Como a nova configuração do BRICS criará rotas de comércio inexploradas
pelos países-membros?
Com a expansão, o BRICS chega a regiões onde até
então não tinha posição geográfica com maior peso, como o Oriente Médio e o
Norte da África, abarcando agora novas regiões que ajudarão no desenvolvimento
do comércio e da logística entre os membros do bloco, promovendo assim suas
economias e trocas culturais.
Durante a Cúpula do BRICS 2023, o presidente russo,
Vladimir Putin, convocou a criação de uma comissão permanente de transportes do
BRICS para lidar com o desenvolvimento de corredores logísticos e de transporte
a nível inter-regional e global.
"Uma prioridade importante para a interação do
BRICS é a criação de novas rotas de transporte sustentáveis e seguras [...]. Acreditamos que chegou a hora de
estabelecer, no âmbito do BRICS, uma comissão permanente sobre transporte, que
trataria não apenas do projeto Norte-Sul, mas também, num sentido mais amplo,
com o desenvolvimento de corredores logísticos e de transporte", disse o
presidente russo.
A comissão mencionada por Putin ajudaria a garantir
o acesso dos 11 países do BRICS a novas rotas logísticas, de acordo com o
professor Alexis Habiyaremye, investigador sênior na Universidade de
Joanesburgo, entrevistado pela Sputnik.
"De forma geral, a composição da comissão
seria idealmente baseada nas tarefas atribuídas a tal comissão. Portanto,
quando olhamos para o BRICS como um bloco de países e olhamos para os tipos de
corredores de transporte que são necessários, eles não estão distribuídos
uniformemente entre os atuais membros e mesmo entre os potenciais membros.
Então, basicamente, a composição dessa comissão deve refletir a atribuição do
desenvolvimento destes novos corredores logísticos", afirmou o professor.
Ainda segundo Habiyaremye, os países que
interessados em tais corredores de
transporte são principalmente Rússia, Irã e China. Explicou que, além de garantir o acesso ao mar aberto, os países procuram
soluções alternativas para os "estrangulamentos", como o estreito
de Cingapura, o estreito de Malaca, o canal de Suez, o Bósforo e o estreito de
Ormuz.
"A principal tarefa seria estabelecer
resiliência e soluções alternativas para a vulnerabilidade de tais
estrangulamentos. Assim, países como a Rússia e a China [...] terão como uma
das considerações mais importantes desenvolverem corredores de transporte
ferroviário de alta velocidade na área onde a antiga Rota da Seda costumava
ser", ressaltou.
O especialista também considera que se caso houver
"um conflito e o estreito de Malaca, por exemplo, ser bloqueado, ou o
canal de Suez fosse realmente um estrangulamento, então alternativa para
ligação entre a China e a Rússia através da Ásia Central é muito
importante".
O outro projeto importante é o Corredor Norte-Sul
que liga o oeste e o norte da Rússia ao golfo Pérsico, segundo Habiyaremye.
Quando se trata da Rota Marítima do Norte (NSR), é fundamental para Moscou,
pois a ajudará a evitar um potencial bloqueio marítimo por parte dos Estados
ocidentais no meio de sanções em curso, acredita ele.
Da mesma forma, o canal de Suez e o mar Vermelho
estariam localizados dentro da jurisdição dos parceiros BRICS após a inclusão
da Arábia Saudita e do Egito, observou.
Aparentemente, a expansão do bloco também ajudará a
resolver controvérsias emergentes sobre o canal de Suez e o estreito de Ormuz,
dando ao grupo influência diplomática e "peso" em relação a outros
organismos já existentes, como o G7.
"Mesmo antes da expansão para novos membros,
os cinco países do BRICS já tinham um peso econômico que crescia acima dos
países do G7 em termos de paridade de poder de compra. Agora, com a inclusão
dos novos membros, o peso econômico do BRICS+, se podemos chamar assim, vai
crescer ainda mais. E com as condições econômicas prevalecentes nos países do
G7, este vai diminuir em relação aos países do BRICS."
