segunda-feira, 25 de setembro de 2023

Acordo armamentista Alemanha-França está prestes a ruir?

Mais carga simbólica seria impossível: a fim de superar a crise franco-alemã num projeto de cooperação de armamentos, o ministro da Defesa da França, Sébastien Lecornu, convidou seu homólogo alemão, Boris Pistorius, para ir a Evreux. Nessa cidade, pouco mais de 90 quilômetros a noroeste de Paris, a cooperação entre os dois países funciona do modo como os políticos pregam há décadas.

É na Normandia que opera o esquadrão de transporte aéreo binacional. Um marco para a estreita cooperação militar acordada no Tratado do Eliseu em 1963. Enquanto a Brigada Franco-Alemã separa quase todas as unidades por nacionalidade, tripulações mistas atuam nos transportes em Evreux, e o pessoal de terra também vem dos dois países.

·         Outros projetos já fracassaram

Por outro lado, nuvens pesadas cercam a cooperação de armamentos entre França e Alemanha. Rivalidades industriais e interesses políticos pesam muito na concepção do tanque franco-alemão MGCS, de grande prestígio para o presidente francês, Emmanuel Macron. Então recém-eleito para o cargo, em julho de 2017, ele e a então chanceler federal alemã, Angela Merkel, concordaram com uma lista de projetos conjuntos de armamento com custos superiores a 100 bilhões de euros.

O sistema de combate aéreo europeu de última geração  Future Combat Air System (FCAS) estava nesse projeto, bem como uma aeronave de reconhecimento marítimo, um drone capaz de portar armamentos e um novo tanque de guerra: o sistema de combate terrestre Main Ground Combat System (MGCS) deveria substituir o francês Leclerc e o alemão Leopard 2 a partir de 2035.

·         Países disputam liderança

Os custos de desenvolvimento do MGCS devem ser compartilhados entre Paris e Berlim, o qual estaria encarregado do projeto. A França, por sua vez, assumiria a frente do FCAS. Inicialmente o MGCS deveria ser desenvolvido pela KNDS, uma holding formada pela alemã KMW e pela fabricante de tanques  francesa Nexter, associada ao governo.

Desde que a Rheinmetall entrou nos trabalhos em 2019, porém, os franceses reclamam de uma predominância alemã. Agora o projeto pode ser aberto a outros países. Itália e Holanda estariam interessadas em ser observadores, de acordo com Lecornu.

Jacob Ross, da Sociedade Alemã para Política Externa (DGAP), vê essa manobra como um "movimento importante". A mudança no cronograma – o MGCS só deve entrar em operação depois de 2040 – também segue esse padrão. "Mas isso não é um avanço para o projeto", diz Ross. Especialmente porque a Alemanha e a França também não chegaram a um acordo sobre questões secundárias em Evreux.

·         Vizinhos com planos diferentes

O que mais causa controvérsia entre alemães e franceses é o principal armamento do MGCS: enquanto a Rheinmetall prefere um canhão de 130 milímetros, a Nexter insiste em 140 milímetros. A disputa por milímetros é importante em termos militares, pois o calibre determina as capacidades da arma, e quem se impuser nessa questão provavelmente definirá o padrão da Organização do Tratado do Alântico Norte (Otan) para as próximas décadas. Em meados de 2023, uma reunião informal entre o chanceler federal alemão, Olaf Scholz, e Macron não resultou em nenhuma definição.

Nas últimas semanas, as equipes militares em Berlim e Paris apresentaram suas demandas numa lista de exigências conjunta. Pistorius e Lecornu aprovaram a lista em Evreux. Até dezembro se decidirá de quais partes do sistema de tanques cada país assumirá a coordenação.

·         Consequências da guerra na Ucrânia

No passado, o fato de Alemanha e França terem objetivos estratégicos diferentes e de as empresas buscarem interesses opostos impediu que o projeto avançasse. Após a invasão russa na Ucrânia, a demanda por tanques de batalha Leopard 2 tem aumentado, e os fabricantes alemães querem garantir esse mercado para si, atualizando o mais rápido possível seus veículos.

