domingo, 27 de agosto de 2023

Como a nova configuração do BRICS criará rotas de comércio inexploradas pelos países-membros?

Com a expansão, o BRICS chega a regiões onde até então não tinha posição geográfica com maior peso, como o Oriente Médio e o Norte da África, abarcando agora novas regiões que ajudarão no desenvolvimento do comércio e da logística entre os membros do bloco, promovendo assim suas economias e trocas culturais.

Durante a Cúpula do BRICS 2023, o presidente russo, Vladimir Putin, convocou a criação de uma comissão permanente de transportes do BRICS para lidar com o desenvolvimento de corredores logísticos e de transporte a nível inter-regional e global.

"Uma prioridade importante para a interação do BRICS é a criação de novas rotas de transporte sustentáveis ​​e seguras [...]. Acreditamos que chegou a hora de estabelecer, no âmbito do BRICS, uma comissão permanente sobre transporte, que trataria não apenas do projeto Norte-Sul, mas também, num sentido mais amplo, com o desenvolvimento de corredores logísticos e de transporte", disse o presidente russo.

A comissão mencionada por Putin ajudaria a garantir o acesso dos 11 países do BRICS a novas rotas logísticas, de acordo com o professor Alexis Habiyaremye, investigador sênior na Universidade de Joanesburgo, entrevistado pela Sputnik.

"De forma geral, a composição da comissão seria idealmente baseada nas tarefas atribuídas a tal comissão. Portanto, quando olhamos para o BRICS como um bloco de países e olhamos para os tipos de corredores de transporte que são necessários, eles não estão distribuídos uniformemente entre os atuais membros e mesmo entre os potenciais membros. Então, basicamente, a composição dessa comissão deve refletir a atribuição do desenvolvimento destes novos corredores logísticos", afirmou o professor.

Ainda segundo Habiyaremye, os países que interessados ​​em tais corredores de transporte são principalmente Rússia, Irã e China. Explicou que, além de garantir o acesso ao mar aberto, os países procuram soluções alternativas para os "estrangulamentos", como o estreito de Cingapura, o estreito de Malaca, o canal de Suez, o Bósforo e o estreito de Ormuz.

"A principal tarefa seria estabelecer resiliência e soluções alternativas para a vulnerabilidade de tais estrangulamentos. Assim, países como a Rússia e a China [...] terão como uma das considerações mais importantes desenvolverem corredores de transporte ferroviário de alta velocidade na área onde a antiga Rota da Seda costumava ser", ressaltou.

O especialista também considera que se caso houver "um conflito e o estreito de Malaca, por exemplo, ser bloqueado, ou o canal de Suez fosse realmente um estrangulamento, então alternativa para ligação entre a China e a Rússia através da Ásia Central é muito importante".

O outro projeto importante é o Corredor Norte-Sul que liga o oeste e o norte da Rússia ao golfo Pérsico, segundo Habiyaremye. Quando se trata da Rota Marítima do Norte (NSR), é fundamental para Moscou, pois a ajudará a evitar um potencial bloqueio marítimo por parte dos Estados ocidentais no meio de sanções em curso, acredita ele.

Da mesma forma, o canal de Suez e o mar Vermelho estariam localizados dentro da jurisdição dos parceiros BRICS após a inclusão da Arábia Saudita e do Egito, observou.

Aparentemente, a expansão do bloco também ajudará a resolver controvérsias emergentes sobre o canal de Suez e o estreito de Ormuz, dando ao grupo influência diplomática e "peso" em relação a outros organismos já existentes, como o G7.

"Mesmo antes da expansão para novos membros, os cinco países do BRICS já tinham um peso econômico que crescia acima dos países do G7 em termos de paridade de poder de compra. Agora, com a inclusão dos novos membros, o peso econômico do BRICS+, se podemos chamar assim, vai crescer ainda mais. E com as condições econômicas prevalecentes nos países do G7, este vai diminuir em relação aos países do BRICS."

O professor também lembra que "a ascensão da Índia como potência econômica, para não mencionar a China, com a Indonésia possivelmente vindo na segunda rodada de expansão" o peso do organismo e dos países amigos do BRICS "vai aumentar ainda mais, e assim reduzir a capacidade do G7 de usar o poder econômico para pressionar os países em desenvolvimento".

Na quinta-feira (24), o bloco anunciou sua primeira rodada de ampliação e agora contará com Argentina, Irã, Arábia Saudita, Emirados Árabes Unidos, Egito e Etiópia.

Atualmente o BRICS representa mais de 30% do Produto Interno Bruto (PIB) global e 42% da população mundial.

A Cúpula do BRICS aconteceu realizada de 22 a 24 de agosto em Joanesburgo, com a presença dos líderes de China, Índia, Brasil e África do Sul. A Rússia foi representada pelo ministro das Relações Exteriores, Sergei Lavrov, e o presidente russo, Vladimir Putin, participou da cúpula por videoconferência.

 

Ø  Lula afirma que expansão do BRICS permite discutir com G7 em 'condições de superioridade'

 

Em coletiva de imprensa em Angola neste sábado (26), o presidente Luiz Inácio Lula da Silva concedeu diversas declarações sobre BRICS, ONU e o FMI.