O professor também lembra que "a ascensão da
Índia como potência econômica, para não mencionar a China, com a Indonésia
possivelmente vindo na segunda rodada de expansão" o peso do organismo e
dos países amigos do BRICS "vai aumentar ainda mais, e assim reduzir a
capacidade do G7 de usar o poder econômico para pressionar os países em
desenvolvimento".
Na quinta-feira (24), o bloco anunciou sua primeira
rodada de ampliação e agora contará com Argentina, Irã, Arábia Saudita,
Emirados Árabes Unidos, Egito e Etiópia.
Atualmente o BRICS representa mais de 30% do
Produto Interno Bruto (PIB) global e 42% da população mundial.
A Cúpula do BRICS aconteceu realizada de 22 a 24 de
agosto em Joanesburgo, com a presença dos líderes de China, Índia, Brasil e
África do Sul. A Rússia foi representada pelo ministro das Relações Exteriores,
Sergei Lavrov, e o presidente russo, Vladimir Putin, participou da cúpula por
videoconferência.
Ø Lula afirma que expansão do BRICS permite discutir com G7 em 'condições
de superioridade'
Em coletiva de imprensa em Angola neste sábado
(26), o presidente Luiz Inácio Lula da Silva concedeu diversas declarações
sobre BRICS, ONU e o FMI.
Na visão de Lula, com a ampliação do bloco definida
na 15ª Cúpula do BRICS, "o mundo fica mais equilibrado nas discussões
geopolíticas".
"Agora, você pode fazer uma reunião do BRICS
com o G7 em condições de superioridade porque o PIB na paridade de compra do
BRICS tem mais. O BRICS agora representa 36,7% do PIB de paridade de compra, o
G7, 29%. Então as condições geopolíticas para você negociar muda, e você
negocia em conjunto", disse o mandatário citado pela CNN Brasil.
Ainda em declaração à imprensa, o presidente
avaliou que a entidade já não mais representa "aquilo para o qual foi
criada": "A ONU de 2023 está longe de ter a mesma credibilidade da
ONU de 1945", avaliou.
"Qual é a representação da África no Conselho
de Segurança? Qual é a representação da Ásia, da América Latina? Deixamos claro
que defendemos que o Brasil entre no Conselho de Segurança, a Índia, a
Alemanha, o Japão. Há divergências, mas não são nossas", completou.
Por fim, Lula questionou o mecanismo de pagamento
da dívida de países africanos ao Fundo Monetário Internacional (FMI). "É
preciso começar uma nova briga", disse, ao citar que o continente acumula
um débito de US$ 760 bilhões (R$ 3,7 trilhões) a serem pagos ao fundo.
"Essa dívida vai ficando impagável porque o
dinheiro do orçamento nunca dá para pagar e o problema vai sempre aumentando.
Qual é a lógica? É tentar sensibilizar as pessoas que são donas dessas dívidas
para que elas sejam transformadas em apoio à infraestrutura. O dinheiro da
dívida, ao invés de ser pago, seria investido em obras de infraestrutura",
disse o presidente citado pela mídia.
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Lula convida Angola a participar das reuniões do
G20
Convite foi feito durante encontro entre Lula e o
presidente angolano, João Manuel Lourenço, em Luanda. Brasil assume liderança
do grupo em 2024.
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva criticou seu
antecessor no cargo, Jair Bolsonaro, por esvaziar a agenda do Brasil para a
África durante sua gestão.
A crítica foi feita em visita oficial a Angola,
nesta sexta-feira (25). Lula desembarcou em Luanda na noite da última
quinta-feira (24), após deixar Joanesburgo, na África do Sul, onde participou
da 15ª Cúpula do BRICS. O presidente ressaltou que sua visita a Angola
simboliza o retorno do Brasil ao continente africano.
