ONG: Combate à corrupção deve ser prioridade da agenda da Comunidade
dos Países de Língua Portuguesa (CPLP)
A Transparência Internacional, a exemplo de outras
organizações da sociedade civil, insiste em exigir à Comunidade dos Países de
Língua Portuguesa (CPLP) a inclusão de medidas de combate à corrupção e ao
branqueamento de capitais como uma prioridade na sua agenda.
De acordo com a organização não-governamental, os
países-membros da CPLP apresentam, no seu conjunto, uma pontuação média muito
baixa no último Relatório do Índice de Perceção da Corrupção.
Karina Carvalho, diretora executiva da
Transparência Internacional Portugal (TI-P), liga o tema a atropelos aos
direitos humanos nalguns dos países membros.
"Sobretudo uma ligação inequívoca entre os
direitos humanos, corrupção e fluxos financeiros ilícitos. Portanto, não
incorporar estes temas é extraordinariamente grave e acho que é insustentável
que continue a fazê-lo", defende.
A ativista também considera "particularmente
grave que a CPLP pareça ser a única organização do mundo que não se preocupa
com os direitos humanos e o combate à corrupção".
Em entrevista à DW, Carvalho recorda o caso da
Guiné Equatorial que, recentemente, encarcerou dois ativistas da organização
que luta pelos direitos da comunidade LGTBIQA+ "Somos Parte Del
Mundo" (Somos Parte do Mundo, na tradução livre), "felizmente
libertados". Denuncia, entretanto, que alguns ativistas continuam presos,
sem contacto com o exterior e sem acusação formalizada.
Karina Carvalho pede à CPLP que respeite os
compromissos que assumiu, particularmente no âmbito do combate à corrupção.
"Designadamente no quadro da Convenção das
Nações Unidas contra a Corrupção, mas também de outros instrumentos internacionais,
e que exerça o seu mandato", explica.
·
Faz sentido manter a CPLP?
A diretora executiva da TI-P entende os argumentos
do secretário executivo da CPLP, Zacarias da Costa, de que não se trata de uma
organização como a União Europeia. Mas, por outro lado, Karina Carvalho diz que
é preciso avaliar se faz sentido a comunidade lusófona continuar a existir
"porque parece-me que em muitas circunstâncias a CPLP está a ser utilizada
como um instrumento para fazer a agenda de nações que deixam muito a desejar do
ponto de vista da defesa dos direitos humanos e do combate à corrupção e,
sobretudo, da prevenção de branqueamento de capitais e financiamento do
terrorismo".
Leoter Viegas, licenciado em Economia pela
Universidade dos Açores, lembra o lema da presidência são-tomense da CPLP
focado na juventude e sustentabilidade, para chamar atenção face à corrupção
nos países-membros. Para o analista são-tomense é escusado pensar no futuro da
juventude sem um verdadeiro combate à corrupção, como um dos maiores obstáculos
ao desenvolvimento.
"É utópico, na minha opinião, imaginarmos a
sustentabilidade sem a transparência na gestão dos recursos públicos".
Por isso, sugere a criação de "instrumentos
eficazes de prevenção e combate à corrupção". Mas, para o efeito,
acrescenta, "é preciso sobretudo vontade política”. O analista dá o
exemplo do Tribunal de Contas de São Tomé e Príncipe.
"É cada vez mais importante reforçar recursos
materiais e financeiros para o Tribunal de Contas para que esse órgão possa
cumprir o seu verdadeiro papel, que é controlar a ilegalidade das despesas e
receitas públicas".
O economista considera igualmente crucial dotar o
sistema judicial dos países de língua portuguesa de condições para investigar,
julgar e punir de forma célere e transparente os casos de corrupção.
·
Presidência de São Tomé e Príncipe
Por seu lado, o analista político são-tomense,
Elias Costa, questiona o desempenho da presidência da CPLP por parte de São
Tomé e Príncipe.