Na visão de Lula, com a ampliação do bloco definida na 15ª Cúpula do BRICS, "o mundo fica mais equilibrado nas discussões geopolíticas".

"Agora, você pode fazer uma reunião do BRICS com o G7 em condições de superioridade porque o PIB na paridade de compra do BRICS tem mais. O BRICS agora representa 36,7% do PIB de paridade de compra, o G7, 29%. Então as condições geopolíticas para você negociar muda, e você negocia em conjunto", disse o mandatário citado pela CNN Brasil.

Ainda em declaração à imprensa, o presidente avaliou que a entidade já não mais representa "aquilo para o qual foi criada": "A ONU de 2023 está longe de ter a mesma credibilidade da ONU de 1945", avaliou.

"Qual é a representação da África no Conselho de Segurança? Qual é a representação da Ásia, da América Latina? Deixamos claro que defendemos que o Brasil entre no Conselho de Segurança, a Índia, a Alemanha, o Japão. Há divergências, mas não são nossas", completou.

Por fim, Lula questionou o mecanismo de pagamento da dívida de países africanos ao Fundo Monetário Internacional (FMI). "É preciso começar uma nova briga", disse, ao citar que o continente acumula um débito de US$ 760 bilhões (R$ 3,7 trilhões) a serem pagos ao fundo.

"Essa dívida vai ficando impagável porque o dinheiro do orçamento nunca dá para pagar e o problema vai sempre aumentando. Qual é a lógica? É tentar sensibilizar as pessoas que são donas dessas dívidas para que elas sejam transformadas em apoio à infraestrutura. O dinheiro da dívida, ao invés de ser pago, seria investido em obras de infraestrutura", disse o presidente citado pela mídia.

·         Lula convida Angola a participar das reuniões do G20

Convite foi feito durante encontro entre Lula e o presidente angolano, João Manuel Lourenço, em Luanda. Brasil assume liderança do grupo em 2024.

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva criticou seu antecessor no cargo, Jair Bolsonaro, por esvaziar a agenda do Brasil para a África durante sua gestão.

A crítica foi feita em visita oficial a Angola, nesta sexta-feira (25). Lula desembarcou em Luanda na noite da última quinta-feira (24), após deixar Joanesburgo, na África do Sul, onde participou da 15ª Cúpula do BRICS. O presidente ressaltou que sua visita a Angola simboliza o retorno do Brasil ao continente africano.

"Nos últimos anos, o Brasil tratou os países africanos com indiferença. Pela primeira vez desde a redemocratização, tivemos um presidente que não fez nenhuma visita à África. Embaixadas brasileiras foram fechadas. A cooperação foi abandonada, deixamos de atuar juntos nos foros internacionais", disse Lula.

O presidente afirmou que pretende convidar Angola a participar das reuniões do G20, grupo que reúne as 20 maiores economias do mundo e que terá o Brasil na presidência temporária em 2024.

O convite foi feito durante um encontro entre Lula e o presidente angolano, João Manuel Lourenço. No encontro, os líderes assinaram sete acordos de cooperação entre os países, que abrangem as áreas de defesa, educação, pequenas e médias empresas e tecnologia.

Após se reunir com Lourenço, o presidente brasileiro discursou na Assembleia Nacional de Angola, onde fez uma homenagem à líder quilombola Maria Bernadete Pacífico, assassinada no último dia 17 no Quilombo Pitanga dos Palmares, no município de Simões Filho (BA).

"Aproveito esta sessão solene, na Assembleia Nacional de Angola, para prestar minha homenagem à grande Bernadete Pacífico, líder quilombola que atuou corajosamente pela defesa de sua comunidade na Bahia. Bernadete foi vítima da intolerância dos que querem calar os mais vulneráveis", disse Lula.

No discurso, Lula classificou a escravidão como uma chaga na história brasileira, que "vitimou milhões de africanos e deixou ao país um nefasto legado de desigualdade social e de preconceito". "Combater esse legado é objetivo primordial do meu governo", disse o presidente, conforme noticiou a Agência Brasil.

<><> China se irritou com Brasil em negociação no BRICS envolvendo Conselho de Segurança da ONU

Em reunião entre ministros do BRICS, chanceler Mauro Vieira se manteve firme para que no texto conjunto saísse a menção ao apoio à ampliação e reforma do conselho das Nações Unidas. Resistência irritou delegação chinesa e discussão foi levada aos presidentes.

A expansão do BRICS foi bastante negociada nos bastidores e envolveu outros interesses dos países-membros na mesa, relata a coluna de Assis Moreira no jornal O Valor. Conforme noticiado anteriormente, o Brasil e a Índia eram os membros mais resistentes à ampliação do bloco.

No que diz respeito a Brasília, o governo brasileiro acabou aceitando a expansão, mas jogou com as cartas que pôde para "liberar" o acesso, especialmente a que fala sobre outra ampliação, a do Conselho de Segurança da ONU. E como já se sabe, a China vem tentando conter a entrada de outros memebros no organismo da ONU.

