sábado, 1 de julho de 2023

Tharcila Damaceno Nozaki: O futebol do machismo, do racismo e da sonegação é uma paixão nacional?

A premissa de que existe uma relação óbvia entre o esporte e a formação moral dos seus praticantes pode facilmente ser refutada com os últimos acontecimentos no mundo esportivo. Alegar que o esporte por si só seja suficiente para contribuir com uma sociedade mais justa é um lugar-comum que não se sustenta à primeira busca no Google.

O futebol, em especial, tem perdido de 7x1 para as novas agendas do século XXI. Parte significativa dos “boleiros” profissionais representa o anacronismo comprometido com a velha misoginia, a velha ilegalidade e o velho racismo.

O comportamento criminoso e repugnante de alguns jogadores de futebol brasileiros prestigiados mundialmente faz cair por terra a afirmação de que esporte e cidadania caminham juntos naturalmente. De “socar a cara” da vítima de um estupro, como afirmou Robinho em áudios vazados, ao perdão de Daniel Alves à mulher que o denunciou como estuprador, acompanhamos de camarote a decadência da figura do atleta bom cidadão.

Na contramão dessa crença, parte justamente do atleta cidadão de bem, declaradamente bolsonarista e apoiador da tríade “Deus, pátria e família”, o pedido público de desculpas pela traição à namorada grávida. Neymar Júnior recebeu apoio de diferentes personalidades, sendo parabenizado pela coragem egocentrada e narcisista de realizar uma postagem no Twitter assumindo seu “erro” e expondo Bruna Biancardi, mãe de seu segundo filho. Aliás, a fama do “menino Ney” não está circunscrita aos campos, frequentemente seu nome está envolvido em escândalos e casos controversos envolvendo a cultura da misoginia e do ódio.

Para além do machismo, nos últimos meses temos sido surpreendidos com a participação de diversos jogadores num esquema mafioso de apostas. De direito à negócio, o mundo esportivo está cada vez mais dominado pela lógica patriarcal e capitalista do “quem pode e ganha mais”, refletindo (e criando) as mazelas sociais e sendo palco de escândalos que apontam um caminho distante do olhar iluminista que figura no imaginário popular ao relacionar esporte e civilidade. Haja visto o triste exemplo dos jogadores da seleção brasileira comendo carne com ouro no Qatar, enquanto milhões de torcedores em seu país vendem o almoço para comprar o jantar.

Ainda dentro do espectro econômico, cabe-nos perguntar quanto dos impostos sonegados por jogadores que têm ganhos exorbitantes serviriam para financiar políticas públicas que favoreceriam jogadores mais pobres (por exemplo os outros 95% que ganham menos de 3 salários mínimos), ou quem sabe, sonhando alto, atletas de outras modalidades esportivas?  Poderiam, inclusive, financiar políticas públicas de combate ao racismo e à homofobia presentes nos estádios. Um monstro que só cresce.

 Para não dizer que não falamos das flores, é preciso defender a militância política de alguns jogadores em apoio a importantes causas sociais, assim como a atuação de diversos setores da sociedade que reivindicam e promovem o esporte mais estruturado no campo educacional, voltado para a formação integral dos sujeitos. Como é o caso, por exemplo, de inúmeros atletas, profissionais ou não, que têm sido beneficiados pela Lei de Incentivo ao Esporte, uma política pública que compreende e reafirma o esporte como um direito.

Essa discussão pode nos aproximar de uma questão inquietante: é o esporte que promove a cidadania ou é a cidadania que promove o esporte? Historicamente, governos autoritários e conservadores utilizaram o esporte como um dispositivo disciplinar de domesticação dos corpos, prevenção de doenças e afirmação meritocrática da potência corporal e suas capacidades físicas. A relação entre a prática esportiva e o militarismo é bastante orgânica, vale relembrar a apropriação que o governo militar fez da conquista do Tri Campeonato Mundial que a seleção brasileira obteve em 1970. Por vezes, ela também é patética, como pudemos assistir no freak show oferecido pelo ex-presidente Bolsonaro, aquele do “histórico de atleta”, que mimetizou flexões de braço mal executadas.

Em tempos democráticos, o esporte se configura como manifestação cultural esportiva, fator de promoção da saúde e educação e, finalmente, como um direito social. Um fenômeno que não se restringe aos campos de futebol, não se aliena à lógica do mercado e não se circunscreve apenas à dimensão de performance. Em sua forma de performance, de lazer, de formação ou educacional, o acesso ao esporte, assim como os demais avanços sociais dos quais que gozamos, é fruto de muita luta e da compreensão de que o esporte deve carregar consigo princípios sustentáveis e democráticos, como a inclusão e a diversidade.

A relação entre esporte e cidadania não é natural, ela é construída intencionalmente e exige condições mínimas de pactuação social, podendo apontar para a barbárie ou para a evolução. Em 2023, o Ministério do Esporte foi reconstituído pelo presidente Lula, contando com a atuação da ministra e ex-atleta Ana Moser para garantir que o esporte chegue a todos e todas, do chão das quadras das escolas aos campinhos de terra, com a potência que a manifestação esportiva pode e deve ter. Entre o dever e o direito, assim como funciona a cidadania, que possamos, enfim, encontrar no esporte uma das fontes da construção de um Brasil menos envergonhado por seus pseudoatletas milionários que, infelizmente, pelo destaque que recebem da mídia, acabam por influenciar negativamente milhares de crianças e jovens.

Em contrapartida, que a luta encampada por Vinicius Junior, dentre outros, ou de inúmeros casos/exemplos de superação e transformação social obtidas por meio da prática esportiva possam se sobrepor e ganhar evidência, influenciando positivamente a atual e futuras gerações. O esporte é uma prática social, portanto, uma produção humana. Portanto, ele não é, em sua essência (como dizem), nem ruim, nem mau. É aquilo que fazemos dele.

