Acordo armamentista Alemanha-França está prestes a ruir?
Mais carga simbólica seria impossível: a fim
de superar a crise franco-alemã num projeto de cooperação de armamentos, o
ministro da Defesa da França, Sébastien Lecornu, convidou seu homólogo alemão, Boris
Pistorius, para ir a Evreux. Nessa cidade, pouco mais de 90 quilômetros a
noroeste de Paris, a cooperação entre os dois países funciona do modo
como os políticos pregam há décadas.
É na Normandia que opera o esquadrão de transporte
aéreo binacional. Um marco para a estreita cooperação militar acordada no Tratado do Eliseu em 1963.
Enquanto a Brigada Franco-Alemã separa quase todas as unidades por
nacionalidade, tripulações mistas atuam nos transportes em Evreux, e o pessoal
de terra também vem dos dois países.
·
Outros projetos já
fracassaram
Por outro lado, nuvens pesadas cercam a cooperação
de armamentos entre França e Alemanha. Rivalidades industriais e interesses
políticos pesam muito na concepção do tanque franco-alemão MGCS, de grande
prestígio para o presidente francês, Emmanuel
Macron. Então recém-eleito para o cargo, em julho de
2017, ele e a então chanceler federal alemã, Angela Merkel, concordaram
com uma lista de projetos conjuntos de armamento com custos superiores a 100
bilhões de euros.
O sistema de combate aéreo europeu de última geração
Future Combat Air System (FCAS) estava nesse projeto,
bem como uma aeronave de reconhecimento marítimo, um drone capaz de portar
armamentos e um novo tanque de guerra: o sistema de combate terrestre Main
Ground Combat System (MGCS) deveria substituir o francês Leclerc e o alemão
Leopard 2 a partir de 2035.
·
Países disputam liderança
Os custos de desenvolvimento do MGCS devem ser
compartilhados entre Paris e Berlim, o qual estaria encarregado do projeto. A França, por sua vez,
assumiria a frente do FCAS. Inicialmente o MGCS deveria ser desenvolvido
pela KNDS, uma holding formada pela alemã KMW e pela fabricante de
tanques francesa Nexter, associada ao governo.
Desde que a Rheinmetall entrou nos trabalhos em
2019, porém, os franceses reclamam de uma predominância alemã. Agora o projeto
pode ser aberto a outros países. Itália e Holanda estariam interessadas em ser
observadores, de acordo com Lecornu.
Jacob Ross, da Sociedade Alemã para Política
Externa (DGAP), vê essa manobra como um "movimento importante". A
mudança no cronograma – o MGCS só deve entrar em operação depois de 2040 –
também segue esse padrão. "Mas isso não é um avanço para o projeto",
diz Ross. Especialmente porque a Alemanha e a França também não chegaram a um
acordo sobre questões secundárias em Evreux.
·
Vizinhos com planos
diferentes
O que mais causa controvérsia entre alemães e
franceses é o principal armamento do MGCS: enquanto a Rheinmetall prefere um
canhão de 130 milímetros, a Nexter insiste em 140 milímetros. A disputa por
milímetros é importante em termos militares, pois o calibre determina as
capacidades da arma, e quem se impuser nessa questão provavelmente definirá o
padrão da Organização do Tratado do Alântico Norte (Otan) para as próximas
décadas. Em meados de 2023, uma reunião informal entre o chanceler federal
alemão, Olaf Scholz, e
Macron não resultou em nenhuma definição.
Nas últimas semanas, as equipes militares em Berlim
e Paris apresentaram suas demandas numa lista de exigências
conjunta. Pistorius e Lecornu aprovaram a lista em Evreux. Até
dezembro se decidirá de quais partes do sistema de
tanques cada país assumirá a coordenação.
·
Consequências da guerra
na Ucrânia
No passado, o fato de Alemanha e França terem
objetivos estratégicos diferentes e de as empresas buscarem interesses opostos
impediu que o projeto avançasse. Após a invasão russa na Ucrânia, a
demanda por tanques de batalha Leopard 2 tem aumentado, e os fabricantes
alemães querem garantir esse mercado para si, atualizando o mais rápido
possível seus veículos.