"Sem políticas de relações e de cooperação
internacionais definidas, sem recursos financeiros e, sobretudo, sem recursos
humanos capacitados, o Governo são-tomense não reúne condições objetivas e
subjetivas para fazer evoluir a agenda da CPLP", considera.
Além disso, acrescenta, em São Tomé e Príncipe,
onde ocorrem execuções sumárias, as instituições judiciais perderam autonomia e
a imparcialidade.
"A corrupção, a falta de transparência, as
dívidas ocultas também voltaram a ser práticas correntes. Nesse contexto, o que
se pode esperar da presidência são-tomense da CPLP é que ela venha a fazer
muito menos do tão pouco que habitualmente tem sido feito."
Em declarações públicas proferidas esta semana, o
primeiro-ministro são-tomense, Patrice Trovoada, garantiu que o país está
pronto e mobilizado para acolher a cimeira da CPLP que terá lugar no domingo,
27 de agosto.
Ø Em Angola, Lula diz que
Bolsonaro tratou continente 'com indiferença'
O presidente Lula (PT) disse, durante discurso em
Luanda nesta sexta-feira (25), capital da Angola, que o Brasil tratou o
continente africano com "indiferença" enquanto o país era governado
por Jair Bolsonaro (PL).
O presidente brasileiro ressaltou que Bolsonaro não
visitou a África durante os quatro anos de mandato. "Nos últimos anos,
lamentavelmente, o Brasil tratou os países africanos com indiferença. Pela
primeira vez desde a redemocratização, tivemos um presidente que não fez
nenhuma visita à África".
Lula disse que a visita à Angola marca o retorno da
cooperação entre os dois países. "Embaixadas brasileiras foram fechadas no
continente e a cooperação foi abandonada. Deixamos de atuar juntos nos fóruns
internacionais. Agora, vamos corrigir esses erros e vamos alçar nossa parceria
estratégia a um novo patamar".
O presidente citou programas realizadas em parceria
entre os dois países e convidou o presidente de Angola, João Lourenço, a
comparecer à reunião do G20 no Rio de Janeiro, em setembro de 2024, quando o
Brasil já terá assumido a presidência do bloco.
Após o discurso, Lula e Lourenço fizeram um
pronunciamento à imprensa juntos. O brasileiro cobrou que o FMI (Fundo
Monetário Internacional) chegue a uma solução sobre a dívida dos países
africanos. "Agora vai fazer parte do meu discurso. Os meus amigos do FMI
que se preparem. Vou cobrar do FMI, dos países ricos, que transformem a dívida dos
países africanos em investimento em obras de infraestrutura".
Em discurso mais cedo, após troca de honrarias com
o presidente angolano, Lula também criticou a concentração de riqueza.
"Por mais que a gente lute, a concentração de riqueza vem aumentando. Cada
vez mais o 1% tem mais riqueza, e os 50% mais pobres estão cada vez mais
pobres. Eu espero que, com essa honraria e medalha no peito, quem sabe
alimentado pela inteligência, pensamento revolucionário de Agostinho Neto, eu
possa conseguir o intento de convencer a humanidade a se indignar contra a
desigualdade".
·
Lula fala da importância da articulação com o
Congresso
Em visita oficial a Angola nesta 6ª feira
(25.ago.2023), o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) foi homenageado pela
assembleia nacional do país, estrutura equivalente ao Congresso Nacional.
Em seu discurso, o petista fez uma analogia entre a
assembleia angolana e o Congresso brasileiro. Disse que todo parlamento
representa a “consciência política do povo” no dia da eleição e que, goste o
presidente ou não, é necessário saber dialogar caso esse parlamento pense
diferente do Executivo.
Segundo Lula, “não adianta reclamar que um partido
não recebeu votos” porque o país “só colhe o que planta”. Ele chamou atenção
para o fato de que, de 513 deputados na Câmara brasileiro, o PT tem apenas 73
eleitos. No Senado, de 81, o partido tem 9 cadeiras. Esse fato, diz Lula,
“exige que o Poder Executivo tenha uma capacidade muito grande de fazer
alianças”.
