quarta-feira, 27 de dezembro de 2023

Causas de mortes pós-pandemia no Brasil: redução da idade média dos óbitos

A pandemia de COVID-19 provocou uma mudança expressiva nas causas de mortes. Embora ainda ocorram óbitos por essa doença, elas não são muito volumosas no Brasil desde fevereiro de 2022. Dessa maneira, no corrente ano, elas foram estabilizadas em um patamar baixo.

A divulgação pública mais detalhada de causas de mortes por faixa etária é algo recente, foi lançada na pandemia, recuperando os dados de 2019. Nos anos de 2020 a 2022, a covid ainda provocava alterações significativas nas métricas. Nesse sentido, para excetuar o período pandêmico, convém uma comparação das causas de mortes e da idade das pessoas que morreram em 2019 e 2023, no acumulado até outubro, ou então de 2022, para observar o ano inteiro, mas nesse as mortes por covid ainda eram um pouco significativas. Esse texto visa expor algumas das informações relevantes encontradas nesta base de dados.

Inicialmente, é importante ressaltar que a mortalidade é alta até um ano de idade, reduz na sequência até os nove anos e depois passa aumentar gradualmente e, de maneira muito marcante, a partir dos 72 anos para homens e 76 para mulheres, até chegar a 20% de probabilidade de morte no ano para pessoas acima de 100 anos.  Saliente-se também que as mortes variam por questões demográficas, sobretudo quando há um envelhecimento populacional. Durante a pandemia, houve grande aumento de mortes, mas em 2022 houve redução absoluta, o que deve se repetir em 2023. Na comparação entre 2019 e 2023, até outubro, a variação foi de 6,6% e as mortes por covid são menos de 1% das totais atualmente. Então, variações acima desta faixa, estão acima da média.

A primeira observação que chama a atenção é a expressiva redução das mortes de pessoas acima de 80 anos. Na faixa de 80 a 89, houve queda absoluta de mortes de homens. Acima de 90, de ambos os sexos. Aparentemente isso não está ocorrendo por que as pessoas estão morrendo mais tarde e sim porque elas já morreram e aqui parece ter um impacto significativo da pandemia: as pessoas que morreriam em 2023 nesta idade, morreram na pandemia. Contudo, mesmo durante a pandemia, houve redução absoluta de mortes de pessoas acima de 90 anos, o que é muito instigante e contraintuitivo. No acumulado até outubro (2019 versus 2023), verifica-se que a queda de mortes de pessoas acima de 100 anos é de impressionantes 69% e de pessoas de 90 a 99 foi de 40,5%.

Já entre 10 e 79 anos, o número de óbitos cresceu de forma considerável, com destaque para a faixa entre 50 e 79 anos. Em termos absolutos, os incrementos maiores se deram entre 60 e 69 anos. O que reforça a hipótese de mortes mais cedo na comparação 2019 e 2023.

Na base de dados, as causas de mortes divulgadas são mais específicas entre doenças cardiovasculares e respiratórias, já os cânceres, estão em “demais”. No entanto, no acumulado até outubro, entre 2019 e 2023, não houve mudança na categoria “demais”. As mortes por causas respiratórias aumentaram 25%, mas ao subtrair-se “covid” deste agrupamento, observa-se uma queda de 17%, o que nos faz inferir que uma parte dos ainda presentes óbitos por covid seriam de outras causas respiratórias, como pneumonia, não fosse a covid. Insuficiência respiratória, pneumonias, infartos e AVCs não apresentaram mudanças significativas neste período. Houve expressivo aumento de mortes por septicemia (+17,6%) e “causas cardiovasculares inespecíficas” (que não infarto e AVC), na ordem de 40%.

A sepse, popularmente conhecida como infecção generalizada, aumentou em diversas faixas etárias, sobretudo entre 50 e 79 anos. Mas mesmo entre 40 e 49 anos, há aumento de mortes por sepse.  As causas cardiovasculares, que não infarto e AVC, aumentaram muito em ambos os sexos entre 60 e 79 anos, mas também cresceram na faixa de 40 a 59 anos. Para a faixa de 80 a 89, houve aumento de mortes femininas de causas cardiovasculares. Levante-se a hipótese aqui, a ser confirmada por especialistas, que essas mortes por doenças cardiovasculares inespecíficas possam ter relação com a chamada covid longa, já que não houve mudança estatística de AVC, infartos, pneumonias e “demais”. Já na faixa dos 40 a 49 anos, o que foi expressivo de aumento está na categoria “demais”, que pode ser cânceres, mortes violentas, entre outros.

Em suma, em uma breve análise, percebeu-se que, neste pequeno intervalo de tempo de estatísticas disponíveis, pode-se observar que houve redução absoluta de mortes de pessoas acima de 80 anos e um aumento expressivo de mortes entre 40 e 79 anos, com destaque para 50 a 79 anos. Ainda que o esperado seja que as pessoas morram cada vez mais tarde, e isso tem ocorrido de maneira contínua há quase um século, parece que menos pessoas estão chegando aos 80 e 90 anos no Brasil após a pandemia. Registre-se que o período com tais informações é restrito. Informe-se que a ideia original deste texto era tratar de mortes causadas pelas ondas de calor no Brasil, mas não foram encontradas mudanças significativas de mortes nestes períodos. Além das mudanças geradas pela covid, houve aumento de mortes por septicemia e doenças cardiovasculares, que não infarto e nem AVC, sobretudo entre 60 a 79 anos no Brasil. Cabe a observar a continuidade ou não desse fenômeno, sua relação ou não com a covid, assim como buscar responder suas causas.

 

Fonte: Por Róber Iturriet Avila, no Jornal GGN

 

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