 

       Vini Jr. é eleito terceiro melhor jogador da temporada na Europa; veja ranking

 

O jornal espanhol “Marca” elegeu o atacante Vinícius Junior, do Real Madrid-ESP, como terceiro melhor jogador da temporada 2022/2023 da Europa. O brasileiro ficou atrás apenas de Erling Haaland, do Manchester City-ING, e Lionel Messi, que disputou a última temporada pelo PSG-FRA e está a caminho do Inter Miami-EUA.

De acordo com o “Marca”, Vinícius Junior mostrou neste ciclo a sua melhor versão desde que chegou ao Real.

“Aos 22 anos, a melhor versão de Vini Jr. já está presente. [Foram] 23 gols e 21 assistências para o jogador do Real Madrid, um extremo imprevisível que levou sofrimento às defesas da Espanha e da Europa. Confirmou sua melhora diante da meta rival (seus números são de artilheiro, aliás) e também se consolidou como um excelente passador. A figura do Real Madrid”, escreveu o jornal.

Rodrygo e Éder Militão, também do Real Madrid-ESP, Bruno Guimarães, do Newcastle-ING, e Casemiro, do Manchester United-ING, se juntam a Vinícius e fecham o grupo de cinco brasileiros na lista dos 100 melhores da temporada feita pelo jornal.

Para fazer o ranking, o “Marca” contou com um júri com mais de 115 ex-jogadores, jornalistas, analistas e influenciadores de todo o mundo.

<<<< Veja o ranking completo

1.       Erling Haaland – Manchester City

2.       Lionel Messi – PSG

3.       Vinícius Junior – Real Madrid

4.       Kylian Mbappé – PSG

5.       Kevin De Bruyne – Manchester City

6.       Rodri – Manchester City

7.       Griezmann – Atlético de Madrid

8.       Osimhen – Napoli

9.       Gündogan – Manchester City

10.     Kvaratskhelia – Napoli

11.     Lewandowski – Barcelona

12.     Bernardo Silva – Manchester City

13.     Courtois – Real Madrid

14.     Ter Stegen – Barcelona

15.     Jude Bellingham – Borussia Dortmund

16.     Lautaro Martínez – Inter de Milão

17.     Ronald Araujo – Barcelona

18.     Odegaard – Arsenal

19.     Jack Grealish – Manchester City

20.     Karim Benzema – Real Madrid

21.     Harry Kane – Tottenham

22.     Marcus Rashford – Manchester United

23.     Rodrygo – Real Madrid

24.     Musiala – Bayern

25.     Stones – Manchester City

26.     Julián Álvarez – Manchester City

27.     Rafael Leao – Milan

28.     Pedri – Barcelona

29.     Saka – Arsenal

30.     Camavinga – Real Madrid

31.     Dibu Martínez – Aston Villa

32.     Bono – Sevilla

33.     Luka Modric – Real Madrid

34.     Barella – Inter de Milão

35.     Éder Militão – Real Madrid

36.     Bruno Fernandes – Manchester United

37.     Salah – Liverpool

38.     Casemiro – Manchester United

39.     Enzo Fernández – Chelsea

40.     Mac Allister – Brighton

41.     Gavi – Barcelona

42.     Min-Jae Kim – Napoli

43.     Onana – Inter

44.     Kroos – Real Madrid

45.     Federico Valverde – Real Madrid

46.     Ángel Di María – Juventus

47.     Amrabat – Fiorentina

48.     Dimarco – Inter de Milão

49.     En-Nesyri – Sevilla

50.     Balde – Barcelona

51.     Dybala – Roma

52.     Declan Rice – West Ham

53.     Gvardiol – Leipzig

54.     Lobotka – Napoli

55.     Bruno Guimarães – Newcastle

56.     Maignan – Milan

57.     Saliba – Arsenal

58.     Kolo Muani – E. Frankfurt

59.     Theo Hernández – Milan

60.     Hakimi – PSG

61.     Chukwueze – Villarreal

62.     Gabri Veiga – Celta de Vigo

63.     Trippier – Newcastle

64.     Zubimendi – Real Sociedad

65.     Otamendi – Benfica

66.     Di Lorenzo – Napoli

67.     N. Molina – Atlético de Madrid

68.     Kubo – Real Sociedad

69.     Simons – PSV

70.     M. Merino – Real Sociedad

71.     Guerreiro – Borussia Dortmund

72.     Rudiger – Real Madrid

73.     Lacazette – Lyon

74.     Haller – Borussia Dortmund

75.     Toney – Brentford

76.     João Mário – Benfica

77.     Grimaldo – Benfica

78.     Fofana – Lens

79.     J. David – Lille

80.     Milinkovic-Savic – Lazio

81.     Tadic – Ajax

82.     Lois Openda – Lens

83.     Gakpo – Liverpool

84.     Kokcu – Feyenoord

85.     Szoboszlai – RB Leipzig

86.     Valencia – Fenerbahçe

87.     Isi Palazón – Rayo Vallecano

88.     Juranovic – U. Berlin

89.     Frimpong – Bayern Leverkusen

90.     David García – Osasuna

91.     Icardi – Galatasaray

92.     Taremi – Oporto

93.     Mike Tresor – Genk

94.     Fullkrug – W. Bremen

95.     Grifo – Friburgo

96.     Furuhashi – Celtic

97.     Balogun – S. Reims

98.     Boniface – Saint-Gilloise

99.     Van Den Boomen – Toulouse

100.    Santiago Giménez – Feyenoord

 

Fonte: Brasil 247/CNN Brasil

 

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