Em Evreux, os ministros enfatizaram que os países –
e não as indústrias – devem definir os requisitos exatos dos pedidos. A França,
em particular, insiste num sistema totalmente novo. Além dos métodos
de combate clássicos, ele incluiria fogo eletromagnético, fogo a laser e
combate em rede por meio de inteligência artificial. Veículos autônomos também
poderiam acompanhar o tanque tripulado por soldados.
·
Alemanha busca mais
poder?
Os resultados provisórios da iniciativa
franco-alemã são modestos: a aeronave conjunta de reconhecimento marítimo foi
excluída, e a Alemanha está comprando aeronaves dos Estados Unidos para esse
fim. Berlim também se retirou do projeto conjunto do helicóptero de combate
Tiger.
O mudança de paradigma alemã (anunciada por
Scholz como "Zeitenwende") alterou
as relações de forças, analisa Élie Tenenbaum, do think tank Instituto Francês
de Relações Exteriores. Sob o comando de Scholz, Berlim decidiu se tornar
a força motriz no pilar europeu da Otan.
"A Alemanha quer cooperar, como fez com a
defesa antimísseis europeia, com um grupo de nações europeias menores. E a
França não tem lugar nessa constelação."
·
Simbolismo não é
suficiente
Durante o encontro de ministros da Defesa, o
anfitrião Lecornu foi efusivo ao comemorar o relacionamento com o homólogo
alemão, que enfatizou seu amor pela França. Pistorius conhece o país e o
idioma, não apenas por passar férias lá, mas também graças a seus estudos
de francês na Universidade Católica de Angers.
Parece questionável que apelos ao simbolismo
sejam capazes de salvar o projeto. É possível que os parlamentos nacionais
tenham a desagradável tarefa de enterrar outro projeto franco-alemão de
armamento. Afinal, os deputados precisam aprovar o financiamento para cada
etapa. No Bundestag (a câmara
baixa do Parlamento alemão) as críticas estão aumentando; e na Assembleia
Nacional da França, Macron depende do apoio da oposição, que é bastante crítica
em relação ao MGCS.
O abandono do projeto não se dará sem danos
colaterais, crê Jacob Ross: "Se o MGCS fracassar, o caça FCAS também cai. O
Bundestag decidiu isso explicitamente. Para Macron, sobretudo, tal seria uma
enorme perda de prestígio, que a oposição exploraria com toda força."
<><> Alemanha e França avaliam novos
parceiros para tanque de próxima geração em 2024
Os dois países europeus estão em fase de projeção
de um novo poderoso tanque, e estão estudando convidar novos países para o
projeto, possivelmente como "observadores".
Os ministros da Defesa da França e da Alemanha
estão discutindo a possível entrada de novos parceiros no projeto de tanque de
próxima geração, o Sistema Principal de Combate Terrestre (MGCS, na sigla em
inglês), escreveu na sexta-feira (22) o portal Defense News.
Enquanto isso, os líderes franceses e alemães estão
negociando o projeto com a holding franco-alemã KNDS e a alemã Rheinmetall,
líderes do setor, com decisão prevista até 2024.
A Itália, os Países Baixos e "muitos
outros" expressaram interesse em participar do projeto, disse na
quinta-feira (21) Boris Pistorius, ministro da Defesa da Alemanha, em uma coletiva
de imprensa na base aérea de Evreux, a oeste de Paris, França. Eles podem
participar como "observadores," de acordo com Sébastien Lecornu,
ministro das Forças Armadas da França.
O alto responsável explicou que o MGCS será
modular, incluindo plataformas que podem ser tripuladas ou automatizadas. Ele
terá uma capacidade de fogo clássica, mas também armas eletromagnéticas,
funcionalidades de guerra eletrônica e armas a laser, acrescentou.
O futuro tanque exigirá uma defesa reativa que o
tornaria difícil de destruir, drones para proteger o tanque, funcionalidades de
inteligência artificial para coordenar o fogo em um ambiente conectado, apontou
Lecornu.