Desde o início de seu 3º mandato, a relação de Lula
com o Congresso tem sido um impasse. Em 6 meses de governo, o petista acumulou
6 derrotas nas Casas. O chefe do Executivo ainda tenta construir um grupo
sólido de apoio na Câmara, onde tem tido a maior parte das dificuldades. Além
disso, congressistas criticam a falta de articulação política do governo e a
demora na liberação de emendas parlamentares.
“É
importante que quem esteja no Executivo compreenda que nenhum deputado é
obrigado a votar numa coisa que o governo fez só porque foi o governo que fez.
É importante que a gente tenha a humildade e entenda que ninguém é obrigado a
concordar conosco”, disse.
Lula arquiteta uma reforma ministerial para alocar
partidos do Centrão na Esplanada, com o objetivo de conquistar uma base mais
sólida no Congresso e assegurar a aprovação de medidas consideradas
fundamentais ao governo.
O ministério do Turismo foi o 1º a passar por
trocas e acomodou o União Brasil. Em julho, Celso Sabino (União-PA) assumiu o
lugar de Daniela Carneiro. Agora é a vez do PP e do Republicanos, mas Lula
precisa decidir quem sairá para abrir o espaço. A reforma deve ser fechada na
próxima semana.
<><> Lula critica desigualdade de
gênero e volta a citar a luta contra a fome
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva começou a
agenda colocando flores no túmulo do primeiro presidente de Angola, António
Agostinho Neto. De lá, seguiu para o Palácio Presidencial onde se encontrou com
o presidente angolano, João Lourenço. A visita oficial do presidente brasileiro
ao país vai até sábado (26).
Os dois chefes de Estado assinaram diversos acordos
para as áreas da agricultura, saúde, educação, empresariado, processamento de
dados na administração pública e transportes. Em seguida, Lula foi condecorado
com a ordem Dr. António Agostinho Neto em reconhecimento à contribuição ao
fortalecimento das relações entre os dois países.
No discurso de agradecimento, o presidente se disse
emocionado por receber a comenda mais importante de Angola aos 77 anos e que,
apesar da idade, “quem tem uma causa não pode parar de lutar”. Ele se disse
comprometido a fazer uma campanha mundial contra a desigualdade.
“A desigualdade está em muitos lugares. Nós temos a
desigualdade de raça, de gênero, de idade, a desigualdade na qualidade da
educação, na qualidade da saúde, no salário. Agora no Brasil aprovamos uma lei
em que a mulher vai ter que receber o mesmo salário que o homem se ela fizer a
mesma função. Foi um avanço extraordinário”, disse.
O presidente falou ainda da importância de haver
mais mulheres na política e que não é possível, em pleno século XXI, as
mulheres ainda serem tratadas como “objeto de cama e mesa”.
·
“33 milhões
de pessoas passam fome no Brasil”
Lula afirmou também que, para dar certo, a luta contra a desigualdade precisa criar indignação. Pessoas
com melhores condições, diz, devem se sentir indignadas por muitos que não têm
o que comer.
“E não é porque não tem comida, é porque não tem
dinheiro, porque a concentração de riqueza tem aumentado cada vez mais. Cada
vez mais, o 1% tem mais riqueza e cada vez mais os 50% mais pobres estão cada
vez mais pobres. Espero convencer a humanidade a se indignar contra a
desigualdade. O Brasil é o terceiro maior produtor de alimentos do mundo e 33
milhões de pessoas ainda passam fome no meu país”, disse.
·
Acordos com Angola
Lula participa ainda hoje, junto ao presidente angolano, do Fórum Econômico entre Angola e Brasil, que tem a participação
de 500 empresários. Raimundo Lima, presidente da Câmara de Comércio
Angola/Brasil, falou à agência Lusa e defendeu medidas para atrair mais
investimentos brasileiros, apesar de Angola ter sido o principal destinatário
de empréstimos do Brasil (3,8 mil milhões de dólares até 2015 através do
Programa de financiamento às exportações do Banco Nacional de Desenvolvimento).
“Nós acreditamos que deva haver uma retomada desses
financiamentos e que seja uma parte destinada a pequenas e médias empresas.
