quarta-feira, 28 de agosto de 2024

Protestos na Nigéria: um país rico em petróleo, pobre em combustível

A Nigéria possui a maior produção de petróleo na África, com uma média de 1,53 milhão de barris por dia. Um número excelente, que dá a sensação de autossuficiência. No entanto, desde maio de 2023, o preço dos combustíveis triplicou.

O país mais populoso do Continente Mãe passa por momentos turbulentos desde a eleição do presidente Asiwaju Ahmed Bola Tinubu, em fevereiro de 2023. Tinubu, do Congresso de Todos os Progressistas, o APC, na sigla em inglês, partido que governa a Nigéria desde 2015, disse em seu discurso de posse, em maio de 2023, que os “subsídios já eram”.

Os subsídios para os combustíveis vigoram no país desde os anos 1970 e foram institucionalizados pelo Ato de Controle de Preços de 1976. A Nigéria, apesar de possuir um petróleo de excelente qualidade, não possui capacidade de refino.

Isso força o país a vender seu petróleo cru para outras nações e comprar combustível refinado da Noruega, Bélgica, Índia e Reino Unido a preço de mercado. Para tentar amenizar o custo para seus cidadãos, o governo subsidia o preço.

Para muitos nigerianos, o subsídio era o único benefício que recebiam do governo e ajudava a amenizar o custo de vida no país. Entretanto, o custo de manutenção desses subsídios foi um dos principais temas da eleição passada.

Assim como no Brasil, os combustíveis têm uma importância crucial para a economia nigeriana. Além disso, são usados como fonte de energia nas residências.

<><> Dependência dos combustíveis e salário mínimo

É comum em muitas cidades do país, incluindo Lagos, a cidade mais populosa do continente, e a capital, Abuja, encontrar geradores de energia movidos a gasolina ou diesel. Eles costumam ser usados diariamente, tendo em vista que o fornecimento de energia pelo governo não é constante.

Dado o contexto, a retirada repentina dos subsídios, sem escalonamento, fez o preço do litro de gasolina triplicar em pouco mais de um ano, passando de uma média de 300 nairas (R$ 1) para quase 900 nairas (R$ 3).

Soma-se a isso a livre flutuação do preço da naira frente ao dólar estadunidense, resultando em desvalorização da moeda e consequente perda de poder de compra do cidadão nigeriano.

Como efeito dominó, se o preço dos combustíveis aumenta, o preço das mercadorias e transportes também aumenta, o que gera aumento da inflação, que chegou a 34,18% em julho, a mais alta dos últimos 28 anos.

A justificativa para a retirada dos subsídios era o alto custo de sua manutenção; estima-se que hoje em dia o país gasta metade dos recursos obtidos com a exploração do petróleo com os subsídios.

A única coisa que não aumentou foi o salário mínimo. Por conta disso, protestos eclodiram em junho de 2024, liderados pelas centrais sindicais que reivindicavam um aumento do salário mínimo de 30 mil nairas, ou R$ 104, para 494 mil nairas, o equivalente a R$ 1.708. O governo ofereceu 70 mil nairas, ou seja, R$ 242, e os protestos cessaram.

Quando as coisas pareciam se normalizar, foram publicadas notícias de gastos do governo para compra de carros, na ordem de 7,3 bilhões de nairas (R$ 25 milhões) à presidência, incluindo um veículo exclusivo à primeira-dama. Tinubu pediu paciência à população nigeriana diante do aumento do custo de vida, mas, irritados, os nigerianos voltaram às ruas em novo ciclo de manifestações.

Os organizadores prometeram 10 dias seguidos de protestos e cumpriram. Os nigerianos foram às ruas do dia 1 à 10 de agosto. Os protestos se tornaram mais violentos, com direito a saques e arrastões em mercados locais, nos estados do norte e nordeste do país, como Kano, Kaduna e Borno.

Essas são regiões em que a oferta de combustíveis é menor e a incidência do mercado paralelo é maior, tornando o preço do combustível mais caro. Além disso, são regiões com forte histórico de pobreza e ações de grupos jihadistas como o Boko Haram, grupo terrorista responsável pelo sequestro de 276 alunas da escola secundária localizada em Chibok, no estado de Borno.

O atual vice-presidente da Nigéria, Kashim Shettima, era o governador à época dos fatos. Passados 10 anos, ainda existem mulheres desaparecidas.

<><>  Guerra de Biafra

Há 50 anos, o petróleo é a principal fonte de renda do estado nigeriano. Por ele, o estado se opôs à secessão da região de Biafra, resultando na morte de milhões de pessoas na Guerra de Biafra. No entanto, a falta de projetos estatais direcionados à autossuficiência energética e elétrica continua a condenar os nigerianos à penúria e à miséria.