Em Evreux, os ministros enfatizaram que os países – e não as indústrias – devem definir os requisitos exatos dos pedidos. A França, em particular, insiste num sistema totalmente novo. Além dos métodos de combate clássicos, ele incluiria fogo eletromagnético, fogo a laser e combate em rede por meio de inteligência artificial. Veículos autônomos também poderiam acompanhar o tanque tripulado por soldados.

·         Alemanha busca mais poder?

Os resultados provisórios da iniciativa franco-alemã são modestos: a aeronave conjunta de reconhecimento marítimo foi excluída, e a Alemanha está comprando aeronaves dos Estados Unidos para esse fim. Berlim também se retirou do projeto conjunto do helicóptero de combate Tiger.

O mudança de paradigma alemã (anunciada por Scholz como "Zeitenwende") alterou as relações de forças, analisa Élie Tenenbaum, do think tank Instituto Francês de Relações Exteriores. Sob o comando de Scholz, Berlim decidiu se tornar a força motriz no pilar europeu da Otan.

"A Alemanha quer cooperar, como fez com a defesa antimísseis europeia, com um grupo de nações europeias menores. E a França não tem lugar nessa constelação."

·         Simbolismo não é suficiente

Durante o encontro de ministros da Defesa, o anfitrião Lecornu foi efusivo ao comemorar o relacionamento com o homólogo alemão, que enfatizou seu amor pela França. Pistorius conhece o país e o idioma, não apenas por passar férias lá, mas também graças a seus estudos de francês na Universidade Católica de Angers.

Parece questionável que apelos ao simbolismo sejam capazes de salvar o projeto. É possível que os parlamentos nacionais tenham a desagradável tarefa de enterrar outro projeto franco-alemão de armamento. Afinal, os deputados precisam aprovar o financiamento para cada etapa. No Bundestag (a câmara baixa do Parlamento alemão) as críticas estão aumentando; e na Assembleia Nacional da França, Macron depende do apoio da oposição, que é bastante crítica em relação ao MGCS.

O abandono do projeto não se dará sem danos colaterais, crê Jacob Ross: "Se o MGCS fracassar, o caça FCAS também cai. O Bundestag decidiu isso explicitamente. Para Macron, sobretudo, tal seria uma enorme perda de prestígio, que a oposição exploraria com toda força."

<><> Alemanha e França avaliam novos parceiros para tanque de próxima geração em 2024

Os dois países europeus estão em fase de projeção de um novo poderoso tanque, e estão estudando convidar novos países para o projeto, possivelmente como "observadores".

Os ministros da Defesa da França e da Alemanha estão discutindo a possível entrada de novos parceiros no projeto de tanque de próxima geração, o Sistema Principal de Combate Terrestre (MGCS, na sigla em inglês), escreveu na sexta-feira (22) o portal Defense News.

Enquanto isso, os líderes franceses e alemães estão negociando o projeto com a holding franco-alemã KNDS e a alemã Rheinmetall, líderes do setor, com decisão prevista até 2024.

A Itália, os Países Baixos e "muitos outros" expressaram interesse em participar do projeto, disse na quinta-feira (21) Boris Pistorius, ministro da Defesa da Alemanha, em uma coletiva de imprensa na base aérea de Evreux, a oeste de Paris, França. Eles podem participar como "observadores," de acordo com Sébastien Lecornu, ministro das Forças Armadas da França.

O alto responsável explicou que o MGCS será modular, incluindo plataformas que podem ser tripuladas ou automatizadas. Ele terá uma capacidade de fogo clássica, mas também armas eletromagnéticas, funcionalidades de guerra eletrônica e armas a laser, acrescentou.

O futuro tanque exigirá uma defesa reativa que o tornaria difícil de destruir, drones para proteger o tanque, funcionalidades de inteligência artificial para coordenar o fogo em um ambiente conectado, apontou Lecornu.