"Os avanços tecnológicos serão brutais",
previu o ministro francês.
Ele referiu que o futuro tanque deverá entrar em
serviço entre 2040 e 2045, e espera que os primeiros contratos sejam assinados
em 2024.
Ø Sistema Patriot na Ucrânia 'foi destruído ou danificado', indica
ex-analista da CIA
Em maio de 2023 um sistema de defesa antiaérea
americano Patriot foi atingido por um míssil hipersônico russo Kinzhal, mas
Washington tem estado silencioso sobre o assunto desde então, segundo Larry
Johnson.
O fato de não haver nenhuma notícia sobre o
desempenho do sistema de defesa antiaérea Patriot fornecido pelos EUA à Ucrânia
mostra que ele certamente já não está operacional, disse Larry Johnson,
ex-analista da Agência Central de Inteligência (CIA, na sigla em inglês) dos
EUA.
"Lembram-se de quando ouvimos falar das
baterias de mísseis Patriot? [...] Há meses não se ouve nada sobre isso. Isso
foi enviado para a Ucrânia e explodiu, então parece que o que enviamos foi
destruído ou danificado e está sendo reparado e certamente não está presente no
campo de batalha", sublinhou o especialista em segurança em uma entrevista
on-line, comentando o fornecimento de armas por Washington a Kiev.
O analista veterano se referiu ao incidente em maio
de 2023, quando o Patriot fabricado nos EUA foi atingido por um míssil
hipersônico russo Kinzhal em Kiev. Especialistas militares sublinharam que o
Patriot perdeu todos os seus 32 mísseis ao tentar interceptar o projétil russo,
e que esse esforço custou aos EUA cerca de US$ 96 milhões (R$ 475 milhões). No
entanto, o Pentágono e outras autoridades dos EUA foram, na melhor das
hipóteses, vagos ao comentar o incidente.
De acordo com Johnson, após esse fracasso, os EUA
têm enviado "material de segundo e terceiro nível" para a Ucrânia.
Ele sugeriu que alguns "burocratas" do Pentágono finalmente
perceberam que o apoio ilimitado a Kiev com o melhor armamento apenas
"enfraquecerá a força militar dos EUA e enfurecerá os russos".
É por isso que a Ucrânia receberá tanques Abrams
obsoletos, e os especialistas já estão começando a fazer apostas sobre quanto
tempo eles durarão no campo de batalha, destacou o ex-analista da CIA.
·
EUA decidem fornecer mísseis de longo alcance à
Ucrânia
O presidente dos Estados Unidos, Joe
Biden, informou ao presidente ucraniano, Volodimir Zelenski, que Washington
fornecerá a Kiev mísseis de longo alcance do tipo ATACMS.
A informação foi relatada pela emissora NBC News,
citando três autoridades americanas e um funcionário do Congresso, e pelo
jornal britânico Financial Times.
Kiev vinha há meses pedindo ao governo Biden que
fornecesse os mísseis ATACMS para atacar e interromper linhas de suprimentos,
bases aéreas e redes ferroviárias no território ucraniano ocupado pela Rússia.
A Ucrânia queria centenas de ATACMS, inclusive os
dotados de uma única ogiva explosiva, mas a Casa Branca vinha resistindo – em
parte por receio de que fornecer essa arma poderia escalar o conflito, mas também
por preocupações do Pentágono de que elas fariam falta para as necessidades de
defesa dos Estados Unidos.
·
O que são os mísseis
ATACMS
Esse míssil pode atingir alvos a até 300
quilômetros de distância, e são projetados para "ataques profundos às
forças inimigas", segundo o Exército dos EUA. Eles podem ser usados para
atacar centros de comando e controle, defesas aéreas e locais de logística bem
além da linha de frente.
Segundo o Financial Times, inicialmente
serão enviados a Kiev poucos ATACMS, e equipados com bombas de fragmentação, e não
com uma única ogiva explosiva.
A decisão pelo uso das bombas de fragmentação,
um armamento controverso e banido por 111 países, teria tido mais apoio no Pentágono pois não reduziria os estoques
americanos de mísseis do tipo com ogivas unitárias.