Segundo a coluna, a negociação entre ministros para ampliação do BRICS teve momento de irritação da China quando o Brasil reiterou sua posição pela reforma do importante conselho das Nações Unidas, levando o assunto para ser resolvido posteriormente pelos presidentes.

Na pressão de Pequim pela expansão, os relatos são de que o governo Lula viu oportunidade de arrancar compromissos envolvendo a reforma, que continua sendo uma prioridade da política externa. A estratégia brasileira em Joanesburgo foi calcada nisso, ressalta o colunista.

Na primeira reunião ministerial, a China apareceu querendo carimbar logo os acordos de expansão do grupo. Foi quando o ministro das Relações Exteriores, Mauro Vieira, retrucou lembrando a importância de critérios e insistindo que os cinco membros precisavam antes, portanto, discutir temas em aberto, afirma.

Diante da resistência à sua pressão para fechar acordo, a delegação chinesa se irritou na reunião ministerial. Mauro Vieira manteve a posição brasileira. Em seguida, segundo relatos ouvidos pela mídia, Lula, "com sua experiência dos tempos de sindicalista, saiu do encontro com a linguagem resolvida sobre o Conselho de Segurança".

Ao final da cúpula, a declaração dos líderes traz no seu parágrafo 7: "Apoiamos uma reforma abrangente da ONU, incluindo seu Conselho de Segurança, com o objetivo de torná-la mais democrática, representativa, eficaz e eficiente, e de aumentar a representação dos países em desenvolvimento entre os membros do Conselho, para que ele possa responder adequadamente aos desafios globais predominantes e apoiar as aspirações legítimas dos países emergentes e em desenvolvimento da África, Ásia e América Latina, incluindo o Brasil, a Índia e a África do Sul, de desempenhar um papel mais importante nos assuntos internacionais, em particular nas Nações Unidas, incluindo seu Conselho de Segurança".

O lado brasileiro comemorou como um avanço a menção ao Brasil, Índia e África do Sul de desempenhar papel mais importante na ONU "incluindo seu Conselho de Segurança". Entretanto, para certos negociadores, isso não significa que a China mudou de posição, acrescentou o colunista.

Ainda sobre a definição dos países que seriam convidados a se tornarem membros do grupo, a Rússia tomou a iniciativa de propor o Irã, segundo uma fonte. A Índia, ao contrário do que alguns imaginavam, não vetou os iranianos.

Já presidente da África do Sul, Cyril Ramaphosa, fez um apelo para ser incluído um país da África subsaariana. A escolha ficou então entre o Senegal e a Etiópia. A decisão foi de convidar a Etiópia, que abriga a sede da União Africana, ponto central da diplomacia no continente. O país tem a China e a Rússia como seus maiores parceiros comerciais.

O Brasil defendeu a entrada da Argentina como representante da América Latina. E por fim a Indonésia confirmou que preferia não entrar agora no grupo, porque tem outras tarefas regionais.

 

Ø  Alargamento do BRICS fortalecerá a cooperação no setor do gás, diz especialista

 

Anteriormente, a Sputnik calculou que a entrada de seis novos Estados-membros na organização aumentaria sua participação no mercado do gás mundial para 50%.

A expansão do BRICS desenvolverá a cooperação tecnológica e de investimentos no mercado de gás, para que os Estados-membros possam desenvolver conjuntamente suas próprias tecnologias ou equipamentos, prevê Ivan Timonin, consultor sênior da Implementa, à Sputnik.

Após a Cúpula do BRICS em Joanesburgo, a África do Sul, Brasil, China, Índia e Rússia, que compõem o bloco, convidaram oficialmente a Arábia Saudita, Argentina, Egito, Emirados Árabes Unidos, Etiópia e Irã a aderir ao grupo. A entrada plena dos novos países pode começar em 1º de janeiro de 2024.

"Tendo em conta o impacto sobre o mercado de gás, a expansão do BRICS é de interesse não tanto em termos de reforço das relações comerciais, como em termos de desenvolvimento de cooperação tecnológica e de investimentos", disse Timonin.

O especialista citou, além da Rússia, o Egito e os Emirados Árabes Unidos como países grandes exportadores de gás natural liquefeito que se tornarão novos Estados-membros da organização, enquanto o Irã também está planejando entrar nesse mercado, sublinhou o especialista.

Ministério das Relações Exteriores da Rússia, à esquerda, o vice-ministro das Relações Exteriores da China, Ma Zhaoxu, o ministro das Relações Exteriores do

Ele acrescentou que uma das iniciativas dos novos Estados-membros do BRICS poderia ser, por exemplo, o desenvolvimento conjunto de suas próprias tecnologias de liquefação de gás e a produção dos equipamentos necessários.

As reservas de gás nos países do BRICS após a expansão esperada dobrarão para cerca de 50% das reservas mundiais, ou quase 94 trilhões de metros cúbicos, de acordo com cálculos da Sputnik baseados em dados estatísticos.

 

Fonte: Sputnik Brasil

 

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