"Os avanços tecnológicos serão brutais", previu o ministro francês.

Ele referiu que o futuro tanque deverá entrar em serviço entre 2040 e 2045, e espera que os primeiros contratos sejam assinados em 2024.

 

Ø  Sistema Patriot na Ucrânia 'foi destruído ou danificado', indica ex-analista da CIA

 

Em maio de 2023 um sistema de defesa antiaérea americano Patriot foi atingido por um míssil hipersônico russo Kinzhal, mas Washington tem estado silencioso sobre o assunto desde então, segundo Larry Johnson.

O fato de não haver nenhuma notícia sobre o desempenho do sistema de defesa antiaérea Patriot fornecido pelos EUA à Ucrânia mostra que ele certamente já não está operacional, disse Larry Johnson, ex-analista da Agência Central de Inteligência (CIA, na sigla em inglês) dos EUA.

"Lembram-se de quando ouvimos falar das baterias de mísseis Patriot? [...] Há meses não se ouve nada sobre isso. Isso foi enviado para a Ucrânia e explodiu, então parece que o que enviamos foi destruído ou danificado e está sendo reparado e certamente não está presente no campo de batalha", sublinhou o especialista em segurança em uma entrevista on-line, comentando o fornecimento de armas por Washington a Kiev.

O analista veterano se referiu ao incidente em maio de 2023, quando o Patriot fabricado nos EUA foi atingido por um míssil hipersônico russo Kinzhal em Kiev. Especialistas militares sublinharam que o Patriot perdeu todos os seus 32 mísseis ao tentar interceptar o projétil russo, e que esse esforço custou aos EUA cerca de US$ 96 milhões (R$ 475 milhões). No entanto, o Pentágono e outras autoridades dos EUA foram, na melhor das hipóteses, vagos ao comentar o incidente.

De acordo com Johnson, após esse fracasso, os EUA têm enviado "material de segundo e terceiro nível" para a Ucrânia. Ele sugeriu que alguns "burocratas" do Pentágono finalmente perceberam que o apoio ilimitado a Kiev com o melhor armamento apenas "enfraquecerá a força militar dos EUA e enfurecerá os russos".

É por isso que a Ucrânia receberá tanques Abrams obsoletos, e os especialistas já estão começando a fazer apostas sobre quanto tempo eles durarão no campo de batalha, destacou o ex-analista da CIA.

·         EUA decidem fornecer mísseis de longo alcance à Ucrânia

O presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, informou ao presidente ucraniano, Volodimir Zelenski, que Washington fornecerá a Kiev mísseis de longo alcance do tipo ATACMS.

A informação foi relatada pela emissora NBC News, citando três autoridades americanas e um funcionário do Congresso, e pelo jornal britânico Financial Times.

Kiev vinha há meses pedindo ao governo Biden que fornecesse os mísseis ATACMS para atacar e interromper linhas de suprimentos, bases aéreas e redes ferroviárias no território ucraniano ocupado pela Rússia.

A Ucrânia queria centenas de ATACMS, inclusive os dotados de uma única ogiva explosiva, mas a Casa Branca vinha resistindo – em parte por receio de que fornecer essa arma poderia escalar o conflito, mas também por preocupações do Pentágono de que elas fariam falta para as necessidades de defesa dos Estados Unidos.

·         O que são os mísseis ATACMS

Esse míssil pode atingir alvos a até 300 quilômetros de distância, e são projetados para "ataques profundos às forças inimigas", segundo o Exército dos EUA. Eles podem ser usados para atacar centros de comando e controle, defesas aéreas e locais de logística bem além da linha de frente.

Segundo o Financial Times, inicialmente serão enviados a Kiev poucos ATACMS, e equipados com bombas de fragmentação, e não com uma única ogiva explosiva.

A decisão pelo uso das bombas de fragmentação, um armamento controverso e banido por 111 países, teria tido mais apoio no Pentágono pois não reduziria os estoques americanos de mísseis do tipo com ogivas unitárias.