É inadmissível que um país como a Nigéria não possua uma refinaria sequer com capacidade de refino de petróleo. Enquanto isso, o refino ilegal de petróleo em áreas petrolíferas segue ceifando centenas de vidas todos os anos.

Mesmo sendo a maior economia e o mais populoso do continente Africano, o estado nigeriano falha de forma sistemática em garantir direitos básicos aos seus cidadãos. Não temos proteção contra a violência policial, contra os grupos jihadistas, não há salários decentes, não há acesso aos combustíveis com preços baixos, muito menos energia elétrica constante. O que resta aos jovens nigerianos?

A população, especialmente os mais jovens, clama por um estado presente, que a ajude a superar as dificuldades enfrentadas por um país recém-criado ao tentar conquistar seu espaço no século XXI, marcado pelos avanços tecnológicos.

No entanto, esse objetivo não parece ser compartilhado pelo governo Tinubu, que tenta aplicar velhos remédios liberais, mas sem sucesso.

<><> Classe dominante medíocre

Parafraseando Darcy Ribeiro, a Nigéria possui uma classe dominante ranzinza, azeda, medíocre, cobiçosa e que não deixa o país ir para frente, e Tinubu é um representante autêntico dessa classe.

Ele comanda a política do estado de Lagos, o mais rico do país, há pelo menos 25 anos; ajudou a eleger todos os governadores desde que saiu do cargo de governador em 1999; e foi crucial para a eleição de seu antecessor, o ex-presidente Muhammadu Buhari.

O governo, em uma medida desesperada, reintroduziu em parte os subsídios para conter a alta no preço dos combustíveis. Sua única esperança é que a refinaria privada de Aliko Dangote, o homem mais rico da Nigéria e da África, ajude a aplacar os preços, o que só comprova a ineficiência estatal em liderar projetos de infraestrutura petrolífera.

A situação no país é grave e merece atenção. Mesmo com as medidas supracitadas, o governo teme por mais manifestações dos jovens que estão fartos dos mesmos políticos que só oferecem violência como resposta. A nova geração quer mais mudanças e melhorias; resta saber como Tinubu e o estado nigeriano responderão a estes apelos.

Se isso não for feito, a Nigéria continuará a fracassar em manter seus jovens e perderá talentos em todas as áreas. Não faltam histórias de descendentes de pais nigerianos alcançando sucesso em outros países. Não se pode cobrar patriotismo e senso de pertencimento se o país não oferece meios para isso.

<><> Inundações no Sudão deixam mais de 130 mortos, destroem vilarejos e impactam mais de 50 mil pessoas

O número de pessoas mortas no Sudão devido às chuvas torrenciais e inundações aumentou para 132, informou o Ministério da Saúde do país nesta segunda-feira (26).

No início de agosto, as autoridades sudanesas relataram a morte de 68 pessoas na sequência do desastre natural, acrescentando que as vítimas morreram por várias causas, incluindo desabamentos de casas e afogamentos.

As chuvas atingiram dez regiões sudanesas. O estado do Norte e do Rio Nilo foram os mais afetados, acrescentaram as autoridades. Mais de 12,4 mil casas foram completamente destruídas devido às chuvas torrenciais contínuas, acrescentou o ministério.

No leste do país, uma represa rompeu e destruiu pelo menos 20 vilarejos e deixou pelo menos 30 pessoas mortas, mas provavelmente muitas mais, disse a ONU na segunda-feira, devastando uma região que já estava sofrendo com meses de guerra civil.

Cerca de 50 mil pessoas foram afetadas pelas enchentes, segundo a ONU, citando autoridades locais, acrescentando que esse número se refere apenas à área a oeste da represa, já que a área a leste estava inacessível.

A represa era a principal fonte de água para Porto Sudão, onde se encontram o principal porto do mar Vermelho e o aeroporto que recebe a maior parte das entregas de ajuda humanitária.

As autoridades informaram que a represa havia começado a desmoronar e o lodo estava se acumulando após dias de tempestades que chegaram muito antes do habitual.

Antes do início da guerra entre o Exército sudanês e as Forças Paramilitares de Apoio Rápido, em abril de 2023, as represas, estradas e pontes do Sudão já estavam muito deterioradas.

 

¨      África precisa buscar aliança com a Rússia, defende empresário camaronês

A África precisa da Rússia não para ajuda gratuita, mas para uma parceria tecnológica, disse à Sputnik o fundador do clube empresarial africano na Rússia e chefe da diáspora camaronesa no país, Louis Gouend.