"Nos últimos anos, o Brasil tratou os países
africanos com indiferença. Pela primeira vez desde a redemocratização, tivemos
um presidente que não fez nenhuma visita à África. Embaixadas brasileiras foram
fechadas. A cooperação foi abandonada, deixamos de atuar juntos nos foros
internacionais", disse Lula.
O presidente afirmou que pretende convidar Angola a
participar das reuniões do G20, grupo que reúne as 20 maiores economias do
mundo e que terá o Brasil na presidência temporária em 2024.
O convite foi feito durante um encontro entre Lula
e o presidente angolano, João Manuel Lourenço. No encontro, os líderes
assinaram sete acordos de cooperação entre os países, que abrangem as áreas de
defesa, educação, pequenas e médias empresas e tecnologia.
Após se reunir com Lourenço, o presidente
brasileiro discursou na Assembleia Nacional de Angola, onde fez uma homenagem à
líder quilombola Maria Bernadete Pacífico, assassinada no último dia 17 no
Quilombo Pitanga dos Palmares, no município de Simões Filho (BA).
"Aproveito esta sessão solene, na Assembleia
Nacional de Angola, para prestar minha homenagem à grande Bernadete Pacífico,
líder quilombola que atuou corajosamente pela defesa de sua comunidade na
Bahia. Bernadete foi vítima da intolerância dos que querem calar os mais
vulneráveis", disse Lula.
No discurso, Lula classificou a escravidão como uma
chaga na história brasileira, que "vitimou milhões de africanos e deixou
ao país um nefasto legado de desigualdade social e de preconceito".
"Combater esse legado é objetivo primordial do meu governo", disse o
presidente, conforme noticiou a Agência Brasil.
<><> China se irritou com Brasil em
negociação no BRICS envolvendo Conselho de Segurança da ONU
Em reunião entre ministros do BRICS, chanceler
Mauro Vieira se manteve firme para que no texto conjunto saísse a menção ao
apoio à ampliação e reforma do conselho das Nações Unidas. Resistência irritou
delegação chinesa e discussão foi levada aos presidentes.
A expansão do BRICS foi bastante negociada nos
bastidores e envolveu outros interesses dos países-membros na mesa, relata a
coluna de Assis Moreira no jornal O Valor. Conforme noticiado anteriormente, o
Brasil e a Índia eram os membros mais resistentes à ampliação do bloco.
No que diz respeito a Brasília, o governo
brasileiro acabou aceitando a expansão, mas jogou com as cartas que pôde para
"liberar" o acesso, especialmente a que fala sobre outra ampliação, a
do Conselho de Segurança da ONU. E como já se sabe, a China vem tentando conter
a entrada de outros memebros no organismo da ONU.
Segundo a coluna, a negociação entre ministros para
ampliação do BRICS teve momento de irritação da China quando o Brasil reiterou
sua posição pela reforma do importante conselho das Nações Unidas, levando o
assunto para ser resolvido posteriormente pelos presidentes.
Na pressão de Pequim pela expansão, os relatos são
de que o governo Lula viu oportunidade de arrancar compromissos envolvendo a
reforma, que continua sendo uma prioridade da política externa. A estratégia
brasileira em Joanesburgo foi calcada nisso, ressalta o colunista.
Na primeira reunião ministerial, a China apareceu
querendo carimbar logo os acordos de expansão do grupo. Foi quando o ministro
das Relações Exteriores, Mauro Vieira, retrucou lembrando a importância de
critérios e insistindo que os cinco membros precisavam antes, portanto,
discutir temas em aberto, afirma.
Diante da resistência à sua pressão para fechar
acordo, a delegação chinesa se irritou na reunião ministerial. Mauro Vieira
manteve a posição brasileira. Em seguida, segundo relatos ouvidos pela mídia,
Lula, "com sua experiência dos tempos de sindicalista, saiu do encontro
com a linguagem resolvida sobre o Conselho de Segurança".