Até agora, a Ucrânia vem usando mísseis de curto alcance dos EUA, os Himars, e mísseis de longo alcance produzidos pelo Reino Unido e pela França, o Storm Shadow – que foi usado na sexta-feira (22/09) para atacar o edifício-sede da frota marítima russa do Mar Negro, na Crimeia.

Os ATACMS podem ser disparados da terra, a partir dos mesmos lançadores Himars já usados pela Ucrânia, enquanto que o Storm Shadow precisa ser disparado do ar, a partir de caças ucranianos.

·         Casa Branca não comenta

A Casa Branca não divulgou nenhuma decisão sobre o ATACMS quando Zelenski visitou Washington na quinta-feira para conversar com Biden, e isso também não constava do anúncio do novo pacote de ajuda militar de 325 milhões de dólares para Kiev.

A Casa Branca e o Pentágono não quiseram comentar a reportagem da NBC. O Pentágono também se recusou a dizer se alguma promessa sobre o ATACMS foi feita a Zelenski durante suas reuniões na quinta-feira no Pentágono.

Em Ottawa, Zelenski não respondeu diretamente quando perguntado sobre a reportagem da NBC, mas observou que os Estados Unidos eram o maior fornecedor individual de armamentos para a Ucrânia.

"Estamos discutindo todos os diferentes tipos de armas – armas de longo alcance e artilharia, projéteis de artilharia com calibre de 155 mm e sistemas de defesa aérea", disse em uma coletiva de imprensa durante uma visita oficial ao Canadá.

Biden garantiu publicamente a Zelenski na quinta-feira que o forte apoio dos EUA à sua guerra para repelir os invasores russos será mantido, apesar da oposição de alguns legisladores republicanos ao envio de mais ajuda.

 

Ø  Hospital militar dos EUA na Alemanha começa a aceitar mercenários pró-ucranianos feridos, diz mídia

 

O Departamento de Defesa dos EUA passou a participar diretamente da gestão de um hospital militar na Alemanha, onde mercenários americanos estão sendo tratados.

Um hospital militar americano na Alemanha começou a tratar mercenários dos EUA e de outros países que foram feridos nos combates na Ucrânia, relatou no sábado (23) o jornal norte-americano The New York Times (NYT).

O Centro Médico Regional do Exército dos EUA em Landstuhl, no país europeu, está atualmente tratando 14 mercenários feridos, parte do Exército ucraniano, a maioria deles americanos.

O centro estava sendo gerido por hospitais ucranianos e organizações de caridade ocidentais, mas recentemente o Departamento de Defesa dos EUA também assumiu algum financiamento. Ele aceita um máximo de 18 membros feridos das Forças Armadas ucranianas entre mercenários e voluntários, mencionou a mídia.

No entanto, apesar de a administração norte-americana de Joe Biden ter garantido que não colocaria tropas dos EUA na Ucrânia e ter avisado os americanos para não participarem, "agora, ela se vê tratando aqueles que pediu para se manterem longe".

Segundo os autores do artigo, tal "marca um novo e notável passo no aprofundamento do envolvimento dos Estados Unidos no conflito".

O NYT também mencionou membros do Congresso dos EUA que pediram que o hospital passasse também a tratar de feridos ucranianos.

Como nota o jornal, centenas de americanos viajaram à Ucrânia para lutar ao lado de Kiev desde fevereiro de 2022, mas o número se reduziu significativamente desde então após muitos serem mortos e feridos em combate.

Um funcionário do Pentágono disse aos jornalistas do NYT que ficou surpreso com a notícia. Ele confirmou que as autoridades norte-americanas desencorajam fortemente seus compatriotas de viajarem para a Ucrânia para participarem dos combates. No entanto, ele acrescentou que os centros médicos não lhes negariam assistência em caso de serem feridos.

 

Fonte: Deutsche Welle/Sputnik Brasil

 

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