Até agora, a Ucrânia vem usando mísseis de curto
alcance dos EUA, os Himars, e mísseis de longo alcance produzidos pelo Reino
Unido e pela França, o Storm Shadow – que foi usado na sexta-feira (22/09) para
atacar o edifício-sede da frota marítima russa do Mar Negro, na Crimeia.
Os ATACMS podem ser disparados da terra, a partir
dos mesmos lançadores Himars já usados pela Ucrânia, enquanto que o Storm
Shadow precisa ser disparado do ar, a partir de caças ucranianos.
·
Casa Branca não comenta
A Casa Branca não divulgou nenhuma decisão sobre o
ATACMS quando Zelenski visitou Washington na quinta-feira para conversar com
Biden, e isso também não constava do anúncio do novo pacote de ajuda militar de
325 milhões de dólares para Kiev.
A Casa Branca e o Pentágono não quiseram comentar a
reportagem da NBC. O Pentágono também se recusou a dizer se alguma promessa
sobre o ATACMS foi feita a Zelenski durante suas reuniões na quinta-feira no
Pentágono.
Em Ottawa, Zelenski não respondeu diretamente
quando perguntado sobre a reportagem da NBC, mas observou que os Estados Unidos
eram o maior fornecedor individual de armamentos para a Ucrânia.
"Estamos discutindo todos os diferentes tipos
de armas – armas de longo alcance e artilharia, projéteis de artilharia com
calibre de 155 mm e sistemas de defesa aérea", disse em uma coletiva de
imprensa durante uma visita oficial ao Canadá.
Biden garantiu publicamente a Zelenski na
quinta-feira que o forte apoio dos EUA à sua guerra para repelir os invasores
russos será mantido, apesar da oposição de alguns legisladores republicanos ao
envio de mais ajuda.
Ø Hospital militar dos EUA na Alemanha começa a aceitar mercenários
pró-ucranianos feridos, diz mídia
O Departamento de Defesa dos EUA passou a
participar diretamente da gestão de um hospital militar na Alemanha, onde
mercenários americanos estão sendo tratados.
Um hospital militar americano na Alemanha começou a
tratar mercenários dos EUA e de outros países que foram feridos nos combates na
Ucrânia, relatou no sábado (23) o jornal norte-americano The New York Times
(NYT).
O Centro Médico Regional do Exército dos EUA em
Landstuhl, no país europeu, está atualmente tratando 14 mercenários feridos,
parte do Exército ucraniano, a maioria deles americanos.
O centro estava sendo gerido por hospitais
ucranianos e organizações de caridade ocidentais, mas recentemente o
Departamento de Defesa dos EUA também assumiu algum financiamento. Ele aceita
um máximo de 18 membros feridos das Forças Armadas ucranianas entre mercenários
e voluntários, mencionou a mídia.
No entanto, apesar de a administração
norte-americana de Joe Biden ter garantido que não colocaria tropas dos EUA na
Ucrânia e ter avisado os americanos para não participarem, "agora, ela se
vê tratando aqueles que pediu para se manterem longe".
Segundo os autores do artigo, tal "marca um
novo e notável passo no aprofundamento do envolvimento dos Estados Unidos no
conflito".
O NYT também mencionou membros do Congresso dos EUA
que pediram que o hospital passasse também a tratar de feridos ucranianos.
Como nota o jornal, centenas de americanos viajaram
à Ucrânia para lutar ao lado de Kiev desde fevereiro de 2022, mas o número se
reduziu significativamente desde então após muitos serem mortos e feridos em
combate.
Um funcionário do Pentágono disse aos jornalistas
do NYT que ficou surpreso com a notícia. Ele confirmou que as autoridades
norte-americanas desencorajam fortemente seus compatriotas de viajarem para a
Ucrânia para participarem dos combates. No entanto, ele acrescentou que os
centros médicos não lhes negariam assistência em caso de serem feridos.
Fonte: Deutsche Welle/Sputnik Brasil
Nenhum comentário:
Postar um comentário