, no Canadá.

Segundo o pesquisador, "a Jordânia está presa entre dois incêndios, não só no caso de Israel, mas também em relação à Síria", acrescentou.

¨      Brasil expressa preocupação com escalada de tensões entre Líbano e Israel

O governo brasileiro manifestou preocupação com a escalada militar ocorrida na madrugada do domingo (25) entre Líbano e Israel.

"O governo brasileiro acompanha, com grave preocupação, a escalada de tensões observada, na última madrugada, no Líbano e em Israel, com ataque israelense contra alvos no sul do Líbano e lançamento de foguetes pelo Hezbollah contra o território israelense", diz o comunicado publicado neste domingo pelo Ministério das Relações Exteriores.

A declaração insta as partes envolvidas a "máxima contenção, a fim de evitar a intensificação de hostilidades na região e o alastramento do conflito para o restante do Oriente Médio".

Da mesma forma, o Itamaraty reafirmou que "desencoraja fortemente viagens à região" e tem feito orientações à comunidade brasileira no Líbano através das redes sociais.

Na madrugada do domingo, o Hezbollah afirmou ter lançado cerca de 320 foguetes contra diversas áreas do norte de Israel, incluindo 11 bases militares. O movimento esclareceu que o ataque representa a primeira fase de sua retaliação pela morte do comandante Fuad Shukr no final de julho.

Nesse ataque massivo, detectado antecipadamente pela inteligência israelense, o Hezbollah supostamente pretendia bombardear áreas centrais do país, incluindo uma base do Exército em Tel Aviv, de acordo com relatórios militares.

Anterior ao ataque do movimento libanês, Israel antecipou um ataque com mais de uma centena de caças que bombardearam mais de mil lançadores de projéteis do Hezbollah, de acordo com as Forças de Defesa de Israel.

O primeiro-ministro israelense Benjamin Netanyahu disse que Israel destruiu milhares de mísseis e drones de curto alcance.

¨      Faculdades dos EUA se preparam para repressão renovada de protestos pró-Palestina

As faculdades e universidades dos EUA estão se preparando para reprimir os novos protestos pró-Palestina conforme os alunos retornam aos campi neste outono (Hemisfério Norte).

Os administradores dos campi estão se preparando para limitar a atividade de manifestantes pró-Palestina, mantendo as prerrogativas de doadores e grupos de interesse especial.

"Estamos preparando exercícios de mesa", disse o reitor da Universidade Estadual de Nova York, John King, sugerindo até que ponto os administradores vão reprimir as manifestações antigenocídio.

King acrescentou que a instituição se concentraria em encorajar os alunos a "expressar diferentes visões de forma respeitosa e apropriada". As tentativas dos administradores de reprimir os protestos geralmente se concentram em alegações de que eles são perturbadores ou desrespeitosos com aqueles com visões opostas. As organizações estudantis pró-Israel, naturalmente, alegaram que as manifestações são antissemitas, ao mesmo tempo em que oferecem pouca evidência real de discurso ou conduta discriminatória.

O American Council of Trustees and Alumni, uma organização conservadora sem fins lucrativos, apresentou orientações pedindo punição severa para acampamentos e suposto "assédio", enquanto se opõe aos apelos dos manifestantes para que as escolas se desfaçam dos interesses financeiros israelenses.

Os legisladores republicanos, tradicionalmente contra a ostensiva "política identitarista", passaram a falar zelosamente contra supostos incidentes de antissemitismo, talvez buscando uma oportunidade de ganhar apoio de eleitores judeus tradicionalmente alinhados aos democratas.

Mas alguns grupos denunciaram as restrições à liberdade de expressão. A Associação de Professores Universitários Norte-Americanos alegou que os campi "promulgaram apressadamente políticas excessivamente restritivas [...] [que] impõem limites severos à fala e à reunião que desencorajam ou impedem a liberdade de expressão".

"Estamos vendo várias instituições adotando novas restrições à fala sem respeitar os procedimentos de governança", disse Risa Lieberwitz, conselheira geral do grupo e professora de direito na Universidade Cornell. "Elas desencorajarão protestos, terão um efeito inibidor na liberdade de expressão e ameaçarão sanções severas sem o devido processo legal."

"Podemos inferir fortemente que [os novos regulamentos] são feitos para apaziguar os políticos que pedem o uso de mão pesada em protestos, doadores e conselhos de administração [...]. É com esse público externo que as universidades parecem estar mais preocupadas", afirmou.

 

Fonte: Brasil 247/Sputnik Brasil

 

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