Essa atratividade já foi muito maior, mas é preciso que o governo crie
mecanismos mais céleres para a criação de empresas, evite dificultar, como
alguns segmentos ainda dificultam, a entrada dos brasileiros que querem
investir aqui e a regularização e criação das suas empresas”, destacou.
Agenda
No sábado, Lula inaugura um novo espaço no
Instituto Guimarães Rosa (Centro de Cultura Angola-Brasil) e vai se encontrar
com brasileiros que vivem no país. A comunidade brasileira em Angola tem cerca
de 27 mil pessoas.
Ø Lula: pastas da Agricultura do Brasil e de Angola estudam plano de ação
conjunta
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou que
o Brasil é o País ideal para ajudar Angola no seu projeto de revolução agrícola
e que os ministérios da Agricultura de ambas as nações estudam um plano de ação
conjunta no setor.
“Temos conhecimentos tecnológicos e políticas
públicas para compartilhar com Angola. Vamos elaborar um plano de ação conjunta
entre nossos ministérios da Agricultura”, disse Lula durante discurso nesta
sexta-feira, 25, em Luanda, capital angolana. O presidente destacou que os
países estão trabalhando em um programa no chamado “Vale do Cunene”, que chamou
de “novo paradigma na cooperação com a África” na questão agrícola.
Segundo ele, a iniciativa privada aportará recursos
no programa. “Em vez de iniciativas pontuais e isoladas, o programa vai reunir
25 ações que se complementam, todas, no objetivo de promover o desenvolvimento
agrícola nessa região. Vamos buscar parceiros no setor privado brasileiro para
completar a estrutura de irrigação necessária em Cunene.”
·
Relações diplomáticas
Sem citar o nome do ex-presidente Jair Bolsonaro
(PL), Lula criticou o governo anterior por ter tratado os países africanos com
“indiferença”. Ele afirmou que vai buscar retomar as relações diplomáticas e
que pretende levar a parceria econômica com Angola a “outro patamar”.
“Pela
primeira vez desde a redemocratização, tivemos um presidente que não fez
nenhuma visita à África. Embaixadas brasileiras foram fechadas no continente, e
a cooperação foi abandonada. Deixamos de atuar juntos nos fóruns
internacionais. Agora vamos corrigir esses erros e alçar nossa parceria
estratégica a outro patamar”, declarou. “Brasil quer apoiar a Angola no esforço
de diversificar sua economia. Nosso comércio pode ser mais amplo e diverso”,
reforçou também.
Crítico do conflito na Ucrânia, Lula, que tenta se
cacifar como mediador para o fim da guerra, destacou o esforço de Angola para
conseguir a paz. “A guerra na Ucrânia tem forte impacto na segurança alimentar
na África. A missão de líderes africanos à Rússia e à Ucrânia foi um passo
positivo para começar a se pensar em paz.”
Ø Angola diz ver Brasil como “porta de entrada” para o Mercosul
O presidente de Angola, João Manuel Lourenço, disse que vê o Brasil como
a porta de entrada do país africano para o Mercosul. A declaração foi feita
nesta 6ª feira (25.ago.2023), ao lado do presidente do Brasil, Luís
Inácio Lula da Silva (PT).
João Manuel Lourenço afirmou que os países vão
reforçar os laços e se apoiar mutuamente para que recebam o apoio do Brasil
e “isso venha a se tornar uma realidade”.
Além disso, os líderes assinaram acordos bilaterais
para cooperação em diversas áreas, como agricultura, apoio a pequenas e médias
empresas, turismo, saúde e educação.
“Hoje
assinamos alguns instrumentos jurídicos de cooperação, que vão tornar possível,
portanto, concretizarmos os programas e projetos que temos em carteira”, afirmou o presidente angolano.
O líder angolano também disse que espera “ver
investimento brasileiro em Angola”, mas também quer “ver
investimentos no lado do Brasil”.
Fonte: Deutsche Welle/FolhaPress/Poder 360/rfi
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