Ao final da cúpula, a declaração dos líderes traz
no seu parágrafo 7: "Apoiamos uma reforma abrangente da ONU, incluindo seu
Conselho de Segurança, com o objetivo de torná-la mais democrática, representativa,
eficaz e eficiente, e de aumentar a representação dos países em desenvolvimento
entre os membros do Conselho, para que ele possa responder adequadamente aos
desafios globais predominantes e apoiar as aspirações legítimas dos países
emergentes e em desenvolvimento da África, Ásia e América Latina, incluindo o
Brasil, a Índia e a África do Sul, de desempenhar um papel mais importante nos
assuntos internacionais, em particular nas Nações Unidas, incluindo seu
Conselho de Segurança".
O lado brasileiro comemorou como um avanço a menção
ao Brasil, Índia e África do Sul de desempenhar papel mais importante na ONU
"incluindo seu Conselho de Segurança". Entretanto, para certos
negociadores, isso não significa que a China mudou de posição, acrescentou o
colunista.
Ainda sobre a definição dos países que seriam
convidados a se tornarem membros do grupo, a Rússia tomou a iniciativa de
propor o Irã, segundo uma fonte. A Índia, ao contrário do que alguns
imaginavam, não vetou os iranianos.
Já presidente da África do Sul, Cyril Ramaphosa,
fez um apelo para ser incluído um país da África subsaariana. A escolha ficou
então entre o Senegal e a Etiópia. A decisão foi de convidar a Etiópia, que
abriga a sede da União Africana, ponto central da diplomacia no continente. O país
tem a China e a Rússia como seus maiores parceiros comerciais.
O Brasil defendeu a entrada da Argentina como
representante da América Latina. E por fim a Indonésia confirmou que preferia
não entrar agora no grupo, porque tem outras tarefas regionais.
Ø Alargamento do BRICS fortalecerá a cooperação no setor do gás, diz
especialista
Anteriormente, a Sputnik calculou que a entrada de
seis novos Estados-membros na organização aumentaria sua participação no
mercado do gás mundial para 50%.
A expansão do BRICS desenvolverá a cooperação
tecnológica e de investimentos no mercado de gás, para que os Estados-membros
possam desenvolver conjuntamente suas próprias tecnologias ou equipamentos,
prevê Ivan Timonin, consultor sênior da Implementa, à Sputnik.
Após a Cúpula do BRICS em Joanesburgo, a África do
Sul, Brasil, China, Índia e Rússia, que compõem o bloco, convidaram
oficialmente a Arábia Saudita, Argentina, Egito, Emirados Árabes Unidos,
Etiópia e Irã a aderir ao grupo. A entrada plena dos novos países pode começar
em 1º de janeiro de 2024.
"Tendo em conta o impacto sobre o mercado de
gás, a expansão do BRICS é de interesse não tanto em termos de reforço das
relações comerciais, como em termos de desenvolvimento de cooperação
tecnológica e de investimentos", disse Timonin.
O especialista citou, além da Rússia, o Egito e os
Emirados Árabes Unidos como países grandes exportadores de gás natural
liquefeito que se tornarão novos Estados-membros da organização, enquanto o Irã
também está planejando entrar nesse mercado, sublinhou o especialista.
Ministério das Relações Exteriores da Rússia, à
esquerda, o vice-ministro das Relações Exteriores da China, Ma Zhaoxu, o
ministro das Relações Exteriores do
Ele acrescentou que uma das iniciativas dos novos
Estados-membros do BRICS poderia ser, por exemplo, o desenvolvimento conjunto
de suas próprias tecnologias de liquefação de gás e a produção dos equipamentos
necessários.
As reservas de gás nos países do BRICS após a
expansão esperada dobrarão para cerca de 50% das reservas mundiais, ou quase 94
trilhões de metros cúbicos, de acordo com cálculos da Sputnik baseados em dados
estatísticos.
Fonte: Sputnik Brasil
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