"A União Soviética, como se sabe, ajudou África gratuitamente, o que considero um erro; pelo menos hoje não precisamos dessa ajuda, que do ponto de vista econômico é totalmente injustificada", afirmou Gouend, salientando que o continente precisa de "todos os tipos de equipamentos e tecnologias que permitam aos países africanos desenvolver suas economias nacionais".

26 de junho, 07:22

Além disso, o empresário destacou que a África precisa urgentemente de especialistas russos em áreas como energia, construção, engenharia mecânica e agronegócio, que possam trabalhar em conjunto com os africanos na construção de novas instalações industriais.

A única forma de combater o desemprego é nos concentrarmos na economia e na agricultura em particular, acrescentou.

<><> Malásia espera se juntar ao BRICS primeiramente como parceiro de diálogo, diz chanceler a Vieira

A Malásia espera se juntar ao BRICS como parceiro de diálogo em primeiro lugar, disse o ministro das Relações Exteriores da Malásia, Mohamad Hasan, após uma reunião com seu homólogo brasileiro Mauro Vieira, citado pela agência de notícias Bernama.

Em julho de 2024, o primeiro-ministro da Malásia, Anwar Ibrahim, confirmou a intenção de o país participar do BRICS.

Hasan lembrou que o BRICS já recebeu novos membros este ano e, portanto, os Estados-membros têm que "cuidar" deles primeiro.

Contudo, ele citou como exemplo a Associação de Nações do Sudeste Asiático (ASEAN), que tem um sistema de parceria, dizendo que o BRICS também tem um mecanismo similar.

"Se a Malásia também for considerada para se juntar ao BRICS, vamos entrar no nível de parceria primeiro. Isso é suficiente para termos relações entre a Malásia e o BRICS", disse.

O diplomata acrescentou que entregou a Mauro Vieira uma carta, na qual o país expressa interesse em participar do BRICS.

"O Brasil vai presidir o BRICS no próximo ano e esperamos que o convite do presidente brasileiro Luiz Inácio Lula da Silva ao nosso primeiro-ministro para participar do BRICS seja realizado", enfatizou Hasan.

A Rússia assumiu a presidência do BRICS em 1º de janeiro deste ano. Nessa data, além da Rússia, Brasil, Índia, China e África do Sul, entraram no bloco os novos países-membros: o Egito, a Etiópia, o Irã, os Emirados Árabes Unidos e a Arábia Saudita. No dia 20 de agosto, o Azerbaijão solicitou oficialmente sua adesão ao BRICS.

¨      Indústria dos EUA busca aliviar aumentos de tarifas de Biden a produtos da China, diz mídia

A administração Biden-Harris deve anunciar nesta semana os planos finais de implementação para os aumentos de tarifas sobre certas importações chinesas, mas a indústria dos EUA gostaria de suavizar muitas das taxas planejadas.

De acordo com a Reuters, fabricantes de veículos elétricos (VE) a equipamentos de utilidade elétrica pediram que as taxas de tarifas mais altas fossem reduzidas, adiadas ou abandonadas, e que as possíveis exclusões fossem expandidas e de forma mais ampla.

Ainda em maio, o presidente norte-americano Joe Biden anunciou uma quadruplicação das tarifas sobre VEs chineses para 100%, uma duplicação das taxas sobre semicondutores e células solares para 50%, bem como novas tarifas de 25% sobre baterias de íons de lítio e outros bens estratégicos, incluindo aço, para proteger as empresas dos EUA do que os analistas do governo justificam ser um excesso de produção chinesa.

Apesar de toda a preocupação da Casa Branca, a implementação das tarifas foi adiada de agosto para setembro para analisar uma reação do mercado antes de tomar a decisão final.

Se o setor industrial dos EUA conseguir aliviar algumas das tarifas, esta será a primeira grande decisão comercial do governo desde que a vice-presidente Kamala Harris surgiu como indicada presidencial do Partido Democrata, o que pode apontar para uma posição mais branda dos democratas em relação à China contrastando com a posição republicana do candidato à reeleição, Donald Trump, que prometeu atingir as importações chinesas de forma mais dura.

A China, que já recorreu aos órgãos internacionais como a Organização Mundial do Comércio (OMC) contra o protecionismo norte-americano, prometeu retaliação contra os aumentos de tarifas "intimidadores" e o ministro das Relações Exteriores chinês, Wang Yi, disse que eles mostraram que alguns nos EUA podem estar "perdendo a sanidade".

A decisão dos EUA virá na mesma semana em que o conselheiro de segurança nacional dos EUA, Jake Sullivan, se encontrará com Wang em uma visita que visa manter as tensões EUA-China sob controle ante a eleição de novembro nos EUA que se aproxima rapidamente.

 

Fonte: The Intercept/Sputnik Brasil

 

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